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George Perez e sua fantástica trajetória.

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The Batman, de Matt Reeves, recria o universo sombrio do Homem-Morcego.

Ser legal não está com nada...Ou está?

Lobo, Tubarão, Aranha, Cobra, Piranha...Que medo!!! Mas eles querem mudar isso.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Final de novela - Crítica: Star Wars: A Ascensão Skywalker (2019)

 

E cai o pano para uma geração...


por Alexandre César 

(Originalmente postado em 22/ 12/  2019)


  Filme aposta no seguro e acerta na emoção em cheio

E finalmente nos despedimos dos Skywalkers...

 

Desde 1977, quando um diretor nerd magrelo e barbudo fez um certo filme saído do liquidificador, mesclando de westerns a filmes de guerra e aventura de capa-e-espada temperado a Flash Gordon e filmes de horror, o cinema como fonte de entretenimento (bem como o seu modo de produção) ficou de quatro e passou a reverenciar uma certa galáxia “muito, muito distante” , ficando indelevelmente atrelado a este universo ficcional, passando em muitos casos de pai para neto...

Rey (Daisy Riley) alcança a sua plenitude como Jedi e como mulher...

  
Star Wars (na época Guerra nas Estrelas) foi o filme certo, feito do modo certo e, lançado no momento certo. Tivesse sido sido lançado um ano antes ou depois, possivelmente sobreviveria no imaginário cinematográfico como uma, entre tantas excentricidades que fizeram sucesso, se pagaram e deram lucro e tempos depois ficaram no ostracismo. George Lucas, após longas batalhas com os estúdios em busca de financiamento e liberdade criativa conseguiu a proeza de fazer um produto que dialogava com uma geração ávida por divertimento escapista de qualidade e, acertou o alvo de uma forma única, conseguindo a proeza de reservar para si a “parte do leão” dos royalties, fazendo a sua independência financeira e criativa, e como todo rebelde que chegou ao poder, se viu na posição de tornar-se aquilo que ele combatia, tal qual Anakin Skywalker, que de filho de escravos, tornou-se o maior Jedi de todos e, virou o temido Darth Vader, de certa forma a encarnação do meio corporativo e, do mundo adulto do trabalho...

Kylo Rem (Adam Driver): De vilão mimizento a anti-herói de respeito...

 Passados 42 anos, 10 filmes (2 trilogias completas, 2 filmes de uma nova trilogia e 2 derivados oficiais) fora séries animadas e live action (O Mandaloriano), quadrinhos, livros videogames e toda e qualquer forma de produto licenciado, Star Wars como toda criança, que cresce e aparece teve de se desligar de seu genitor e ao mudar-se de casa (a Disney) e descobrir como dialogar com o público, que se por um lado sempre quis aquilo a que estava acostumado desde os primórdios, por outro procurava algo diferente pois agora a franquia era “coisa de velho”, lutando para cativar a plateia que viu os primeiros filmes e os filhos, sobrinhos e netos destes, fora o público “não-iniciado”que só vai ao cinema e quer diversão rápida, sem apegar-se a nada ou comprar penduricalhos.

General Leia Organa (Carrie Fisher): Emocionante despedida da personagem e da atriz, que de mocinha destemida passou a ser uma madrinha querida por meio mundo...

Agora J.J. Abrams, no timão da franquia desde Star Wars: O Despertar da Força (2015) que criou uma nova geração de personagens e até soube dialogar com o lado nostálgico da audiência mas pecou por ficar engessado na zona de conforto “rebeldes-contra-um-mal-destruidor-de-planetas-se-unem-a-uma-nova-esperança-jedi”dividiu opiniões e pedia mudanças. Em Star Wars: Os Últimos Jedi (2017) Rian Johnson ousou acrescentando elementos críticos e fez um filme com mais personalidade embora desigual, mas irritou o lado mais conservador do fandon, agora capaz de fazer muito barulho (via internet) prejudicando a performance do filme e deixando claro que era necessário concluir o arco da família Skywalker e deixá-los em paz, pois como bem mostra o universo expandido dos quadrinhos, livros e games, a galáxia muito, muito distante é bem maior do que apenas um único núcleo familiar e, sejamos sinceros, os Skywalkers não são os Corleone, então vida que segue...


Chewbacca (Joonas Suotamo), Poe Dameron (Oscar Isaac), Rey e atrás Fin (John Boyega). Grupo coeso.

Retomando a direção e, evitando ao máximo ligações com a trama do filme anterior, J.J. Abrams nos entrega Star Wars: A Ascensão Skywalker (2019) e com grande eficiência dá para a galera o que ela quer, e narrando num ritmo acelerado (pois se ele pisar no freio, o espectador começará a questionar o que vê em cena e a lógica de certas coisas...) aliado à edição de Maryann Brandon (Super 8) e Stefan Grube (Rua Cloverfield, 10) fazendo um dos filmes visualmente mais bonitos da franquia e fazendo uma grande despedida que levará as lágrimas pelo seu tom emocional em vários momentos, apesar da premissa super forçada que alavanca este final.


BB8 arruma um amigo droid, no melhor estilo WALL-E...

O roteiro de Abrams e Chris Terrio (Liga da Justiça), autores da história, em parceria com a colaboração de Derek Connolly e Colin Trevorrow redefine conceitos como ”Fanservice”, “MacGuffin”*1 ou “Jogar para a galera” entre tantos outros termos, tal é o volume avassalador de situações e conclusões pensadas para provocar uma resposta emocional daqueles que vem acompanhando e passando a saga de geração para geração...
 
Logo nos grandes letreiros iniciais se fala que “Uma voz há muito esquecida foi ouvida numa transmissão por toda a galáxia revelando a volta do supostamente falecido Imperador Palpatine, trazendo medo e terror a todos...” este recurso me lembrou logo das antigas radionovelas tipo da velha Rádio Nacional ou da Rádio Tupi em que eram comuns malabarismos improvisativos feitos de forma mirabolante, para alavancar audiência e então, honrando as suas raízes de narrativa oral e folhetinesca, Star Wars tal qual “O Direito de Nascer”*2 ressuscitou a sua “Mamãe Dolores”...


"- Não fico sexy de preto? Num estilo 'Dark Side', não???"

E assim Kylo Rem (Adam Driver tirando leite de pedra, criando um bom personagem que segue a trajetória de seu avô) faz um pacto com o “Imperador Walking Dead” (Ian McDiarmid, fazendo bem o mais-do-mesmo) que em troca do comando de uma frota colossal de Star Destroyers que estava guardadinha dentro do templo, esperando quem a comandasse (e detalhe, cada nave com um canhão com a potência da Estrela da Morte!!!) em troca apenas da vida de Rey (Daisy Ridley), que segue o seu treinamento Jedi, agora sob a supervisão da General Leia Organa (Carrie Fisher em emocionante despedida da personagem, e da vida...) que como foi revelao no filme anterior, tinha um treinamento na Força (afinal ,se era gêmea de Luke, devia ter uma contagem próxima de Midichlorians em suas células...) e ela tem que encontrar a fonte desse mal e confrontá-lo, além de descobrir a verdade sobre as suas origens e a partir daí teremos uma jornada de descoberta que definirá para sempre sua relação com o universo e aqueles à sua volta... Puxa!


Ben-vindos a "Star Wars Beats"!!! Aproveitem a rave...


Ressurgem rostos familiares, sejam como fantasmas da Força ou participações rápidas, para fechar de vez este núcleo, seja nos personagens, seja na iconografia visual de cenários figurinos, naves e planetas. Da velha geração matamos as saudades não só de Leia, como de Han Solo (Harrison Ford), Luke Skywalker (Mark Hamil, “dando uma” de Yoda), Lando Calrssian (Billy Dee Williams, que aparece de forma pontual e em momentos chave, como num game) e até vemos figurantes clássicos como Wedge Antilles (Denis Lawson) e Nien Nunb (Mike Quinn) que eram colegas de Luke na Aliança Rebelde, além dos tradicionais C3PO (Anthony Daniels) e divertido, mas com um tom mais solene),R2D2, fofo como sempre na sua dobradinha com BB8, que arruma mais um parceiro droid, Chewbacca (Joonas Suotamo, que desde  Star Wars: Os Últimos Jedi substitui Peter Mayhew, que faleceu este ano) continua basicamente o mesmo apesar da forte explosão emocional que tem na segunda metade do filme; e a velha geração interage bem com a galera da vez, que cresce e aparece apesar de tudo.


Palpatine (Ian McDiarmid) retorna, sendo a "- Pessoa Jurídica do Mal"...


Finn (John Boyega) está mais centrado, mas inexplicavelmente seu romance com Rose Tico (Kelly Marie Tran) parece ter sido apagado, pois ele e Poe Dameron (Oscar Isaac mais à vontade no papel) que se mostra mais descolado, remetendo à malandragem de Han Solo; e assim eles passam a ter com Rey uma dinâmica similar a de Luke-Leia -Han no filme de 1977 e no final das contas “todo mundo se balança entre um e outro” e “ninguém fica com ninguém”, talvez numa tentatva dos roteiristas de emular o comportamento InCel*3 (representativo de uma parcela substancial e barulhenta do fandon de Star Wars e do público nerd...).



Jannah (Naomi Ackie) a ex-stormtrooper que se junta ao grupo e mostra serviço...

 
Do lado da Primeira Ordem, o patético General Hux (Domhnall Gleeson) completa o seu arco,dando uma de Agente Callos (da animação Star Wars: Rebels) sendo superado pelo General Pryde (Richard E. Grant de Poderia me Perdoar? ) que surge neste filme, tendo o perfil do típico oficial cruel do Império da trilogia clássica. Curiosamente temos um oficial de alta patente negro e uma comandante de Star Destroyer na Primeira Ordem, coisa nunca vista no Império. Inclusão até no mal... Na procura pelo artefato que levará o grupo à base do inimigo veremos novos mundos, inclusive com direito a uma festival alegre e colorido valorizado pela bela fotografia de Dan Mindel (John Carter: Entre Dois MundosAlém da Escuridão: Star Trek) que não perde nada para uma lolapaluza da vida (só faltavam os balões dos patrocinadores e os Djs...) onde se descobre uma Adaga Sith que se revela um MacGuffin no melhor estilo Indiana Jones, chegando a ser de doer a forma como ela revela a localização do artefato.


Em Endor (o planeta principal) encontra-se as ruínas da segunda Estrela da Morte. A capacidade de destruição planetária se banalisou e perdeu o seu impacto...

Ocorrem separações do grupo ocasionadas pelos embates de Rey e Kylo Ren cujo tom atração-repulsão chega a ser a alegoria das idas e vindas de um casal. Nestas separações e reencontros do grupo abrem-se espaços para surgirem novos personagens como Zorii Bliss (Keri Russell de Felicity) mercenária e ex-peguete de Dameron, cuja bela silhueta é valorizada pelos figurinos de Michael Kaplan (Blade Runner e Star Trek).


Lando Calrisian (Billy Dee Williams): O "Lionel Ritchie do Espaço" continua cheio de "groove"...


Bliss tem um parceiro, Babu Frik (voz de Shirley Henderson, a Murta que Geme de Harry Potter), um alienígena miudinho e engraçado que reprograma C3PO para decifrar as inscrições da faca e ainda temos Jannah (Naomi Ackie) tal qual Finn uma ex-stormtrooper que ajuda o grupo na batalha final, fora as ocasionais aparições de personagens secundários (terciários) que surgiram ao longo desta nova trilogia mas não foram marcantes como Max Kanata (Lupita Nyong´o), o piloto Snap Wexley (Greg Grunberg), a Tenente Conix (Billie Lourd), o técnico Beaumont (Dominic Monaghan da trilogia O Senhor dos Anéis) e a Comandante D´acy (Amanda Lawrence). Estas aparições são sublinhadas pela música de John Williams,que aparece numa ponta como Oma Tres (?) e ressaltam a carga emocional que o encerramento da trilogia carrega. Não tenham vergonha de chorar amigos, pois quando as lágrimas secarem é possível que a raiva venha à tona...



O mal e sua face burocrática: o patético Gen. Hux (Domhnall Gleeson) cede espaço para o "Old School" Gen. Pryde (Richard E. Grant) o típico "militar prussiano" imperial..."

Quanto à parte visual o filme honra todo o legado da franquia que desde as origens soube fazer o barato parecer caro e continuou tendo um ousado desenho de produção, neste, assinado por Rick Carter (Oscars por Avatar e por Lincoln) e de Kevin Jenkins e uma riquíssima direção de arte, aqui assinada por Jim Barr (Doutor Estranho),Claire Fleming ( Jogador N°1), Lydia Fry (Rogue One: Uma História Star Wars), Liam Georgensen, Patrck Harris e Helena Holmes (Rambo: Até o Fim) que aliada à decoração de sets de Rosemary Brandenburg (Kingsman: O Círculo Dourado) resgataram ambientes clássicos dos vários mundo visitados pela franquia e ainda conseguiram inovar com o Templo Sith, cuja ambientação sinistra remete games de horror e em alguns momentos aos clássicos da Universal.


Rey e Palpatine se enfrentam num combate revelador para a jovem Jedi...


 Amalgamar conceitos visuais distintos em algo original sempre foi a marca de Star Wars, fora a inovação tecnológica que a franquia trouxe ao longo de seus 42 anos aqui honrados pelos efeitos visuais da Industrial Light & Magic (ILM) e das empresas Base FX, Exceptional Minds, Hybride Technogies, Reel Eye Company, Stereo D e The Third Floor que garantem a qualidade do espetáculo com mundos de paisagens arrebatadoras, alienígenas bizarros e frotas de naves colossais em tamanho e variedade, resgatando nostalgicamente além da Millennium Falcon, toda a frota da Aliança Rebelde, com especial destaque para a Tantine IV, a nave em que Leia foge de Darth Vader no início do filme de 1977 e, no final de Rogue One: Uma História Star Wars. E ainda temos como cameos a Ghost de Star Wars: Rebels e até entre as centenas que aparecem num cantinho de cena por alguns segundos vemos a Razor Crest de O Mandaloriano. Se piscar, perdeu...


Bela silhueta: A mercenária Zorii Bliss (Keri Russell) enriquece o elenco...


Ao final, O Bem vence o Mal e temos uma grande festividade (com direito até a um beijo lésbico na figuração...) e Rey define o seu próprio rumo de forma pungente e, em que pesem suas falhas, Star Wars: A Ascensão Skywalker fecha de forma bonita o núcleo dos Skywalkers, apesar de terem sido muuito melhor explorados no Universo Expandido (e como!!!) e esperemos que agora a Disney volte a sua atenção para as outras possibilidades que a “a galáxia muito, muito distante” oferece e aí sim poder deixar a sua marca de forma mais sólida e eficiente, criando filmes, animações e séries que possam cativar o público por terem luz própria...
 


A Millennium Falcon e centenas de outras naves da franquia, entre elas a Ghost de Rebels, no alto à direita...
 
Notas:

*1: Na ficção, MacGuffin é um dispositivo do enredo, na forma de algum objetivo, objeto desejado, ou outro motivador que o protagonista persegue, muitas vezes com pouca ou nenhuma explicação narrativa. A especificidade de um MacGuffin, normalmente, é sem importância para a trama geral.

*2: Novela melodramática de 1948 (como todas) do autor cubano Felix Caignet (1892-1976) encenada várias vezes no radio teatro e transposta com muito sucesso para a TV pela extinta TV Tupi São Paulo e TV Rio às 21h30, entre 7 de dezembro de 1964 e 13 de agosto de 1965, tendo 160 capítulos sendo adaptada por Thalma de Oliveira e Teixeira Filho, com direção de lima Duarte, José Parisi e Henrique Martins, sendo o primeiro grande clássico da teledramaturgia brasileira.

*3: Diminutivo da expressão “Involuntary Celibates” (“Celibatários Involuntários”) grupos de homens entre os 20 e 40 anos que por serem incapazes de se relacionar sexual e amorosamente culpam as mulheres e os homens sexualmente ativos por isso, difundindo na internet a misoginia e até provocando atentados armados.




Rey:"- Primeiro um alongamento e depois, um exercício aeróbico rápido de baixo impacto..."


 

domingo, 5 de janeiro de 2020

Vida sem rumo - Crítica - Filmes: Coringa (2019)


 

O problema de não "pegar" ninguém...

   

por Alexandre César 

(Originalmente postado em 04/ 10/ 2019)


Todd Philips e Joaquin Phoenix mergulham de cabeça na loucura  da vida ordinária

 

Conrad Veidt em "O Homem que Ri" (1928). O personagem de Victor Hugo foi a semente original.

 
Tendo sido originalmente criado por Bil Finger, inspirado pelo personagem de Conrad Veidt no filme mudo O Homem Que Ri (The Man Who Laughs) de 1928 dirigido por Paul Leni, o Coringa rapidamente tornou-se o nêmesis de Batman, espelhando a loucura que na realidade também permeia o Guardião de Gotham. Tendo sido popularizado por Cesar Romero na série camp imortal de Adam West, em 1989 no filme de Tim Burton teve Jack Nicholson como o Palhaço do Crime, remetendo ao clássico das Hqs A Piada Mortal de Alan Moore & Brian Bolland, mas dando uma identidade diversa ao personagem: Jack Napier, um pistoleiro mafioso (identidade que seria usada na série Batman animated) e posteriormente teria novas encarnações com Heath Ledger em Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) de Christopher Nolan cuja performance insana lhe renderia um Oscar e um Globo de Ouro póstumos, e Jared Leto em Esquadrão Suicida (2016) de David Ayer cuja caracterização gangsta dividiu opinões. Vilão camp, lunático pomposo, frio sociopata, criminoso psicótico, arauto do caos, espírito obsessivo que assombra a cidade de Gotham possuindo os párias mais sensíveis, como na série Gotham, onde o primeiro Coringa foi Jerome Valeska (Cameron Monaghan), parecia que todas as possíveis facetas do vilão já haviam sido exploradas, até o presente momento... ou não?
 

Cesar Romero, Jack Nicholson, Heath Ledger e Jared Leto. Quando parecia que todas as interpretações do vilão haviam sido esgotadas...

 
 
Dirigido por Todd Phillips (da trilogia Se Beber, Não Case!), Coringa (2019) recontextualiza o icônico vilão da DC Comics numa abordagem ainda não mostrada no cinema. Arthur Fleck (Joaquin Phoenix de O Mestre, Johnny & June, Gladiador numa interpretação para lá de visceral) é um homem lutando para se integrar à sociedade, na caótica e despedaçada cidade de Gotham. Trabalhando (e colecionando toda a sorte de humilhações...) como palhaço durante o dia, ele tenta a sorte como comediante de stand-up à noite, morando num conjunto de apartamentos de baixa renda com a sua mãe velha e doente Pennny Fleck (Frances Conroy das séries American Horror Story, Castle Rock, e A Sete Palmos) que insiste em querer pedir ajuda ao futuro candidato à prefeitura Thomas Wayne (Brett Cullen (42- A História De Uma Lenda, da série Narcos, e que já foi o pai do herói de Motoqueiro Fantasma), com quem segundo ela tem um vínculo não “revelado”.

... eis que surge Joaquin Phoenix mostrando que ainda se pode dizer algo mais sobre o "Palhaço do Crime".

Preso em uma existência que oscila entre a realidade e a loucura, Arthur tem como objeto de desejo Sophie Dumond (Zazie Beetz de Deadpool 2) sua vizinha de anda, e assiste toda a noite ao talk show de Murray Franklin (Robert De Niro (de Touro Indomável de 1980, O Poderoso Chefão 2 de 1974) como sinal de seus problemas, ele possui um distúrbio que o faz rir de forma incontrolável quando passa por instantes de ansiedade. Uma risada que vem do diafragma, gerando uma sensação de incômodo na plateia... Uma noite, após tomar uma decisão equivocada, ele inicia uma reação em cadeia, com consequências cada vez mais graves e letais, atraindo em seu encalço os Detetives Garrity (Bill Camp de Operação Red Sparrow, A Grande Jogada) e Burke (Shea Whigham de O Primeiro Homem, Kong: A Ilha da Caveira). Enquanto vai driblando estes inpecilhos, ele vai mergulhando cada vez mais na loucura ao descobrir que por mais que tentasse ser um cidadão bom e obediente às leis, a verdadeira piada era sempre ele mesmo...

 
Arthur (Joaquin Phoenix), como bom filho, cuida de sua mãe doente Penny Fleck (Frances Conroy).

 
O roteiro de Phillips e Scott Silver (O Vencedor), embora livre do maniqueísmo comum ao “cinema de heróis”, mergulha na vida e na psique de seu protagonista,apresenta o futuro vilão na mesma proposta original de A Piada Mortal: Um “perdedor” em todos os sentidos, um “homem que virou suco”*1 que paulatinamente vai sucumbindo ao descaso daqueles à sua volta, e que acaba se tornando o gatilho de movimentos sociais, como as revoltas de Los Angeles na década de 1990 ou, o mais recente Occupy Wall Street, acabando por representar os excluídos do sistema, as vítimas da recessão econômica, da falência das políticas públicas e da falta de oportunidades de conquistar um lugar ao sol, os “palhaços” da sociedade como um personagem declara num noticiário a certa altura do filme.

"Romance"??? A "namorada" Sophie Dumond (Zazie Beetz) reflete a identificação do personagem com a subcultura "InCel"...

 
Ilustrando esse universo de excluídos temos a agência em que Fleck trabalha reproduz em escala os vícios da sociedade em que está inserida, com o patrão abusivo Hoyt Vaughn (Josh Pais de Brooklyn Sem Pai Nem Mãe, Despedida em Grande Estilo), Randall, o palhaço grande (Glenn Fleshler das séries Billions e Barry) que se diz amigo, mas fala pelas costas de todos e humilha Gary, o palhaço anão (Leigh Gill de Game of Thrones). No “mundo da alegria” as flores só tem espinhos...

Nesta Gotham suja e decadente, a agência de palhaços reflete a sociedade, com palhaços como Randall (Glenn Fleshler) que é falso e arrogante...

 
Phillips dosa os momentos de tragédia com os de comédia agridoce (foi indicado ao Oscar pelo roteiro de Borat - O Segundo Melhor Repórter do Glorioso País Cazaquistão Viaja à América) de forma primorosa, pontuando a forma como Fleck recorre aos musicais de Fred Astaire ou à música de Frank Sinatra ou uma dança inspirada em Charles Chaplin (podemos dizer que ele “dança com a loucura”) para criar o seu mundinho próprio, onde em seus devaneios ele tem todo o seu valor reconhecido, sendo amigo do ídolo, o apresentador de televisão, tendo os seus esforços recompensados e sendo feliz no amor.

Arthur sonha se tornar uma estrela da comédia "Stand Up", embora sempre seja visto como a verdadeira piada...

 
Neste processo fica facilmente reconhecida a influência de Martin Scorcese, sendo Afleck um similar dos personagens de dois de seus clássicos: Taxi Driver (1975) e O Rei da Comédia (1982) obras seminais na discussão sobre o fascínio que o mundo das celebridades exerce sobre o indivíduo comum, gerando muitas vezes no processo de descoberta da diferença entre sonho e realidade reações adversas e até destrutivas por conta da inevitável decepção. Some a isso os fracassos de uma massa de descontentes na vida pessoal, profissional e e afetiva, somadas à possibilidade de portar armas e bem, podemos intuir o resultado...

Numa noite, no trem, a sua risada involuntária desencadeia a sua descida final à insanidade...

Na construção da sua Gotham, bem anos 1970, desprovida de qualquer estilismo gótico ou expressionista, parecendo assim, uma típica cidade americana como Nova York, Chicago, Boston, etc... o design de produção de Mark Friedberg (Se a Rua Beale Falasse, Selma - Uma Luta pela Igualdade) cria ambientes urbanos geométricos e estreitos, procurando nas suas locações ruas com escadarias, prédios de escritórios apertados com escadas de incêndio, dando para becos e estações de trem (praticamente todos os personagens só usam o transporte público) fazendo vizinhança com muitos inferninhos e cinemas pornô, retratando o ambiente, o mundo dos sem perspectivas que vivem no subemprego numa cidade coberta de lixo (os garis estão em greve, então não faltam sacos pretos ao longo das ruas e calçadas...) coisa que a granulação e a palheta de cores de tons frios (e puxando para o âmbar nos momentos mais idílicos com grandes closes de Fleck, permitindo-nos apreciar seus dentes tortos e a sua magreza...) do diretor de fotografia Lawrence Sher (Godzilla II: Rei dos Monstros), capta na película 70 mm a sujeira da cidade, praticamente envolvendo o público nas suas imagens vívidas e plenas de camadas, criando o confronto sonho x realidade e, agindo em consonância com o editor Jeff Groth (Cães De Guerra) nos remete à filmes clássicos de perseguição como Operação França (1971), como na seqência em que Afleck foge pelas ruas e escadarias de Garrity e Whigham já paramentado como o icônico personagem, que o figurinista Mark Bridges (Trama Fantasma, O Artista) magistralmente reinventa de forma própria, diferenciada de todas as anteriores, Tudo isto embalado pela música de Hildur Guðnadóttir (Sicario: Dia do Soldado e da série Chernobyl) que sutilmente acompanha a espiral decadente de Fleck sustentando a ansiedade constante desde o início com acordes impactantes, aludindo aos distúrbios psiquiátricos mais profundos do protagonista.

"Starksy & Hutch"? Nada mais setentista do que uma dupla de detetives como Burke (Shea Whigham) e Garrity (Bill Camp)...

A direção de arte cria um Gotham despida de estilos góticos e expressionistas, apesar de alguns sutis "Easter-eggs" como o do figurante acima...

 
Como fanservice, temos pequenas e rápidas aparições de um jovem Bruce Wayne (Dante Pereira-Olson) com direito a um “Bat-poste” e Alfred Pennyworth (Douglas Hodge de Operação Red Sparrow”, e da série Penny Dreadful) e a citação de que a orquestra de Murray Franklin tem o pianista Chandell (vilão da série televisiva interpretado por Liberace) e é claro, a cena da morte do casal Wayne (é óbvio que haveria ela...), remete ao clássico das HQs Batman O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller, e ainda temos uma sutil piada metalinguística sobre a sexualidade do futuro herói, pois o filme do qual eles saem do cinema não é o clássico A Marca do Zorro (1940) com Tyrone Power, mas sim, As Duas Faces de Zorro*2 (1981) com George Hamilton.
 

O design de produção e a fotografia criam um ambiente urbano caótico, não muito diferente da mente de Fleck...
 
 
Mas, se no inicialmente o roteiro nos promete possíveis reviravoltas que poderiam tornar a jornada de Fleck algo inesquecível no cânone DC, logo o material cai em uma estrutura mais segura, e assim, não estranharemos se mais à frente quiserem ligá-lo ao futuro filme do Guardião de Gotham, tal é o histórico de Hollywood na sua busca por dinheiro, em usar o cinema não como veículo para contar histórias, mas sim como plataforma para lançar franquias...


E com vocês, a nova encarnação do mais icônico vilão da DC Comics!!!

Em que pese toda a polêmica que o filme está gerando, principalmente quanto à identificação dos In Cels*3 (também chamados “virjões” ) e o suposto estímulo do filme a propagar os seus pontos de vista e a da própria violência (similar ao que já foi dito sobre Laranja Mecânica, Clube da Luta e Matrix no passado...) a proposta de Phillips nunca é a de glamourizar o famoso “Palhaço do Crime”, embora decida mostrar o seu ponto de vista da narrativa, deixando óbvio que Fleck é um sujeito perturbado como aqueles que sempre lemos em jornais ou vemos dissecados em programas criminais como Investigação Discovery, cuja trajetória, no pano de fundo socioeconômico desta versão estagnada de Gotham City, o faz entrar uma relação de antagonismo contra o empresariado, representado por Thomas Wayne, que reflete a visão neoliberal, da “meritocracia”, e aqui a própria violência de Arthur é que se torna o espetáculo, com suas ações levando-nos a indagar sobre o quanto é necessário para este vilão tornar-se símbolo, ou mesmo uma celebridade, servindo como a fagulha que faltava em uma sociedade à beira do colapso social — algo com enorme ressonância nos dias atuais (cheios de polarização e intolerância), mas tal choque evoca uma provocação para refletirmos sobre o quanto é necessário para “quebrarmos” também? Um dia ruim? Um período ruim? Uma vida inteira ruim?... Ou talvez, nunca...

Afleck aparece no show de seu ídolo Murray Franklin (Robert De Niro à direita) apesar das desconfianças do produtor Gene Ufland (Marc Maron)...

 
Notas:
 
*1: Filme de 1981 dirigido por João Batista de Andrade, onde Deraldo (José Dumont) um poeta popular nordestino que sobrevive de suas poesias e folhetos é confundido com um operário de uma multinacional que matou o seu patrão numa festa, sofrendo um processo de esmagamento pela sociedade.
  

"Não haverá sanidade... mas haverá dança!!!"


 *2: Comédia de 1981 dirigido por Peter Medak, onde Don Diego Vega (George Hamilton) um nobre espanhol combate a opressão do Governador de México, alternando o papel de Zorro com seu irmão Gêmeo Ramon, que havia sido mandado por seu pai para a Marinha Inglesa “para aprender a ser um homem de verdade!!!”, retornando mais gay do que outra coisa, usando várias e coloridas versões do tradicional traje do justiceiro em sua luta contra a injustiça...


"Taxi Driver", "Coringa" e "Laranja Mecânica": Sempre haverá um filme que os retrógrados dirão que "- Não deveria ter sido feito..."


 *3: Diminutivo da expressão “Involuntary Celibates” (“Celibatários Involuntários) grupos de homens entre os 20 e 40 anos que por serem incapazes de se relacionar sexual e amorosamente culpam as mulheres e os homens sexualmente ativos por isso, difundindo na interneta misoginia e até provocando atentados armados.


"- Porque você está tão sério???"

 

quinta-feira, 2 de janeiro de 2020

"Desses negros embriões criar mais mundos"* - His Dark Materials - Fronteiras do Universo: 1ª Temporada

por Alexandre César



A obra de Philip Pullman finalmente é adaptada à altura 

 
O filme de 2007: Nem Nicole Kidman e Daniel Craig 
 evitaram o fiasco de um roteiro fraco e genérico...

Recentemente sagrado Sir. Phillip Pullman, durante sua vida como professor de literatura em Oxford, concebeu uma história envolvendo elementos de fantasia, como feiticeiras, ursos polares falantes e daemons (representação da alma com forma de animal) empregando conceitos e ideias de uma ampla gama de campos, como a física, filosofia e a teologia numa obra direcionada ao público infanto-juvenil que não lhes subestima a inteligência ao instigar-lhe o gosto pelo debate e a discussão de idéias... fato que o faz ser considerado um dos 50 mais importantes autores ingleses pós-segunda guerra e conquistar uma legião de fãs que tal qual os seguidores de um certo bruxinho acompanham incansavelmente as suas narrativas fantásticas.

Lord Asriel leva a pequena Lyra para a Universidade 
Jordan invocando o "Santário Escolástico" para protegê-la...

His Dark Materials (no Brasil Fronteiras do Universo) é uma série literária de fantasia e ficção-científica compreende a trilogia formada pelos livros A Bússola Dourada (1995), A Faca Sutil (1997) e A Luneta Âmbar (2000). A série segue o amadurecimento de duas crianças, Lyra Belacqua e Will Parry, em sua jornada por uma série de universos paralelos com um pano de fundo de eventos épicos, parcialmente inspirada no poema Paraíso Perdido, de John Milton, a trilogia reinterpreta o tema da queda da humanidade, sendo alvo de controvérsia por conta de seus aspectos de crítica à religião. Jack Thorne (que adaptou o universo de Harry Potter para o teatro, num espetáculo de muito sucesso), produzida pelo canal britânico BBC One (Durante a produção da série, a HBO comprou os direitos de exibição internacional.) em parceria com a New Line Cinema e a Bad Wolf (ex-produtora de Doctor Who), filmado em Cardiff, no País de Gales, sendo os 2 primeiros episódios dirigidos por Tom Hooper (O Discurso do Rei, Cats).

10 anos depois a Levada Lyra Belaqua (Dafne Keen) e seu
 amigo Roger Paslow (Lewin Loyd) começam uma aventura...

A primeira temporada que compreende o primeiro livro A Bússola Dourada (filmado em 2007 de forma desastrosa por Chris Weitz com Nicole Kidman e Daniel Craig) é ambientada num mundo similar ao nosso, onde os seres humanos tem a sua alma fora do corpo, assumindo a forma física animal (o daemon) capaz de mudanças, fixando-se na puberdade numa forma animal definitiva.

O Dr. Carne (Clarke Peters) dá a Lyra um 
instrumento inestimável para a sua jornada...

Vemos o explorador Lorde Asriel (James McAvoy de Vidro) levar uma criança de colo (uma menina) chamada Lyra para ser criada na Universidade Jordan protegida pelo “Santuário Escolástico”, pois seria o único lugar em que ela estaria segura das maquinações do Magisterium, instituição toda-poderosa que controla assuntos científicos e religiosos (muitas vezes chamados de filosóficos) conforme seus interesses, sendo uma organização extremamente influente neste mundo, onde o conhecimento é controlado, tendo um visual bem anos 30 / 40 não faltando dirigíveis nos céus, a marca visual de universos paralelos nos seriados desde a 2ª temporada (2006) de Doctor Who e Fringe.

Lyra é "adotada" pela bela e letal Ms. Marisa Coulter
 (Ruth Wilson) que anseia moldá-la em algo "socialmente aceitável"...

Asriel pesquisa o “Pó” partícula elementar (alegoria que se encaixa desde a essência humana, ao átomo) citada na Bíblia desse universo e tida como a razão do pecado pelo Magisterium, que procura censurar a sua pesquisa.

Olhe para os céus: Se houver um uso massivo de 
dirigíveis, você está numa realidade paralela...

Aliança sinistra: Lorde Boreal (Ariyon Bakare) e Ms. Coulter
 sabem o que querem e coitado de quem ficar no caminho dos dois...

Mais tarde, aos 10 anos, acompanhamos a jovem, despachada e destemida Lyra Belacqua (a ótima Dafne Keen de Logan) que ao ganha do acadêmico Dr. Carne (Clarke Peters de The Wire) o aletiômetro, um instrumento "medidor da verdade", ou seja, utilizado para responder qualquer pergunta, que possui 36 símbolos e quatro ponteiros (deve-se girar três ponteiros para apontar para três símbolos, formando uma pergunta, sendo o quarto ponteiro para apontar para outros símbolos, dando a resposta). 

O texano Lee Scoresby (Lin-Manuel Miranda) o intrépido 
aeronauta a procura de um "amigo urso"...


Lyra se une aos gípcios, liderados por "Pai" Jon Faa 
(Lucian Msamati) líder intrépido...

Procurando o seu amiguinho Roger Paslow (o ótimo Lewin Lloyd) raptado por um grupo que leva crianças para Svalbart, um campo de concentração no Polo Norte, sendo inicialmente nesta busca “adotada” pela bela e perigosa Ms. Marisa Coulter (a ótima Ruth Wilson de Luther, numa performance impressionante) membro do Magisterium, que na verdade é responsável pelos experimentos que pretendem separar as crianças de seus daemons para “livrá-las do pecado e manter a sua pureza” só que tornando-as indivíduos ocos, apáticos. (“ -Tudo pelo Bem Maior...” diriam os padres do Magisterium) mas a impetuosa garota foge e segue o seu rumo, unindo-se aos gípcios, povo errante, liderados por Pai John Faa (Lucian Msamati) tendo entre eles Mãe Costa (Anne-Marie Duff, tocante) cujo filho Billy (Tyler Howitt) foi vítima desse processo.

O aletiômetro, o "medidor de verdade", ferramenta que 
Lyra aprende a usar rapidamente...




O gípcio "Pai" Corran Van Texel (James Cosmo)
 orienta Lyra (e o seu "Daemon") quanto aos perigos da jornada...

Ao longo de sua jornada (refazendo os passos da Jornada do Herói de Joseph Campbell) ela fará aliados como Lee Scoresby (o músico Lin-Manuel Miranda, ganhador de 3 Tonys, 3 Grammys e 1 Emmy) o “Han Solo” do grupo, Serafina Pekkala (Ruta Gedmintas) Rainha das Bruxas do Norte, antigo amor do gípcio Pai Coram van Texel (James Cosmo de Game of Thrones) tendo os dois um dos mais tocantes ( e tristes) momentos da temporada, além do personagem mais marcante do livro: Iorek Byrnison, um Panzer Bjorn (urso falante de armadura) que tem de lutar para retomar o seu trono de Rei dos Ursos, tomado por Iofur Raknison, um urso cúmplice do Magisterium. O CGI dos ursos é muito bom, apesar de usado com economia.


Yorek Byrnison: O legítimo Rei dos Ursos,
 que só quer ser apenas um urso...


Separados pelo tempo: Serfina Pekkala (Ruta Gedmintas) e
 "Pai" Coram Van Texel viveram o amor no passado
 quando ele era jovem e tiveram um filho, que morreu...

Paralelo à trama principal, acompanhamos o sinistro Lorde Boreal (Ariyon Bakare) do Magisterium que usa uma passagem natural para o nosso universo, rondando Will Parry (Amir Wilson) filho de Elaine (Nina Sosanya) mulher mentalmente fragilizada e John Parry (Andrew Scott) explorador desaparecido numa expedição no Pólo Norte, surgindo aqui a inserção de personagens de A Faca Sutil, o segundo volume da saga, ficando aqui evidenciado a diferença entre os dois mundos, pois a tecnologia do mundo de Lyra é relativamente avançada, com o conhecimento da energia elétrica (energia anbárica) e o uso de veículos como carros, carroças e dirigíveis, cuja tecnologia é mais limitada em comparação à do mundo de Will, onde os carros são muito mais avançados e numerosos e já se usam os computadores e aviões.

Lee Soresby e Yorek Byrnison: Todo "Han Solo" 
tem o seu "Chewbacca"...

Os valores de produção são impecáveis, apesar de um orçamento um pouco menor do que os de outras superproduções americanas como Roma ou Game of Thrones mas com um ótimo uso dos recursos disponíveis, como o desenho de produção de Joel Collins (Black Mirror) e a direção de arte de Claudio Campana (Roma) e Jon Horsham (Rogue One: Uma História Star Wars) criam espaços vastos (de inspiração totalitária) e esmagadores da figura humana nas instalações do Magisterium, o impecável apartamento de Ms. Coulter, o palácio dos ursos e os espaços austeros e de estilo fabril do campo de concentração, e os figurinos de Caroline McCall (Downton Abey) que caracteriza a elegância fria de Coulter, os trajes funcionais e despojados dos gípcios, a impessoalidade e a mecanicidade dos membros e funcionários do Magisterium. A fotografia contou com bons colaboradores, destacando-se Joel Devlin (Broken), Justin Brown (The End of the F***ing World), David Higgs (Churchill), Ole Bratt Birkeland (Utopia), Suzie Lavelle (Vikings) e David Luther (Black Sails) que souberam alternar as cores mais quentes no ambiente dos gípcios (ressaltando o calor humano) e os tons frios e mais impessoais nos ambientes relacionados ao Magisterium. A música de Lorne Balfe (Esquadrão 6) com seu tom poderoso é marcante, cujos acordes sutis refletem a perspectiva subjetiva dos personagens e suas aspirações.

Will Parry (Amir Wilson) personagem do segundo
 livro, dá as caras na metade da temporada...


Lorde Boreal conhece uma passagem natural para o 
nosso universo, e o usa frequentemente...

O final impactante da temporada marca por sua coragem de ser fiel ao espírito da obra (coisa que o filme de 2007 não ousou...) não poupando os seus personagens, enfatizando o pensamento do autor de que crianças são seres inteligentes e fortes, merecendo ser tratados dessa forma pois só assim elas poderão se tornar adultos sadios e completos, capazes de encontrar o seu lugar neste ou em outros mundos...

O "veloz" balão de Lee: O controle que o "Magisterium"
 exerce sore o conhecimento provocou o descompasso
 tecnológico entre o mundo de Lyra, que parece ter 
parado nos anos 1940, e o nosso...

Notas

* :"His dark materials to create more Worlds" -O título da série, é uma citação do livro “Paraíso Perdido” de John Milton, mais especificamente o livro 2.

**: Philip Pullman anteriormente tinha proposto a série o nome do primeiro livro"The Golden Compasses" também tomado de Paraíso Perdido, onde ele se refere ao pó, como "compassos", com qual Deus moldou o mundo, uma ideia também retratada na pintura de William Blake, O Eterno, outra inspiração para a série.


Ano que vem tem mais, pois a primeira e a segunda
 temporada foram rodadas juntas!!!