quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

Ascendendo ao Primeiro Time - Crítica - Filmes: Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania (2023)

 


Começa a nova saga de fato


por Alexandre César

E Scott Lang se torna realmente um Vingador






Desde que apareceu nos cinemas em 2015, Scott Lang (Paul Rudd, de Ghostbusters: Mais Além) o Homem-Formiga, foi sempre um herói da segunda divisão do UCM (Universo Cinematográfico Marvel), nada diferente do que ocorria com ele nos quadrinhos. Servindo muitas das vezes como alívio cômico e escada para que os outros heróis pudessem destacar-se em seus feitos grandiosos, ele acabava sendo apenas um cara gente-boa e capaz, sendo inclusive superado por sua mais do que articulada parceira Hope Van Dyne / Vespa (a subaproveitada Evangeline Lily, de Até o Fim). Muitas vezes era mero executor dos projetos de seu mentor, o Dr. Hank Pym (Michael Douglas, de O Método Kominsky, eficiente como sempre), o Homem-Formiga original, criador da tecnologia que permitia sua alteração de tamanho e pai da citada Hope. 
 

Tragados para o Reino Quântico, Scott Lang (Paul Rudd) e sua filha Cassie (Kathryn Newton) têm de realinhar a sua dinâmica familiar


Após ter tido importância crucial na solução da questão da viagem temporal, que permitiu aos Vingadores derrotarem Thanos em Vingadores Ultimato (2019), nosso amigão da vizinhança da Costa Oeste, até então um membro do segundo time, colhe os louros de sua carreira de salvador do mundo e de Vingador. Sem, porém, deixar de carregar um sentimento de culpa por ter estado ausente durante uma fase crucial da vida de sua filha Cassie Lang (Kathryn Newton, de Pokémon: Detetive Pikachu): o ínício de sua adolescência, que ele perdeu por estar preso durante cinco anos no Reino Quântico
 (uma região subatômica, além do tempo e do espaço). Ela agora se encontra em uma fase rebelde, mostrando-se uma ativista social, bem mais independente que a garotinha vivaz que ele guarda em seu coração e que vimos nos dois primeiros filmes do herói. 

 
Família unida:  O Dr. Hank Pym (Michael Douglas) e as Vespas Hope (Evangeline Lily) e Janet Van Dyne (Michelle Pfeiffer) vagueiam pelo Reino Quântico


Ao mostrarem a Scott, Hope e a mãe desta e Vespa original, Janet Van Dyne (Michelle Pfeiffer, de Saída à Francesa, com grande destaque), uma invenção que desenvolveram para monitorar o Reino Quântico, Cassie e Hank são alertados por Janet para desligarem a máquina. Mas logo todos os cinco (e uma fazenda de formigas) são tragados para dentro deste microuniverso, onde deverão enfrentar um adversário bem além daquilo a que estavam acostumados a encarar em suas ações longe dos Vingadores...
 
 
Bancando o Mefistófeles: Scott Lang recebe de Kang (Jonathan Majors) uma "proposta irrecusável"


Dirigido por Peyton Reed (Homem-Formiga e a Vespa), com roteiro de Jeff Loveness (Rick e Morty) e baseado nas criações para as HQs de Stan LeeJack Kirby e Larry LieberHomem-Formiga e a Vespa: Quantumania (2023) joga em terreno seguro. No conjunto é um filme-família bem ao estilo "Sessão da Tarde" no bom sentido (como todos os outros do personagem), mas tem seu escopo e escala aumentados. Uma típica boa aventura dos quadrinhos - na realidade no filme vemos a melhor aventura do Quarteto Fantástico, sem o Quarteto Fantástico. É sério: Tire Scott, Hope, Hank, Janet e Cassie e coloque em seu lugar o Senhor Fantástico, a Mulher-Invisível, o Coisa, o Tocha-Humana e o jovem Franklyn Richards, além de trocarmos o vilão Kang, O Conquistador (Jonathan Majors, de Lovecraft Country, mais do que convincente em suas motivações) pelo Homem-Psíquico, por exemplo, e temos algo nos moldes das melhores tramas nos quadrinhos da família fantástica criados por Lee e Kirby, e até por John Byrne. O filme não procura reinventar a roda. É uma diversão garantida que coloca seu protagonista em outro patamar no UCM. Pois, agora, podemos dizer que o Homem-Formiga é um Vingador de fato, tirando-o da segunda divisão e alçando-o às grandes equipes de super-heróis. 
 
 
Surrealismo: Alguns personagens parecem saídos diretamente da prancheta dos quadrinistas Steve Ditko e Jack Kirby


Kang, cuja versão variante Aquele que permanece já havia dado as caras ao final de Loki, é um oponente frio, determinado e, em alguns momentos, histriônico. Outras variantes*1 dele deverão surgir nas próximas produções do estúdio, apontando direções que o próprio UCM poderá tomar. Em seu confronto com Scott Lang, ele acaba obrigando o herói a crescer e se destacar enquanto protagonista, apesar do tempo de tela ser dividido com a Vespa e com o casal do qual eles receberam o legado heróico. Janet, aliás, dá a Michelle Pfeifer uma liderança inegável na história (embora só temos pincelado o seu passado oculto no Reino Quântico). 
 
 
"Não se lembra do que vivemos juntos???": Krylar (Bill Murray) é um "segredo inconveniente" do passado de Janet (Michelle Pfeifer) em sua estada no Reino Quântico


Do elenco de apoio, temos ainda a ‘turbinada’ Jentorra (Katy M. O´Brian, de O Mandaloriano) líder da resistência à Kang; Quaz (William Jackson Harper, de Midsommar: O Mal Não Espera a Noite), seu auxiliar telepata; e Krylar (Bill Murray, de Feitiço do Tempo), o administrador da cidadela, numa participação menor do que o esperado.

Agora, como nada é perfeito, temos M.O.D.O.K.*2 (Corey Stoll, de Amor, Sublime Amor), um “alívio cômico” que, bem... Melhor ver e que cada um tire a sua conclusão. O personagem é "qualquer-coisa", desde sua origem e motivações, passando pela sua execução. 
 
 
M.O.D.O.K. (Corey Stoll) é "uma bola fora da curva" no filme, sendo um alívio cômico questionável
 


A edição de Adam Gerstel (
O Mandaloriano) e Laura Jennings (Malévola 2: Dona do Mal) mantém um bom ritmo narrativo nas duas 2 horas e 5 minutos de duração do filme. A música de Christophe Beck (WandaVision) acompanha a história com  seus acordes dinâmicos e a seleção musical de Dave Jordan acrescenta hits clássicos como a versão remasterizada de "Goodbye Yellow Brick Road" de Elton John nos momentos mais ternos e humorísticos. 
 
A cidadela futurista de Kang remete à estrutura arquitetônica da sede da AVT (Autoridade de Variação Temporal) de Loki

 
A grandiosidade do filme reflete seus valores de produção. Sendo visualmente rico, o desenho de produção de Will Htay (Henry Cowell) cria um universo com elementos dignos dos traços de Jack Kirby e Steve Ditko, referenciando outros cenários vistos nos quadrinhos Marvel, como os vistos em Os Micronautas*3. Todo este trabalho é auxiliado pelas equipes de direção de arte de Nick Gotschalk (O Destino de uma Nação); Dean Clegg (007: Sem Tempo para Morrer); Jordana Finkel (Pennyworth) e Katrina Mackay (Morte no Nilo). A decoração de sets de Richard Roberts (O Cristal Encantado: A Era da Resistência), junto com os figurinos de Sammy Sheldon (Artemis Fowl: O Mundo Secreto) - bem ‘carnavalescos’ no bom sentido - traz influências de Star Wars, Mad Max, Doctor Who e O Guia do Mochileiro das Galáxias em sua construção de mundo. 
 
 
Não faltam cenas em que a dupla protagonista exibe suas habilidades de mudança de tamanho


 
A boa fotografia de Bill Pope (Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis) lembra um  Avatar com LSD, devido à seu aspecto surrealista, e trabalha em consonância com os efeitos visuais de Digital Domain, Industrial Light & Magic (ILM), Sony Pictures Imageworks, Luma Pictures, MPC, Clear Angle Studios, Spin VFX e Barnstorm VFX. Tudo supervisionado por Jesse James Crisholm (Viúva-Negra), Russell Earl (Batman), Axel Bonami (A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell), Jeff Campbell (Fundação) e Alex Cancado (Doutor Estranho no Multiverso da Loucura)


A direção de arte e os efeitos visuais se esmeram na criação de um mundo fantástico


Ao final, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania cumpre sua missão de ‘filme de gibi’, optando por não levantar questões mais complexas em sua trama, deixando isso para as séries. Algo que, por sinal, fica evidenciado nas duas cenas pós-créditos (em especial, a segunda), rendendo boas expectativas pelo que está por vir...

Ainda temos uma pequena mostra das alterações perceptuais que o continum espaço-tempo do Mundo Quântico pode causar na mente


 
 
Notas
 

Kang, Rama-Tut, Imortus e Rapaz de Ferro: Todos o mesmo indivíduo, em momentos diferentes da vida

 
*1: Nos quadrinhos, Kang é Nathaniel Richards, descendente de Reed Richards, o líder do Quarteto Fantástico. Nascido no século XXX e entediado com a paz de sua época, ele tem acesso a máquina do tempo do Doutor Destino, inimigo maior do Quarteto. Decidindo retornar até o antigo Egito, ele usa seu conhecimento de história e tecnologia, assumindo a identidade de Rama-Tut, governando como Faraó o Egito por 10 anos. Até o Quarteto Fantástico (usando a mesma máquina do tempo do Doutor Destino para voltar no tempo) derrotá-lo. A partir daí, ele foge, indo e voltando no tempo e assumindo outras identidades, como Imortus, o Senhor da Dimensão do Limbo, e o Centurião Escarlate. a mais conhecida delas é a de Kang, o Conquistador. Nessas três identidades ele enfrentou e foi derrotado diversas vezes pelos Vingadores. Em suas diversas idas e vindas no tempo gerou várias linhas temporais que ora se anulam, ora se cruzam, gerando conflitos entre suas variantes.




*2:
M.O.D.O.K. (Mental Organism Designed Only for Killing - Organismo Mental Desenvolvido Apenas para Matar) apareceu pela primeira vez na revista em quadrinhos Tales of Suspense #93, de 1967. Foi criado por  Stan Lee e  Jack Kirby. Originalmente era um ser humano comum, George Tarleton, que foi forçado a ser uma cobaia humana em experimentos, sendo posteriormente transformado no MODOK. Chamando a si mesmo de O Cientista Supremo e usando seu vasto intelecto e poderes psiônicos, aniquilou todos os envolvidos na experiência que o criou. Como o líder da IMA (Idéias Mecânicas Avançadas). M.O.D.O.K. tem tecnologia avançada e um exército pessoal à sua disposição. Também possui várias armas projetadas para matar, instaladas em sua cadeira planadora - que passou a usar por ficar incapaz de andar com as alterações sofridas por seu corpo. 
 
 

 
*3: Os Micronautas é uma série em quadrinhos baseada em uma linha de brinquedos japoneses licenciada por uma empresa norte-americana na segunda metade dos anos 70. Atualmente a marca é licenciada pela Hasbro. Inicialmente publicados pela Marvel em 1979, as HQs eram escritas por Bill Mantlo e desenhadas por Michael Golden, com arte-final de Joe Rubinstein, e eram consideradas uma das melhores versões genéricas de Star Wars. Sua mescla de capa-e-espada e Space Opera remete à obra de George Lucas e seu vilão, o Barão Karza, era descaradamente calcado em Darth Vader. Foi publicado no Brasil pela Editora Abril na revista Heróis da TV. A última editora a deter seus direitos de publicação foi a IDW. 


"- E agora, posso dizer 'Para o alto e avante' como um super-herói de respeito???"


 

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