O Assombroso Multiverso!!!

Dr. Estranho de Sam Raimi traz o terror ao UCM.

As Muitas Faces da Lua

Spector, Grant, Cavaleiro da Lua, as múltiplas personalidades do avatar de Konshu.

Adeus, Mestre.

George Perez e sua fantástica trajetória.

Eu sou as sombras.

The Batman, de Matt Reeves, recria o universo sombrio do Homem-Morcego.

Ser legal não está com nada...Ou está?

Lobo, Tubarão, Aranha, Cobra, Piranha...Que medo!!! Mas eles querem mudar isso.

sábado, 30 de julho de 2022

E a Marvel Dominou... - San Diego Comic Com 2022


O rolo compressor do MCU

 

Por Vinicius Marins


Fases 5 e 6, Quarteto Fantástico, Demolidor Vingadores... Todas as novidades anunciadas no Painel da Marvel em um só lugar!

 


 

Encerrou no último domingo (24/07) mais uma edição da San Diego Comic-Con – a primeira presencial após o início da pandemia de Covid-19 do ainda mais popular evento de cultura pop do mundo. E não deve ser dúvida para quem assistiu ou soube por notícias e comentários nas redes sociais que a Marvel Studios e suas enxurrada de novidades apresentadas foi o grande destaque. Com menos gente circulando no Centro de Exposições e menos estandes grandiosos – a DC Comics, que sempre foi destaque nesse requisito, não montou estande este ano -, muita gente achou que a editora/estúdio também viria mais discreta, segurando boa parte das informações para o D23 Expo 2022, o megaevento da Disney (atual proprietária da Marvel) marcado para acontecer entre os dias 9 e 11 de setembro próximo em Anaheim, também na Califórnia. Mas a Marvel abriu as compotas e revelou muita coisa em San Diego – e nem tudo era esperado.

Creio que, antes de prosseguir, seja importante fazer um adendo aqui. Afinal, porque a DC Comics flopou tanto nessa edição da San Diego Comic Con? A verdade é que Warner, responsável pelas produções da DC, deu muito azar este ano. Ela já está querendo há algum tempo buscar uma nova direção para seus filmes, tentando fugir do controverso Snyderverso, o sombrio conceito do Universo DC elaborado para os cinemas a partir da visão do diretor Zack Snyder. Mas alguns atores chave de suas produções estão sendo cancelados pela Internet, prejudicando as produções que fazem parte. 

O filme solo do Flash, pronto há tempos e tendo seu lançamento constantemente adiado, não tem novos trailers divulgados e Ezra Miller, seu protagonista, não dá as caras em eventos devido a todos os processos, histórias macabras e investigações em que está envolvido – brigas em bar, acusações de assédio, prisões... O novo filme de Aquaman também está na geladeira por causa do julgamento em que Amber Hart (a heroína Mera, par romântico do protagonista) perdeu o processo de difamação que tinha contra seu ex-marido, Johnny Depp. Temos o novo filme de Shazam e a estreia de Adão Negro, ambos ainda para este ano, mas o primeiro não é um filme para quebrar as estruturas e o segundo não é novidade – já teve trailer lançado antes que não difere muito do apresentado neste evento. A DC Comics está nas cordas, precisa se recuperar e refazer todos os seus projetos para o cinema mais uma vez.  

 

Shazam e Adão Negro: Muito pouco da DC Comics para competir com a Marvel

 

Voltando a Marvel, algo que não era esperado era a revelação não apenas do que teremos na fase seguinte do seu Universo Cinematográfico (MCU), mas das próximas duas fases. E finalmente foi apresentado até onde irá a Fase 4, a que está rolando atualmente. Ela vai se concluir com “Pantera Negra: Wakanda Para Sempre”, com lançamento previsto para 10 de novembro. A Fase 5 se iniciará em fevereiro de 2023, com o lançamento nos cinemas de “Quantumania”, o novo filme do Homem Formiga e da Vespa. E a Marvel apresentou a ordem e o nome de todas as produções dessa nova fase (alguns ainda sem nome definido em português):

 

“Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania” - 17 de fevereiro de 2023 (nos cinemas)

“Invasão Secreta” - Primavera de 2023 (no Disney+)

“Guardiões da Galáxia - Vol. 3” - 5 de maio de 2023 (nos cinemas)

“Loki – 2ª Temporada” - Verão de 2023 (no Disney+)

“Echo” - Verão de 2023 (no Disney+)

“The Marvels” - 28 de julho de 2023 (nos cinemas)

“Blade” - 3 de novembro de 2023 (nos cinemas)

“Coração de Ferro” - Outono de 2023 (no Disney+)

“Agatha: Coven of Chaos” - Inverno 2023/2024 (no Disney+)

“Capitão América: Nova Ordem Mundial” - 3 de maio de 2024 (nos cinemas)

“Demolidor: Born Again” - Primavera de 2024 (no Disney+)

“Thunderbolts” - 26 de julho de 2024 (nos cinemas)

 

A primeira imagem promocional de “Quantumania” foi apresentada no painel, onde vemos Kang, o Conquiatador (Jonathan Majors) – o grande vilão da vez – com um visual muito próximo ao original dos quadrinhos, bem diferente de sua primeira e rápida aparição no MCU, no final da 1ª temporada de Loki, na Disney+. Mas o destaque na imagem foi a presença de Cassie Lang (Kathryn Newton) - a filha do Homem Formiga, Scott Lang (Paul Rudd) – usando o uniforme de sua identidade heroica, Estatura. A versão do uniforme, porém difere dos quadrinhos, estando próxima à da Hope Van Dyne, a Vespa (Evangeline Lilly).  Um teaser foi apresentado apenas para os presentes no Salão H, onde são revelados teasers e trailers exclusivos. Apesar de mostrar Kang, o teaser mostra que não será ele o grande antagonista do filme. Este cargo caberá a Bill Murray que vai viver o papel de... Modok!! Sim, vai estrear oficialmente no MCU o hilário e frustrado protagonista do seriado animado do Star+, o vilão problemático que lidera a organização maléfica Ideias Mecânicas Avançadas (IMA). Certamente ele vai ganhar um belo upgrade em sua vilania, mas, interpretado por Murray, deve permanecer com sua verve humorística. 

 

"Quantumania": Primeira imagem promocional do filme

Da minissérie Invasão Secreta, a Marvel apresentou poucas novidades. Uma delas, inclusive, foi equivocada e o estúdio precisou se retratar. No Comic Con, a Marvel anunciou que Regé-Jean Page (astro da série Bridgerton, da Netflix) estaria presente na minissérie, mas posteriormente o estúdio lançou uma nota negando esta afirmação. De certo no elenco temos velhos conhecidos do MCU: Nick Fury (Samuel L. Jackson), o skrulll Tallos (Ben Mendelsohn), Maria Hill (Cobie Smulders) e Sharon Carter (Emilia Clarke). Também anunciado no elenco a presença da premiada atriz britânica Olivia Colman, deA Filha Perdida, e já começaram as especulações de qual será a sua personagem.

 

Olivia Coleman: personagem em "Invasão Secreta" permanece em segredo

Tudo indica que o próximo filme dos Guardiões da Galáxia, depois de sua participação especial em “Thor: Amor e Trovão” e no especial de Natal marcada para ser lançado no fim deste ano, marcará o fim de uma era para o grupo. Afinal, o diretor James Gunn confirmou que teremos morte entre os integrantes da equipe e o próprio Dave Bautista já havia anunciado em suas redes sociais que esta seria a última vez que interpretaria Drax, o Destruidor. Um teaser do próximo filme da equipe sideral foi apresentado com exclusividade para os que estavam presentes no Salão H, no qual alguns detalhes da trama foram mostrados: tem a primeira aparição de Will Poulter como o poderoso Adam Warlock e Chukwudi Iwuji como o Alto Evolucionário, que deverá ser o antagonista da equipe desta vez. Aliás, Iwuji apareceu no Salão H caracterizado como seu personagem e botando banca. Pelo teaser, além do possível confronto com o Alto Evolucionário, devemos ter mais informações sobe a origem de Rocket (voz de Bradley Cooper) e veremos o reencontro de Peter Quill (Chris Pratt) com Gamora (Zoe Saldana) – o que não será fácil para o Senhor das Estrelas. Afinal, esta Gamora não é aquela com quem ele viveu um tórrido romance e morreu em “Vingadores: Guerra Infinita”. Esta Gamora, vinda de um universo paralelo, decidiu seguir em frente após o confronto com Thanos e viver sua própria vida.

 

Alto Evolucionário (Chukwudi Iwuji): encarando os fãs da Marvel

Para a alegria dos fãs, foi confirmado o retorno de duas séries do MCU na Disney+ para uma segunda temporada: “Loki” e "What If...?”. Aliás, esta ultima teve também confirmada uma terceira temporada, além de uma série derivada - os heróis zumbis que foram destaque em um dos episódios já apresentados, terá sua própria série animada. A Viúva Negra original volta a dar as caras de novo após a sua morte em “Vingadores: Ultimato” e em mais de um episódio – um deles ao lado do grande destaque da primeira temporada: a Capitã Carter. Claro que serão versões da personagem em realidades paralelas, mas tá valendo. Aqueles que estavam no Salão H tiveram o privilégio de ver mais alguns dos personagens em realidades paralelas que estarão presentes na 2ª temporada: Feiticeira Escarlate, Shang-Chi, Senhor das Estrelas, Hela e muitos outros. De Loki, pouca coisa foi dita. Teremos a volta de Loki (Tom Hiddleston), Mobius (Owen Wilson), Ravona (Gugu Mbatha-Raw) e Sylvie (Sophia Di Martino) e, pelo gancho apresentado no final da primeira temporada, a trama deverá envolver Kang, apresentando melhor o vilão que dará trabalho para os heróis da Marvel nos próximos anos.   

 

"What If...?": Capitã Carter volta na 2ª Temporada

Os fãs também se alegraram com outra confirmação: o seriado do Demolidor (Charlie Cox) no Disney+, agora sob a batuta da própria Marvel. Eles sabiam que era uma questão de tempo que o herói tivesse algum destaque após sua rápida passagem por “Homem-Aranha Sem Volta para Casa” e sua participação no seriado da Mulher-Hulk, confirmada no novo trailer da série divulgado na Comic Con. E ainda teve a aparição do seu arqui-inimigo, o Rei de Crime (Vincent D'Onofrio), no seriado do “Gavião Arqueiro”. Mas ainda não se sabia se seria um filme ou uma série, como foi apresentado na produção que antes estava no catálogo da Netflix e agora se encontra no Disney+ (e que ainda não é considerado canônico no MCU). Mas o título escolhido para a nova série - “Demolidor: Born Again” - pode ser enganoso. “Born Again” (em tradução literal, “Nascido de Novo”) é o nome de um dos mais aclamados arcos do herói nos quadrinhos, em que ele perde tudo – posses, honra, identidade e sanidade – como resultado de um maquiavélico plano do Rei do Crime, depois que este descobre qual é a sua identidade secreta. Talvez a Marvel tenha escolhido este título justamente para marcar o fato de que o personagem terá um novo recomeço, agora que faz parte do MCU. É esperar para ver.

 

"Demolidor: Born Again": Charlie Cox retorna ao papel do herói 

O próximo filme do Capitão América – o primeiro com Sam Wilson (Anthony Mackie) deixando de lado a identidade do Falcão e assumindo o manto do Herói – é outra produção que pode ter um título enganoso. O nome do filme – “Capitão América: A Nova Ordem Mundial” – foi anunciado nesta edição da San Diego Comic Com. Nos quadrinhos ele se refere a um arco que não é protagonizado pelo Capitão América, mas pelo Hulk. Nas HQs, Nova Ordem Mundial era um grupo de vilões comandados pelo Caveira Vermelha com objetivo de conquistar o mundo e que procurou controlar o Hulk para usá-lo como principal arma no combate aos Vingadores e a qualquer outro super-herói que cruzasse o caminho deles. Bom, o Caveira Vermelha não parece estar disponível para algo assim após a sua última aparição no MCU em “Vingadores: Guerra Infinita”. Mas a aparição de um grupo de vilões  – que seria um batismo de fogo e tanto para Sam Wilson enfrentar em sua estreia oficial como o novo Capitão – teria sentido se lembrarmos que, nos planos da Marvel, o próximo filme após este nos cinemas seria dos Thunderbolts, a última produção da Fase 5. Este grupo, nos quadrinhos, era formado por vilões que, usando novos uniformes e codinomes, fingiam ser super-heróis como parte de um plano complexo de conquista traçado por Zemo – visto pela última vez confrontando o mesmo Sam Wilson na minissérie “Falcão e o Soldado Invernal”. Outro caso em que precisaremos de mais informações.  

 

"Capitão América: Nova Ordem Mundial": Sam Wilson (Anthony Mackie) assume o manto

Da fase seis, pouca coisa foi dita, mas cada informação liberada foi comemorada efusivamente. Para começar, o filme que abre a fase será o muito aguardado primeiro longa do Quarteto Fantástico feito pela Marvel Studios. Após a compra da Fox pela Disney, os fãs contavam os dias para saber quando afinal teríamos o filme da Primeira Família da Marvel dentro do MCU. Sobre o filme uma coisa já está clara: não vai ser uma história de origem – mesma opção escolhida pela Marvel Studios quando teve liberdade para fazer o seu primeiro filme do Homem-Aranha. Afinal, depois de tantos filmes pela Fox, boa parte do público já sabe quem são os personagens, as relações que eles têm entre si e como funcionam os poderes deles. Quanto aos atores do filme, nada se sabe. Nem o fato de John Krasinski ter interpretado Reed Richards, o Senhor Fantástico, em “Dr. Estranho no Multiverso da Loucura” é garantia de ele reprisará o papel no filme do Quarteto. Afinal, no filme do Dr. Estranho vimos o Reed Richards de uma realidade paralela.

 

Quarteto Fantástico: John Krasinski pode não voltar ao papel de Reed Richards

A outra revelação sobre a Fase 6 é que ela irá se encerrar com dois filmes seguidos dos Vingadores: “Dinastia Kang” e “Guerras Secretas”. Com a diversidade de produções da Marvel e a retirada de cena de vários membros originais da equipe, muitos chegaram a pensar que não teríamos ainda por muito tempo novos filmes dos Vingadores. Na realidade, o fato de cada fase anterior a atual terminar com um novo filme dos Vingadores, restringia as possibilidades de desenvolvimento de heróis avulsos em suas próprias produções. Essa orientação foi quebrada nesta fase 4 em que não tivemos novos filmes da equipe e o estúdio aproveitou para lançar personagens inéditos, renovando o elenco de heróis do MCU – para isso muito contribuiu os seriados lançados direto no sistema de streaming Disney+, que tem mais espaço que os filmes para desenvolver suas histórias, que podem ser centradas em aventuras de alcance mais restrito, sem necessariamente precisar salvar o universo a cada nova produção. A Marvel confirmou com o anúncio desses novos filmes dos Vingadores que a equipe deve estar reservada para o final de grandes sagas que envolvem diversas fases, como ocorreu na conclusão da Fase 3, encerrando a Saga do Infinito, iniciada em “Homem de Ferro”, primeiro filme do MCU. Aliás, a Marvel finalmente divulgou nesta Comic Com o nome da atual saga em desenvolvimento a partir do início da Fase 4 e que será concluída com o fim da Fase 6: A Saga do Multiverso.   

 

Vingadores: Dois filmes da equipe encerram a Fase 6

Os presentes, e quem acompanhava o evento ao redor do mundo, chegaram a achar que não teria trailer ou novidades anunciadas sobre "Pantera Negra: Wakanda: Para Sempre". Painel da Marvel acabando... e nada! Mas eles guardaram as emoções mais fortes para o final. O painel se encerrou com uma envolvente sessão sobre o último filme da Fase 4, com uma apresentação musical tradicional dos povos da África e falas dos principais atores da produção, destacando a importância e a ausência de Chadwick Boseman, o falecido ator que interpretou T’challa - o Pantera Negra original -, transformando o personagem em um ícone de representatividade. E tivemos mesmo um trailer onde vemos que T’challa também está morto no MCU e seu legado deverá ser assumido por outra pessoa. Quem será ainda é um grande segredo. E novamente precisamos tomar cuidado ao interpretar o que vemos em trailer da Marvel. Apesar de ter uma curta cena de um corpo aparentemente feminino trajando o uniforme do Pantera, nada indica que mulher estaria no traje – nem que essa pessoa será, de fato, a herdeira do traje de T’challa. Se for esse o caso, ela poderia ser Shuri (Letitia Wright), Nakia (Lupita Nyong’o) ou Okoye (Danai Gurira) – a preferida do público. De qualquer forma, o filme trás duas adições importantes ao MCU. Uma delas é Rory Willians (Dominique Throne), a futura Coração de Ferro, a possível sucessora do Homem de Ferro que também ganhará sua própria série na Fase 5. E a outra adição é Namor, o Príncipe Submarino (Tenock Huerta), o último super-herói clássico que faltava dar as caras nas telas e que, pelo trailer, deverá ter grande destaque no filme.   

 

"Wakanda Para Sempre": Lupita  Nyong’o (Nakia), Letitia Wright (Shuri), Dominique Throne (Riri), Danai Gurira (Okoye) e Winston Duke (M'Baku) em homenagem a Chadwick Boseman

Apesar de tantas coisas anunciadas da Marvel em San Diego, certamente muita novidade ainda vai pintar na D23 em setembro. Não se falou do especial de Halloween que vai rolar este ano, por exemplo. E quase tudo relacionado aos X-Men deve ter ficado para ser apresentado no megaevento da Disney. O único rumor circulando sobre eles, ainda não confirmado, é que o seu primeiro filme pela Marvel será chamado apenas de “Os Mutantes”. Podemos ter certeza de que, se nos surpreendemos com o tanto que a Marvel nos apresentou na San Diego Comic Com, deveremos ficar ainda mais boquiabertos quando chegar o D23. 

Aguardemos... 

 

Kevin Feige: "- Veni, Vidi, Vici..."*1

 

 *1: do latin: "Vim, Vi, Venci"

quinta-feira, 28 de julho de 2022

Na época dos foguetes de alumínio... - Clássicos do Passado: Destino à Lua (1950)

 




Pioneiro pós-guerra


por Alexandre César 

(Originalmente postado em 27/ 09/ 2019)


George Pal e Robert A. Heinlein vislumbram o cosmos



Clássico incontestável.

Bem-vindos aos anos 50! A Era Espacial começou! Vários países desenvolvem seus próprios projetos para ver quem vai chegar a lua primeiro e tomar a dianteira nesta disputa. Mas os EUA tem um sério problema: seus testes com os foguetes V2 dão errado (segundo rumores, devido à sabotogem), levando o governo a desistir dessa corrida. 

Mas o cientista de foguetes Dr. Charles Cargraves (Warner Anderson) e o General Thayer (Tom Powers), grande fã da ciência aeroespacial, acreditam que o país não pode perder o bonde da história e vão atrás do magnata da aviação Jim Barnes (John Archer). Afinal, quem chegasse a lua primeiro poderia usá-la como base de mísseis e dominar o espaço. Com este argumento, Barnes consegue convencer outros empresários norte-americanos a ajudar a bancar a construção de um foguete para alcançar o nosso satélite natural. Para complicar, o projeto acaba gerando controvérsias com a população em geral, pois ele utiliza a perigosa e assustadora energia atômica...  


O filme mostra as dificuldades de se desenvolver um projeto de viagem ao espaço,
 
Dirigido por Irving Pichel (Zaroff, o Caçador de Vidas, de 1932), Destino à Lua (Destination Moon, de 1950) é um dos clássicos de aventura, ficção-científica e fantasia do produtor George Pal (A Guerra dos Mundos, de 1953, A Máquina do Tempode 1960, As 7 Faces do Dr. Lao, de 1964). Foi o primeiro filme de ficção científica dos Estados Unidos a apresentar o tema da viagem espacial de forma realística. Pal encomendou o roteiro a James O'Hanlon (Ardida como Pimenta, de 1953) e Rip Van Ronkel (A Hora Escarlate, de 1956). O escritor especialista no gênero Robert A. Heinlein (Tropas Estelares, o livro) foi colaborador no roteiro e consultor técnico da produção. O filme se baseia em seu romance Rocket Ship Galileo (147) e ele publicaria posteriormente o conto Destination Moon, a partir do  roteiro. O filme é considerado uma dos mais importantes filmes de ficção-científica do período pós-segunda guerra mundial, junto com O Dia em que A Terra Parou (1951), de Robert Wise. O longa-metragem foi produzido em Technicolor e distribuído nos Estados Unidos pela Eagle-Lion Classics (no Brasil foi distribuído pela Universal International). 
 


Em certa altura é necessário procurar investidores na indústria e finanças...
 
Mas terminou a Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos e a União Soviética começaram o conflito de bastidores que se tornou conhecido como a Guerra Fria. Um de seus efeitos colaterais foi a Corrida Espacial. Apesar dela começar, de fato, a partir do final dos anos 50, no decorrer da década todo esse conflito se refletia nas telas de cinema, com foguetes, astronautas e monstros pipocando em filmes de baixo orçamento, mais preocupado em impactar seu público do que buscar alguma coerência científica. O diferencial de Destino à Lua está em seu roteiro, mas preocupado na preparação do projeto expedicionário de realização da primeira viagem espacial tripulada e nas dificuldades reais de implementá-lo.
 

O padrão tecnológico da época

 
Como exemplo da necessidade de explicação de elementos técnicos realísticos para um público leigo, temos uma cena em que Jim Barnes procura convencer um possível investidor para o projeto através da exibição de um desenho animado do Pica-Pau, explicando a ação da gravidade que dificulta o lançamento do foguete e noções básicas de aeronáutica. Esta foi uma boa sacada para situar a plateia nos cinemas quanto aos problemas enfrentados pelos engenheiros e os astronautas. A mesma ideia pode ser vista, por exemplo, em Jurassic Park - Parque dos Dinossauros (1993, de Steven Spielberg), onde um filme animado é projetado para os futuros clientes do parque, mostrando como os dinossauros foram trazidos de volta a vida nos tempos modernos. 


O lançamento mostra os efeitos da aceleração nos astronautas
 
 
Devido as posições políticas de Heinlein, muitas críticas ao filme foram feitas, que foi interpretado como uma propaganda militar norte-americana. Mas a história apenas sugere que alguma nação poderia tentar usar a Lua como base militar, enquanto o escritor, em histórias posteriores, apresentou nazistas transformando o satélite em ameaça. No roteiro, o verdadeiro vilão é a limitação da tecnologia, causando diversos perigos aos astronautas em cenas que encadeiam necessidade de roupas espaciais, além de problemas devido a falta de gravidade e dificuldades em decorrência do peso para a aceleração e consertos fora da espaçonave. Isso nos leva, por exemplo, aos problemas reais que ocorreram a Nasa, retratados no filme, Apollo 13 - Do Desastre ao Triunfo (1995, de Ron Howard)

 
em uma cena se improvisa um propulsor com um cilindro de oxigênio...
 
 
Durante o planejamento da famosa cena do resgate Atividade Extra Veicular (na qual um cilindro de oxigênio é usado como uma unidade de propulsão individual) auxiliada pela montagem de Duke Goldstone (The Great Rupert de 1950) os produtores consideraram usar uma arma de fogo como meio de propulsão com o qual o personagem de John Archer resgata o de Warner Anderson quando ele escorrega e se lança do foguete para o espaço. Felizmente eles mudaram de ideia pois uma arma de fogo soaria como uma peça de equipamento inapropriada para um satélite sem ar e sem vida. Entretanto, a concepção de uma arma de fogo foi usada no final do desenho animado de demonstração do Pica-Pau da propulsão do foguete que é mostrada para os industriais milionários que acabam financiando o vôo para a Lua.
 
 
A forma encontrada para simular os efeitos da aceleração no rosto dos atores é criativa
 
 
Os efeitos da aceleração são mostrados pela distorção dos rostos dos atores. De acordo com o artigo de uma revista isto foi feito despejando finas tiras de corante de carne sobre suas faces. O produto foi seguindo as fibras dos rostos amarrado sobre linhas de pesca que iam passando através das "poltronas de aceleração" (por trás das cabeças dos atores) arrastadas pelos membros da equipe para “alongar” a pele.
 
 
Solados magnéticos ajudam no passeio extra veicular...
 
 
 Os trajes espaciais foram acolchoados para parecerem inflados. O acolchoamento e as luzes do estúdio faziam os trajes tão quentes que os atores só conseguiam usá-los por alguns minutos de cada vez...
 
 
"Licença poética": Leito de lava rachada na Lua??
 
A consultoria técnica de astronomia de Chesley Bonnestel (O Fim do Mundo de 1951, A Conquista do Espaço de 1955) famoso artista de paisagens celestiais,que providenciou matte paintings e fez o design da superfície lunar. A vista panorâmica do cenário lunar foi uma pintura feita por Bonnestel de 3 metros e 96 cms de altura montada sobre rodas que corria à frente de uma câmera estacionária. Para fazer as estrelas parecerem brilhantes e luminosas, 534 furos foram abertos na pintura e iluminados por trás.


Este cenário foi reciclado em "N" filmes


O Diretor de Arte e Desenhista de Produção Ernst Fegé (Além da Barreira do Tempo de 1960) adicionou o leito de lava fraturada que remete a semelhança de um fundo de lago seco. As rachaduras diminuem em escala a medida que elas se afastam da câmera, criando um efeito perspectiva forçada que aumenta a profundidade do cenário. Bonestell sabia que a superfície craquelada da lua lembrando um leito de rio seco era não acurado cientificamente, mas usou isto para dar o senso de perspectiva ao panorama lunar captada pelo fotógrafo Lionel Lindon (Sob O Domínio do Mal de 1962). Este exemplo de técnica acurada e excelência artística foi a chave do sucesso do filme.
 
 
Estes trajes também foram reciclados em outras produções, de Abbot & Costelo Os 3 Patetas entre outros
 
 
A música de Leith Stevens (A Guerra dos Mundos de 1953) mantém o tom épico e sério para os padrões de filmes de aventura da época.
 
 
O "State-of-Art" da época...
 
O filme foi um grande sucesso, abrindo caminho para toda uma geração de aventuras espaciais com foguetes cromados e tripulantes com trajes coloridos e largos com aquários na cabeça, ficando cristalizados na iconografia dos anos de 1950 a 1960 e povoando o imaginário do ocidente, sendo reciclado nas décadas seguintes ora como homenagem, hora como paródia, sendo reciclado no episódio 'One Way to the Moon' do seriado Túnel do Tempo (1966) em que foram usadas a cena da caminhada sobre o casco da nave, a sequência de pouso da nave na superfície da Lua, algumas cenas de caminhada sobre a superfície e a cena da partida do foguete, entrecortadas com close-ups dos atores da série usando trajes similares. 

 
Esta cena foi parodiada em "Star Trek: Primeiro Contato"  como uma homenagem do diretor Jonathan Frakes
 

Da mesma forma, foram usados os trajes (modificados) e a cauda cenográfica do foguete em Abbott & Costelo no Planeta Marte (1953) de Charles Lamont, em O Foguete Errante (1959) de  David Lowell Rich, com Os Três Patetas e em As Amazonas da Lua (1987) de John Landis.

 

"Abbott & Costelo no Planeta Marte"(1953): Trajes reciclados, entre outros adereços

Este é outro clássico imortal das matinês e Sessões da Tarde que merece ser revisto neste tempos de comemoração dos 50 anos do pouso na Lua, quando as forças do obscurantismo teimam em querer nos fazer acreditar que a Terra é plana e que não somos capazes de ultrapassar o limite de nossa atmosfera e que temos de permanecer fixos no chão, apesar de alegarem que a gravidade não existe...

 
"- A partir de hoje, as noites serão mais luminosas, com o brilho de milhões de mundos a serem visitados!!!" como poderia dizer um personagem de Ray Bradbury, adepto dos foguetes de cromo
 

 

quinta-feira, 14 de julho de 2022

Pais & Filhos sempre... - Crítica - Séries: The Boys - 3ª Temporada

 


O apogeu narrativo

por Alexandre César

Série da Prime Video supera a si mesma e à concorrência 

Obs: Alguns spoilers

“A Origem dos Sete”: Vemos Charlize Theron como Storm Front/ Tempesta, num filme que distorce os fatos que aconteceram na temporada anterior

 

Produzida por Seth Rogen, Evan Goldberg (Preacher) e Eric Kripke (Supernatural), The Boys, entra agora em sua terceira e explosiva temporada, mantendo o tom ácido e ampliando o universo narrativo da obra. Sem perder a sua coerência interna, ela investe na crítica feroz ao mundo corporativo e nos paralelos com o mundo contemporâneo, onde a manipulação midiática e a difusão de discursos de ódio pelos grupos conservadores são relativizados relativiza para  que se alcance metas estabelecidas. 

 

Billy Butcher/ Blly Bruto (Karl Urban) e Hughie Campbell (Jack Quaid) encontram no Composto V-24, uma forma de 'nivelar o jogo' contra os super-seres



A série, baseada nos quadrinhos de Garth Ennis (Preacher, O Justiceiro) e Darick Robertson (Transmetropolitan) publicados pela Dynamite Entertainment entre 2006 e 2008, se consagrou na mais bem-sucedida aposta da Amazon Prime Video, superando (e muito!) o seu material matriz. Aprofundando os personagens e suas relações, ela se mantém como a melhor obra do gênero, superando as rivais de streaming: Netflix, que ‘quebrou a cara’ com a adaptação mequetrefe de O Legado de Júpiter, de Mark Millar e Frank Quitely, e Marvel/Disney, que neste último ano tem entregado séries até boas, mas abaixo de seu verdadeiro potencial... 

 

Homelander/ Capitão-Pátria (Antony Starr) gradativamente vai mergulhando na paranoia, assumindo comportamentos esquizofrênicos

No programa "American Hero" Starlight / Luz-Estrela (Erin Moriarty) reencontra supersônico (Miles Gaston Villanueva), antigo "crush" que entra na mira de Homelander / Capitão-Pátria


Reencontramos o grupo de Billy Butcher / Billy Bruto (Karl Urban, da cinesérie Star Trek, cada vez melhor) e Francês (Tomer Capon, de 7 Dias em Entebbe), o especialista em armas e traquitanas que agora forma um casal com Kimiko (Karen Fukuhara, de Esquadrão Suicida), a “Wolverine” da equipe. Também revemos Milk MotherLeitinho (Laz Alonso, de Armed), o “pau-para-toda-obra” do grupo e o “irmãozão” de todos que lida com o fato de sua esposa o ter trocado por Todd (Matthew Gorman, de Supermães), um fã desmiolado dos super-seres que acredita em tudo que a mídia lhe diz, refletindo bem o perfil dos apoiadores de Trump e de Bolsonaro. Se você leitor, acha que eu não devia falar de política na crítica de uma série baseada em quadrinhos, fica a dica: TUDO NA VIDA É POLÍTICA. SEU CORTE DE CABELO, À COR DO SEU CARRO (quando as forças econômicas lhe permitem ter um, e mantê-lo...) OU O CHEIRO DO SEU DESODORANTE!!! Posto isso continuemos...

Rainha Maeve (Dominique McElligott) se prepara para ter com Homelander / Capitão Pátria um acerto de contas por uma vida de abusos


O grupo de Butcher / Bruto agora responde à Hughie Campbell (Jack Quaid, de Pânico), que passou a integrar o departamento da Senadora Victoria Newman (Claudia Doumit, de Cadê Você, Bernadette?), que está de olho nas atividades dos supers desde que ela pressionou e conseguiu que a Vought International permitisse uma maior fiscalização nas ações dos super-seres. Tudo isso devido às consequências nefastas dos atos de Storm Front / Tempesta (Aya Cash, de Fosse/Verdon em rápida aparição nesta temporada) que abalaram as estruturas do grupo (e da própria Vought ao apoiá-la) com sua capacidade de lidar com as redes sociais e induzir as massas com discursos de ódio )“as pessoas gostam de ouvir o que falo, só não gostam da palavra fascista”). Vemos que no universo da série, como aqui, a vida não é para amadores ...


Vemos a psiquê fraturada de Black Noir (Nathan Mitchell) num momento que revela parte de seu passado traumático


Para quem está chegando agora, no universo ficcional da série a Vought International é um conglomerado multinacional que cuida do merchandising, filmes, séries de TV, brinquedos e toda a sorte de produtos de cada super equipe e super-seres dos EUA. Para isso a empresa os gerencia via redes sociais, ficando de olho em quem é popular, quem está nos trending topics, qual a demografia de likes de cada um... S
ua “jóia da coroa” corporativa é o grupo conhecido como Os Sete (uma paródia corrupta da Liga da Justiça), formado por Homelander / Capitão-Pátria (o brilhante Antony Starr, de Banshee, no papel de sua vida), o ”Superman” da série e o “sonho molhado” dos supremacistas; Black Noir (Nathan Mitchell, de Scorched Earth), o “Batman” que tem parte de seu passado revelado nesta temporada; Rainha Maeve (Dominique McElligott de House of Cards), a “Mulher-Maravilha” que, embora agora apareça menos (durante as filmagens a atriz estava na Irlanda, limitada pelo lockdown devido a COVID-19), tem um arco de redenção; A-Train / Trem-Bala, (Jessie T. Usher, de Mentiras Perigosas), o ”Flash” que tenta se reinventar como alguém preocupado com sua ancestralidade em momentos questionáveis *1; e o reabilitado The Deep / Profundo (Chace Crawford, de Casual), o “Aquaman” que é orientado a como voltar a ganahr espaço na mídia por sua esposa Cassandra Schwartz (Katy Breier, de Moonfall: Ameaça Lunar) que conheceu na Igreja da Coletividade (uma paródia da Cientologia*2). Mas logo ele põe tudo à perder por conta de seu ego e suas bizarrices sexuais... 

 

Oportunismo 1: A-Train / Tren-Bala, (Jessie T. Usher) procura usar a sua ancestralidade negra para resgatar a sua popularidade

Oportunismo 2: The Deep/ Profundo (Chace Crawford) recupera o seu status graças à orientação de sua esposa Cassandra Schwartz (Katy Breier)

 
O grupo ainda tem Annie January, a Starlight / Luz-Estrela (Erin Moriarty, de Berserk) a "Supergirl / Mary Marvel" da série, que nesta temporada cresce (e muito!) como personagem, mostrando saber lidar com Os Sete e com a tirania corporativa da Vought. Ela volta a usar o seu uniforme mais recatado, descartando de vez o modelito padrão 
mais sexualizado “heroína da Image Comics”. Ela agora está vivendo um relacionamento secreto (mas estável) com Hughie, que se ressente de ser um indivíduo comum, incapaz de protegê-la de ameaças super-poderosas... Uma das tônicas desta temporada é justamente a masculinidade frágil, que leva indivíduos a tomarem rumos duvidosos por conta de suas inseguranças. 

 

Reviravoltas: Homelander / Capitão-Pátria promove a submissa Ashley Barrett (Colby Minifie) a CEO da Vought e o incompetente The Deep / Profundo a chefe da segurança


O grande desafio da temporada leva o grupo a se deslocar para o outro lado do oceano, pois acredita-se que os russos tem uma arma que teria matado Soldier Boy (Jensen Ackles, de Supernatural, em ótima performance), o "Capitão América" da Vought, e que poderia também matar Homelander / Capitão-Pátria. Grace Mallory (Laila Robins, de Lista Negra) lhes confessa que ela chefiou uma operação conjunta com a Vought e com o seu grupo, o Payback ,na Nicarágua nos anos 1980*3

 

A equipe "Payback" nos anos 1980, chefiada por Soldier Boy (Jensen Ackles ao centro), Condessa Carmesin (Laurie Holden) e Black Noir

 

Chegando na Rússia, eles descobrem que Soldier Boy está vivo e é mantido prisioneiro, sendo usado como cobaia de experimentos pelos russos. Neste arco, o Francês, tem de pagar um débito com a chefe da máfia russa Little Nina (Katia Winter, de The Catch) para salvar a sua ex-amante Cherie (Jordana Lajoie, de Ride or Die), envolvendo Kimiko nisso. 

 

Na Rússia, Francês (Tomer Capon) tem de acertar as contas com a chefe da máfia russa Little Nina (Katia Winter)

Para ajudar Francês, Kimiko (Karen Fukuhara) mostra toda a sua habilidade de usar armas pouco convencionais com resultados letais


Nesta temporada Butcher / Bruto descobre uma forma de nivelar o combate usando a droga experimental Composto V-24, que concede poderes a seu usuário por 24 horas. Por sua natureza viciante, a droga causa uma cisma no grupo, uma vez que Bruto e o inseguro Hughie passam a usá-la. Butcher / Bruto acaba fazendo um acordo com Soldier Boy, que quer acertar as contas com o seu antigo grupo (que na realidade o entregou aos russos). 

 

Ao libertarem Soldier Boy, o grupo descobre o seu novo poder


Existem espelhamentos nos relacionamentos tóxicos, sejam os de natureza sexual - como nos casos de Homelander / Capitão-Pátria com a Rainha Maeve e de Soldier Boy com sua amante, a Condessa Carmesin (Laurie Holden, de Arquivo X) -,  nos que envolvem questões de parentesco - como no caso de Butcher / Bruto com Hughie, que lhe remete a seu irmão falecido -  como nas questões de paternidade de Soldier Boy (cuja história de ‘Herói de Guerra’ é pura propaganda da Vought) e do próprio Homelander / Capitão-Pátria, que se reaproxima de Ryan (Cameron Crovetti, de Big Little Lies,) seu filho (via estupro) com a falecida mulher de Butcher / Bruto. Ele se oferece como um pai que sempre o apoiará independente das consequências de seus atos (e quem morra nisso)... 


Francês, Hughie, Butcher / Bruto e Milk Mother / Leitinho (Laz Alonso) enfrentam uma treta maior ainda


Antony Starr cresce nas mudanças de ânimo instantâneas de seu super paranoico personagem, que camufla suas inseguranças atrás de bullying e agressividade. Em um tom de voz ou um olhar (as cenas em que dialoga com seu reflexo no espelho são um show à parte) reflete toda a sua masculinidade frágil e tóxica. Seu sorriso luminoso esconde o desprezo que sente por toda a humanidade (ou por outros supers). Ele consegue numa virada inesperada, descartar o todo-poderoso Stan Edgar (o estiloso Giancarlo Esposito, de O Mandaloriano), CEO da Vought que em certa altura lhe diz: “Você não é um deus, mas sim um produto defeituoso!”. Em seu lugar, coloca Ashley Barrett (Colby Minifie, de Lemons), mas ela não passa de um capacho dele, que a humilha (bem como ao resto dos Sete) sempre que pode. Ashley transfere essa forma de humilhação aos seus amantes, mostrando que os ciclos de violência se reproduzem em escala hierárquica, como no experimento da hierarquia do galinheiro *4

 

De volta aos EUA, Soldier Boy começa a caçar aqueles que o traíram

Correndo por fora, a Senadora Victoria Newman (Claudia Doumi) também faz as suas jogadas pelo poder


Temos ainda críticas à cultura pop e ao negacionismo, como na cena inicial da temporada, quando o diretor do filme “A Origem dos Sete”, Adam Bourke (P.J. Byrne, de Rampage: Destruição Total), lança o seu corte (Snydercut?!?) com direito a uma ponta de Charlize Theron (Doutor Estranho no Multiverso da Loucura) como Storm Front / Tempesta, distorcendo os fatos que aconteceram na temporada anterior. Da mesma forma os noticiários enfatizam que Soldier Boy é ‘naturalizado russo’, tirando a responsabilidade americana por seus atos destrutivos.


Billy Butcher / Bruto encara seus fantasmas, revivendo a relação com seu irmão caçula


O Desenho de Produção de Jeffrey Mossa (Panic) e Arvinder Greywal (Genius), a Direção de Arte de William Cheng (Fundação) e David Best (Waco) e a Decoração de Sets de Cheryl Dorsey (Taken) expandem esse mundo colorido (hightech, mas palpável), não devendo nada às séries ou filmes do Universo Cinematográfico Marvel, ou da DC. Da mesma forma, os Figurinos de Michael Ground (Frontier) acertam no tom casual de seus personagens. 
Laura Jean Shannon (Patrulha do Destinocontinua fazendo um trabalho competente com seus supertrajes

 

Starlight / Luz-Estrela e Milk Mother / Leitinho avisam a Vazz, o Salsicha do Amor (Derek John), e os demais participantes da "festa" sobre a ameaça que se aproxima


A fotografia de Dan Stoloff (Julia) é complementada pelos efeitos visuais das empresas BOT VFX, Double Negative (DNEG), Folks, Framestore, Mavericks VFX, Method Studios, Monsters Aliens Robots Zombies, Mr. X, Outopost VFX, Pixomondo, Rocket Science VFX, Rodeo FX e Soho VFX. Supervisionados por Rian McNamara (See), Stephan Szpak-Fleet (Timeless: Guardiões da História) e Tristan Zerafa (Alita: Anjo de Combate), continuam tornando críveis as extrapolações dos supers, por mais bizarras e gore que sejam, como quando, no melhor episódio da temporada, que adapta o arco Herogasm dos quadrinhos*5, quando temos um rápido e hilário retorno de Vazz, o Salsicha do Amor (Derek Johns, de Moonfall: Ameaça Lunar), além dos grandes combates de Homelander / Capitão-Pátria com Soldier Boy e com um Billy Butcher / Bruto, turbinado por Composto V-24

 

Combate de Titãs: Os dois oponentes saem no braço...

...revelando similaridades que trazem novas dinâmicas à trama



A edição de David Kaldor (Perdidos no Espaço), Wlliam W. Rubenstein (Timeless: Guardiões da História), Ian Kezbom (Future Man) e Tom Wilson (Candy) mantém o ritmo narrativo, ora frenético, ora mais compassado, sendo acompanhado e bem sublinhado pela seleção musical da trilha de Christopher Lennertz (Perdidos no Espaço) e Matt Bowen (Blood Road), que inclui Hits clássicos para enfatizar momentos de carga emocional. 

 

Num momento idílico, Kimiko fantasia um musical com o Francês, celebrando o seu amor



Finalizando sua terceira e melhor temporada, The Boys supera de forma mais do que satisfatória as expectativas que gerou, abrindo novos rumos para a sua próxima (e provavelmente derradeira), que deverá se pautar na batalha de Bruto / Butcher pelo coração e a alma de Ryan, o que deverá render momentos de alto teor dramático. Esta temporada reflete muita coisa que vemos ao longo de nossas vidas, quando, quem têm poder, o usa de forma indiscriminada, procurando passar a seus descendentes essa ideologia do “quem pode, faz e manda, e quem não pode, obedece”. Independentemente disso ser certo ou errado, pois considerações éticas são demasiadamente intelectuais para o poder...


  Notas:

 



*1: Em uma cena marcante, vemos A-Train / Trem-Bala fazer um comercial de seu energético Turbo Rush, tomando para si uma manifestação popular, parodiando o Black Lives Matter. Uma atitude similar ao comercial que a Pepsi fêz em 2017 com a top model Kendall Jenner. O comercial teve uma repercussão tão negativa (passando uma mensagem sem-noção sobre os movimentos de cunho social), que a Pepsi o retirou do ar e teve de se retratar. Ele ainda tenta mediar as atividades do vigilante Blue Hawk (Nick Wechsler, de This Is Us), que espanca a comunidade negra de forma arbitrária, levando-o a um confronto que prejudica ao seu próprio irmão, Nathan (Christian Keyes,de All Rise). 

 


*2: Religião criada por L. Ron Hubbard, alvo de várias investigações por suas práticas controversas. 

 



*3: Durante a administração de Ronald Reagan, a CIA patrocinou operações para combater o governo sandinista da Nicarágua (pró-Cuba e pró-União Soviética), apoiando seus adversários, chamados de "contras". Para financiar essas operações de desestabilização, a CIA criou uma rede de tráfico de cocaína nos próprios Estados Unidos. Detalhe: A droga só era comercializada nos bairros negros e latinos para não prejudicar a elite branca americana. 

 


*4: Neste experimento, ao ser analisado a estrutura social de um galinheiro, os pesquisadores constataram existir entre as galinhas, uma hierarquia. No topo estava a “Galinha A”, que bica à todas e não é bicada por nenhuma; seguida pela “Galinha B”, que bica à todas e não é bicada por nenhuma (exceto a A); a “Galinha C”, que bica à todas e não é bicada por nenhuma (exceto a A e a B); a “Galinha D”, que bica à todas e não é bicada por nenhuma (exceto a A,B, e C) indo assim até a última galinha, que é bicada por todas e não bica nenhuma, atestando a sua posição de inferioridade frente às outras. 

 


*5: Neste arco dos quadrinhos, Herogasm seria um evento anual em que os supers anunciam a todo o planeta de que "uma ameaça de proporções cósmicas se avizinha da Terra" (parodiando as ‘Crises’ da DC Comics ou as super-sagas da Marvel) e que, "para a nossa proteção, eles todos vão se unir e levar o combate para fora do planeta." Na realidade todos os supers, para evitarem o stress, se mandam para uma ilha paradisíaca da Vought, cheia de garotas e garotos de programa, ficando por lá cerca de uma semana ou mais, se dedicando a toda a sorte de orgias e devassidão para voltarem relaxados ao nosso convívio e não causarem problemas.




E ao final, amídia transforma o perigoso Soldier Boy em "naturalizado russo"