E agora rapazes,“ELA” chegou!!!
E agora rapazes,“ELA” chegou!!!
por Alexandre César
(Originalmente postado em 10 /03/ 2019)
Equilíbrio entre sua origem e a relevância no MCU,
fazem uma aventura às vezes previsível, mas extremamente eficiente.

Passado fetichista: Miss Marvel, Warbird e Binária.
Identidades passadas de Carol Danvers nas HQs do passado.
A primeira pergunta que muita gente está se fazendo desde que este filme foi anunciado: quem é a Capitã Marvel?
Quem é essa personagem que a Marvel parece ter tirado do bolso de uma
hora para a outra, criando aparentemente do nada um ícone feminino para
chamar de seu? Para estes respondemos que a Capitã não surgiu do nada e
tem muita história para contar.
Carol Danvers surgiu nos quadrinhos em 1968 como coadjuvante na revista do super herói alienígena Kree Capitão Marvel da Marvel (criado por Gene Colan e Stan Lee
em 1967). Anteriormente o nome deste herói pertencia ao personagem da
Era de Ouro dos quadrinhos que muita gente sempre chamou de Shazam. Sua editora, a Fawcett Comics, desistiu de continuar publicando suas aventuras e de todos os outros personagens de seu background ao entrar em acordo com a DC Comics em 1953, após um longo e dispendioso processo - a DC acusava do personagem de ser um plágio da sua galinha dos ovos de ouro: o Superman. Por não publicar mais suas aventuras, a Fawcett deixou de renovar os direitos pelo uso do nome do herói e seu Copyright
ficou em aberto. O sempre esperto Stan Lee tratou de criar seu próprio
Capitão Marvel, quando ficou claro que os super heróis seriam o carro
chefe da Marvel Comics. Ele não podia deixar passar a oportunidade de garantir um personagem com o nome da editora nessa onda.

Miss Marvel em sua primeira revista solo: nesta fase ela era muito ligada ao universo do Homem Aranha
Carol
foi piloto da USAF, agente de segurança da NASA, operativo da CIA,
editora de revista feminina, autora de ficção-científica (entre outros
gêneros) e, de quebra, ao ser salva da explosão de um maquinário dos
alienígenas kree (o “psicomagnetron”) pelo primeiro Capitão Marvel
(o militar kree Mar-Vell), foi afetada pela radiação do equipamento.
Incialmente acreditou-se que a radiação fora filtrada pelo seu salvador
alienígena, tornando-a uma híbrida genética kree/humana. Mais
recentemente, porém, descobrimos que ela sempre foi uma híbrida
kree/humana, mas não sabia disso. A radiação da explosão só detonara
seus poderes latentes.
Carol
adquiriu superforça, grande resistência física, poder de voo e um
“sétimo sentido”, iniciando uma carreira de heroína com o nome de Miss Marvel. Tornou-se membro de Os Vingadores, perdeu seus poderes e memória numa batalha contra Vampira (quando esta ainda era vilã, antes de se tornar membro dos X-Men). Recuperou suas lembranças com a ajuda do Professor Xavier e participou de aventuras com os X-Men
(era amiga do Wolverine de longa data) e, numa dessas, graças à uma
fonte inesgotável de poder cósmico, transformou-se quase em uma estrela
humana, com poderes ainda maiores do que já possuíra, assumindo o
codinome de Binária. Entrou para o grupo de mercenários e justiceiros interplanetários chamados de Piratas Siderais, depois reencontrou os Vingadores
e voltou a Terra, após se ferir e ter seus poderes revertidos ao nível
de Miss Marvel. Após algum tempo, decidiu assumir o codinome de Warbird.
A
insegurança pela perda das habilidades cósmicas a levaram ao
alcoolismo, deixando a equipe dos Heróis Mais Poderosos da Terra. Graças
à ajuda de Tony Stark, o Homem de Ferro, novamente deu a volta por cima. Participou de aventuras com os Guardiões da Galáxia e cumpriu missões para a S.H.I.E.L.D. Após
vários percalços, assumiu a patente e o codinome daquele que a inspirou
a seguir a carreira super-heroica, há bastante tempo falecido,
tornando-se assim a Capitã Marvel, um ícone do empoderamento
feminino, deixando para trás o seu passado em que, visualmente era
apenas mais uma poderosa, curvilínea e gostosona super-heroína vestida
como uma chacrete, atendendo aos fetiches de gerações de nerds babões.
Agora que fomos devidamente apresentados, voltemos ao filme.

Carol Danvers / Veers (Brie Laerson) junto aos companheiros da "Star Force" do Império Kree. Origens nebulosas.
Dirigido por Anna Boden e Ryan Fleck, que assinam o roteiro junto com Geneva Robertson-Dworet, Capitã Marvel (2019) faz sua estreia no Universo Cinematográfico Marvel (UCM)
carregando um peso descomunal em seus ombros. É a primeira aventura do
estúdio protagonizada por uma mulher (marcando mais um aceno da Marvel Studios à diversidade). Uma mulher em busca da sua identidade e da origem da sua força. Este é um filme com jeitão das produções da Fase Um do estúdio, que serve de ponte entre Vingadores: Guerra Infinita (2018) e o esperado Vingadores: Ultimato (que chega em abril deste ano) - ambas produções dirigidas pelos irmãos Anthony e Joe Russo. Isto torna esta película (que, a grosso modo, poderia ser só um filme Marvel com foco na diversidade) numa das produções mais aguardadas do estúdio, com uma pegada histórica similar aos filmes do Capitão América,
e que cumpre bem o seu papel de entretenimento, resultando numa obra
com vida própria e acenando para um futuro bastante promissor.

Yon-Rogg (Jude Law ao centro) no comando. Eficiente mas nada de extraordinário.
Este
é muito mais um filme sobre Carol Danvers (Brie Larson) do que sobre a
heroína que ela eventualmente se tornará. O seu roteiro simples tenta
fugir do padrão engessado de filmes de origem da Marvel.
Ela não sabe tudo - seja sobre seus poderes, seja sobre si mesma -,
errando, se decepcionando. Cai no chão várias vezes e, não importando a
situação ou o adversário, sempre se levanta e tenta de novo, até
finalmente conseguir. É fácil simpatizar com ela e seu humor sarcástico
ou se empolgar com os poderes cósmicos que ela possui. A ascensão de
Carol ao longo do filme é empoderadora, mas não bandeirosa.

Nos deparamos com um jovem (e com dois olhos!) Nick Fury (Samuel L. Jackson)...
Começamos
a história em um sistema distante, onde seu alter-ego Vers (Larson) é
uma oficial kree honrada e poderosa que, em meio à guerra entre os Krees
e os Skrulls (raça de alienígenas transmorfos), está sendo treinada
para fazer parte da Star Force.
O seu treinamento, bastante intenso, é ponto chave para que o público
entenda certos comportamentos da heroína. Afinal, o filme chega aos
cinemas com o peso de ter que provar que ela está à altura de encarar Thanos, além de introduzir o conflito kree x skrull, até então inédito no UCM. Se você viu como os kree foram representados em Guardiões da Galáxia e na série de TV
Marvel´s Agents of S.H.I.E.L.D.,
deduz o que se desenrola aqui. O roteiro faz quase que um paralelo com o
conflito de Palestinos e Israelenses que, apesar de bastante coerente
dentro do filme e do próprio UCM, pode desagradar a alguns fãs mais xiitas.

... e com um jovem Phil Coulson (Clark Gregg). Milagres do CGI...
Um dado interessante no filme está na estrutura inversa do roteiro dessa história de origem. No mundo Kree, ela tem flashs de
sua vida em nosso planeta, e quando está cativa dos Skrulls, vemos
estas memórias embaralhadas e fora de ordem. Como é um filme sobre auto
descoberta e autoafirmação, se investe bastante em flashbacks e
auto-citações ao longo da trama. Por exemplo: só depois da metade do
filme descobrimos como ela adquiriu seus poderes, quando ela remonta a
sua própria história, e logo percebemos que nada é o que parece ser. Um
dos problemas do roteiro é a falta de personalidade dos antagonistas,
genéricos em seus planos e visão de mundo (o tal “calcanhar de Aquiles da Marvel”), prejudica a trama.

Os anos 90 e a tecnologia de ponta em audio visual: O vídeo VHS.
Após
algumas reviravoltas, a nossa heroína desmemoriada acaba caindo na
Terra, na década de 90, e assim o filme engrena de vez, funcionando
inclusive como uma prequel de alguns eventos já vistos no UCM.
Embora as ligações com os outros filmes não sejam o foco, há coerência
nos acontecimentos que adicionam uma camada extra de informação para
quem acompanha fielmente os filmes do universo Marvel.

Começam a emergir na mente de Vers lembranças
de uma "Carol Danvers", piloto da USAF...
Já na Terra, a história cresce ao vermos a formação do UCM, tomando forma na presença dos jovens Nick Fury e Phil Coulson (Samuel L. Jackson e Clark Gregg, rejuvenescidos via CGI). Neste período, a S.H.I.E.L.D.
é uma agência menor, como outras tantas. Logo Carol entra numa
perseguição a alguns skrulls disfarçados a bordo de um trem, com Fury e
Coulson na cola dela em um carro, como vemos em thrillers clássicos, como Operação França (1971,
de William Friedkin). Danvers e Fury se tornam verdadeiros aliados,
gerando outras situações que remetem a outros clássicos thrillers,
com traições e fugas no último segundo, Aliás, a participação de Fury
(que ainda tinha visão binocular) é um ponto alto da narrativa. A
amizade entre eles flui naturalmente, lembrando uma comédia do gênero buddy cop,
em que vemos dois policiais ou investigadores com estilos diferentes e
conflitantes, mas que acabam se tornando bons amigos. A guerra
interplanetária ganha uma certa leveza ao ser apresentada pelos olhos
ainda inocentes de Fury. O roteiro, faz uso de situações e locais que
acertam em cheio na proposta da apresentar o estilo de vida dos anos 90.
Embora encontre soluções interessantes, deixando a determinação de
Carol Danvers guiar boa parte do filme, o roteiro não se permite maiores
ousadias, vítima da famigerada fórmula Marvel.

Finalmente somos apresentados aos Skrulls,
aqui comandados por Talos (Ben Mendelsohn) que surpreende.
Embora
Larson faça um bom trabalho, a busca pela própria identidade acaba
limitando a personalidade de Carol, presa aos clichês narrativos da "garota confusa e sem memória" ,
o que prejudica seu rendimento. Entretanto, é a parceria de mulheres
humanas e sem poderes revelada em seu passado que realmente encanta e
gera simpatia pela heroína. Sua história de fundo, com a amiga e também
piloto Maria Rambeau (Lashanna Lynch), instiga nossa curiosidade por
quem ela era antes de ficar desmemoriada. Maria é a grande conexão da
heroína com seu passado, dando uma camada emocional à história, numa
interpretação naturalista, típica de dramas indies (algo raro no MCU).
Está nas suas lembranças o elo das amigas, seja enfrentando os
preconceitos como mulheres pilotos, seja no apoio para a criação da
pequena Monica Rambeau (Akira Akbar) - Maria é mãe solteira. A pequena
Mônica também rouba a cena ao representar esta nova geração de meninas
sonhadoras, pois, diferente da Princesa Amazona da DC,
Carol é uma representação mais plausível da realidade em que as
mulheres vivem atualmente, sendo louvável, a proposta do filme em
mostrar como ela é incrível com ou sem poderes.

As lembranças de seu passado como piloto e a amizade
com Maria Rambeau (Lashanna Lynch) resgatam a sua identidade.
O elenco de apoio, por sua vez, é enxuto, mas garante bons momentos. Destacamos o Skrull Talos, interpretado por Ben Mendelsohn.
O ator, acostumado ao tipo vilanesco, faz um personagem bem diferente
de sua concepção nos quadrinhos, mas ainda bastante coerente dentro da
narrativa proposta, dando-nos uma performance bonita e sensível, apesar
do rosto escondido por trás da grossa maquiagem verde. Yon-Rogg (Jude Law - que não é o Capitão Marvel dos
quadrinhos, como alguns sugeriam) entrega uma atuação padrão para um
personagem frio e idealista. Nada excepcional, mas longe de ser ruim. Annette Bening também não decepciona – ainda que a empolgação da atriz em fazer parte do UCM seja transparente em praticamente todas as cenas que atua. Quem acaba sendo – novamente – subaproveitado é Ronan, o Acusador (Lee Pace). Agora o adorável gatinho Goose consegue roubar a cena quando é posto em ação, sendo o bichano laranja uma grata surpresa cheia de segredos.

Carol Danvers e Nick Fury estabelecem uma parceria
similar à de muitos filmes tipo "Máquina Mortífera"...
A trilha incidental é um show à parte, assim como a trilha sonora (com uma vibe de ficção científica muito boa de ouvir), apostando no grunge dos anos 90, e entrega vários sucessos que voltarão a integrar as playlists da moda em breve. Hits de época do Elastica e do TLC até embalam a trilha sonora, numa tentativa de emular o que James Gunn fez com a trilha de Guardiões da Galáxia.
Os figurinos são eficientes, dentro da necessidade, mas pouco se
destacando, similar ao design de produção, que poderia explorar a
cultura dessa nova parte do espaço, mas pouco expande visualmente as
particularidades das sociedades Kree e Skrull, tendo uma identidade
incerta, como a sua protagonista. Mas pelo menos, Carol encontra a sua
ao final...

Korath (Djimon Hounsou) e Doutora Minn-Erva (Gemma Chan):Personagens de outras sagas dos quadrinhos que atuam com Yon-Rogg.
Há
um desequilíbrio nas cenas de ação, medianamente coreografadas, e nos
efeitos visuais. Se a equipe de maquiagem trabalhou de forma espetacular
- sendo o rejuvenescimento digital de Samuel L. Jackson e de Clark
Gregg muito bem-sucedido -, por outro lado, no que diz respeito a cenas
mais elaboradas de ação ou ambientes mais inusitados - como o da Suprema Inteligência Kree - é muito perceptível o uso do CGI. As lutas aéreas, envolvendo os poderes totalmente evoluídos da heroína, pecam por possuir um aspecto de vídeo game fake,
tirando o peso da pirotecnia que preenche a tela, criando uma imagem do
espaço não uniforme que não transmite credibilidade, destoando de
outras produções do estúdio.

Prestem atenção neste cara, digo felino...
Ainda que o subtexto feminista (embora bem colocado) não alcance a profundidade que a temática racial e cultural ganharam em Pantera Negra (2018, de Ryan Coogler), Capitã Marvel cumpre
seus objetivos ao apresentar uma história redonda, de uma líder forte e
debochada, mas não arrogante como Tony Stark, e sem cair no estereótipo da “chutadora de bundas”
Ela é superpoderosa e sabe disso, mas entende o seu papel de inspiração
para as crianças, dividindo o seu tempo entre salvar o universo e
descobrir sobre seu próprio passado (a diferença é que ela não tem uma Kriptonita...).
Admitamos
rapazes, Carol Danvers tem uma senhora personalidade e, independente de
seus poderes, o seu potencial neste universo não pode ser medido apenas
por seus êxitos, mas também pelas suas falhas. É na sua empatia e
resiliência que a sua humanidade aflora e ela triunfa.

"Breve no Playstation ou para jogar online ..."
Obs: Fãs, não se esqueçam de ver as DUAS cenas pós-créditos.
Equilíbrio entre sua origem e a relevância no MCU,
fazem uma aventura às vezes previsível, mas extremamente eficiente.
![]() |
Passado fetichista: Miss Marvel, Warbird e Binária. Identidades passadas de Carol Danvers nas HQs do passado. |
A primeira pergunta que muita gente está se fazendo desde que este filme foi anunciado: quem é a Capitã Marvel?
Quem é essa personagem que a Marvel parece ter tirado do bolso de uma
hora para a outra, criando aparentemente do nada um ícone feminino para
chamar de seu? Para estes respondemos que a Capitã não surgiu do nada e
tem muita história para contar.
Carol Danvers surgiu nos quadrinhos em 1968 como coadjuvante na revista do super herói alienígena Kree Capitão Marvel da Marvel (criado por Gene Colan e Stan Lee
em 1967). Anteriormente o nome deste herói pertencia ao personagem da
Era de Ouro dos quadrinhos que muita gente sempre chamou de Shazam. Sua editora, a Fawcett Comics, desistiu de continuar publicando suas aventuras e de todos os outros personagens de seu background ao entrar em acordo com a DC Comics em 1953, após um longo e dispendioso processo - a DC acusava do personagem de ser um plágio da sua galinha dos ovos de ouro: o Superman. Por não publicar mais suas aventuras, a Fawcett deixou de renovar os direitos pelo uso do nome do herói e seu Copyright
ficou em aberto. O sempre esperto Stan Lee tratou de criar seu próprio
Capitão Marvel, quando ficou claro que os super heróis seriam o carro
chefe da Marvel Comics. Ele não podia deixar passar a oportunidade de garantir um personagem com o nome da editora nessa onda.
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Miss Marvel em sua primeira revista solo: nesta fase ela era muito ligada ao universo do Homem Aranha
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Carol foi piloto da USAF, agente de segurança da NASA, operativo da CIA, editora de revista feminina, autora de ficção-científica (entre outros gêneros) e, de quebra, ao ser salva da explosão de um maquinário dos alienígenas kree (o “psicomagnetron”) pelo primeiro Capitão Marvel (o militar kree Mar-Vell), foi afetada pela radiação do equipamento. Incialmente acreditou-se que a radiação fora filtrada pelo seu salvador alienígena, tornando-a uma híbrida genética kree/humana. Mais recentemente, porém, descobrimos que ela sempre foi uma híbrida kree/humana, mas não sabia disso. A radiação da explosão só detonara seus poderes latentes.
Carol
adquiriu superforça, grande resistência física, poder de voo e um
“sétimo sentido”, iniciando uma carreira de heroína com o nome de Miss Marvel. Tornou-se membro de Os Vingadores, perdeu seus poderes e memória numa batalha contra Vampira (quando esta ainda era vilã, antes de se tornar membro dos X-Men). Recuperou suas lembranças com a ajuda do Professor Xavier e participou de aventuras com os X-Men
(era amiga do Wolverine de longa data) e, numa dessas, graças à uma
fonte inesgotável de poder cósmico, transformou-se quase em uma estrela
humana, com poderes ainda maiores do que já possuíra, assumindo o
codinome de Binária. Entrou para o grupo de mercenários e justiceiros interplanetários chamados de Piratas Siderais, depois reencontrou os Vingadores
e voltou a Terra, após se ferir e ter seus poderes revertidos ao nível
de Miss Marvel. Após algum tempo, decidiu assumir o codinome de Warbird.
A insegurança pela perda das habilidades cósmicas a levaram ao alcoolismo, deixando a equipe dos Heróis Mais Poderosos da Terra. Graças à ajuda de Tony Stark, o Homem de Ferro, novamente deu a volta por cima. Participou de aventuras com os Guardiões da Galáxia e cumpriu missões para a S.H.I.E.L.D. Após vários percalços, assumiu a patente e o codinome daquele que a inspirou a seguir a carreira super-heroica, há bastante tempo falecido, tornando-se assim a Capitã Marvel, um ícone do empoderamento feminino, deixando para trás o seu passado em que, visualmente era apenas mais uma poderosa, curvilínea e gostosona super-heroína vestida como uma chacrete, atendendo aos fetiches de gerações de nerds babões.
Agora que fomos devidamente apresentados, voltemos ao filme.
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Carol Danvers / Veers (Brie Laerson) junto aos companheiros da "Star Force" do Império Kree. Origens nebulosas.
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Dirigido por Anna Boden e Ryan Fleck, que assinam o roteiro junto com Geneva Robertson-Dworet, Capitã Marvel (2019) faz sua estreia no Universo Cinematográfico Marvel (UCM)
carregando um peso descomunal em seus ombros. É a primeira aventura do
estúdio protagonizada por uma mulher (marcando mais um aceno da Marvel Studios à diversidade). Uma mulher em busca da sua identidade e da origem da sua força. Este é um filme com jeitão das produções da Fase Um do estúdio, que serve de ponte entre Vingadores: Guerra Infinita (2018) e o esperado Vingadores: Ultimato (que chega em abril deste ano) - ambas produções dirigidas pelos irmãos Anthony e Joe Russo. Isto torna esta película (que, a grosso modo, poderia ser só um filme Marvel com foco na diversidade) numa das produções mais aguardadas do estúdio, com uma pegada histórica similar aos filmes do Capitão América,
e que cumpre bem o seu papel de entretenimento, resultando numa obra
com vida própria e acenando para um futuro bastante promissor.
Começamos a história em um sistema distante, onde seu alter-ego Vers (Larson) é uma oficial kree honrada e poderosa que, em meio à guerra entre os Krees e os Skrulls (raça de alienígenas transmorfos), está sendo treinada para fazer parte da Star Force. O seu treinamento, bastante intenso, é ponto chave para que o público entenda certos comportamentos da heroína. Afinal, o filme chega aos cinemas com o peso de ter que provar que ela está à altura de encarar Thanos, além de introduzir o conflito kree x skrull, até então inédito no UCM. Se você viu como os kree foram representados em Guardiões da Galáxia e na série de TV
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Yon-Rogg (Jude Law ao centro) no comando. Eficiente mas nada de extraordinário.
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Este
é muito mais um filme sobre Carol Danvers (Brie Larson) do que sobre a
heroína que ela eventualmente se tornará. O seu roteiro simples tenta
fugir do padrão engessado de filmes de origem da Marvel.
Ela não sabe tudo - seja sobre seus poderes, seja sobre si mesma -,
errando, se decepcionando. Cai no chão várias vezes e, não importando a
situação ou o adversário, sempre se levanta e tenta de novo, até
finalmente conseguir. É fácil simpatizar com ela e seu humor sarcástico
ou se empolgar com os poderes cósmicos que ela possui. A ascensão de
Carol ao longo do filme é empoderadora, mas não bandeirosa.
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Nos deparamos com um jovem (e com dois olhos!) Nick Fury (Samuel L. Jackson)...
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Começamos a história em um sistema distante, onde seu alter-ego Vers (Larson) é uma oficial kree honrada e poderosa que, em meio à guerra entre os Krees e os Skrulls (raça de alienígenas transmorfos), está sendo treinada para fazer parte da Star Force. O seu treinamento, bastante intenso, é ponto chave para que o público entenda certos comportamentos da heroína. Afinal, o filme chega aos cinemas com o peso de ter que provar que ela está à altura de encarar Thanos, além de introduzir o conflito kree x skrull, até então inédito no UCM. Se você viu como os kree foram representados em Guardiões da Galáxia e na série de TV
Marvel´s Agents of S.H.I.E.L.D.,
deduz o que se desenrola aqui. O roteiro faz quase que um paralelo com o
conflito de Palestinos e Israelenses que, apesar de bastante coerente
dentro do filme e do próprio UCM, pode desagradar a alguns fãs mais xiitas.
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... e com um jovem Phil Coulson (Clark Gregg). Milagres do CGI...
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Um dado interessante no filme está na estrutura inversa do roteiro dessa história de origem. No mundo Kree, ela tem flashs de sua vida em nosso planeta, e quando está cativa dos Skrulls, vemos estas memórias embaralhadas e fora de ordem. Como é um filme sobre auto descoberta e autoafirmação, se investe bastante em flashbacks e auto-citações ao longo da trama. Por exemplo: só depois da metade do filme descobrimos como ela adquiriu seus poderes, quando ela remonta a sua própria história, e logo percebemos que nada é o que parece ser. Um dos problemas do roteiro é a falta de personalidade dos antagonistas, genéricos em seus planos e visão de mundo (o tal “calcanhar de Aquiles da Marvel”), prejudica a trama.
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Os anos 90 e a tecnologia de ponta em audio visual: O vídeo VHS.
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Após
algumas reviravoltas, a nossa heroína desmemoriada acaba caindo na
Terra, na década de 90, e assim o filme engrena de vez, funcionando
inclusive como uma prequel de alguns eventos já vistos no UCM.
Embora as ligações com os outros filmes não sejam o foco, há coerência
nos acontecimentos que adicionam uma camada extra de informação para
quem acompanha fielmente os filmes do universo Marvel.
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Começam a emergir na mente de Vers lembranças
de uma "Carol Danvers", piloto da USAF... |
Já na Terra, a história cresce ao vermos a formação do UCM, tomando forma na presença dos jovens Nick Fury e Phil Coulson (Samuel L. Jackson e Clark Gregg, rejuvenescidos via CGI). Neste período, a S.H.I.E.L.D. é uma agência menor, como outras tantas. Logo Carol entra numa perseguição a alguns skrulls disfarçados a bordo de um trem, com Fury e Coulson na cola dela em um carro, como vemos em thrillers clássicos, como Operação França (1971, de William Friedkin). Danvers e Fury se tornam verdadeiros aliados, gerando outras situações que remetem a outros clássicos thrillers, com traições e fugas no último segundo, Aliás, a participação de Fury (que ainda tinha visão binocular) é um ponto alto da narrativa. A amizade entre eles flui naturalmente, lembrando uma comédia do gênero buddy cop, em que vemos dois policiais ou investigadores com estilos diferentes e conflitantes, mas que acabam se tornando bons amigos. A guerra interplanetária ganha uma certa leveza ao ser apresentada pelos olhos ainda inocentes de Fury. O roteiro, faz uso de situações e locais que acertam em cheio na proposta da apresentar o estilo de vida dos anos 90. Embora encontre soluções interessantes, deixando a determinação de Carol Danvers guiar boa parte do filme, o roteiro não se permite maiores ousadias, vítima da famigerada fórmula Marvel.
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Finalmente somos apresentados aos Skrulls,
aqui comandados por Talos (Ben Mendelsohn) que surpreende. |
Embora Larson faça um bom trabalho, a busca pela própria identidade acaba limitando a personalidade de Carol, presa aos clichês narrativos da "garota confusa e sem memória" , o que prejudica seu rendimento. Entretanto, é a parceria de mulheres humanas e sem poderes revelada em seu passado que realmente encanta e gera simpatia pela heroína. Sua história de fundo, com a amiga e também piloto Maria Rambeau (Lashanna Lynch), instiga nossa curiosidade por quem ela era antes de ficar desmemoriada. Maria é a grande conexão da heroína com seu passado, dando uma camada emocional à história, numa interpretação naturalista, típica de dramas indies (algo raro no MCU). Está nas suas lembranças o elo das amigas, seja enfrentando os preconceitos como mulheres pilotos, seja no apoio para a criação da pequena Monica Rambeau (Akira Akbar) - Maria é mãe solteira. A pequena Mônica também rouba a cena ao representar esta nova geração de meninas sonhadoras, pois, diferente da Princesa Amazona da DC, Carol é uma representação mais plausível da realidade em que as mulheres vivem atualmente, sendo louvável, a proposta do filme em mostrar como ela é incrível com ou sem poderes.
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As lembranças de seu passado como piloto e a amizade
com Maria Rambeau (Lashanna Lynch) resgatam a sua identidade. |
O elenco de apoio, por sua vez, é enxuto, mas garante bons momentos. Destacamos o Skrull Talos, interpretado por Ben Mendelsohn. O ator, acostumado ao tipo vilanesco, faz um personagem bem diferente de sua concepção nos quadrinhos, mas ainda bastante coerente dentro da narrativa proposta, dando-nos uma performance bonita e sensível, apesar do rosto escondido por trás da grossa maquiagem verde. Yon-Rogg (Jude Law - que não é o Capitão Marvel dos quadrinhos, como alguns sugeriam) entrega uma atuação padrão para um personagem frio e idealista. Nada excepcional, mas longe de ser ruim. Annette Bening também não decepciona – ainda que a empolgação da atriz em fazer parte do UCM seja transparente em praticamente todas as cenas que atua. Quem acaba sendo – novamente – subaproveitado é Ronan, o Acusador (Lee Pace). Agora o adorável gatinho Goose consegue roubar a cena quando é posto em ação, sendo o bichano laranja uma grata surpresa cheia de segredos.
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Carol Danvers e Nick Fury estabelecem uma parceria
similar à de muitos filmes tipo "Máquina Mortífera"... |
A trilha incidental é um show à parte, assim como a trilha sonora (com uma vibe de ficção científica muito boa de ouvir), apostando no grunge dos anos 90, e entrega vários sucessos que voltarão a integrar as playlists da moda em breve. Hits de época do Elastica e do TLC até embalam a trilha sonora, numa tentativa de emular o que James Gunn fez com a trilha de Guardiões da Galáxia. Os figurinos são eficientes, dentro da necessidade, mas pouco se destacando, similar ao design de produção, que poderia explorar a cultura dessa nova parte do espaço, mas pouco expande visualmente as particularidades das sociedades Kree e Skrull, tendo uma identidade incerta, como a sua protagonista. Mas pelo menos, Carol encontra a sua ao final...
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Korath (Djimon Hounsou) e Doutora Minn-Erva (Gemma Chan):Personagens de outras sagas dos quadrinhos que atuam com Yon-Rogg.
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Há
um desequilíbrio nas cenas de ação, medianamente coreografadas, e nos
efeitos visuais. Se a equipe de maquiagem trabalhou de forma espetacular
- sendo o rejuvenescimento digital de Samuel L. Jackson e de Clark
Gregg muito bem-sucedido -, por outro lado, no que diz respeito a cenas
mais elaboradas de ação ou ambientes mais inusitados - como o da Suprema Inteligência Kree - é muito perceptível o uso do CGI. As lutas aéreas, envolvendo os poderes totalmente evoluídos da heroína, pecam por possuir um aspecto de vídeo game fake,
tirando o peso da pirotecnia que preenche a tela, criando uma imagem do
espaço não uniforme que não transmite credibilidade, destoando de
outras produções do estúdio.
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Prestem atenção neste cara, digo felino...
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Ainda que o subtexto feminista (embora bem colocado) não alcance a profundidade que a temática racial e cultural ganharam em Pantera Negra (2018, de Ryan Coogler), Capitã Marvel cumpre
seus objetivos ao apresentar uma história redonda, de uma líder forte e
debochada, mas não arrogante como Tony Stark, e sem cair no estereótipo da “chutadora de bundas”
Ela é superpoderosa e sabe disso, mas entende o seu papel de inspiração
para as crianças, dividindo o seu tempo entre salvar o universo e
descobrir sobre seu próprio passado (a diferença é que ela não tem uma Kriptonita...).
Admitamos
rapazes, Carol Danvers tem uma senhora personalidade e, independente de
seus poderes, o seu potencial neste universo não pode ser medido apenas
por seus êxitos, mas também pelas suas falhas. É na sua empatia e
resiliência que a sua humanidade aflora e ela triunfa.
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"Breve no Playstation ou para jogar online ..."
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Obs: Fãs, não se esqueçam de ver as DUAS cenas pós-créditos.
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