quarta-feira, 7 de julho de 2021

A grande conclusão - Crítica - Filmes: Vingadores: Ultimato (2019)

 

O Rolo compressor da Marvel II – A Missão

por Alexandre César

(Originalmente postado em 01/ 05/ 2019)


A Era de Ouro da Marvel se fecha em grande estilo
 

O acerto de contas com Thanos...


Fim de uma era. Uma era contida num arco de 22 filmes em 11 anos. Iniciando-se com Homem de Ferro (2008) de Jon Favreau, a Marvel Studios sem que ningém pudesse imaginar estava iniciando um Muito bem arquitetado e coeso plano de dominação global do universo pop. Orquestrado por Kevin Feige, que interligou todos esses filmes com a meticulosidade típica de um super-vilão, o UCM (Universo Cinematográfico Marvel) apresentou brilhantemente mais de trinta heróis dos quadrinhos nas telonas (com filmes muito bons, e alguns nem tanto...) tendo como base alguns personagens que sequer eram tão conhecido fora das HQs e se tornaram ícones do cinema, e em termos emocionais verdadeiros membros da família dos espectadores, dificultando falar destes filmes de forma não - emocional, pois nos apaixonamos por esse universo e nos importamos com o destino de seus personagens, sendo difícil separar o critico do fã, quando assistimos não apenas à um filme, mas ao fechamento deste arco numa mistura de sentimentos a que é impossível ficar indiferente. 


A relação de Clint Barton (Jeremy Renner) e sua família reflete como ficam as pessoas normais num contexto maior e cósmico...

 Novamente dirigido pelos irmãos Joe e Anthony Russo, Vingadores: Ultimato (2019) é o fim de tudo aquilo que conhecíamos (até agora) e amávamos sobre esse universo, sendo a aventura final dos Vingadores, mantendo em suas três horas de duração uma enorme tensão no ar, deixando o espectador sentir o peso da responsabilidade do cumprimento de sua missão. É tudo ou nada, mas como diz o nosso amado Homem de Ferro (Robert Downey Jr.)  "- Parte da jornada é o fim”.

Cérebro versus coração:Tony Stark (Robert Downey Jr.) e Steve Rogers (Chris Evans) acertam as suas diferenças e seus elos de forma consistente

 A história começa 23 dias após os eventos de Guerra Infinita (2018) quando o vilão Thanos (Josh Brolin, agora assumindo mais o seu lado vilanesco, deixando de lado o tom de “jornada sagrada” a que vinha seguindo desde o filme anterior) foi bem sucedido com seu plano de dizimar metade dos seres do universo (alguns heróis inclusos) além dos entes queridos dos sobreviventes. 

 
Segundo round: Para acabar com Thanos, todos se reúnem e, partem para a briga.


Agora, os protagonistas originais de Os Vingadores (2012 de Joss Whedon) se reúnem para destruir Thanos de uma vez por todas, mas antes tentar salvar aqueles que “viraram pó” após o vilão estalar seus dedos com a Manopla do Infinito. Vemos os resultados desse estalar de dedos, e como o mundo não conseguiu se recuperar de suas perdas; numa palheta de cores acinzentadas e frias (ponto para a fotografia de Trent Opaloch) vemos ruas vazias, prédios mal-cuidados. Lamentos. Mesmo as pessoas que tentam seguir em frente – incluindo Vingadores– não conseguem esquecer o que aconteceu. A sensação do primeiro ato do filme é de perda constante, ditando o ritmo e o tom do resto do filme (fosse este um outro filme, estaríamos vendo um mundo “pós-arrebatamento”...) sendo o filme preciso em transmitir a dor daqueles que ficaram com um gosto amargo, a sensação de abandono, além do pensamento de “vale a pena continuar???”
 
 
Tons frios e cinzentos mostram esse mundo "pós estalar de dedos"...
 
Enquanto esse dilema impera entre todos, uma nova chance de impedir estes eventos surge dentro das narrativas do próprio universo construído, mas com um time reduzido pelas perdas, o trabalho em equipe e a cooperação entre os heróis precisar ser mais concreta. 
 
 
Thanos (Josh Brolin) deixa de lado a "placidez" para abraçar de vez o seu lado de vilão implacável
 
Se a primeira aventura dos “Heróis mais Poderosos da Terra” se mostrou um marco do cinema ao provar ser possível juntar um número exorbitante de astros em um mesmo projeto mantendo um equilíbrio narrativo coerente sem cair naquela coisa dos filmes do cinema - desastre dos anos 1970 em que se tinham estrelas fazendo papéis curtos e irrelevantes (e depois morriam...). Mas era também o começo do fim, no momento em que se entrelaçaram as jornadas do  Homem de Ferro, Capitão América, Thor, Hulk, Gavião Arqueiro e Viúva Negra.
 
 
Clint, Scott Lang (Paul Rudd) e Nebula (Karen Gillan). Rartindo para a guerra, mas com estilo
 
 Aprofundando seus personagens, vemos finalmente o conflito entre Steve Rogers, o Capitão América (Chris Evans) e Tony Stark, o Homem de Ferro se completar, mostrando as diferenças entre os personagens num desfecho digno para a divergência de visões de mundo iniciada e que se potencializou em Capitão América: Guerra Civil (2016) sendo estimulante ver a química entre Evans e Downey Jr. seja trabalhando em equipe ou discutindo vigorosamente.
 
 
A Capitã Marvel (Brie Larson) se une a Natasha Romanoff  (Scarlett Johansson), James Rhodes (Don Cheadle), Thor (Chris Hensworth), Steve Rogers e Rocket Racoon (voz de Bradley Cooper) para dar o troco ao "Titâ Louco"...
 
 
Thor (Chris Hemsworth) ressurge com uma nova roupagem, diferente da que encarnava desde Thor: Ragnarok (2017) retratado de uma forma que pode não agradar a todos, perdendo muito da sua aura quase incorruptível, mas encontrando o tom do personagem, mais adequado ao timing cômico do ator, firmando uma trindade do UCM, pois Stark é a razão, o cálculo frio que planejou todo o arco de filmes; Rogers é a emoção, a essência que tornou estes personagens reais para nós, fazendo que nós os amássemos; e Thor é a diversão, a zoeira, o lado lúdico sempre presente neste universo, e que seguirá no próximo ciclo. Os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely acertam em cheio ao definir estes três pilares do UCM.


Rocket Racoon e Nebula: Os párias que procuram espaço e identidade próprias.
 
 Além dos três principais, aqui, Natasha Romanoff, a Viúva Negra (Scarlett Johansson), Bruce Banner, o Hulk (Mark Ruffalo) e Clint Barton, o Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) finalmente ganham o destaque que sempre mereceram, pois embora integrassem o time principal, não estrelaram filmes solos (excetuando, O Incrível Hulk de 2008) sendo o arco de perda, revolta e reencontro de Barton com a sua família o melhor exemplo do drama humano em meio a um contexto maior do que o das coisas simples da vida cotidiana.Todos terão um desfecho digno neste fim de jornada para alguns deles – que por uma razão ou outra, não irão mais retornar...
 
 
Rhodes, Romanoff, Rogers e Lang: "Marvel Fashion Week"...
 
 Se juntando aos nossos heróis principais estão Scott Lang, o Homem-Formiga (Paul Rudd, que traz a solução na viagem temporal), Nebula (Karen Gillan) e Rocket (voz de Bradley Cooper) - ótimas adições para o desenvolver a narrativa e ótimos alívios cômicos no maiores momentos de tensão. A forma como a viagem no tempo é usada é criativa e muito bem explicada, sem deixar que isso se torne algo simplista ou pouco emocionante. Essa ferramenta narrativa é tão bem utilizada que gera cenas divertidas e outras muito emocionantes, mostrando surpresas, easter-eggs e referências, tornando o filme num enorme fanservice que revisita todas as nossas memórias sobre esse universo, expandindo tudo que foi construído, reservando no caminho, alguns dramas que desafiarão até ao mais forte dos cinéfilos a derramar algumas lágrimas. 
 
 
A nave fortaleza de Thanos: Percebe-se onde foi aplicado cada centavo dos 500 milhões
de dólares do orçamento (estimado) do filme
 
As três horas, se revelam necessárias para contar a história, sem tempo perdido,ou enrolação, de forma enxuta, dificultando imaginar como o ele seria com qualquer uma de suas cenas diminuídas ou retiradas, e mantendo o foco na coesão narrativa, não perdendo o espectador em nenhum momento. A maquiagem e os efeitos visuais mais uma vez são capazes de tornar mudanças causadas pelo tempo extremamente realistas. Embora já vislumbrado em Capitã Marvel (2019) esse recurso aqui é usado em várias cenas de forma impressionante. 
 
 
Clint Barton como Ronin: Existem citações a sagas dos quadrinhos como "Império Secreto" entre outras
 
 
O miolo do filme é um verdadeiro deleite para os fãs de longa data do UCM, sendo um grande show de fanservice, tornando o filme (embalado pela trilha esperta de Alan Silvestri) cada vez mais parecido com uma história em quadrinhos. Nós já vimos outras cenas épicas de combate em equipe ao longo dos filmes, mas Ultimato consegue apresentar sequências que ainda assim são capazes de encher nossos olhos, como o “Momento Girl Power”, um belo plano-sequência que vai perfilando todas as heroínas uma a uma mostrando que embora a “distinta concorrência” tenha a pioneira princesa amazona, a “Casa das Idéias”  já coloca um extenso, diverso e representativo número de mulheres empoderadas nas suas hostes. 
 
 
Equipe desfalcada: Máquina de Combate e Homem-Formiga fazem o possível para suprir
  as carências do grupo.
 
Apesar de todas as suas qualidades, o filme tem pontos que poderiam ser melhor trabalhados. O principal deles talvez seja a participação da Capitã Marvel, pois ao contrário dos demais heróis, Carol Danvers (Brie Larson) parece nunca se encaixar de fato na ação em equipe, deixando a sensação de que a personagem está sobrando nessa história, ficando claro que certas cenas foram filmadas e inseridas posteriormente no filme, algo que a edição não conseguiu disfarçar. 
 
A base dos Vingadores é o cenário da grande batalha final.
 
 Vingadores: Ultimato é, mais do que tudo, um emocionante presente de fã para os fãs, feito com carinho e cuidado com cada detalhe. A sensação final, é a de que mais que um mero filme de heróis, temos uma grandiosa conclusão da aventura de personagens muito queridos, que nos ganharam ao longo dos anos, gerando lágrimas sinceras a esse belo desfecho, que coloca fim não a uma fase, mas a uma era inteira, pois o UCM como o conhecíamos, acabou.
 
 
Calor da batalha: Tony Stark mostra porque ele é o Homem de Ferro.
 
 
Cronologicamente será dito que este foi o fim da Era de Ouro do Universo Cinematográfico Marvel. Mas, como será a Era de Prata? É provável, já que agora a Marvel Studios tem Quarteto Fantástico e X-Men à sua disposição, graças à compra da FOX pela Disney, que estes passem a transitar pelos próximos filmes, mas será um novo universo, praticamente criado do zero. Será algo desafiante, e muitos dirão que não é bom em comparação à Era de Ouro, mas em sua Gênese, como a celebração do humano imperfeito, a Marvel surgiu com pujança na Era de Prata dos Quadrinhos... Certo DC Comics
 
Obs: Na sessão exibida, não constou nenhuma cena pós-créditos.
 
 
" ♪♫ - Caminhando e cantando e seguindo a canção... ♪♫ "
 

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