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quarta-feira, 30 de junho de 2021

O Maior dos Vilões e Eu - Darth Vader & David Prowse

 


Nascido para ser o "Homem Mau"

Por Ronald Lima

(Originalmente postado em 14/ 12/ 2016)


De monstro de Frankenstein da Hammer à idolo das criancinhas inglesas e, Darth Vader...

(Originalmente postado em 14/ 12/ 2016)

 

Antes de ser o cara mior mau do universo David Prowse (1935 - 2020) era conhecido como o "Green Cross Code Man" na tv inglesa

 Star Wars Episódio VII - O Despertar da Força gerou no público mais jovem de hoje uma reação em que os filmes I, II e III da franquia... não conseguiram, pronto. Este impacto eu senti em 1978. Star Wars - que, mais tarde, seria chamado de episódio IV (calma, que mais à frente eu explico) - foi o primeiro filme sério e adulto que eu meu irmão fomos ver no cinema. Foi assim que nós o avaliamos naquela época, não é um filme tão sério e adulto assim né? Éramos crianças. Nosso pai nos levou para vê-lo nas férias. Mas foi uma verdadeira novela até conseguirmos ver aquele filme. 
 
Nos ensaios, com Geoge Lucas, Peter Cushing e Carrie Fisher. Por causa de seu acentuado sotaque escocês, nos bastidores era chamado de "Darth Farmer" ("Darth Fazendeiro")


Em uma visita à minha tia, que morava na cidade do Rio de Janeiro, eu e meu irmão vimos pela primeira vez o hoje famoso cartaz com Luke Skywalker bem no centro, apontando para cada um que passava diante dele, com a Princesa Leia do seu lado esquerdo e Han Solo a sua direita. Todos em posição que remetiam aos clássicos cowboys do Velho Oeste – só que tinham armas de lasers no lugar das velhas armas de fogo. E, no fundo da cena, havia um cavaleiro de armadura negra que parecia manejar laser com as próprias mãos - Como pode isso?? O nome do filme: Guerra nas Estrelas! Ninguém imaginava naquela época que Star Wars se tornaria a marca milionária de hoje em dia. A distribuidora traduziu o nome do longa.
 
Num intervalo das filmagens (de óculos) com Harrison Ford, Carrie Fisher, Peter Mayhew (Chewbacca, o mais alto) e Mark Hamill

E onde estava a novela? Bom, minha mãe não tinha interesse de nos levar para ver aquele filme. Nem tempo: voltaríamos para nossa cidade naquele mesmo dia. Na época morávamos em São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos no interior do Estado do Rio de Janeiro. Quando vivíamos lá, a cidade não tinha NADA! Até a televisão mal conseguia sintonizar os canais em que passavam os desenhos animados mais legais. Era de chorar de tanta frustração. Como convencer meu pai a fazer quatro horas de viagem para ir ao cinema? Pois é, não teve jeito. Apesar de nossa insistência, só tivemos a chance de ir ao cinema em nossas férias, quase um ano depois, quando meu pai nos levou ao Rio de Janeiro.
 
Como o monstro de Frankenstein na Hammer. Prowse também fêz monstros em vários seriados da TV inglesa como "Doctor Who" entre outros

Fomos ao Art Méier, que ficava no subúrbio do Rio. E aí a surpresa: nos aguardando lá estava Star Wars! Era comum na época que filmes que saiam de circuito das salas principais passassem para cinemas menores e menos badalados. Assim os filmes com maior audiência ficavam muito mais tempo em cartaz. Desse modo, meu irmão e eu finalmente entramos e assistimos a Star Wars.
 
Foi por "Laranja Mecânica" (1971) que Lucas tomou conhecimento de Prowse e decidiu que ele era o homem certo para dar corpo à Darth Vader

Star Wars começa com a frase mestre: “Há muito tempo atrás, em uma galáxia muito distante...” (Um "Era uma vez" me parece implícito). Vem a impactante e maravilhosa trilha sonora de John Williams que entra direto no sangue e na alma que estabelece em você a magia do cinema em seu mais alto grau. Segue então a descrição da história, escrita em letras inclinadas em perspectiva, seguindo para o infinito. A seguir surge um planeta e uma nave voando rápido em fuga seguida por uma espaçonave tão gigantesca que parecia não ter fim. Talvez pela expectativa alcançada, esse início de filme é para mim o momento mais marcante de Star Wars. Esse momento e o seu vilão.
 
Com Sir Alec Guinnes

O filme prossegue. Soldados nervosos se preparam para uma abordagem – uma cena inspirada em diversos filmes de guerra e faroeste. Mas por que ali a sensação era diferente? Os filmes de espaço sideral, que até então eu tinha visto na TV, eram muito bons, mas sem ações de verdadeiro impacto visual e ação vertiginosa, curioso hoje o acharem meio paradinho (a “vertigem” aumentou na verdade). Então os soldados - Stormtroopers – atacam (a ideia de que eles eram robôs durou anos...) e surge aquele Cavaleiro de Negro do cartaz, altivo e insensível ao que passa. Ele segue com sua respiração forte procurando uma princesa, que logo é capturada. E é ela que diz o nome da imponente e sinistra figura: Darth Vader! 
 
À despeito de sua voz ser dublada (por James Earl Jones) a presença cênica de Prowse foi fundamental, fazendo de Vader um mix de Drácula com monstro de Frankenstein

Como disse antes, naquela época Star Wars Episódio IV – Uma Nova Esperança era chamado por nós, brasileiros, de Guerra nas Estrelas. E ainda não havia a classificação de Episódio IV. Apesar de deixar pontas soltas, o filme funcionava bem sozinho, sem continuações. Elas vieram devido ao enorme e surpreendente sucesso que o filme alcançou. Sem os outros filmes, Guerra nas Estrelas seria lembrado somente por sujeitos como eu, que o viu no cinema ainda criança e naquela época – um marco inquestionável de uma infância sem referências tão marcantes do entretenimento. O filme tem um bom roteiro, diálogos simples e eficientes, heróis, uma princesa, o bem contra o mal, conceitos novos e instigantes (a Força, Cavaleiros Jedi)... E tem Darth Vader, claro. O homem assustador que nos foi apresentado por aquela princesa e que marcou o cinema e a cultura pop como nenhum outro.
 
Prowse se ressentia da maior parte do público não o identificar com o personagem

 
Seu visual foi, sem dúvida, um fator determinante para isso: um cavaleiro medieval de capa, com uma armadura negra brilhante. Seu elmo, que cobre todo o seu rosto, lembra uma caveira. E tinha também sua voz metálica, sua respiração ofegante e pesada. Tão intimidadora que exerce domínio sobre os que o cercam. Alguém teve dúvida quando ele surgiu em cena se seria ou não o cara mau do filme?
Nos anos 60 como Bodybuilder. Após o primeiro "Star Wars" Prowse foi o preparador físico de Christopher Reeve em "Superman - O Filme" (1978)

Apesar disso, o Darth Vader do Star Wars de 1978 marcou a memória da criança que eu era pela sua forma de agir. Há limitações para um ator se expressar quando não podemos ver seu rosto, mas um Vader fazendo caras e bocas não funcionaria, não causaria o medo que ele de fato representa. Seus atos demonstram total desprezo a aliados e inimigos. Dá as costas ou silencia o interlocutor quando o assunto não lhe interessa. Não é persuasivo com as palavras, vai direto ao ponto, sem perder tempo. Tortura, bate, exige, mata. Um sujeito duro e violento que enfatiza o que diz com gestos que denotam poder – punhos cerrados, dedo em riste. São ações e gestos que poderiam ser ridículos em outra situação, mas não em Vader, que naquele filme é um enigma. Não sabemos direito de seu passado, nunca vimos quem está por trás da máscara. Mas é óbvio que seu passado deve ser tão sombrio quanto seu rosto.
 
 
4 em 1: Em "O Retorno de Jedi" Vader virou o somatório de : Da esq. para a dir. James Earl Jones (voz),David Prowse (atuação), Bob Anderson (dublê de lutas) e Sebastian Shaw (Ankin Skywalker)

Isso explica muito das inseguranças e da falta de comando de Kylo Ren, o vilão da vez em Star Wars VII – O Despertar da Força. Apesar da armadura negra e da voz soturna que o capacete lhe dá, seus comandados sabem como é o rosto quase imberbe que existe por trás daquele uniforme. Sabem de seu passado de leite com pera e Ovomaltine ao lado de seus pais amorosos. Sabem da indecisão em seus atos que pode ser percebida em seu olhar. Não é à toa que ele tem uma devoção tão grande pelo vilão: Vader é tudo o que ele queria ser.
 
 
Em 2015, o documentário "I Am Your Father" de Toni Bestard e Marcos Cabotá cobriu a carreira de Prowse, e sua relação com Darth Vader

A importância do vilão é tamanha que a segunda trilogia da franquia – cronologicamente os episódios I, II e III – é estruturada para contar basicamente a história de como ele se tornou o homem que conhecemos em 1978. E depois da trilogia original – episódios IV, V e VI – e de uma rápida aparição no final do episódio III, finalmente teremos o maior vilão do cinema de volta agora em Rogue One: Uma História de Star Wars. O filme se passa imediatamente antes daquela aventura que tanto batalhei para ver no cinema em 1978 – e que perdi a conta de quantas vezes vi depois disso. 
 
 
A obsessão de Kylo Rem com o legado de seu avô é algo digno de uma tragédia grega

Certamente ele é uma das figuras mais conhecidas da cultura pop: presente em brinquedos, quadrinhos, memes, obras de arte e estampando ou inspirando os mais variados objetos que o dinheiro pode comprar – de meias a chocolate. Podemos dizer que Darth Vader já está inserido em nosso inconsciente coletivo. Mas será que ele ainda é relevante hoje em dia? Vê-lo de novo em ação não vai reduzir o seu significado para as novas gerações? A expectativa em torno de sua volta às telas prova o quanto o público anseia por sua volta. E, justamente por ser uma figura coberta da cabeça aos pés, sem o rosto de alguém para associarmos a ele, esta volta é possível – por que não? Agora, se esta expectativa será plenamente realizada, só podermos afirmar após a estreia de Rogue One.
 
A criança que fui em 1978 aguarda ansioso por isso.




Zoeira ao quadrado - Crítica - Filmes: Deadpool 2 (2018)

 

 

Fan Service em modo “Metralhadora Giratória”

por Alexandre César

(Originalmente postado em 17/ 05/ 2018)


Nova aventura do mutante zoado dá o que promete

 

Wade/ Deadpool (Ryan Reynolds) & Vanessa (Morena Baccarin): O amor é lindo...


Wade Wilson / Deadpool (Ryan Reynolds, surtado) está disposto a se tornar um homem sério (???), deixando de lado sua vida de mercenário psicopata, boquirroto e pá-virada para constituir família com a sua amada Vanessa (Morena Baccarin, maravilhosa) e tendo um filho. Lindo não?

 

"- Essa mansão continua vazia!!!"

 

Sim, só que aí o filme ia durar apenas 5 minutos e a plateia ficaria frustrada. Então...  

Russel (Julian Dennison): Pivô da (possível) futura tragédia


Dirigido por David Leitch (Atômica, de 2017), Deadpool 2 (2018) dá prosseguimento à saga do anti-herói mutante que procura a redenção para uma vida de violência ao tentar salvar o jovem Russell (Julian Dennison) do destino de, futuramente, tornar-se o mutante maligno Firefist. Isso o coloca em rota de colisão com o super-uber-soldado ciborgue/mutante Nathan Summers/Cable (Josh Brolin, caminhando para se tornar a Meryl Streep dos filmes Marvel - seja da própria Marvel Studios, seja através de algum outro estúdio que terceirize personagens da Casa de Ideias. Cable quer impedir a todo custo que, no futuro, Firefist mate milhares de inocentes devido a uma infância vítima de abusos que deturparão sua personalidade. 

 

Deadpool: X-Man... "estagiário"


Wade quer salvá-lo desse destino, impedindo o garoto de abraçar seu lado negro, enquanto Cable quer resolver tudo colocando uma bala na cabeça do moleque antes dele se tornar um monstro. Dramático, não?

 

Entre os heróis, o "normal man"...

 

Se fosse um outro filme Se fosse um outro filme Marvel qualquer teria um certo peso dramático; se fosse da “distinta concorrência” (DC) seria indubitavelmente trágico. Mas como é ) seria indubitavelmente trágico. Mas como é Deadpool, tudo é motivo de chacota, piadas de duplo sentido e com um humor gore de deixar Quentin Tarantino e Robert Rodriguez orgulhosos. 

 

Cable (Josh Brolin de novo...): Exército de um homem só

 

O filme é uma sucessão de referências à cultura pop, indo das aberturas estilosas dos filmes de James Bond ao universo dos quadrinhos e suas vertentes cinematográficas, fruto de um roteiro esperto (Rhett Reese, Paul Wernick e o próprio Ryan Reynolds) que não tem medo de literalmente jogar para a plateia. E faz isso de forma mais focada do que no filme anterior - que tinha um humor metalinguístico mais genérico, visando o grande público, fora do nicho dos quadrinhos e filmes. Aqui, apesar do apelo amplo, não há hesitação em se praticar o chamado fan service, compreensível a quem realmente conhece o personagem, o mercado de quadrinhos norte-americanos, o meio nerd e a cultura pop em geral. Talvez daí venham algumas das críticas negativas publicadas lá fora.

 

"X-Force": Tirando a Dominó (Zazie Beetz), um grupo descartável


No mais, além das novas faces - como a estilosa Dominó (Zazie Beetz, bem descolada) e a simpática Yukio (Shioli Kutsuna, fofa) - temos a equipe de sempre: Weasel (T.J. Miller), que continua a ser “o amigo que dá suporte”, mas, na realidade é frouxo como ele só; Dopinder (Karan Soni, hilário), o taxista indiano que cresce na sua esquisitice; Al, a cega (Leslie Uggams), que continua com a sua extraordinária capacidade de apontar a arma para as direções erradas. Do lado dos X-Men (que continuam misteriosamente sendo alguns gatos pingados habitando uma mansão vazia, apesar do orçamento maior), temos de volta Colossus (Stefan Kapicic), ainda com seu visual cartunesco, que agora caracteriza a sua bidimensionalidade; e Míssil Adolescente Megassônica (Brianna Hildebrandt), agora com um look mais transado, fruto da maior definição da personagem.

 

Yukio (Shioli Kutsuna) e Megasônica (Brianna Hildebrandt): A fofa e a invocada


 

A trilha sonora, capitaneada por Tyler Bates, conta com uma ótima seleção de hits marcantes e é algo à parte, sublinhando a ironia da narrativa. A fotografia de Jonathan Sela trabalha afiada com a edição de Elísabet Ronaldsdóttir e Mary Vernieu, otimizando a metralhadora giratória de referências, easter eggs, gags e toda a sorte de parafernália narrativa - do surgimento da X-Force, demonstrando como existem personagens inúteis no universo mutante, até cameos inesperados de astros em aparições-relâmpago. 

 

Entre as ameaças, o Fanático, quebrando tudo em seu caminho

 

Simplificando: Vá, veja e divirta-se. E, por tudo que é mais sagrado, não perca as cenas pós -créditos, quando nosso herói corrige algumas linhas temporais...


"Shh! Nada de spoilers!!!"


domingo, 27 de junho de 2021

Perseguidas..... - Crítica - Filmes: Meu Ex É um Espião (2018)

 


Ação "mulherzinha" e da boa!

por Alexandre César

(Originalmente postado em 23/ 08/ 2018)


Filme se apóia na boa química de suas protagonistas
 

Audrey (Mila Kunis) este meio na fossa, pois na plena comemoração de seus 30 anos, está sozinha, pois o seu namorado Drew (Justin Theroux) sumiu do nada há semanas e não responde aos seus zaps, coisa que a deixa por baixo, apesar de Morgan Freeman (Kate McKinnon) sua melhor (e sem-noção) amiga tenta reverter. Paralelo a isso e a alguns flashbacks mostrando como haviam se conhecido e iniciado um relacionamento tão promissor, acompanhamos o sujeito na Lituânia executando uma missão (e alguns oponentes no caminho...) no melhor estilo Jason Bourne, revelando algo que Audrey Ignora: Ele é um espião, e dos mais letais!
 
 
Drew (Justin Theroux) e Audrey (Mila Kunis): Casal fofo, pelo menos na cabeça dela.

Após a descoberta da real atividade do seu namorado, as duas acabam envolvidas numa trama em são perseguidas pela Europa, tentando entregar “o pacote”, que supostamente era seu troféu de uma liga imaginária de futebol. Entre as belas locações de cartão postal em Paris, Aústria e Hungria, as suas vidas passam a ficar por um fio entre situações insólitas e hilárias.
 
 
Audrey e a sua melhor amiga Morgan Freeman (Kate McKinnon), louca mas fiel, e que aproveita ter o nome do grande ator para fazer reservas em restaurantes...

 
 Assim podemos resumir Assim podemos resumir Meu Ex é um Espião (2018) de Susanna Fogel, que apesar de dirigido por uma mulher, demonstra fôlego nas cenas de ação bem coreografadas e bastante competência ao alternar as situações típicas de aventura de espionagem e comédia de ação, temperada com um jeito “mulherzinha de ser”, que agrada tanto ao público feminino quanto ao masculino.
 
 
Caçadas como terroristas as duas tentam entregar o "pacote"...

O roteiro de Susanna Fogel e David Iserson mescla em certos momentos ao longo do filme cenas de ação e de espionagem dividindo o espaço de tela com cenas de comédia romântica nas 2 horas de filme, com sequências de ação não voltadas para o lado cômico (com tombos e tropeços apenas no andamento natural das coisas) e não abrindo espaço para piadas e trocadilhos forçados. Era um recurso narrativo muito usado naqueles filmes do Rock Hudson com a Doris Day como se fossem dois filmes em um só, tendo as cenas de ação uma distância boa da mesma, facilitando a sua visualização e os pedaços de comédia com um toque mais delicado, focando nos closes, mostrando as expressões faciais e a reação de cada uma das personagens em cena.
 
 
Duffer (Hasan Minhaj) e Sebastian Henshaw (Sam Heughan): Dupla de agentes meio disfuncionais entre si.

No mais, o humor impera, fugindo à regra de que fusões de filme de espião com comédia acabam em filmes meio escrachados e bobos, seja na boa interação do elenco, com Kunis bela, sonhadora apesar de tudo, fazendo de Audrey uma fofa, seja pelo completo contraste com McKinnon que faz um ótimo contraponto/alívio cômico da sua surtada Morgan, cuja insistência no usar frases feministas consegue dar toques de empoderamento (não necessariamente da forma correta) criando graça justamente pela repetição e insistência da personagem em querer ser uma agente, ou quando conta se gabando sobre o seu suposto relacionamento com Edward Snowden. É uma descompensada, mas as duas formam uma dupla e tanto.
 
 
Wendy (a eterna Dana Scully de "Arquivo X" Gillian Anderson): Até as líderes de serviços secretos ficam stressadas.

No elenco, destaque para o elenco de apoio que sabe dar o seu recado aproveitando o tempo que lhe é dado, como dupla Sebastian Henshaw (Sam Heughan) o espião galã e Duffer (Hasan Minhaj) o espião indiano formando de Harvard, e a sua chefe Wendy (Gillian Anderson) com suas tiradas irônicas sobre a competência de seus operativos e ao avaliar a performance das duas malucas fazer aquela cara de “O que é que eu estou fazendo aqui?”, ou o motorista e DJ Lukas (Kev Adams) do ÜBER, ou a dupla Carol (Jane Curtin) e Arnie Freeman (Paul Raiser) pais de Morgan que nos mostram o porquê dela ser do jeito que é. Outros destaques são Lolly Adefope como Tess, amiga lesada das duas que faz declarações aos jornais quando as duas estão sendo caçadas como terroristas (veja as suas cenas ao longo dos créditos finais...) e a belíssima e exótica Ivanna Sakhno com Nadedja, a super-espiã-assassina cujos grandes olhos e caras e bocas de top model dão –lhe um “quê” meio alienígena . Cabe dizer que a cena em que ela de tocaia com fuzil e mira pergunta quem ela deve matar e o chefe fala: “-duas americanas idiotas!” e ele fica perdida porquê cada turista americana que ela mira no local é mais idiota que a outra, deixando-a agoniada sem saber o que fazer, vale o ingresso...
 
 
Nadedja (Ivanna Sakhno): Super-über espiã, assassina, torturadora, ginasta e top model. Pacote completo e perigo real e imediato..

 A música de Tyler Bates embala a aventura na medida certa, apesar de ficar no estritamente necessário, acompanhando a montagem de Jonathan Schawartz que encadeia bem as passagens sejam românticas, ou da mais alucinada ação ou do humor mais escrachado. A fotografia de Barry Peterson e o desenho de produção de Marc Homes, junto com a direção de arte, emolduram o ambiente onde a trama e seus desdobramentos se acumulam sem chamar muito a atenção para si, bem como os figurinos de Alex Bovaird definem bem as personagens, no início , com um tom casual e despojado, para ao final repaginar as nossas heroínas no melhor estilo Girl Power! E falar mais do que isso é desperdício. Vá e curta.
 
 
"-Estamos prontas para a próxima fase do game m0th3r f#ck3r!!!..."

 

sábado, 26 de junho de 2021

Acima de tudo vigarista! - Crítica - Filmes: A Grande Mentira (2019)

 

 

171, entre outros números...

 

por Alexandre César 

(Originalmente postado em 21/ 11/ 2019)


     Hellen Mirren e Ian McKellen em trama instigante

 


Abra bem os seus olhos...


2009. A bela viúva Betty McLeish (Helen Mirren, Oscar por A Rainha e de A Maldição da Casa Winchester e Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw) procura conhecer alguém num site de relacionamentos, e depara com o encantador Roy Courtnay (Ian McKellen das trilogias O Senhor dos Anéis e O Hobbit) que rapidamente ocupa espaço em sua vida, e apesar das reservas de seu neto Stephen (Russell Tovey de Quantico) ela investe nesse relacionamento, e como poderia ser diferente? Roy é charmoso, elegante, bem falante e divertido, e demonstra bastante apreço pela doce viúva, não fosse um pequeno detalhe: Roy é um golpista safado, que vive de ludibriar os outros, e que se fosse pego nos países islâmicos, não teria uma, mas as duas mãos cortadas. Embora planeje convencer a viúva a entrar num negócio fajuto, visando limpar seus substanciais fundos até deixá-la sem nada Roy começa a lutar com a ideia de estar realmente se afeiçoando a Betty, colocando-o num impasse.
 


Roy Courtnay (Ian McKellen) e Betty McLeish (Helen Mirren): Relacionamento em tempos de internet


Dirigido por Bill Condon (Oscar pelo roteiro de Deuses e Monstros que dirigiu com McKellen indicado como melhor ator) A Grande Mentira (2019) equilibra bem humor, drama e tensão numa história de golpes, expectativas e surpresas. McKellen, com a competência de sempre, nos mostra a forma como Roy, junto com seu parceiro de golpes Vincent (Jim Carter de Downton Abbey) cativa as suas vítimas, homens de negócios em busca de investimentos de lucro rápido (não importando se lícitos ou não...) na melhor tradição de “ladrão-que-rouba-ladrão”,e embora seja um personagem cativante rapidamente nos mostra que ele não exita no uso da violência para assegurar os seus ganhos ou para manter os seus disfarces, de forma rápida, contundente, e até letal, pois só porque é um velhinho simpático, não podemos esquecer que criminosos também envelhecem (e se estiverem na política, envelhecem e se aposentam muuito bem).


O neto de Betty Stephen (Russell Tovey) sente que Roy não é esse "Príncipe" que sua avó diz...

O roteiro de Jeffrey Hatcher (Sr. Sherlock Holmes) a partir do aclamado livro de Nicholas Searle (não publicado no Brasil) trabalha as circunstâncias do encontro entre esses dois idosos, com situações até previsíveis, dada a premissa simples da história, mas surpreendendo nas reviravoltas e nas motivações de seus personagens, bem como nas suas origens, mostrando o quanto um fugitivo pode se viciar na adrenalina de estar sempre fingindo ser quem não é, ou como adolescentes despeitados podem ser destrutivos em momentos históricos perigosos ou como pessoas esquecidas podem voltar do passado para ajustar contas. A vida sempre surpreende...


Roy tem como aliado Vincent (Jim Carter) em seus golpes na área financeira

 
A elegante fotografia de Tobias A. Schliessler (A Bela e a Fera) e a montagem de Virginia Katz (Sr. Sherlock Holmes) habituais colaboradores de Condon situam bem a trama e sua atmosfera, entre a casa de Betty num condomínio e os Nightclubs e apartamentos alugados que Roy usa para seus golpes, havendo uma mudança interessante na palheta de cores quando os protagonistas viajam para Berlim, e em alguns momentos ficando com um ritmo narrativo que remete à O Mistério de Berlim de Steven Soderbergh (2006) quando são revelados dados do passado de Roy.


Roy, escorregadio como só ele, faz de tudo para driblar Stephen


Reflexos: Roy esconde segredos sobre as suas origens...

O desenho de produção de John Stevenson (Burton e Taylor) capta o estilo cotidiano da casa rural e Betty, a falsa imponência dos escritórios de araque usados para golpes na área financeira e a passagem do tempo nos ambientes berlinenses da época e dos anos do antes e do pós-Segunda Grande Guerra de forma sutil, da mesma forma que os figurinos de Keith Madden (Patrick Melrose e Sr. Sherlock Holmes ) caracterizam as personalidades de seus personagens, seja na delicadeza dos vestidos de Betty seja na simplicidade dos trajes de Roy quando quer parecer “um bom velhinho” inofensivo que usa boina e guarda-chuva ou na imponência dos seus bem cortados ternos quando quer se passar por um poderoso banqueiro, como um camaleão, tudo com sutil elegância, se bem que, Mirren e McKellen são elegantes até mesmo como mendigos, não conseguem evitar...


Velho mas não indefeso: Roy mostra quando necssário ser perigoso e mortal

 
Condon, conduz a trama de forma eficiente, embalado pela trilha sutil de Carter Burwell (Três Anúncios para um Crime, Carol) que sublinha a ação seus intérpretes, sem chamar atenção para si, permitindo que “duelem” seja no gestual, ou num olhar, revelando certezas e dúvidas, mostrando que nem sempre o mais competente enganador é aquele que se orgulha de seus logros (“-Você não está nisso pelo dinheiro Roy!” lhe diz o seu amigo Vincent em certa altura “- É pela adrenalina do jogo!!!” ) e se julga verdadeiramente senhor de seus atos...
 


Ao final, Roy atinge o seu objetivo... ou não?


A Grande Mentira vale a ida ao cinema se você acha que vale ver o desenrolar de uma trama baseada apenas em boas interpretações, uma história bem amarrada e uma boa condução narrativa, no melhor estilo inglês, com um humor sutil, momentos de ação inesperados e doses dramáticas na medida que a história pede, de forma equilibrada, coisa rara nestes tempos de Tiro, Porrada & Bomba...
 


Betty: "- Você me ama?" 

Roy: "- Eu tenho uma grande afeição por você..."