quinta-feira, 28 de julho de 2022

Na época dos foguetes de alumínio... - Clássicos do Passado: Destino à Lua (1950)

 




Pioneiro pós-guerra


por Alexandre César 

(Originalmente postado em 27/ 09/ 2019)


George Pal e Robert A. Heinlein vislumbram o cosmos



Clássico incontestável.

Bem-vindos aos anos 50! A Era Espacial começou! Vários países desenvolvem seus próprios projetos para ver quem vai chegar a lua primeiro e tomar a dianteira nesta disputa. Mas os EUA tem um sério problema: seus testes com os foguetes V2 dão errado (segundo rumores, devido à sabotogem), levando o governo a desistir dessa corrida. 

Mas o cientista de foguetes Dr. Charles Cargraves (Warner Anderson) e o General Thayer (Tom Powers), grande fã da ciência aeroespacial, acreditam que o país não pode perder o bonde da história e vão atrás do magnata da aviação Jim Barnes (John Archer). Afinal, quem chegasse a lua primeiro poderia usá-la como base de mísseis e dominar o espaço. Com este argumento, Barnes consegue convencer outros empresários norte-americanos a ajudar a bancar a construção de um foguete para alcançar o nosso satélite natural. Para complicar, o projeto acaba gerando controvérsias com a população em geral, pois ele utiliza a perigosa e assustadora energia atômica...  


O filme mostra as dificuldades de se desenvolver um projeto de viagem ao espaço,
 
Dirigido por Irving Pichel (Zaroff, o Caçador de Vidas, de 1932), Destino à Lua (Destination Moon, de 1950) é um dos clássicos de aventura, ficção-científica e fantasia do produtor George Pal (A Guerra dos Mundos, de 1953, A Máquina do Tempode 1960, As 7 Faces do Dr. Lao, de 1964). Foi o primeiro filme de ficção científica dos Estados Unidos a apresentar o tema da viagem espacial de forma realística. Pal encomendou o roteiro a James O'Hanlon (Ardida como Pimenta, de 1953) e Rip Van Ronkel (A Hora Escarlate, de 1956). O escritor especialista no gênero Robert A. Heinlein (Tropas Estelares, o livro) foi colaborador no roteiro e consultor técnico da produção. O filme se baseia em seu romance Rocket Ship Galileo (147) e ele publicaria posteriormente o conto Destination Moon, a partir do  roteiro. O filme é considerado uma dos mais importantes filmes de ficção-científica do período pós-segunda guerra mundial, junto com O Dia em que A Terra Parou (1951), de Robert Wise. O longa-metragem foi produzido em Technicolor e distribuído nos Estados Unidos pela Eagle-Lion Classics (no Brasil foi distribuído pela Universal International). 
 


Em certa altura é necessário procurar investidores na indústria e finanças...
 
Mas terminou a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e a União Soviética começaram o conflito de bastidores que se tornou conhecido como a Guerra Fria. Um de seus efeitos colaterais foi a Corrida Espacial. Apesar dela começar, de fato, a partir do final dos anos 50, no decorrer da década todo esse conflito se refletia nas telas de cinema, com foguetes, astronautas e monstros pipocando em filmes de baixo orçamento, mais preocupado em impactar seu público do que buscar alguma coerência científica. O diferencial de Destino à Lua está em seu roteiro, mas preocupado na preparação do projeto expedicionário de realização da primeira viagem espacial tripulada e nas dificuldades reais de implementá-lo.
 

O padrão tecnológico da época

 
Como exemplo da necessidade de explicação de elementos técnicos realísticos para um público leigo, temos uma cena em que Jim Barnes procura convencer um possível investidor para o projeto através da exibição de um desenho animado do Pica-Pau, explicando a ação da gravidade que dificulta o lançamento do foguete e noções básicas de aeronáutica. Esta foi uma boa sacada para situar a plateia nos cinemas quanto aos problemas enfrentados pelos engenheiros e os astronautas. A mesma ideia pode ser vista, por exemplo, em Jurassic Park - Parque dos Dinossauros (1993, de Steven Spielberg), onde um filme animado é projetado para os futuros clientes do parque, mostrando como os dinossauros foram trazidos de volta a vida nos tempos modernos. 


O lançamento mostra os efeitos da aceleração nos astronautas
 
 
Devido as posições políticas de Heinlein, muitas críticas ao filme foram feitas, que foi interpretado como uma propaganda militar norte-americana. Mas a história apenas sugere que alguma nação poderia tentar usar a Lua como base militar, enquanto o escritor, em histórias posteriores, apresentou nazistas transformando o satélite em ameaça. No roteiro, o verdadeiro vilão é a limitação da tecnologia, causando diversos perigos aos astronautas em cenas que encadeiam necessidade de roupas espaciais, além de problemas devido a falta de gravidade e dificuldades em decorrência do peso para a aceleração e consertos fora da espaçonave. Isso nos leva, por exemplo, aos problemas reais que ocorreram a Nasa, retratados no filme, Apollo 13 - Do Desastre ao Triunfo (1995, de Ron Howard)

 
em uma cena se improvisa um propulsor com um cilindro de oxigênio...
 
 
Durante o planejamento da famosa cena do resgate Atividade Extra Veicular (na qual um cilindro de oxigênio é usado como uma unidade de propulsão individual) auxiliada pela montagem de Duke Goldstone (The Great Rupert de 1950) os produtores consideraram usar uma arma de fogo como meio de propulsão com o qual o personagem de John Archer resgata o de Warner Anderson quando ele escorrega e se lança do foguete para o espaço. Felizmente eles mudaram de ideia pois uma arma de fogo soaria como uma peça de equipamento inapropriada para um satélite sem ar e sem vida. Entretanto, a concepção de uma arma de fogo foi usada no final do desenho animado de demonstração do Pica-Pau da propulsão do foguete que é mostrada para os industriais milionários que acabam financiando o vôo para a Lua.
 
 
A forma encontrada para simular os efeitos da aceleração no rosto dos atores é criativa
 
 
Os efeitos da aceleração são mostrados pela distorção dos rostos dos atores. De acordo com o artigo de uma revista isto foi feito despejando finas tiras de corante de carne sobre suas faces. O produto foi seguindo as fibras dos rostos amarrado sobre linhas de pesca que iam passando através das "poltronas de aceleração" (por trás das cabeças dos atores) arrastadas pelos membros da equipe para “alongar” a pele.
 
 
Solados magnéticos ajudam no passeio extra veicular...
 
 
 Os trajes espaciais foram acolchoados para parecerem inflados. O acolchoamento e as luzes do estúdio faziam os trajes tão quentes que os atores só conseguiam usá-los por alguns minutos de cada vez...
 
 
"Licença poética": Leito de lava rachada na Lua??
 
A consultoria técnica de astronomia de Chesley Bonnestel (O Fim do Mundo de 1951, A Conquista do Espaço de 1955) famoso artista de paisagens celestiais,que providenciou matte paintings e fez o design da superfície lunar. A vista panorâmica do cenário lunar foi uma pintura feita por Bonnestel de 3 metros e 96 cms de altura montada sobre rodas que corria à frente de uma câmera estacionária. Para fazer as estrelas parecerem brilhantes e luminosas, 534 furos foram abertos na pintura e iluminados por trás.


Este cenário foi reciclado em "N" filmes


O Diretor de Arte e Desenhista de Produção Ernst Fegé (Além da Barreira do Tempo de 1960) adicionou o leito de lava fraturada que remete a semelhança de um fundo de lago seco. As rachaduras diminuem em escala a medida que elas se afastam da câmera, criando um efeito perspectiva forçada que aumenta a profundidade do cenário. Bonestell sabia que a superfície craquelada da lua lembrando um leito de rio seco era não acurado cientificamente, mas usou isto para dar o senso de perspectiva ao panorama lunar captada pelo fotógrafo Lionel Lindon (Sob O Domínio do Mal de 1962). Este exemplo de técnica acurada e excelência artística foi a chave do sucesso do filme.
 
 
Estes trajes também foram reciclados em outras produções, de Abbot & Costelo Os 3 Patetas entre outros
 
 
A música de Leith Stevens (A Guerra dos Mundos de 1953) mantém o tom épico e sério para os padrões de filmes de aventura da época.
 
 
O "State-of-Art" da época...
 
O filme foi um grande sucesso, abrindo caminho para toda uma geração de aventuras espaciais com foguetes cromados e tripulantes com trajes coloridos e largos com aquários na cabeça, ficando cristalizados na iconografia dos anos de 1950 a 1960 e povoando o imaginário do ocidente, sendo reciclado nas décadas seguintes ora como homenagem, hora como paródia, sendo reciclado no episódio 'One Way to the Moon' do seriado Túnel do Tempo (1966) em que foram usadas a cena da caminhada sobre o casco da nave, a sequência de pouso da nave na superfície da Lua, algumas cenas de caminhada sobre a superfície e a cena da partida do foguete, entrecortadas com close-ups dos atores da série usando trajes similares. 

 
Esta cena foi parodiada em "Star Trek: Primeiro Contato"  como uma homenagem do diretor Jonathan Frakes
 

Da mesma forma, foram usados os trajes (modificados) e a cauda cenográfica do foguete em Abbott & Costelo no Planeta Marte (1953) de Charles Lamont, em O Foguete Errante (1959) de  David Lowell Rich, com Os Três Patetas e em As Amazonas da Lua (1987) de John Landis.

 

"Abbott & Costelo no Planeta Marte"(1953): Trajes reciclados, entre outros adereços

Este é outro clássico imortal das matinês e Sessões da Tarde que merece ser revisto neste tempos de comemoração dos 50 anos do pouso na Lua, quando as forças do obscurantismo teimam em querer nos fazer acreditar que a Terra é plana e que não somos capazes de ultrapassar o limite de nossa atmosfera e que temos de permanecer fixos no chão, apesar de alegarem que a gravidade não existe...

 
"- A partir de hoje, as noites serão mais luminosas, com o brilho de milhões de mundos a serem visitados!!!" como poderia dizer um personagem de Ray Bradbury, adepto dos foguetes de cromo
 

 

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