quinta-feira, 3 de junho de 2021

Os outros exploradores - Resenha: As Outras Versões da Família Robinson


 


Sempre náufragos

 
por Alexandre César
(Originalmente postado em 10/ 03/ 2018)


O conceito da família exploradora em suas variações

 

Aproveitando a iminência do lançamento da nova versão de Perdidos no Espaço (2018) pelo serviço de streaming Netflix, revisito o conceito dos “Robinsons”, icônica família que já foi várias vezes dimensionada e formatada pela cultura popular em mais de uma mídia. Outros tempos, outros náufragos.

 

Origem- A Família Robinson Suíça

Aqui também chamada de "A Família do Robinson Suíço".

 

   Escrito pelo pastor Johann Rudolf Wyss e publicado em 1812, este clássico popular, com algumas semelhanças com Robinson Crusoé, de Daniel Dafoe (de onde deve ter sido inspirada), e de Dois anos de férias, de Júlio Verne, narra as aventuras da família Robinson, formada pelo Sr. Starck, sua esposa Isabel e seus quatro filhos: Frederico, Ernesto, Rudly e Fritz, o mais novo,que herdaram uma fazenda nos Estados Unidos, emigrando num navio de colonos, que é apanhado por uma feroz tempestade arrastando-o ao longo de vários dias para sudoeste, levando-o a naufragar, sendo abandonado à pressa pela tripulação, já com terra à vista, deixando os Robinson para trás, entregue à própria sorte. Ao final eles acabam numa ilha remota sãos e salvos, conseguindo ainda resgatar boa parte da carga do navio (alimentos, roupas, ferramentas, armas, madeiras, etc) que os ajuda a enfrentar a sua difícil situação. A história segue num conjunto de situações cotidianas desde o desembarque e a adaptação ao local até ao estabelecimento de uma nova vida e realidade, num ambiente desconhecido. Todas as situações dali decorrentes se assentam nos valores da união familiar, sua inteligência e tenacidade, pois apenas com estes atributos foi possível que a família encontrasse forças e formas de viver e subsistir.

 

“A Cidadela dos Robinsons” foi o filme de maior bilheteria de 1960, desbancando inclusive clássicos como "Spartacus"

Esta obra foi várias vezes filmada, sendo a mais conhecida a versão de 1960 produzida por Walt Disney, A Cidadela dos Robinsons, dirigida por Ken Annakim, com John Mills,  Dorothy McGuire e James MacArtur.

 


Quadrinhos - The Space Family Robinson

 

"Space Family Robinson": Bem antes da série de Irwin Allen


Série original de quadrinhos, publicada pela editora Gold Key Comics de 1962 a 1982, num total de 59 números, roteirizada por Dell Connell e desenhada por Dan Spigle, com capas pintadas de George Wilson, antecipou Perdidos no Espaço (1965-1968). Sendo também baseada na idéia central da Família Robinson Suíça, obviamente inspirou em parte a série de Allen, que junto com a CBS (rede que veiculava a série) entrou com um acordo com a Western Publishing (a licenciadora) permitindo o uso do título Lost in Space pela revista (Foi um acordo de cavalheiro$). 

 

Os personagens desta versão  espacial dos Robinsons

Aqui, os Robinsons são o casal de cientistas Craig (o pai) e June (a mãe). Os filhos Tim (o menino) e Tam (a menina) além dos mascotes Clancy (um cão) e Yakker (um papagaio). Os exploradores viviam na “Space Station One”, um veículo espacial com jardins hidropônicos, observatório, acomodações confortáveis e dois módulos espaciais de desenbarque. Sendo selecionados por um computador como os mais qualificados física e mentalmente para operar a estação, eles deixaram a Terra em 2001, sendo atingidos por uma tempestade cósmica que os traga para um ponto do cosmo fora das rotas conhecidas, começando aí a sua jornada de encontrarem um caminho de volta para a Terra. O título foi cancelado em 1969, retornando em 1973, graças ao sucesso de Star Trek, na época também publicada pela Gold Key, sendo novamente cancelada em 1977, e revivido com reimpressões em 1981 e mais tarde sendo reimpressa pela Dark Horse Comics em 2011. Curiosamente o famoso artista da Disney Carl Barks teria em 1960 sugerido uma versão espacial de A Família Robinson Suíça, mas ninguém teria se interessado, fato desconhecido pela equipe criativa da revista.


As capas de George Wilson eram um atrativo à parte, emulando as revistas pulps

The Space Family Robinson foi publicada com sucesso no Reino Unido, saindo, a partir de 1966 na publicação semanal Lady Penelope ("a revista das meninas que adoram televisão") que passou a publicar as aventuras de Space Family Robinson , tendo sido usados os mesmos personagens e a tecnologia dos títulos da Gold Key, mas foram roteiros originais, não reimpressões. Além de Lady Penelope, os exploradores do espaço dividiram espaço em publicações com outros personagens como os Thunderbirds, tendo inclusive algumas histórias feitas por autores ingleses, cuja autoria não é conhecida ao certo, embora haja grandes razões para supor que em sua maioria tenham sido escritas pelo subeditor de Lady Penelope, Brian Woodford e desenhadas por John M. Burns. 
 
Após o acordo, a revista foi rebatizada como "Space Family Robinson: Lost in Space"


Sua popularidade era tanta que até inspirou uma peça musical, embora não relacionados com os personagens originais, produzida em Londres em 2002 intitulada Space Family Robinson, sobre um homem que perdeu-se de sua família no planeta Terra quando esta é destruída por alienígenas, apenas para descobrir que ele havia sido resgatado por uma ex-namorada que quer vingança. O show foi escrito por Julian Butler, com canções de Julian & Stephen Butler, sendo apresentado no Pleasance Theatre em Londres entre 4-26 de maio de 2002, tendo em seu elenco nomes conhecidos do meio de teatro musical inglês como Hannah Waddigham, Tim Barron, Helena Biggs, Stuart Piper e Arvid Larsen. A produção foi dirigida por Oliver Campbell-Smith. Apesar do moderado sucesso – tendo inclusive sido produzido um CD da trilha musical - a produção não foi mais reencenada desde então. 
 
  A trilha sonora do musical se encontra no soundcloud podendo ser ouvido.
 
Capa do CD da trilha sonora do show musical de 2002...

 
TV- O desenho animado da Hanna-Barbera (1973)  
 
O piloto animado que mesclava o seriado com algumas idéias de "Space Family Robinson"

  Lost in Space: The Animated Series foi um piloto de série de animação televisiva produzido pelo estúdio Hanna-Barbera (Os Flintstones, Os Jetsons, Jonhy Quest). A série nunca foi produzida pois nenhuma rede de TV se interessou pelo projeto, tendo apenas o piloto sido produzido, indo ao ar como parte da série The ABC Saturday Superstar Movie em 8 de septembro de1973. Aqui, vemos a Júpiter 2, uma nave de passageiros numa missão de rotina da Terra á Saturno comandada por Craig Robinson, recém saído da Academia Espacial (e tendo o robô como co-piloto) levando o seu irmão caçula Link , a geologista Dina Carmichael e o Dr. Zachary Smith, aqui apenas um passageiro regular (Jonathan Harris dá a voz ao personagem).  


Personagens amalgamados: Craig e Dina

Durante a viagem a nave é danificada por uma inesperada tempestade de meteoros, indo parar num planeta não cartografado fora da rota, onde encontram dois povos em conflito: Os Throgs, semelhantes a sapos, e de civilização tribal, e os Tyranos, de aspecto robótico e avançados tecnológicamente. Após alguns conflitos, Craig consegue mediar a paz entre os dois povos e fazê-los trabalharem juntos, e após repararem a Júpiter 2 saem em busca do caminho de casa, para a tristeza do Dr. Smith que havia encontrado uma enorme fonte de diamantes.

 

Triunvirato: Link, Smith (voz de Jonathan Harris) e o robô...

  O piloto não acrescenta muito à mitologia da série, com uma animação convencional (fruto de um orçamento pequeno) e visualmente parecendo um episódio extendido de Os Herculóides ou de Space Ghost, mas sem muita criatividade, com a Júpiter 2 parecendo mais um jato do que um disco voador, e fundindo personagens, com Graig sendo um amálgama de John Robinson e Don West, Dina, sendo uma fusão de Maureen, Judy e Penny numa só personagem feminina e Link, um genérico de Will Robinson. Os mais parecidos com a série original são Smith, ardiloso e matreiro, embora seja um passageiro e não um clandestino sabotador, e o Robô, cujo visual lembra o do seriado, embora mais simplificado. 

 

Personagens genéricos: Os "Tyranus" parecem saídos de um episódio de "Os Herculóides"

 

O episódio pode ser visto no You Tube, é só procurar.


TV- A Família Robinson (1975-1976)

 

 Outros náufragos: Jeremiah Worth (Cameron Mitchell), Carl (Martin Milner) o pai, a filha mais velha Helga (Helen Hunt), Lottie (Pat Delaney) a mãe, Fred (Wilie Ames) o do meio e Ernie (Eric Olson) o caçula.


Irwin Allen, que tinha a obra como uma de sua favoritas da juventude, cujo conceito básico adaptou para Perdidos o Espaço, aqui egresso de seus sucessos cinematográficos O Destino do Poseidon (1972) dirigido por Ronald Neame e Inferno na Torre (1974) dirigido por John Guillermin (que lhe legou a alcunha de "Senhor Desastre") retornou as suas origens e produziu essa série fofa, veiculada entre os anos de 1975-1976, adaptando a obra original de Johann Wyss em histórias divertidas, numa versão aventureira de Os Waltons, outro campeão de audiência da época. O elenco tinha o pai Carl (Martin Milner), A mãe Lottie (Pat Delaney), o filho mais velho Fred (Wilie Ames), a filha adolescente Helga (uma jovem Helen Hunt) e o caçula Ernie ( Eric Olson). Como contraponto tinhamos o velho marujo trambiqueiro e gente-boa Jeremiah Worth (Cameron Mitchell) que às vezes se metia em algumas encrencas, entre as aventuras, dinamizando a série que alternavam as dificuldades que a família enfrentava, ensinando lições sobre a vida, a adolescência, entre outras.

 

A série era como se fosse uma versão náufraga dos Waltons...

O cenário principal era a casa na árvore, e por lá passaram rostos conhecidos como Leslie Nielsen, Frank Langella entre outros.

 

Cinema- Perdidos no Espaço (1998)
 
O filme de 1998: A nova (e disfuncional) família espacial: Pai, mãe, filhos, robô e agregados...

 
Dirigido por Stephen Hopkins (O Predador 2 de 1990) esta adaptação com roteiro de Akiva Goldsman, produzida pela New Line Cinema lançada em 1998 adapta o plot dos primeiros episódio da série, dando um tom mais sombrio, investindo mais na aventura e ação do que no humor camp, mas tendo os seus momentos, dividindo opiniões entre os que gostaram e os que odiaram. 
 
 
O Júpiter 1: Módulo de lançamento, homenageia o design original da nave...

 
 
Aqui a trama é ambientada em 2058, quando a exaustão a curto prazo dos recursos naturais da Terra impelem a Força Espacial Global (o governo) a criar o projeto de colonização de Alpha Prime, mundo que orbita a estrela de Alfa Centauri, sendo os Robinsons encarregados de lá chegando, construírem um hiperportal em órbita do planeta para receberem futuras naves, sendo o Júpiter 2 equipado com um dispositivo de hiperdireção, que permitirá quando instalado no portal, que as naves evacuem a Terra e levem os colonos ao novo mundo. Simples, não?
 
Will (Jack Johnson) e Smith (Gary Oldman): O mal é o mal, mas tem lá o seu charme...

 
Não, porque uma facção rebelde, que constantemente tenta destruir o hiperportal, assassinou o piloto original, sendo convocado para substituí-lo o Major Don West (MatLeBlanc), piloto de guerra que inicialmente não vai muito com a cara do Prof. John Robinson (Willam Hurt), apesar de trocar olhares com a sua filha mais velha, a Dra. Judy (Heather Graham). A família mais disfuncional do que na versão televisiva tem na Dra. Maureen Robinson (Mimi Rodgers) o pulso firme para defender os seus filhos, a adolescente Penny (Lacey Chabert) e o geniozinho traquina Will (Jack Johnson), todos ameaçados pela sabotagem do Dr. Zachary Smith (Gary Oldman) que aqui é mais seco e contido do que a versão televisiva mas que tem lá o seu charme. 
 
O Júpiter 2: Tecnologia de ponta deram à nave a mobilidade digna de um certo cargueiro coreliano...

 
 A Produção de 70 milhões de dólares (da época) se reflete nos cenários e efeitos especiais, com destaque para toda a parte envolvendo as sequências de vôo da Júpiter 2, alternando CGI e modelos práticos como na cena da decolagem e do pouso forçado, cortesia da Medings Magic Camera Company, do lendário Derek Medings (Thunderbirds e vários filmes de OO7) aqui continuando o seu legado. O principal ponto fraco do lado técnico fica por conta da CGI do personagem Blarp, que fica muito falsa, parecendo desenho animado, que destoava com a palheta de cores da fotografia, coisa que o personagem Smith-Aranha apesar de sua limitações, não tinha.
 
 
Judy (Heather Grahan) Maureen (Mimi Rodgers) e Penny (Lacey Chabert): Empoderamento feminino

 
Apesar dos pesares o saldo do filme era positivo, tendo inclusive a participação especial de atores originais da série, mas infelizmente boa parte da crítica crucificou o filme e a fraca bilheteria inviabilizou a possibilidade de uma continuação.
 
O "Smith-Aranha": O CGI que dividiu opiniões...

 
 
TV- The Robinsons: Lost in Space (2004)
 
  
2004: A nova tentativa de colocar os Robinsons fora de órbita...

 
  Coube ao famoso diretor de filmes de ação John Woo ( Fervura Máxima, A Outra face , O Pagamento) dirigir o piloto desta nova tentativa de reformular os Robinsons. Escrita por Douglas Petrie ( Buffy, a Caça Vampiros, CSI e Pushing Daisies) este piloto teve um custo de 2 milhões de dólares, e nos mostra a retirada do comandante John Robinson (Brad Johnson) do serviço militar após anos enfrentando uma raça alienígena hostil em guerra com a Terra. Ele quer ficar mais tempo com a sua família, apoiado por sua esposa, a Dra. Maureen (Jayne Brook que futuramente seria a Vice-Almirante Katrina Cornwell de Star Trek: Discovery) eles partem na nave de colonização Júpiter, com outras famílias de colonizadores para o sistema de Alfa Centauri. Ele quer estreitar os laços com seus filhos, dos quais se sente afastado. 
 
 
 Vida à dois: John (Brad Johnson) e Maureen (Jayne Brook) Robinson e as dificuldades de criar uma família...

 
Seus filhos são a rebelde Judy (uma jovem Adrianne Palicki, que anos depois protagonizou o piloto não aprovado da Mulher-Maravilha de David E. Kelley e foi a sexy agente Bobbi Morse em Marvel´s Agents of S.H.I.E.L.D. e a Comandante Kelly Grayson em The Orville) que quer se acertar com o cadete Don West (Mike Erwin) que teme que o relacionamento afete a sua carreira, temos o inseguro filho do meio David (Gil McKinney) que quer provar ao pai o seu valor, o filho mais novo Will (Ryan Malgarini) gênio mirim que está desenvolvendo o seu próprio robô para resolver os seus problemas de bulliyng na escola e a bebê de colo Penny. Ao passarem próximos a um buraco negro, a Júpiter é atacada por uma frota de alienígenas, que invadem a nave matando a todos no caminho.  
 
 
Tradição: Como sempre Will salva a pátria na hora "H"

 
 Os Robinsons e West embarcam na Júpiter 2, um dos módulos de emergência (que lembra vagamente uma mistura da nave clássica com a versão do cinema) e escapam da Júpiter, que explode, junto com David, que ficou para trás no conflito antes de John ter tido aquela conversa de pai e filho que eles tanto ansiavam (o rapaz tinha vocação para camisa vermelha da Star Trek clássica...). Sem terem tempo para as lágrimas pois os caças inimigos continuam em seu encalço, a solução é penetrar na orla do buraco negro para pegar um empuxo gravitacional, coisa que que Will possibilita ao conectar a CPU e a unidade de força do robô aos controles do módulo, permitindo-lhes atravessar a singularidade, indo parar no outro extremo da galáxia ou próximo disto, terminando o grupo perdido literalmente, pois assim termina o piloto num clima de que os problemas só estão começando.
 
  Judy Robinson (Adrianne Palicki) antes da "S.H.I.E.L.D." e de "The Orville"...


  The Robinsons: Lost in Space, apesar da qualidade apresentada, não impressionou a Fox Television que engavetou a série, por julgá-la muito parecida com o reboot de Battlestar Gallactica (humanos caçados pelo espaço por alienígenas). Outro fator que deve ter pesado é a total ausência do Dr. Smith ou de um personagem equivalente, pois os antagonistas de aspecto meio reptiliano/insectóide já eram ameaça suficiente, mas não eram personagens relacionáveis. O cancelamento inclusive nem permitiu a finalização de algumas cenas do piloto, como uma que não teve o apagamento digital dos fios que suspendiam Will, cortando a dramaticidade da cena. Depois deste e de outros desentendimentos com a Fox, Woo retornou a Hong Kong, retomando seus projetos pessoais.
 
 
A Júpiter: Nave-Mãe atacada por alienígenas...

 
Este piloto, se encontra na íntegra (em inglês, ainda sem legendas), disponibilizado em 5 partes no You Tube, mas é uma cópia de baixa qualidade, não permitindo apreciar as qualidades da imagem plenamente. Serve para dar uma idéia do que poderia ter sido a série.
 
 
O Júpiter 2: Módulo de fuga transformado na nave principal...

 
Em virtude destas várias reinvenções do conceito da família de náufragos concebido por Johann Rudolf Wyss, lá atrás em 1812 só podemos cruzar os dedos e torcer para que seja numa ilha, no espaço, em dimensões ou linhas temporais paralelas, possamos sempre ter uma Família Robinson nos mostrando que a união e o apoio entre os membros de um grupo é a chave para a sobrevivência tanto de seus membros quanto dos valores e crenças por eles representados.
 

 

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