O Assombroso Multiverso!!!

Dr. Estranho de Sam Raimi traz o terror ao UCM.

As Muitas Faces da Lua

Spector, Grant, Cavaleiro da Lua, as múltiplas personalidades do avatar de Konshu.

Adeus, Mestre.

George Perez e sua fantástica trajetória.

Eu sou as sombras.

The Batman, de Matt Reeves, recria o universo sombrio do Homem-Morcego.

Ser legal não está com nada...Ou está?

Lobo, Tubarão, Aranha, Cobra, Piranha...Que medo!!! Mas eles querem mudar isso.

terça-feira, 24 de janeiro de 2023

Força da Natureza - In Memorian: John Belushi

 


Tsunami humano

por Alexandre César
(Originalmente publicado em 03//06/2020)

O exército (e a fanfarra) de um homem só
 
 

Primórdios: Apenas um jovem amante da música...



Imaginemos um ator, músico e cômico que fosse como os terremotos, os vulcões, os tsunamis, e outras forças da Mãe Natureza, que tudo viram ao avesso tal é a força que carregam em seu bojo, e nisto, marcam aqueles que puderam apreciar o seu breve e intenso brilho, seguindo seu elétrico e popular astro, enquanto ia marcando seu tempo como um cometa.
 

Dan Aykroyd e John Belushi: Feitos um para o outro numa amizade sólida para o que desse e viesse...



Nascido John Adam Belushi ( Chicago, 24 de janeiro de 1949 – West Hollywood, 5 de março de 1982) John Belushi em sua breve estada neste planeta, foi um ator, músico e comediante americano, filho de imigrantes albaneses que marcou presença na primeira geração do programa humorístico Saturday Night Live, junto com o amigo Dan Aykroyd, Steve Martin, Chevy Chase, entre outros, além de ser irmão do ator James Belushi.

 

"Sathurday Night Live" na sua primeira geração, com os jovens Chevy Chase, Dan Aykroyd, John Belushi e o produtor Lorne Michaels...


Belushi sempre quis fazer música. Ele havia sido assim desde o Ensino Médio, quando ele foi baterista de uma banda de garagem chamada Os Corvos. Isso apesar da total rejeição de seus colegas de banda às habilidades de Belushi como cantor. “Ah, John, não sei…”, um deles diria. “Talvez você possa cantar uma música do Ringo.”


No "Sathurday Night Live" com Buck Henry, como "Samurai Futaba"...



John Belushi, o amigo Dan Aykroyd entre colegas do elenco de "Sathurday Night Live" e abaixo, de bigodinho, Bill Murray...


Belushi ingressou em 1971 no Second City, grupo de comediantes de Chicago, tendo passado dois anos produtivos com a trupe. Graças à sua performance imitando o cantor Joe Cocker no falso documentário National Lampoon Television Show: Lemmings Dead in Concert (1973) de Tony Hendra, Michael Keady e outros (uma paródia de Woodstock) foi para Nova York, dirigindo e estrelando um programa chamado The National Lampoon Radio Hour. Lá ficando de 1974 a 75. Neste período conhece na cidade de Toronto/ Canadá, Dan Aykroyd, que seria seu maior amigo, como ele diria numa entrevista: - “Nós já tínhamos ouvido um do outro”, lembra Aykroyd. “Nós olhamos um para o outro. Foi amor à primeira vista.”

 

"Sathurday Night Live" foi o berço onde Aykroyd e Belushi deram à luz a "The Blue Brothers", que brilharam nos shows e nos discos...



"Clube dos Cafajestes" (1978) seu primeiro grande filme...


 Na primavera de 1975, Belushi e Aykroyd se juntam ao elenco do Saturday Night Live, marcando os quatro anos seguintes com tipos memoráveis como ‘Samurai Futaba’, num esquete grande e brilhante com espadas de samurai e rosquinhas de chocolate; também criou e interpretou ‘Super Bass-o-Matic 76’, ‘Fred Garvin, o Homem Prostituta’, fora as imitações de personalidades como Henry Kissinger, Elvis Presley, Marlon Brando ou William Shatner no antológico quadro “A última viagem da nave estelar Enterprise” (veja aqui ), tendo sido neste período premiado com o  Emmy, e eleito o Melhor Roteirista em um Programa de Variedades ou Musical em 1977 e ainda indicado como Melhor Ator (coadjuvante/ secundário) em um Programa de Variedades ou Musical em 1977 e 1978.

 

Amigos da fuzarca: John Landis, no colo de Bruce McGill, junto com Belushi num intervalo das filmagens de "Clube dos Cafajestes" (1978).


"Os Irmãos Cara de Pau" (1980): Consagração da dupla Aykroyd-Belushi num pesadelo logístico...


Neste período, será uma das vozes do desenho Tarzoon: A Vergonha da Selva (1975) de Picha e Boris Szulzinger e o filme televisivo The Beach Boys: It´s OK (1976) de Gary Weis, Com A Corda no Pescoço de Jack Nicholson, The Rutles: All You Need is Cash (ambos de 1978) de Eric Idle e Gary Weis e logo depois estrearia o seu primeiro grande filme: Clube dos Cafajestes (National Lampoon’s Animal House, 1978) de John Landis. Belushi, que interpretou John “Bluto” Blutarsky, o patife guloso que reúne a Delta House rumo à glória, virando uma grande estrela do cinema. Viriam em seguida Amor em Dobro(1979) de Joan Tewkesbury, 1941 – Uma Guerra Muito Louca (1979) de Steven Spielberg, como o alucinado piloto Cap. Wild Bill Kelso e, Os Irmãos Cara de Pau (The Blue Brothers,1980) de John Landis, onde Belushi e Aykroyd reviviam os irmãos Joliet e Elwood “Blue”, surgidos no Saturday Night Live e que tiveram sucesso em shows e alcançando o topo daBillboard com seu disco Briefcase Full of Blues (1978).


"1941: Uma Guerra Muito Louca" (1979) O filme fracassou, mas Belushi roubava a cena como o alucinado Capitão Wild Bill Kelso...


O filme foi uma pesadelo logístico para a O filme foi uma pesadelo logístico para a Universal Pictures, por conta das diferenças de método dos executivos com a equipe criativa, que demorou a finalizar o roteiro, além de suas sequências de ação desvairadas e, pela postura alucinada de Belushi, que se tornou desastrosa, graças ao seu vício espiral (e, em última instância, letal) em cocaína, atrasando o cronograma e estourando o orçamento, mas ao final, a despeito de suas péssimas críticas iniciais e sua inicialmente péssima bilheteria, o filme foi ganhando status cult e tornou-se a mais lucrativa comédia da Universal.


Em "Estranhos Vizinhos" (1981) voltou a atuar com o amigo Aykroyd, fazendo dessa vez um tipo certinho, quadrado...


Vieram ainda Vieram ainda Brincou com Fogo... Acabou Fisgado! (1981) de Michael Apted  e Estranhos Vizinhos (1981) de John G.Avilsen, repetindo a parceria com o amigo Aykroyd onde desta vez Belushi faz um personagem certinho, careta e reprimido, bem o oposto de sua persona exuberante.


Dan Aykroyd, em pé no funeral do amigo, exibindo a dor da perda...


Pouco depois, como decorrência de seus apetites vorazes, em 5 de março de 1982 era encontrado morto, vítima e uma overdose de Speedball (uma combinação de heroína e cocaína) em seu bangalô no Chateau Marmont, um hotel de Los Angeles. Foi enterrado no Abel´s Hill Cemetery na ilha de Martha´s Vineyard, Massachusetts, além de uma pedra memorial feita pela família no cemitério Elmwood, River Groove, Illinois. John Belushi tinha 33 anos.

 

Pedra memorial no cemitério de Elmwood, na cidade de River Groove, no estado de Illinois...


Morto jovem, com todo um potencial não-realizado do que poderia ainda ter feito, John Belushi tornou-se um ícone da comédia moderna, sendo referencial das gerações posteriores, sendo homenageado em músicas dos conjuntos Greatful Dead e Anthrax, além de ganhar uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood em 2004, e a sua performance de “Bluto” fantasiado de Nero em Clube dos Cafajestes permanece como uma das mais imitadas no Halloween e nas festas das fraternidades estudantis americanas, permanecendo ele como um dos pilares da comédia moderna, entre outras contribuições à arte no geral.

 

Homenagem a um filho célebre: Em 2008 o Serviço dos Correios da Albânia emitiu um selo comemorativo homenageando o ator, filho de emigrantes que venceu na “Terra do Tio Sam”...


 

- "ATACAAAARRRRRRR!!!!!!!"



segunda-feira, 23 de janeiro de 2023

O brinquedo dos sonhos - Crítica – Filmes: M3GAN (2023)







“Amiguinha” 3.0


por Alexandre César

A nova geração do terror-pipoca






Gemma (Alison Williams de Corra!) é uma dedicada e ambiciosa engenheira de computação e robótica que trabalha numa empresa de brinquedos, cujo chefe David (Ronny Chieng de Podres de Ricos) persegue a meta de gerar um produto que cative o público-mirim e que seja de custo acessível e cuja tecnologia interna não permita a pirataria das concorrentes. Seu último lançamento, é praticamente um upgrade dos Tamagotchis*1 e apesar das boas vendas, não atingiu o potencial esperado, sendo inclusive copiado por rivais piratas, que colocaram na praça um similar, custando quase um quarto do original. É um meio selvagem, e ela está desenvolvendo (à revelia do chefe) um ambicioso projeto, de um brinquedo que substituiria a preferência de qualquer criança.



Gemma (Alison Williams) faz da sua sobrinha Cady (Violet McGraw) a usuária principal do protótipo M3GAN


Ao mesmo tempo, ela sofre uma tragédia familiar, quando sua irmã e o marido morrem num acidente de carro, deixando-a como responsável pela sobrinha Cady (a ótima Violet McGraw de Jogador N°1) de oito anos, uma menina retraída pelo trauma, e pelo alheamento que os tempos atuais de celulares, tablets e o mundo virtual causam nas relações humanas entre pais e filhos, uma vez que os adultos cada vez mais preferem empurrar coisas para distrair os pimpolhos, do que encarar a tarefa hercúlea de ensiná-los à estabelecer relações (e assumir responsabilidades) com o mundo ao redor. Ao ver sua própria incapacidade de lidar com as necessidades de Cassie, ela vê na sobrinha a oportunidade de desenvolver seu projeto, e a coloca como usuária-teste de M3GAN (voz de Jenna Davis de Trem Infinito e performance de Amie Donald de Sweet Tooth e Kimberley Crossman de SMILF). M.3.G.A.N. (acrônimo de Model 3 Generative ANdroid – ANdróide Generativo Modelo 3) é uma andróide-boneca de 120 m, cujos parâmetros de sua programação a fazem proteger e cuidar das principais necessidades de Cady, orientando-a, e preenchendo sua carência afetiva, tornando-se sua melhor amiga, virtualmente uma irmã. Mas aí surge um problema: Se delegamos todas essas responsabilidades para a máquina, qual o real papel dos adultos que deveriam ser os responsáveis pelos pequenos? 

 

M3GAN (performance de Amie Donald e voz de Jenna Davis)


Produzido por James Wan (Aquaman) pela Blumhouse e Atomic Monster e Dirigido por Gerard Jhonstone (Housebound) M3GAN (2023) se revelou uma grande surpresa neste início de ano, tendo alcançado boa aceitação de público graças ao hype das redes sociais, que viralizaram os memes da bonequinha dançando e interagindo com Cady, se firmando como a legítima herdeira de Chuck, o Brinquedo Assassino (que já não tem o mesmo fôlego), Anabelle e (por que não?) o Exterminador do Futuro, referendando-se com estes em vários momentos do filme, sabendo se valer do arrepio típico do Vale da Estranheza*2 que seres sintéticos muito próximos da figura humana nos causam. Essa intimidação vai gradualmente crescendo à medida que a relação Cady-M3GAN vai evoluindo para algo mais perigoso, pois os algoritmos (sempre eles!) vão gradativamente considerando “proteger” Cady usando de força letal para remover todo e qualquer indivíduo que se ponha entre as duas... 

 

Inicialmente, M3GAN se torna o ideal da "melhor amiga" que toda criança quer


O roteiro de Akela Cooper (Maligno) a partir de sua história (em parceria com James Wan) espertamente mescla horror, ficção-científica e um fino humor na sua crítica social ao mundo corporativo da indústria de brinquedos, que busca mais, formas de fidelizar consumidores, do que, incutir valores construtivos nas mentes da crianças; o medo das Inteligências Artificiais, aplicativos como os as ‘casas inteligentes’, e o clássico “Complexo de Frankenstein*3 popularizado por Isaac Asimov*4, pois parece que, a julgar pelo mundo atual, ninguém mais de real posição de poder (se é que alguma vez se importaram de fato) lembra do conceito das “3 Leis da Robótica*5, além de apontar para o momento social atual, em que adultos não sabem mais ser ‘pais’ e ‘mães’ de seus filhos, tendo cada vez mais dificuldades de assumir o papel de dizer ’sim’ e ‘não’ e impor a noção de limites e de aprender a viver com a noção de frustração, coisa que a julgar pela quantidade atual de adultos mimados, que querem ter suas necessidades atendidas imediatamente, e não sabem lidar com coisas básicas como ‘esperar a vez’, e quando têm filhos, preferem empurrá-los para as escolas ou qualquer instituição, pois não querem (e não sabem) dar limites, pois muitas vezes não tiveram isso na própria infância... 

A relação de M3GAN e Cady evolui, mas a programação da boneca começa a ampliar a noção de "proteger" a menina



A direção acerta na dinâmica entre os personagens é bem construída e conduzida, auxiliado pela edição de Jeff McEvoy (Power) mantendo um tom narrativo constante e gradativo, acompanhando os personagens secundários na sua função de conduzir a narrativa (e só isso), muitas das vezes morrendo no terço final, para concluir seus arcos e frisar o quanto M3GAN é perigosa. No quarto final o filme abraça a sua vocação de terror-pipoca, mas de forma gráfica, mas não gore, com muitas citações a Chuck, Exterminador do Futuro, Aliens, entre outros clássicos da ação oitentista, sendo muito hábil a mescla de efeitos práticos e animatrônicos supervisionados por Sven Harrens (Mad Max: Estrada da Fúria) da Weta Workshop, com os efeitos de maquiagem de Nina Anton (A Baleia) complementados por um CGI discreto da Weta FX e Fin Design, supervisionado por Jonathan Dearig (Perdidos no Espaço) na composição da movimentação da boneca-andróide-exterminadora, cujos figurinos de Daniel Cruden a tornam uma ‘Amiguinha 5.0’ (entendedores entenderão...). 

 

Gemma e seus colegas de projeto Tess (Jen Van Epps) e cole (Brian Jordan Alvarez) se veêm em apuros na hora de tentar neutralizar M3GAN



Os valores e produção são muitos bons, dentro dos parâmetros de um filme de médio orçamento, com o desenho de produção de Kim Sinclair (Oeste sem Lei), a direção de arte de Bem Milson (Pearl) e a decoração de sets de Vanessa Cole (Avatar: O Caminho da Água) e Sean Keenan (Halloween Ends) criando os espaços funcionais e corporativos da empresa de Gemma e da sua casa geek, com sua ‘Alexa’ e seus brinquedos colecionáveis, que só ficam na estante (e dentro de suas caixas). A fotografia de Simon Raby (Sem Saída) e Peter McCaffrey (Topping Out) é basicamente clara e luminosa, ficando gradativamente escura apenas nos momentos mais sinistros, da mesma forma que a música de Anthony Willis (Doce Vingança) acompanha discretamente a escalada dos acontecimentos, mas se permitindo inserir espertamente hits para sublinhar de forma irônica a narrativa. Vocês nunca mais ouvirão ”Titanium” de David Guetta e Sia do mesmo jeito...


A violência é moderada, mas precisa para causar impacto nos momentos certos


Ao final M3GAN é um filme-pipoca satisfatório, que é honesto na sua proposta de entreter de forma inteligente, mas sem pretender ’reinventar a roda’, já ficando claro na sua cena final, e pela mais do que satisfatória recepção do público, que em breve teremos um upgrade da bonequinha-robô, quem sabe até numa versão adolescente e, posteriormente adulta, pois sua evolução algorítmica deve ditar esse rumo... 


A progressão do filme só pisa no acelerador no quarto final, caindo um pouco no lugar-comum, mas era o que se esperava do filme, não comprometendo o seu conjunto




Notas

 


*1: Tamagotchi foi um “bichinho virtual” muito popular nos anos
90,distribuída pela Bandai e criada por Akihiro Yokoi e Aki Maita cuja principal função era receber atenção e cuidados da parte das crianças, que tinham de ‘alimentá-los’, ‘medicá-los’ (quando ’adoeciam’) etc... num ritmo intenso pois rapidamente se a criança não cuidasse dele, ele ‘adoecia’ e ‘morria’. Foi uma febre por ocasião de seu lançamento, mas em poucos anos caiu no esquecimento. 

 

*2: O Vale da Estranheza (do inglês Uncanny Valley) é uma hipótese no campo da estética, robótica e computação gráfica que diz que quando réplicas humanas se comportam de forma muito parecida – mas não idêntica- a seres humanos reais, provocam repulsa entre observadores humanos. O “vale” em questão é oriundo de um gráfico da reação positiva de um ser humano em função da verossimilhança de um robô. A expressão foi criada pelo professor japonês de robótica Masahiro Mori.

Wikipédia: http://pt.m.wikipedia.org/wiki/vale_da_estranheza 

 

 

*3: Complexo de Frankenstein seria o clichê literário (e cinematográfico) do criador (cientista, mentor, etc...) que cria um ser (pode ser um robô, uma forma de vida, ou até a orientação de um aluno ou discípulo a como se inserir, num meio profissional, político, etc...) mas após um tempo, a “criação” acaba por destruir o seu “criador”, que não avaliou sabiamente os riscos de sua empreitada, seja por ambição, desleixo, ou até por idealismo. 

 


*4: Isaac Asimov (1920-1992), foi um prolixo autor de ficção-científica e divulgação científica, famoso por obras relacionadas a robôs e a série Fundação, que ganhou o Prêmio Hugo de Ficção-Científica, sendo considerada a melhor série literária de fantasia e ficção-científica de todos os tempos desbancando obras como as séries Duna de Frank Herbert e O Senhor dos Anéis de J.R.R. Tolkien e As Crônicas de Nárnia de C.S. Lewis. 

 


*5: Três Leis da Robótica são, na verdade, três regras e/ou princípios idealizados por Asimov a fim de permitir o controle e limitar os comportamentos dos robôs, sendo:

1ª Lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.

2ª Lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que entrem em conflito com a Primeira Lei.

3ª Lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou Segunda Leis.

Mais tarde Asimov acrescentou a Lei Zero, acima de todas as outras: um robô não pode causar mal à humanidade ou, por omissão, permitir que a humanidade sofra algum mal.


"- Agora humanos que sou uma celebridade, poderei andar incógnita no meio de vocês, me disfarçando com meus óculos escuros..."




sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

O cineasta-adjetivo - In Memorian: Federico Fellini

 


Homo Surrealis

por Alexandre César 
(Postado originalmente em 20/ 01/ 2020)

Poucos usaram o sonho como matéria-prima igual a ele


 

Os saltimbancos Antony Quinn e Julieta Massima em "A Estrada da Vida" (1954)


Há mais de um século atrás nascia um garoto na cidade de Rimini, na costa do Mar Adriático, que imaginativo, sonhava com as histórias de Flash Gordon e os filmes de Hollywood, viu na sua infância as pantomimas autoritárias do fascismo e de seu bufão maior Il Duce, mas a sua cidadezinha era pequena para os seu sonhos, e aos 18 anos foi em busca de fortuna como cartunista e desenhista, estudando jornalismo em Florença e virou profissional em Roma, na revista de humor Marco Aurélio.


Fellini e o futuro Alm. Nelson (Richard Basehart) em "A Estrada da Vida"

 

Foi a devassa e luminosa Roma, o lugar que esculpiu o rapaz de Rimini, que escreveu roteiros de fotonovelas - chamadas de fumetti -, fez rádio-teatro e chegou ao cinema e escreveu roteiros junto com um mestre neorrealista, Roberto Rossellini. Mas as lembranças da cidade da costa adriática de telhados vermelhos e vendedoras de cigarro voluptuosas permaneciam. Era um enxame de lembranças mágicas e desconexas que reconfigurou em Amarcord (1973), em Os Boas-vidas (1953) e em A Estrada da Vida (1954). A verdadeira pátria deste jovem sonhador, que no entanto, nunca teve fronteiras, e ele soube mantê-la escondida entre as quatro paredes do Estúdio 5 de Cinecittà, onde construiu a maioria dos seus devaneios.

 

Marcelo Mastroiani e a Anita Ekberg em "La Dolce Vita" (1963). Aqui, diferente do seu habitual, Fellini optou por filmar em locação real na Fontana di Trevi

Checando se sua diva Anita Ekberg estava suficientemente voluptuosa...


 

Federico Fellini (Rimini,   20 de janeiro de 1920 - Roma, 31 de outubro de 1993) foi um diretor e roteirista de cinema italiano como poucos. Conhecido por seu estilo distinto, que mistura fantasia e imagens barrocas com ”terridez”, é reconhecido como um dos maiores e mais influentes cineastas de todos os tempos. 

 

Giulieta Massima como a cortesã em busca do amor em "Noites de Cabíria" (1957)


Seus filmes foram classificados, em pesquisas como Cahiers du cinéma e Sight & Sound, como alguns dos melhores e mais insólitos filmes produzidos na Itália e fundou uma nova maneira de contar o mundo a partir dos sonhos e do lado mais grotesco de suas próprias memórias. Um século depois de seu nascimento, o big bang estético criado durante os anos em que viveu em Roma continua permanecendo no imaginário Pop de forma firme e indelével.

 

O visual ligérgico com muita estética gay de "Satyricon" (1969)

 

Em uma carreira de quase cinquenta anos, ganhou a Palma de Ouro por por La Dolce Vita (1963), foi indicado a doze Oscars e ganhou quatro na categoria de melhor filme em língua estrangeira, o melhor para qualquer diretor da história da Academia. No Oscar de 1993, em Los Angeles, ele recebeu um prêmio honorário. Além de La Dolce Vita (1960) e (1963), seus outros filmes conhecidos incluem A Estrada (1954), Noites de Cabíria (1957), Julieta dos Espíritos (1965),  Satyricon (1969), Amarcord (1973), Casanova de Fellini (1976), Ensaio de Orquestra (1979), A Cidade das Mulheres (1980) E la nave va (1983), Ginger e Fred (1986) e A Voz da Lua (1990).

 

"Satyricon" é um filme que dificilmente seria tão bem acolhido se fosse feito hoje em dia


 

Seus filmes renderam vários prêmios, dentre eles: Quatro Oscars, dois Leões de Prata, uma Palma de Ouro, o prêmio do Festival Internacional de Filmes de Moscou e, em 1990, o prestigiado Prêmio Imperial concedido pela Associação de Arte do Japão, que é considerado como um , que é considerado como um Prêmio Nobel.

 

As lembranças de sua infância em Rimini, durante o fascismo foram a matéria-prima de "Amarcord"(1973)

As bonitonas de Rimini de "Amarcord"



Este prêmio, cobre cinco disciplinas: pintura, escultura, arquitetura, música e teatro/filme. Com este prêmio, Fellini juntou-se a nomes como Akira Kurosawa, David Hockney, Balthus, Pina Bausch, e Maurice Béjart, o que mostra que o “Maestro de Rimini”, como se referiam a ele, está em muitíssima boa companhia...
 

"Amarcord": O maestro e seu elenco tendo o transatlântico "Rex" ao fundo. Na realidade um recorte pintado em perspectiva que o traveling da câmera dava a ilusão de movimento



Com uma combinação única de memória, sonhos, fantasia e desejo, os filmes de Fellini têm uma profunda visão pessoal da sociedade, não raramente colocando as pessoas em situações bizarras. Existe um termo "Felliniano", que é empregado para descrever qualquer cena que tenha imagens alucinógenas que invadam uma situação comum, sendo também felliniano, o adjetivo que descreve um universo estético, social e político impregnado da tensão entre o homem moderno e os rudimentos do passado, mesclando sonhos eróticos de dominação e poder de um machismo caricatural ou a estranha mistura de crítica e paixão simultânea por uma sociedade do espetáculo, que acabou se tornando uma indústria publicitária de práticas odiosas, pois “o show não pode parar”, criando um “moedor de carne” humano de suas estrelas e dos aspirantes ao estrelato.

 

Criador e Criatura: Fellini e Marcelo Mastroiani, que muitas vezes foi o "alter ego" do diretor em seus filmes, e uma amizade duradoura



Grandes cineastas como Wood Allen, David Linch, Girish Kasaravalli, David Cronenberg, Stanley Kubrick, Martin Scorsese, Tim Burton, Pedro Almodóvar, Terry Gilliam e Emir Kusturica já disseram ter grandes influências de Fellini em seus trabalhos. Woody Allen, em particular, já usou o imaginário e temas de Fellini em vários de seus filmes: Memórias(1980) evoca , e A Era do Rádio (1987) é remanescente de Amarcord, enquanto Broadway Danny Rose (1984) e A Rosa Púrpura do Cairo (1985) inspirados em Mulheres e Luzes (1950) e Abismo de um Sonho (1952) respectivamente. 

 

A voluptuosa Sandra Milo em "Julieta dos Espíritos" (1965). As mulheres de Fellini são voluptuosas como as dos desenhista Milo Manara, com quem trabalhou na graphic novel "Viagem a Tulum (1991)"


"A Cidade das Mulheres" (1980) Mastroiani (e Fellini) encaram a revolução feminina


O cineasta polonês Wojciech Has, autor dos filmes O manuscrito encontrado em Saragoça (1965) e Sanatorium Pod Klepsydrą (The Hour-Glass Sanatorium de 1973), são notáveis exemplos de fantasia modernista e foi comparado à Fellini pela "Luxúria pura de suas imagens".

 

"E La Nave Va" (1983): Fellini e o rinoceronte no seu "Titanic"


 

O cantor escocês de rock progressivo O cantor escocês de rock progressivo Fish lançou em 2001 um álbum de nome “Fellini Days”, com letras e músicas totalmente inspiradas nos seus filmes.

O trabalho de Fellini inspirou fortemente musicalmente e visualmente a banda B-52’’s. Eles citaram que o estilo de cabelos bufantes e de roupas futuristas e retrô vem de filmes como  , por exemplo. A inspiração em Fellini vem também no último álbum da banda, intitulado "Funplex", (2008) com uma música que leva o nome de um de seus filmes "Juliet of the Spirits", ou, Julieta dos Espíritos (Giulietta Degli Spiriti, 1965).

 

"Viagem a Tulum"(1981): Fellini no roteiro e Milo Manara nos desenhos, com direito a um "Mastroiani" como protagonista. Fellini começou como desenhista de quadrinhos, sendo grande fã de Moebius entre outros


Em 1993, recebeu um Em 1993, recebeu um Oscar Honorário em reconhecimento ao conjunto de sua obra que ao longo dos anos chocaram e divertiram audiências mundo afora. No mesmo ano ele morreu em Roma, aos 73 anos (um dia depois de completar cinquenta anos de casado) de um ataque cardíaco. Sua esposa, Giulietta, morreu seis meses depois em 23 de março de 1994 de câncer de pulmão. 

 

Giulieta e Mastroiani em "Ginger e Fred" (1986) uma ode nostálgica a "Era de Ouro" do cinema


"Ensaio de Orquestra" (1979): obra sobre o insólito no cotidiano, como tudo em Fellini


Giulietta e Fellini estão enterrados no mesmo túmulo de bronze esculpido pelo escultor Arnaldo Pomodoro. Em formato de barco, o túmulo está localizado na entrada do cemitério de Rimini – sua cidade natal, cujo aeroporto também recebeu seu nome. Entre seus amigos e admiradores estavam os escritores Jorge Amado e Georges Simenon.

Ao final de todo esse século desde o seu nascimento podemos dizer que Fellini foi o que melhor definiu que “a arte é uma mentira usada para contar uma verdade”...

 

"-E rema, rema, rema..."