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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Os lindos olhos cor azul-violeta - In Memorian: Elizabeth Taylor

 


Diva com "D" Maiúsculo

por Ronald Lima
(Postado originalmente em 27/ 02/ 2018)

A vida conturbada de uma estrela de primeira grandeza


 

Em 1947. os 15 anos com seus pais no Stork Club em Manhattan

 

Os termos Diva e Glamour são muito bem empregados a Elizabeth Taylor ( Londres, Inglaterra 27 de fevereiro de 1932 — Los Angeles, Califórnia, EUA 23 de março de 2011).

Poucos devem saber, mas uma das maiores musas do cinema norte-americano era inglesa. Nasceu em Londres essa que é considerada uma das mulheres mais bonitas de todos os tempos. Seu rosto possui traços delicados e os raros olhos de cor azul-violeta que de fato a tornam única.

 

Com Mickey Rooney em "A Mocidade é Assim" (1944) seu primeiro papel importante

 

Iniciou a carreira artística com apenas dez anos de idade e seu primeiro sucesso foi um pequeno papel no primeiro filme estrelado pela cadela Lassie: Lassie - A Força do Coração (Lassie Come Home Film) - (1943, de Fred M. Wilcox) O longa metragem também contou com a estreia do então igualmente jovem Roddy McDowall.

 

Em 1957, com Mike Todd, seu terceiro marido (que morreu num acidente aéreo) com quem teve uma filha

 

Entusiasmada, ela seguiu atuando e foi coroada com um Oscar de Melhor Atriz por Disque Butterfield 8 (1960, de Daniel Mann) no papel da atormentada Gloria Wandrous, uma mulher que se envolve com um homem casado, interpretado por Laurence Harvey.

 

Elizabeth Taylor após receber seu primeiro Oscar em 1961 - O filme é de 1960


Seu segundo Oscar veio pelo papel de Martha, a mulher que deflagra um conflito entre dois casais após uma festa em Quem tem Medo de Virgínia Wolf? ( Who's Afraid of Virginia Woolf? - 1966, de Mike Nichols). Sua filmografia é extensa: participou de quase 60 filmes ao longo da carreira e concorreu ao Oscar mais três vezes. Ela também ganhou o Urso de Prata de melhor Atriz no Festival de Berlin (Berlinale - Berlin International Film Festival) por seu papel da desmazelada Jimmie Jean Jackson em Unidos Pelo Mal (1972, de Sir Peter Ustinov

 

Em 1971 com Richard Burton. Relacionamento conturbado com várias idas e vindas, casamentos e divórcios, tendo ela admitido anos mais tarde, que Burton foi de fato, o maior amor da sua via

 

O filme Gata Em Teto de Zinco Quente (Cat on a Hot Tin Roof - 1958, de Richard Brooks) onde atua ao lado de Paul Newman, é outro de seus clássicos. Baseado em uma peça de teatro de Tennessee Williams, ainda encenada em diversas partes do mundo, o filme fala de uma dedicada esposa desprezada pelo marido que a culpa por um incidente em seu passado que redundou no fracasso em sua carreira. 

 

Paul Newman e Elizabeth Taylor em cena de "Gata em Teto de Zinco Quente" (1958)


Outro destaque em sua filmografia é Cleópatra (1963, de Joseph L. Mankiewicz), que quase levou a 20th Century Fox a falência. Na época foi um fracasso comercial, pois seu altíssimo custo de produção não foi coberto pela bilheteria – foi na época, o segundo filme mais caro de todos os tempos.

 

Um entre os 65 figurinos usados por Liz Taylor no filme - 3 estilistas foram contratados para a produção. Esse traje foi leiloado por 59.375 dólares em 2012 e é feito de pedrarias baratas.


Contudo, ele se tornou um filme cultuado posteriormente, justamente pelos inúmeros problemas técnicos e conflitos pessoais ocorridos nos bastidores durante as filmagens, esses eventos ao longo dos anos gerou enorme curiosidade.

Ainda hoje o papel da Rainha do Egito é o mais lembrado ao citar o nome de Elizabeth Taylor.

“Grandes garotas precisam de grandes diamantes”.

Vida Longa A Rainha.

 

"Tenho o corpo de uma mulher e os sentimentos de uma criança"



segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

Mais do que um Titã de ébano - In Memorian: Sidney Poitier

  


Ícone desbravador por excelência

por Alexandre César


Indo do drama a comédia, foi referencial de gerações  
 
 
Sorriso luminoso: Durante décadas o farol de várias gerações

Denzel Washington, Morgan Freeman, Will Smith, Wesley Snipes. Estes, entre outros tantos astros, mostraram que o talento é capaz de ultrapassar as barreiras dos estereótipos e do preconceito racial. Profissionais impecáveis, que se firmaram sobre a trilha aberta por um Titã, pioneiro de sua área: Sidney Poitier  ( Miami, EUA, 20 de fevereiro de 1927 – Bahamas, 06 de janeiro de 2022). Sem ele, talvez por mais de uma década se demoraria a emergirem astros negros que fossem devidamente reconhecidos por seu mérito, devido ao racismo estrutural da sociedade norte-americana, que sempre tendeu a relegá-los a papéis bidimensionais, caricatos, na maioria das vezes resumidos a malfeitores ou, “bons negros de alma branca”, subservientes. Ele foi o primeiro referencial cinematográfico de sua etnia de fato, tendo o seu visual servido de inspiração para o personagem John Stewart, o segundo Lanterna Verde da DC Comics. Ele foi ao seu jeito, o ‘Shaft’, antes do Shaft...
 
 

O jovem Poitier, (à esq.) e mais velho (à dir.) já cineasta consagrado

 
Nascido prematuramente em alto-mar, a caminho de Miami, depois que os pais, naturais de Cat Island, nas Bahamas, resolveram atravessar o estreito da Flórida, em um veleiro, para vender tomates. O jovem Poitier cresceu nas Bahamas e teve uma infância marcada pela pobreza. Passou seus primeiros dez anos de vida próximo à natureza, pescando e trabalhando ao lado dos irmãos e irmãs, numa pequena propriedade da família. 
 
 
           Sidney no exército - Um modesto anúncio no jornal muda toda sua história
 
 
Quando tinha onze anos, os pais se mudaram para Nassau, e a partir daí passou a ter maior contato com a cidade, deixando a escola aos 12 anos para ajudar financeiramente a família trabalhando como operário. Quando o seu melhor amigo foi enviado para um reformatório escolar, seu pai ficou com receio de que o filho também se envolvesse com atos de delinquência. Então pediu para que ele fosse tentar a sorte nos Estados Unidos. A partir daí foi viver com o irmão na Flórida, em 1941. 
 
Com John Cassavetes em "Um Homem Tem Três Metros de Altura" (1957) de Martin Ritt, produção para a TV



Trabalhou na Flórida, mas não conseguiu se adaptar ao preconceito racial existente na época, e após um verão passando roupas e lavando pratos em um resort nas montanhas da Geórgia, partiu para Nova York. Após ter sido roubado ao longo do caminho, chegou ao bairro de Harlem, com 16 anos de idade e apenas alguns dólares no bolso. Sem conhecer ninguém passou a dormir em estações de ônibus até juntar dinheiro o suficiente para alugar um quarto. Despreparado para o rigoroso um inverno de Nova York e incapaz de pagar roupas quentes, mentiu sobre sua idade e se juntou ao exército para escapar do frio. Sendo locado em um hospital para veteranos, onde realizava trabalhos domésticos. Decidido a entrar para o teatro conseguiu uma pequena ponta numa produção da Broadway, "Lysistrata", recebendo excelentes críticas dos profissionais da imprensa.
No final de 1949, teve um convite de Darryl F. Zanuck, para atuar no filme de Joseph L. Mankiewicz, O Ódio é Cego, onde protagonizou um médico negro que tratava de brancos racistas. Sete anos depois, começou a receber convites para atuar em outros papéis. 
 
 
      Com Tony Curtis em "Acorrentados" - "The Defiant Ones" - 1958 e "Porgy e Bess" - "Porgy & Bees" - 1959.
 
 
Com Claudia McNeil no vigoroso drama social "O Sol Tornará a Brilhar" (1961) de Daniel Petrie

 
Após vários filmes e participações na TV, entre eles, Um Homem Tem Três Metros de Altura (1957) de Martin Ritt, com John Cassavetes; Acorrentados (1958) de Stanley Kramer, com Tony Curtis, lhe valeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator. Sua participação no musical Porgy & Bess (1959) de Otto Preminger e Rouben Mamoulian, com Dorothy Dandridge e Sammy Davis Jr. e os dramas O Sol Tornará a Brilhar (1961) de Daniel Petrie, com Claudia McNeil e Paris Vive à Noite (1961) de Martin Ritt com Paul Newman e Joanne Woodward, foram preparando o caminho da consagração que viria em 1964, tanto com o Oscar *1 quanto com o Globo de Ouro de melhor ator, por sua atuação em Uma Voz nas Sombras, de Ralph Nelson, firmando a sua boa estrela.
 
 
Como o baterista de "Paris Vive à Noite" (1961) de Martin Ritt

      Contracenando com Lilia Skala em "Uma Voz nas Sombras" - "Lilies of  the Field" (1963)

 
Depois vieram, entre vários filmes, a divertida aventura Os Legendários Vikings (1964) de Jack Cardiff, com Richard Widmark; o trilher psicológico Uma Vida em Suspense (1965) de Sydney Pollack, com Anne Bancroft; fêz parte do elenco estelar do épico bíblico A Maior História de Todos os Tempos (1965) de George Stevens, David Lean e Jean Negulesco; o drama interracial Quando Só o Coração Vê (1965) de Guy Green; a comédia Adivinhe Quem Vem para Jantar (1967, de Stanley Kramer com Spencer Tracy e Katherine Hepburn); o tenso Com os Minutos Contados (1969) de Robert Alan Arthur com Joanna Shimkus (sua futura esposa) o existencial O Estranho John Kane (1971) de James Goldstone; o filme de ação Conspiração Violenta (1975) de Ralph Nelson com Michael Caine.
 
 
Com Richard Widmark em "Os Legendários Vikings" (1964) de Jack Cardiff:  Divertida aventura "histórica"
 
 
- "Senhor Tibbs" - "Senhor Gillespie"  - Com Rod Steiger no instigante "No Calor da Noite" "In the Heat of the Night" (1966) de Norman Jewison

 
Também teve grande sucesso em No Calor da Noite (1966) de Norman Jewison, protagonizando uma cena emblemática, em que seu personagem, o Detetive Virgil Tibbs, é esbofeteado na cara por um político local, e responde igualmente com um tapa na cara, ganhando o respeito do chefe de polícia Gillespie (Rod Steiger). Ele repetiria o personagem Tibbs em Noite Sem Fim (1970) de Gordon Douglas e, A Organização (1971) de Don Medford, sendo o primeiro policial negro de destaque das telas, antecipando Shaft, que só surgiria em 1971, na onda da blacksploitation*2. Sendo Virgil Tibbs ranqueado pela Premiere Magazine no 20° lugar entre os 100 maiores personagens cinematográficos de todos os tempos e no 19° lugar do ranking entre os maiores Heróis e Vilões do American Film Institute.
 
 
        Sidney em cena com Katharine Houghton no filme "Adivinhe quem vem para Jantar" (1967) de Stanley Kramer

 
"Ao Mestre com Carinho"  - "To Sir, with Love" (1967) de James Clavell, o filme mais conhecido de sua carreira.


Poitier conseguiu seu maior sucesso no cinema com o drama Ao Mestre com Carinho (1967) de James Clavell, onde como o professor Mark Trackeray, enfrenta, em meio a todos os métodos pedagógicos e problemas juvenis na década de 60, o desafio de socializar jovens desajustados. popularizado pela canção de Lulu, o filme teve uma continuação feita para a TV em 1996, dirigida por Peter Bogdanovich, atualizando os desafios de Trackeray lidando com jovens envolvidos com gangs e falta de oportunidades.


  Com Harry Bellafonte em "Um por Deus, Outro pelo Diabo" (1972) Sua estreia na direção


Durante a década de 1970, além de trabalhar no teatro, começou a dirigir filmes, começando por
Um por Deus, Outro pelo Diabo (1972) com Harry Bellafonte, o drama romântico Dezembro Ardente (1973) em que faz par com Ester Anderson; as comédias Aconteceu num Sábado (1974), Aconteceu Outra Vez (1975) e Os Espertalhões (1977) em que contracena com Bill Cosby; as comédias Loucos de Dar Nó (1980) com Gene Wilder e Richard Pryor; Hanky Panky, Uma Dupla em Apuros (1982) com Wilder e Gilda Radner; o musical Ritmo Quente (1985) e sua última comédia, Papai Fantasma (1990) com Bill Cosby. 

Aprontando mil e uma confusões com Bill Cosby em "A Piece of the Action" - "Os Espertalhões" (1977) Cosby foi um ator recorrente em boa parte dos filems que dirigiu

Após uma ausência de quase dez anos, retornou às telas com os filmes de ação Atirando para Matar (1988) de Roger Spottiswode, com Tom Berenger, Espiões sem Rosto (1988) de Richard Benjamin com River Phoenix, Quebra de Sigilo (1992) de Phil Alden Robinson com Robert Redford; O Chacal (1997) de Michael Catton-Jones, com Bruce Willis e Richard Gere, filmes em que viveu um agente do FBI (que apesar das semelhanças, não era o mesmo personagem Virgil Tibbs).
 
 
"Loucos de Dar Nó" (1980) com Gene Wilder e Richard Pryor, outro ator que participou dos filmes que dirigiu


A TV, foi um veículo em que marcou presença como nas mini-séries Separados, Mas Iguais (1991); Caçada Brutal (1995) e filmes como Mandela e De Klerk (1997) de Joseph Sargent, com Michael Caine; Rumo à Liberdade (1998) de Leon Ichaso, com sua filha Sydney Tamiia Poitier; David e Lisa (1998) de Lloyd Kramer, com Lukas Hass; Noah (1999) de Gregg Champion, com Dianne Wiest, e seu último filme Construindo um Sonho (2001) de Gregg Champion, com Cody Newton.
 
Sidney entre  sua esposa Joanna Shimkus e as duas filhas desse casamento: Anika eTamiia.

Foi casado duas vezes, primeiro com a dançarina Juanita Hardy, com quem permaneceu de 1950 a 1965 e teve quatro filhos. Teve um relacionamento com a atriz Diahann Carroll com quem viveu entre 1959 e 1968, e depois se casou em 1976 com a atriz canadense Joanna Shimkus, permanecendo até a sua morte, tendo com ela mais duas crianças, entre elas, a também atriz Sydney Tamiia Poitier.

Em 2009 em cerimônia para receber a Medalha Presidencial da Liberdade junto a ex- presidenta da Irlanda (1990/ 1997) Mary Robinson e o Bispo sul-africano Desmond Tutu.


Foi nomeado Cavaleiro Comandante do Império Britânico em 1974, o que lhe conferiu o direito de usar o título de "Sir". Serviu como embaixador não-residente das Bahamas para o Japão e para a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (cargo que ocupou até 2007) e sendo simultaneamente embaixador das Bahamas na UNESCO entre 2002 e 2007. Fluente em russo, foi agraciado com o grau de doutorado honorífico pela Universidade Shippensburg da Pennsylvania. 
 

Taí alguém que Barack Obama fêz questão de colocar pessoalmente a medalha


Notas:

*1: Somente em 2002, um negro ganhou o Oscar de melhor ator: Denzel Washington por Dia de Treinamento de Antoine Fuqua. Apesar do pioneirismo de Poitier e a atuação desde então de grandes atores, atrizes e diretores não tem sido um caminho fácil para vencer um persistente (e escondido) preconceito de Hollywood para com os negros.

*2: Blaxploitation ou Blacksploitation foi um movimento cinematográfico norte-americano surgido na década de 70 protagonizado por atores e diretores negros. Todos os gêneros foram explorados por essa tendência, do faroeste ao terror. Os de temática policial foram os de maior sucesso tendo o detetive particular SHAFT (Richard Roundtree) como grande expoente.


"- Até logo amigos! Nos vemos no Telecine Classic Movie , ou no Corujão..."




sábado, 18 de fevereiro de 2023

Nascido para ser rebelde - In Memorian: Milos Forman

 

Inconformista

por Alexandre César 
(Originalmente postado em 03/ 01/ 2018)

Do leste europeu aos EUA, sempre questionador


O jovem e rebelde Milos Forman na nos anos 60


 

Milos Forman (  Cáslav, Checoslováquia Danbury, Connecticut, EUA) sempre foi um jovem inquieto e questionador o mundo ao seu redor. estivesse em qualquer parte do mundo. A inconformidade sempre foi a principal característica do diretor por trás de clássicos como Um Estranho no Ninho (1975) e Amadeus (1984), apontando as injustiças, os tabus e as contradições do construto social, fosse qual o período histórico para o qual voltasse suas lentes.


Um Estranho no Ninho: Dois rebeldes (Jack Nicholson e Milos Forman) numa parceria vencedora


Nascido Jan Tomas Forman, a 18 de fevereiro de 1932 em Caslav, na então Checoslováquia, ele passou grande parte da infância num internato para órfãos (os pais morreram no campo de concentração de Auschwitz, durante a 2ª Guerra Mundial, quando tinha 9 anos). Estudou na Academia de Artes Cênicas de Praga e o seu primeiro grande sucesso foi Os Amores de uma Loira (1965), indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro.


"Hair" (1979) a adaptação do musical da Broadway. Sucesso moderado


Seguiu-se O Baile dos Bombeiros (1967) e, após refugiar-se em Paris por ocasião da invasão de seu país pelas tropas soviéticas em 1968, fez seu primeiro filme nos Estados Unidos: Procura Insaciável (1971), com a colaboração de Jean-Claude Carrière no argumento. O filme iria defini-lo em Hollywood

 

James Cagney, em "Na Época do Ragtime" (1981)

 

 
A sua tendência para a insubordinação adquiriu uma expressão plena em Um Estranho no Ninho (1975) baseado no romance de Ken Kesey. Autor de referência da contracultura, Kesey colocou por escrito a sua experiência em uma estadia numa instituição psiquiátrica. O livro já tivera uma exemplar adaptação nos palcos, com Kirk Douglas no papel do protagonista Randle Patrick McMurphy. Foi o próprio Douglas quem comprou os direitos da adaptação, reconhecendo que não poderia voltar a fazer a personagem - era preciso alguém mais jovem. Seu filho, Michael Douglas, avançou com a produção e Jack Nicholson brilhou como protagonista, um homem que incutiu a revolução entre os doentes de um hospital psiquiátrico. O filme foi tão bem sucedido que levou os Oscars de Melhor Filme, Diretor, Atriz, Ator e Roteiro Adaptado - algo que não acontecia na história da premiação desde Aconteceu Naquela Noite, de Frank Capra, em 1934. Forman também comandou Hair (1979) e Na Época do Ragtime (1981).

 

"Amadeus" (1984).Tom Hulce que, graças a Forman, ganhou uma indicação ao Oscar

 


Forman retornou à República Checa para rodar Amadeus (1984), adaptação da famosa peça teatral de Peter Shaffer sobre o excêntrico músico clássico austríaco Wolfgang Amadeus Mozart. O filme, estrelado por atores de teatro desconhecidos do grande público, foi outro grande sucesso - mais até que Um Estranho no Ninho. Também fez melhor história no Oscar. Ganhou as estatuetas de Diretor, Filme, Ator (para F. Murray Abraham, como o invejoso Antonio Salieri), Roteiro, Som, Direção de Arte, Figurino e Maquiagem. Depois dele, nunca mais se ouviu o Requiem de Mozart sem aquela estranha sensação de estar escondido entre as notas musicais a gargalhada estridente de Tom Hulce (que também concorreu ao Oscar de melhor ator com seu Mozart) e por um tempo “Salieri” virou sinônimo de falso amigo, invejoso.

 

Mozart e Antonio Salieri (F.Muray Abrahan) em "Amadeus"

 


Amadeus foi um filme que, ao inverso do realismo cru de Um Estranho no Ninho, transpirava sofisticação. Esta biografia de Mozart mantém o espírito rebelde de Forman, que achava entediantes os filmes russos e checos sobre compositores, e queria fazer a sua própria versão - clássica e, ao mesmo tempo contra os clássicos, fugindo ao convencional. 

 

Woddy Harrelson em O Povo contra Larry Flynt (1996): liberdade de expressão

 
Ainda se aventurando em filmes de época, Milos Forman realizou Valmont (1989), com Colin Firth e Jennifer Tilly, numa adaptação de As Ligações Perigosas, o romance clássico de Chorderlos de Laclos, numa saudável competição com a versão de Stephen Frears, lançada no ano anterior. Apesar de não ter sido tão bem recebido, é injusto olhar para a sua versão como inferior à de Frears (lembremos da sua extraordinária Merteuil, interpretada por Annette Bening). 

 

Jim Carrey em "O Mundo de Andy" (1999) numa performance mesmerizante



Posteriormente ainda realizaria obras como O Povo contra Larry Flynt (1996), com Woody Harrelson como o polêmico criador da revista Penthouse, discutindo a questão da liberdade de expressão e seus limites; O Mundo de Andy (1999) com Jim Carrey possuído em sua performance como o comediante Andy Kaufman - personagem que o assombra até hoje. Vide o documentário da Netflix sobre o seu método de trabalho ao compor o personagem. Tem também a sua participação como um padre tcheco em Tenha Fé (2000) de Edward Norton, além de seu filme Sombras de Goya (2006), com Javier Bardem e Nathalie Portman. Sua última participação nas telas foi em Bem Amadas (2011), drama musical de Chritophe Honoré.

 

faleceu em Danbury, Connecticut, nos Estrados Unidos no dia 13 de março aos 86 anos de idade. Segundo sua esposa, Martina Zborilova, sua partida foi calma, e ele estava rodeado por toda sua família e seus amigos mais próximos.

 

Milos Forman (1932 - 2018) Rebeldia bem-sucedida