O Assombroso Multiverso!!!

Dr. Estranho de Sam Raimi traz o terror ao UCM.

As Muitas Faces da Lua

Spector, Grant, Cavaleiro da Lua, as múltiplas personalidades do avatar de Konshu.

Adeus, Mestre.

George Perez e sua fantástica trajetória.

Eu sou as sombras.

The Batman, de Matt Reeves, recria o universo sombrio do Homem-Morcego.

Ser legal não está com nada...Ou está?

Lobo, Tubarão, Aranha, Cobra, Piranha...Que medo!!! Mas eles querem mudar isso.

sábado, 30 de maio de 2020

"Reality" mortalmente ruim - Crítica - Filmes: O Manicômio (2018)

 

Dez mil “likes” ou a sua alma!

por Alexandre César 
(Postado originalmente em 02/ 01/ 2019)

"Big Brother" do além

 

Os intrépidos Youtubbers, vlogers,( o que sejam!!!) Finn (Timmi Trinks), Marnie (Sonja Gerhardt),Betty (Nillan Farooq), Vanessa (Farina Flebbe), Theo (Tim Oliver Schultz) e Charly (Emilio Sakraya) e ao fundo a instituição amaldiçoada...

 
Um santuário remoto e sombrio perto de Berlim revela uma história cheia de horror e crimes contra a humanidade. Um grupo de Youtubers acessa ilegalmente o sinistro bloco de cirurgia do local, para um desafio de 24 horas com a intenção de que o desafio viralize nas redes. Equipados com visão noturna e câmeras térmicas, os adolescentes viciados em adrenalina perseguem os rumores de atividade paranormal no prédio em decomposição, apenas para aprender cedo demais que não estão sozinhos ... e não são bem-vindos. Mas já é tarde demais para deixar o local com vida”  


Betty, a patricinha, dá dicas de moda e de tudo relacionado ao "ser fashionista"...

 
Se nos deixarmos levar pela sinopse de O Manicômio (2018) terror alemão dirigido por Michael David Pate (Gefallt mir de 2014) pensaremos estar diante de algo similar à Desafio do Além (1963) de Robert Wise ou A Casa da Noite Eterna (1974) de John Hough, marcos do cinema de horror, onde uma boa história aliada à uma boa direção e valores de produção nos transportava para um mundo onde o “Além” é uma possibilidade tão palpável quanto letal. Coisa que não é o caso da película em questão. 



A equipe monta todo um conjunto de câmeras noturnas, infravermelhas etc...

 
 
Se o avanço do YouTube e outras plataformas de vídeo no nosso dia a dia parece ser uma boa idéia para um bom filme de terror no estilo found footage, afinal, vivemos com câmeras e celulares na mão quase o todo o tempo, porque não recriar o que funcionou em A Bruxa de Blair (1999) de Daniel Myrick Eduardo Sánchez, que ao criar o clima de falso documentário, quebrou paradigmas narrativos e criou novos, mais afinados com a percepção das gerações atuais? O raciocínio faz sentido, mas a execução... 



Logo à medida que anoitece, as coisas vão ficando estranhas, na trama e na execução do filme...

 
 
A trama acompanha a dupla de Youtubers Charly (Emilio Sakraya) e Finn (Timmi Trinks), débeis mentais (como uma boa parcela deste nicho...) Betty (Nilam Farooq) a patricinha metida, Vanessa (Farina Flebbe) a que não sabemos qual é a sua, e finalmente Marnie (Sonja Gerhardt), a mocinha virginal que se propõe a encarar os seus medos. Todos se propoem passar uma noite numa casa mal-assombrada, para aumentar os Likes de seus respectivos canais na web, e alavancar a sua audiência, garantindo um bom retorno financeiro. Ajudados por Theo (Tim Oliver Schultz), o certinho do grupo, vão para as sombrias ruínas da estância de saúde Grabowsee, onde eram tratados casos de tuberculose pulmonar. Localizada a cerca de 30 km de Berlim, na cidade de Oranienburg, onde os Youtubers de maior sucesso na Alemanha, entram ilegalmente para enfrentar um desafio de 24 horas, que obviamente dará muito errado, tanto na trama como no filme como um todo. 


Não podiam faltar cenas de visão noturna, para enfatizar o clima de "falso documentário"

 
O roteiro de Pate, em parceria com Ecki Ziedrich (Singles de 2016) tenta tal qual em A Bruxa de Blair explorar as novas tecnologias dentro do gênero, mas não chega perto em termos de qualidade, mergulhando no piegas acreditando que estar sendo revolucionário.


E a contagem de corpos se inicia!!!

 
 
A produção é muito boa, com a fotografia e a direção de arte criando uma ótima ambientação da clínica em ruínas, onde os doentes de tuberculose eram sacrificados durante o período nazista, mas além disso, os personagens, por serem tão estereotipados, não criam identidade com o público facilmente em função dessa bidimensionalidade. Se qualquer deles morrer, o telespectador não será afetado por isso, afinal, não há um elo afetivo. 



-" Hei gata, você é fútil, eu sou idiota, que tal formarmos um casal???"

 
Fora o fato do roteiro se achar mais inteligente do que realmente é, fazendo reflexões” sobre o que consumimos na internet, ou uma crítica descarada aos criadores de conteúdos que só visam o like dos fãs, com diálogos como  “…são pessoas como você que tornam os jovens idiotas”; uma boa sacada, mas feita de forma tão superficial, que embora o grupo de protagonistas, tenham uma química razoável entre si, no máximo arrancam do espectador algumas risadas pelo jeito qualquer-coisa” dessas críticas aos vloggeiros da atualidade. 


"- Pessoal, a boa notícia é que estamos presos às portas da morte, a má notícia é que ainda temos uma hora de filme!"

 
 
No final temos ainda uma “reviravolta” (sim temos uma!!!) que se propõe a mostrar o quanto a história é original, jogando quase tudo da história do filme no lixo para mostrar que fomos enganados e mudando tudo nos dez minutos finais, para nos dez segundos finais (isso aí!!!) nos brindar com um gancho para uma possível e indigesta continuação. Tudo isto fica potencializado pela dublagem da versão em português da cópia a que assistimos (não que a dublagem estivesse ruim, mas é que o falso da história acaba realçando o artificialismo do recurso...) 

 
"- Ei mermão, me compartilhe!!!


E uma última observação, que quase ninguém reparou: Porque o título em português é“O Manicômio” se a instituição amaldiçoada é uma clínica que tratava de tuberculosos e não de doentes mentais???
 
"- Este sim é um grande empreendimento!"

 

 

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Seguindo seu calvário - Crítica - Séries: Desventuras em Série 2ª temporada

 

 

Tristeza não tem fim...?


por Alexandre César 
 (Originalmente postado em 06/ 04/ 2018)


Segunda temporada mantém o pique mas revela suas fragilidades


Os Baudelaire e um de seus vários oponentes: a irritante Carmelita Spatz
 (Kitana Turnbull) a "Shirley Temple do Mal"


Chegando a sua segunda temporada, Desventuras em Série, série da Netflix, tendo Neil Patrick Harris como o vilão cartunesco Conde Olaf, ávido como um abutre para pôr as mãos na herança dos órfãos Baudelaire, seus (de grau bem afastado) sobrinhos Violet (Malina Weissman) a inventora do quer que necessite, Klaus (Louis Hynes) gênio da absorção de qualquer conhecimento escrito e, Sunny (Presley Smith) bebê (ou agora, uma criancinha! Afinal, ela cresce como toda criança e vai desenvolvendo habilidades!) De dentes afiadíssimos, usuária da “linguagem dos bebês”, que apenas os seus irmãos entendem, se cristaliza no que tem de bom e, no que pode ser o seu fator limitador.
 

Olaf (Neil Patrick Harris) e seus disfarces, um cada vez mais 
estapafúrdio do que o outro, mas que funcionam


Descobrindo no internato os “trigêmeos”(um teria morrido no incêndio que destruiu a sua mansão tal qual a dos Baudelaire...) Isadora e Duncan Quagmire ( e ) , praticamente uma versão espelhada deles mesmos, tendo inclusive ”perdido” seus pais da mesma forma, eles procuram descobrir os mistérios que cercam as duas famílias e os  segredos da misteriosa sociedade secreta, CSC, que tem como símbolo um olho, da qual seus pais, alguns de seus tutores (e desafetos), Olaf, Lemony (Patrick Warburton) e seu heroico irmão Jacques Snicket (Nathan Filion, ótimo) faziam parte.
 

Os órfãos Klaus, Violet e Sunny Baudelaire ( LouisHynes, Malina Weissman 
e Presley Smith) e os órfãos Isadora e Duncan Quagmire (Avi Lake e Dylan Kingwell)



A nova temporada de 10 capítulos, adapta os 5 livros seguintes da série (Inferno no Colégio Interno, O Elevador Ersatz, A Cidade Sinistra dos Corvos , O Hospital Hostil e O Espetáculo Carnívoro) da série de 13 livros de mesmo nome escritos por Daniel Handler (pseudônimo de Lemony Snicket) com Warburton continuando o seu ótimo trabalho de narrador melancólico que vai narrando os desencontros e as tragédias dos Baudelaire, sempre nos lembrando, que devemos mudar de canal se estamos a procura de histórias felizes.



Lazy Town: estrutura narrativa semelhante


A opção inicial de unir os órfãos dinamizou a narrativa, mas, quando se poderia mudar as interações entre eles, trocando as duplas, o que ajudaria aos atores a desenvolver ais os personagens, eles logo são separados, voltando a mesma estrutura já consagrada.
 


Os capangas de Olaf e Lemony Snicket (Patrick Warburton): 
Maior individualização e melhor caracterização


O formato de um livro para cada dois episódios apesar de acertada, já começa em termos narrativos apresentar alguns problemas pelo fator da repetição estrutural da história que praticamente não muda, a mesma fórmula dos livros, mas no áudio visual depois da terceira vez vai ficando cansativo principalmente se você a maratonar (o que foi o nosso caso) pois continua a sequência: Olaf chega ridiculamente disfarçado coisa que só as crianças percebem enquanto os adultos idiotas (que não o reconhecem) caem na sua lábia, ele os atormenta com estratagemas cruéis, até que os Baudelaire o desmascaram, quando fugirá para preparar outro golpe. Em alguns momentos me lembrou vagamente a estrutura do seriado Lazy Town, onde o vilão Rob Roten se disfarça, engana todo mundo, o herói Sportacus salva o dia e no final o disfarce cai e todos o reconhecem. A repetição é necessária para as crianças pequenas mas começa a se fazer urgente formas de burlá-la para um público mais amplo.
 


Esmé Squalor (Lcy Punch) peruíce a enésima potência e uma queda 
para a teatralidade que rouba a cena de Olaf em alguns momentos.



O correto e “tolo” (para ser gentil...) Sr. Poe (K. Todd Freeman), o testamenteiro oficial, encarregado de encontrar um lar para as crianças, bem como os adultos à volta dos pequenos continuam cada vez mais influenciáveis pela malandragem de Olaf, com consequências catastróficas para os Baudelaire. Não é difícil de enxergar certa analogia com grupos políticos e econômicos que manipulam grupos sociais em vários países, gerando aí um sentimento de angústia pela sina das crianças. Pois aqui coisas ruins acontecem com pessoas boas, não importa quão honradas e abnegadas elas sejam...
 


Os valentes voluntários: Jacques Snicket (Nathan Filion) e 
Olivia Caliban (Sara Rue). ótimas adições a trama.


Temos outros personagens enriquecendo a narrativa em um ou mais arcos narrativos como a irritante Carmelita Spats (Kitana Turnbull) megera-mirim trajada de rosa com visual de Shirley Temple, a abnegada bibliotecária (Sara Rue) e a perua Esmé Squalor (Lucy Punch) e também um maior espaço individual dos membros da trupe de Olaf, cada um desenvolvendo mais as suas características, aproveitando o espaço narrativo, uma vez que os Baudelaire não apresentaram mudanças significativas (não que eles sejam ruins, pelo contrário, pois “segurar a peteca” como eles seguram sem mudanças nos personagens é para poucos...). 
 



Klaus, Violet e Sunny: Pé na estrada. O clifhanger de final de temporada 
promete grandes emoções dignas dos velhos seriados dos anos 30/ 40. Esperemos



Chega-se à conclusão que se a CSC fosse a Ordem Jedi de Star Wars, Olaf seria o Anakim Skywalker, o membro que sucumbiu para o lado negro...

A direção de Barry Sonnenfeld (A Família Adams e Homens de Preto) e o trabalho do designer de produção Bo Welch, continuam impecáveis apesar de tudo, na sua criação de um universo anacrônico e retrô, onde a tecnologia parece estar entre os anos 20 e 40, mas tanto o Sr. Poe e esposa (e Olaf na temporada anterior...) dizem preferir ficar em casa à noite vendo filmes via streaming, ou outras coisas como uma comunidade afastada que se comporta como os puritanos do séc. XVIII, e mais adiante um colégio interno tipo anos 30 com um computador digno do início da década de 70. 
 

Junto (Tony Hale) o marido covarde e submisso de Ésme Squalor


Agora como faltam apenas 4 livros, provavelmente a série cainhará para o seu desfecho, uma vez que os atores mirins estão crescendo, é inevitável que se encerre este arco das mazelas dos pobres irmãos Baudelaire, a não ser, que o próprio autor, escreva capítulos a mais expandindo as possibilidades do seu universo ficcional.  Tal decisão seria arriscada, mas às vezes o improvável não é sinônimo de impossível.
 


"- Se Eu fizer isso errado vai doer um pouquinho, mas seu fizer certo, doerá um poucão! He! He! He!"




quinta-feira, 28 de maio de 2020

Caminhando para o clímax - Crítica - Filmes: Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald (2018)

 

Imaginarium!!!

por Alexandre César 
(Postado originalmente em 08/ 12/ 2018)

O universo mágico engata e referencia seu passado

 

A fuga de Grindelwald. Ótima sequência de ação.

 

O diretor David Yates, egresso de filmes de temática política, e que havia pousado no Universo de Harry Potter, com  A Ordem da Fênix (2007) e tornado a série mais sombria a partir de então, ao retomar este universo no ótim  Animais Fantásticos e Onde Habitam  (2016), deu uma guinada no seu enfoque, iniciando uma nova etapa do mundo bruxo nos cinemas.

 
Newt Scamander (Eddie Redmayne) Jacob Kowalski (Dan Fogler) : O "Doutor" e seu companion???


Através da viagem de Newt Scamander (Eddie Redmayne) aos Estados Unidos, J.K.Rowling (apesar de ter se baseado numa rala obra original, o tal livro  Animais Fantásticos e Onde Habitam , escrito por Newt Scamander (que não deixa de parecer uma paródia do Doctor Who de Mat Smith) se manteve livre para criar em cima de sua própria criação, já que o livro fictício foi lançado, mas se resumia a uma série compilada dos animais do título, sem possuir uma trama que o abrigasse, e assim, ampliou as fronteiras do seu universo mágico estabelecendo, ainda que indiretamente, os pilares para uma nova série de filmes resultando num sucesso digno da obra original, repleto de frescor e  “sense of wonder”.
 

O kelpie, uma das insólitas criaturas mágicas...


Os Crimes de Grindelwald (2018), o segundo filme dos cinco planejados, continua a narrativa dos acontecimentos que levarão ao nascimento de Harry Potter e torna evidente a forma nada convencional de Rowling contar essa história. A autora da nova franquia, trata cada filme como o capítulo de um livro. Seja para o bem ou para o mal... 



Alvo Dumbledore (Jude Law). Boa composição de personagem.

 
Tal observação esclarece as muitas pontas soltas do primeiro Animais Fantásticos e a estrutura não-cinematográfica da sua sequência. O primeiro filme foi o livro de apresentação,concluído com o fim da viagem. Agora, temos um segundo ato pleno de tramas paralelas introduzindo diversos conceitos necessários para os próximos filmes, incorporando-os ao arco principal (como o Obscurial e o próprio Grindelwald) mas sem necessariamente desenvolvê-los e, sem medo de usar de easter-eggs e de alterar seus próprio cânone de universo expandido na medida de suas necessidades. 



Grindelwald (Johnny Depp) e Cia. não estão para brincadeiras

 
 
Diferente dos outros filmes, não há aqui a necessidade de respeitar um livro próprio, ainda que, muito do que se mostra, necessita de um conhecimento mínimo deste universo, como saber que magia apresenta um raio verde ou entender como funciona um bicho-papão, mesmo que o último quase se explique no filme, pois da primeira à última cena, Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald é feito para fãs. Não há espaço para o espectador de ocasião, pois não se trata de um filme com início, meio e fim, apesar de explicações pontuais sobre o que aconteceu antes serem incluídas para facilitar a entrada de qualquer um que não tenha embarcado há muito tempo nesse universo (mas suará um pouco...).
 
 
O zuwo, uma das outras incríveis criaturas que Newt  leva para dentro da T.A.R.DI.S. digo mala

 

O filme, nas suas duas horas se divide entre muitos personagens e subtramas, sendo Newt o único a crescer, por suas atribuições de magizoologista, em detrimento do desenvolvimento dos demais (e também graças ao carisma de Redmayne). Leta Lestrange (Zoë Kravitz), cuja importância parecia ser enorme, tem todo o peso da sua relação com ele reduzida a uma grande cena de explicação sendo pouco explorada, nos poucos detalhes sobre como a bruxa teria tido um romance com Newt, mas acabou noiva de Theseus (Callum Turner). O seu irmão auror, servindo mais para mostrar a construção emocional do irmão e da sua relação com as políticas do mundo bruxo, sem maior aprofundamento.

 

Tina (Katherine Waterston) e Newt. Será que finalmente rola???

  

Há também um esforço visível para manter os personagens do primeiro filme dentro da trama geral, com Queenie Goldstein (Alison Sudol) e Jacob Kowalski (Dan Fogler, alívio cômico digno de um Fred Flintstone) simplesmente aparecendo em Londres e sendo jogados de lá para cá sem outra motivação além de permanecerem na história. Tina (Katherine Waterston), embora tenha mais motivos para retornar, está lá mais para que Newt tenha com quem conversar.

 

Theseus (Callum Turner), Leta Lestrange (Zoë Kravitz) e Newt: Triângulo pouco explicado


 
Já Credence (Ezra Miller) ao lado de Nagini (Claudia Kim, fazendo a personagem que será a cobra gigante de Lord Voldemort...), continua sendo o manipulado de plantão e é também, o grande MacGuffin (dispositivo narrativo, “aquilo que todos perseguem e procuram” como dizia Hitchcoock) que serve para enviar todos a Paris, incluindo Grindelwald, mas tem presença fugaz na narrativa. O jovem Dumbledore (Jude Law), é uma grata surpresa entre tantas histórias paralelas, numa atuação que mescla a calma e serenidade de Richard Harris (primeiro intérprete do personagem) com a agilidade que Michael Gambon trouxe para o papel,mostrando uma faceta nova e interessante do personagem, além de sua complexa relação com o antagonista, revelando uma sutil conexão romântica entre opostos que deve ser desenvolvida nos próximos capítulos.

 
Nagini (Claudia Kim) começa a sua jornada de perdição que a tornará a cobra de Lorde Voldemort


O esmero visual permanece inalterado, seja no design de produção de Stuart Craig ou nos figurinos de Colleen Atwood. O 3D é usado para tornar essa magia palpável, justificando seu uso em prol da fantasia, mas ao contrário dos EUA no primeiro longa, aqui a França é mero cenário, sem muita preocupação na apresentação das particularidades mágico-culturais do país.

 
O pelúdio continua procurando coisas douradas, e aqui, quebra um galho para o herói

 
Mas, de todos os elementos, aquele que realmente se destaca (e o que muita gente não queria...) é Johnny Depp, dando o tom certo para o personagem, fugindo do maniqueísmo de Voldemort, Grindelwald mostra no seu discurso final do que é capaz com seu carisma e inteligência, revelando-se um vilão que, deveria ser uma ameaça menor do que o antagonista de Harry Potter, mas pelo contrário, ele se mostra mais eficaz na magia e com ainda mais seguidores do que jamais vimos Voldemort ter, o que poderá criar um descompasso com a trama de Harry. Dentro do filme como peça única, a personagem funciona muito bem e sabe justificar magnificamente seu plano, usando a Primeira Guerra Mundial como argumento final em seu plano de assumir o controle do mundo dos “trouxas”. 
 
  
Deep acerta o tom, deixando Jack Sparrow para trás, finalmente

 
Nesse ponto, é muito interessante a analogia possível de se fazer entre Grindelwald e os líderes fascistas da Segunda Guerra. Ainda, como todo o envolto de sua cena principal traz referências ao nazismo alemão cuja retórica envolvente, na entrega de um discurso politicamente tentador sob uma voz calma e ameaçadora revelando uma personalidade potencialmente mais forte (em ideias) do que a do próprio Lord Voldemort, que era mais narcisista, egoísta e produto de traumas…


"Eu não preciso e 'fake news', eu sou a própria!!!"

Aqui Yates faz um paralelo com a escalada da extrema direita no mundo atual de forma clara, valorizada pelo trabalho do fotógrafo Philippe Rousselot que mantém a unidade e riqueza visuais de luz e cores, fazendo a imagem seguir com o seu papel de nos fazer sentir dentro de um mundo mágico, não havendo monocromatismo e nem preguiça representada no uso de filtros apenas para mostrar diferentes tons de uma mesma ambientação. Embora o filme tenha predominância de cinza e azul, isto é necessário pela proposta do enredo, casando bem com aquilo que o mundo bruxo sofre nesse momento: a ascensão de um líder muitíssimo poderoso, com um discurso que equilibra (pelo menos isso é bom, no roteiro!) a força política que denuncia a incessante busca pelo poder e capacidade destrutiva dos trouxas (-“outra guerra não!“ ) + uma linha mal-disfarçada de segregação e defesa de superioridade de uma família ou raça (magos e não-magos) sobre outra. Se alguém, por algum motivo, não tinha entendido a mensagem de Harry Potter e a Câmara Secreta (2002), aqui se revelam as bases desse pensamento ganhando força e, sentindo o gosto do poder.


Queenie Goldstein (Alison Sudol). A impossibilidade de amar a quem quer aponta para uma direção inesperada
 
 
A direção de David Yates, no comando de seu sexto filme do universo Harry Potter, sabe que o show pertence à roteirista e produtora Rowling, e lida com isso da melhor maneira, evitando dar um filme visualmente decepcionante. Mas, como o cinema é a mídia do diretor, surge é claro, um descompasso, por mais que se reinvente a forma de como dirigir cenas de ação e composição de sequências com uso de magia, ou se injete uma maior energia na interação entre bichos e bruxos, presença de “trouxas” e grandes confrontos de seres poderosos.Ao final, quando o filme termina, dando uma sensação de Poxa, agora que a coisa vai começar de fato, ela é interrompida?!vemos evidenciado a visão do filme como se fosse um livro, sendo este,o capítulo de preparação do conflito própriamente dito que só virá por volta de 2020 no próximo capítulo/filme, e assim, esperemos que a “pentalogia” de Rowling comece a se desenhar de forma mais cinematográfica... 
 


Vemos a juventude de Newt em Hogwarths, com seu mestre Dumbledore

 
"Escolha um lado, mas escolha sabiamente..."