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sábado, 29 de abril de 2023

Obsessivamente genial - Perfil: Daniel Day-Lewis

 


O cara do "Método"

por Alexandre César 

 (Originalmente postado em 29 de abril de 2018)


Um ator único e marcante seja em que papel for

 

 

Com Lena Olin, como Tomas em "A Insustentável Leveza do Ser" (1988), baseado na obra de Milan Kundera



Sir Daniel Michael Blake Day-Lewis, (
Londres, 29 de abril de 1957) é um ator britânico que tem dupla nacionalidade (inglêsa e irlandêsa), conhecido por sua entrega obsessiva em seus papéis, sempre nos dando performances vigorosas e viscerais . Nascido e criado em Londres, filho de um poeta e de uma atriz, destacou-se no palco do National Youth Theatre, antes de ser aceito na Bristol Old Vic Theatre School, onde estudou por três anos. 

 

 

Aclamação: Como o punk gay Johnny de "Minha Adorável Lavanderia" (1985) de Stephen Frears

 

Apesar desta sua educação e formação tradicional, Day-Lewis é conhecido por empregar a técnica de atuação conhecida como “O Método” (variação do Sistema de Constantin Stanislavski, desenvolvida por Lee Strasberg e Elia Kazan), sendo um dos mais seletivos atores da indústria cinematográfica - apareceu em apenas cinco filmes desde 1998, com períodos de até cinco anos entre produções. Reservado, o ator raramente dá entrevistas e faz poucas aparições públicas.

 

"Meu Pé Esquerdo" (1989): Lewis não saía da cadeira de rodas nem nos intervalos das filmagens

 

 Como o herói de ação Nathaniel Poe, em "O Último dos Moicanos" (1992)

 

 

 Daniel Day-Lewis alternou suas atuações entre teatro e cinema no começo da década de 1980, quando entrou para a Royal Shakespeare Company. A partir de então interpretou no teatro Romeu em Romeu e Julieta e Fluta em Sonho de uma Noite de Verão, antes de aparecer no filme Rebelião em Alto Mar (1984, de Roger Donaldson). 

 

Com Pete Postlethwaite em "Em Nome do Pai" (1993) de Jim Sheridan. Intenso drama sobre a repressão britânica na Irlanda do Norte

 

Seu primeiro papel aclamado pela crítica foi o punk gay Johnny de Minha Adorável Lavanderia (1985, de Stephen Frears), ganhando reconhecimento público com Uma Janela para o Amor (1985, de James Ivory). A consagração, porém, veio com o seu Tomas em A Insustentável Leveza do Ser (1988, de Philip Kaufman) e a premiação do Oscar por sua atuação em Meu Pé Esquerdo (1989, de Jim Sheridan). Day-Lewis também recebeu o prêmio por seu trabalho em Sangue Negro (2007, de Paul Thomas Anderson) e Lincoln (2012, de Steven Spielberg). Entre outros prêmios, ele ganhou também quatro BAFTA de Melhor Ator, três prêmios Screen Actors Guild e dois Globos de Ouro. Em 2012, a revista Time declarou Day-Lewis “TheWorld's Greatest Actor." Por sua contribuição ao teatro, foi condecorado cavaleiro inglês em 2004 no Palácio de Buckingham.

 

Dedicação total: Como o brutal Billy "O Açougueiro" em "Gangues de Nova York" (2002) de Martin Scorsese



Em Gangues de Nova York (2002, de Martin Scorsese), o ator se dedicou durante quase um ano ininterrupto (devido aos inúmeros problemas que a produção teve) ao desenvolvimento de seu personagem, ficando todo este tempo - dentro e fora dos sets - trabalhando o carregado sotaque do seu personagem. Também teve aulas com um açougueiro de verdade para poder entender o ofício do seu personagem “Bill, o Açougueiro” - o violento líder da gangue dos nativos nova iorquinos que disputa com a gangue dos irlandeses o controle de uma parte de Nova York. Foi uma performance apaixonada, como tudo o que fez, provando a sua capacidade de se metamorfosear no personagem. Concorreu ao Oscar pelo papel. Sua entrega foi tão intensa quanto a sua transformação em herói de ação em O Último dos Moicanos (1992, de Michael Mann), um ótimo filme baseado no clássico da literatura infanto-juvenil escrita por James Finimore Cooper, que está quase esquecido atualmente.

 

O irascível Daniel Plainview de "Ouro Negro" (2007). Oscar pela segunda vez

 

O musical "Nove" (2009): versatilidade

 

Outra mostra de seu talento pode ser constatada no já citado Sangue Negro, considerada uma das suas melhores atuações. em que levou quatro anos para preparação do personagem Daniel Plainview. O ator trabalhou sua voz ouvindo gravações de vozes de norte-americanos do final do século 19 até os anos 20, para entender sua entonação e seu sotaque. Lia cartas e analisava fotos de trabalhadores dos Estados Unidos do mesmo período de tempo. Com este filme, Day-Lewis levou os mais importantes prêmios do cinema mundial: Screen Actors Guild (que ele dedicou a Heath Ledger) BAFTA, Globo de Ouro e o Oscar, entre outros. 

 

"Lincoln" (2013): O terceiro Oscar a gente não esquece...

 

Em fevereiro de 2013, ele tornou-se o primeiro a conquistar pela terceira vez o Oscar de melhor ator ao ganhá-lo por seu trabalho no filme Lincoln, interpretando o presidente dos E.U.A. que enfrentou a Guerra Civil Norte Americana. sua versatilidade como ator pode ser comprovada por sua atuação como protagonista de Nove (2010, de Rob Marshall), um musical baseado em um musical da Broadway, que por sua vez é baseado em uma peça italiana inspirada no filme Oito e Meio (1963, de Federico Fellini). Para o papel, Day-Lewis estudou italiano e, na época da filmagem, era comum para ele se expressar no idioma, mesmo quando não estava atuando. 

 

Relacionamento destrutivo: Como o obsessivo, talentoso e impaciente estilista Reynolds Woodcock  que conhece a tímida garçonete Alma (Vicky Krieps) e decide transformá-la numa modelo em "Trama Fantasma" (2017) de Paul Thomas Anderson



Em junho de 2017, a sua porta-voz anunciou que Day-Lewis deixaria a arte de representar. Assim, Trama Fantasma, dirigido por Paul Thomas Anderson, segue até o momento como o seu último filme. Sobre o que fará agora, ele tranquilamente diz: “Não tenho ideia e acho que não vou conseguir ter uma por um tempo. Ainda estou meio anestesiado, como se eu tivesse caído de um ninho. Vou levar um tempo para me adaptar, mas não estou com pressa. Tenho filhos que precisam de mim e isso já vai ser o bastante.”




Num ensaio para a "W Magazine": O "personagem" Daniel Day-Lewis em momento descontraído. Que siga sempre assim...

 

 Seja como for, obrigado por tudo Daniel e seja feliz, porque você merece!

 

Foi uma ótima e produtiva carreira!

 

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Duelos & Falta de Higiene - Crítica – Filmes: Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan (2023)

 


Dinâmico, conciso e fiel!


por Alexandre César

Nova versão honra o clássico de Alexandre Dumas



 

1627. Sul da França. D´Artagnan (François Civil, de O Próximo Passo), um jovem de 20 anos, proveniente da Gasconha, estava a caminho de Paris quando é deixado para morrer depois de tentar salvar uma jovem de ser sequestrada. Ao chegar a seu destino, o rapaz tenta por todos os meios encontrar seus agressores. Ele não sabe que sua busca o levará ao centro de uma guerra real na qual o futuro da França está em jogo. No processo, D'Artagnan se cruza, confronta e acaba se aliando ao passional Athos (Vincent Cassel, de Ameaça Profunda), ao hedonista Porthos (Pio Marmaï, de Pétaouchnok) e ao calculista Aramis (Romain Duris, de Coupez!) - três dos mosqueteiros do Rei com uma temeridade perigosa e uma profunda amizade entre si - e enfrenta as maquinações sombrias do Cardeal de Richelieu (Eric Ruf, de O Oficial e o Espião). Mas é quando se apaixona perdidamente por Constance Bonacieux (Lyna Khoudri, de Dançando no Silêncio), a confidente da Rainha Ana da Áustria (Vicky Krieps, de Tempo), que D'Artagnan se coloca verdadeiramente em perigo. É essa paixão que o leva no rastro daquela que se torna sua inimiga mortal: Milady de Winter (Eva Green, de Baseado em Fatos Reais). 


O jovem gascão D´Artagnan (François Civil) passa por poucas e boas em sua ida à Paris


Dirigido de forma dinâmica e inspirada por Martin Bourboulon (Eiffel), Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan (2023) resgata de forma atual e instigante o espírito dos filmes de capa e espada das velhas matinês, apostando num realismo visual. O ritmo frenético de suas reviravoltas mostra o quão sólido, atemporal e ainda contemporâneo é o clássico de Alexandre Dumas (talvez um dos mais célebres casos de white washing da história *1), não devendo nada aos Jason Bournes e John Wicks da vida. 

 

Burlando a burocracia, D´Artagnan entrega ao Capitão de Tréville (Marc Barbé) seu pedido para ingressar no Corpo dos Mosqueteiros do Rei

Athos (Vincent Cassel ), Aramis (Romain Duris) e Porthos (Pio Marmaï) acabam cruzando o caminho de D´Artagnan, que os desafiam a duelar


O roteiro de Mathieu Delaporte e Alexandre de La Patellière (O Melhor Está por Vir) decupa de forma sintética, com poucas linhas de texto, o protagonista, o trio de espadachins e os demais personagens. Apresenta uma grande fidelidade à obra original, atualizando personagens de forma sutil, de maneira a não sentirmos qualquer tipo de “modernizada” ou “lacrada”. Continua soando como obra de época, mas, ainda sim, acessível à audiência acostumada aos blockbusters atuais. Esta é a primeira adaptação cinematográfica francesa do romance Os Três Mosqueteiros, de Alexandre Dumas, desde 1961, quando foi lançada a saga em duas partes (A Vingança de Milady e Os Três Mosqueteiros), dirigidas por Bernard Borderie. Um filme de 1994 de Bertrand Tavernier, A Filha de D'Artagnan, foi focado na filha do  herói da saga original e foi de importância fundamental para este filme de agora*2

 

A Rainha Ana da Áustria (Vicky Krieps) e o Rei Luís XIII (Louis Garrel) tentam se acertar...


 A fluência da narrativa é auxiliada pela edição de Célia Lafitedupont (O Melhor Está por Vir) que, com cortes precisos, dá as sequências o tempo certo para o desenlace de seus arcos, embora seja mais intensa e brutal nas cenas de ação. A música de Guillaume Roussel (Novembro – Paris Atacado) sublinha a história de forma pontual e vibrante, mas sem chamar muita atenção para si, nos deixando focados no roteiro. 

 

... mas são alvo dos ardis de Milady de Winter (Eva Green) e do seu chefe, o Cardeal de Richelieu (Eric Ruf)


Os demais personagens têm o tempo necessário para servir ao texto e a sua narrativa, destacando-se o rei Luís XIII (Louis Garrel, de Le grand chariot); pivô de uma intriga, Duque de Buckingham (Jacob Fortune-Lloyd, de Star Wars: A Ascensão Skywalker); o chefe dos mosqueteiros, o Capitão de Tréville (Marc Barbé, de Paris Police 1905); e os líderes do movimento dos hungenotes, Gaston de France (Julien Frisonde O Acontecimento) e Benjamin de la Fère (Gabriel Almaer, de A Sentinela), que nos lembram das origens protestantes de Athos. 

Visualmente o filme tem um realismo intenso, com a bela fotografia de Nicolas Bolduc (Belle Epoque),  cuja luz dessaturada e palheta de cores de tons castanhos e terrosos - principalmente nas cenas noturnas, lembrando o trabalho de John Alcott em Barry Lyndon - remetme muito às pinturas de Peter Paul Rubens*3

 

A rainha tem como confidente Constance Bonacieux (Lyna Khoudr), a amada de D´Artagnan


Já no quesito de reconstituição de época, o desenho de produção de Stéphane Taillasson (Eiffel), a direção de arte de Patrick Schmitt (Caixa Preta) e a decoração de sets de Philippe Cord´homme (Mon crime), Emmanuel Delis (Dunkirk) e Jessy Kupperman (O Oficial e o Espião), causam até uma certa estranheza por sua grande fidelidade histórica, deixando bem claro a sujeira cotidiana de todos os personagens, independente de classe social. Isso se reflete nos figurinos de Thierry Delettre (Germinal - A Revolução), que resgata em detalhes o visual da primeira fase do estilo barroco, com seus chapéus de abas largas, penas de faisão do lado esquerdo e botas de cano alto. Até sentimos a falta de uma maior diferenciação visual dos heróis em relação aos vilões em termos de cor dos seus trajes, pois, nas cenas de luta (e são várias), por seu tom frenético, às vezes nos confundimos sobre quem-é-quem. 

 

A fotografia e a direção de arte são impecáveis


Os efeitos práticos por Jean-Christophe Magnaud (O Último Duelo) compõem bem as cenas de combate e os efeitos visuais de BUF, supervisionados por Olivier Cauwet (O Predador), complementam a imersão neste mundo rocambolesco, mas de aspecto táctil, real. 

 

O trabalho de reconstituição histórica é minucioso


Com seus numerosos combates, seu elenco coeso e carismático e suas reviravoltas romanescas, Os Três Mosqueteiros: D'Artagnan é o exemplo preciso da transposição do romance de capa-e-espada para as telas. Esperemos que chegue logo a sua sequência - Os Três Mosqueteiros: Milady (2023) -, que foi filmada consecutivamente com este (perfazendo uma filmagem total de 150 dias). E quiçá filnalmente possamos ter desta vez um terceiro filme (pois originalmente são três livros) e, quem sabe, uma nova versão de O Conde de Monte Cristo, neste formato?


Mais de uma vez D´Artagnan por pouco não morre nas armadilhas de Milady

O filme termina num gancho para a continuação. Um por todos...

 

 

Notas:

 


*1: Alexandre Dumas (Villers-Cotterêts, 24 de julho de 1802 / Puys, 5 de dezembro de 1870) foi um romancista e dramaturgo francês. Posteriormente se tonou conhecido como Alexandre Dumas, Pai, pois seu filho era homônimo a ele e também foi escritor e teatrólogo de sucesso (é o autor de "A Dama das Camélias"). Dumas escreveu os livros "Os Três Mosqueteiros", "O Conde de Monte Cristo" e "O Homem da Márcara de Ferro", clássicos do romance de capa e espada de grande aceitação popular. Nasceu na região de Aisne, próximo a Paris. Era neto do marquês Alexandre Antoine Davy de la Pailleterie e de uma escrava (ou liberta, não se sabe ao certo) negra, Marie-Césette Dumas

Ainda que as caracterísicas de sua etnia nunca tenham sido claramente escondidas em registros históricos, sua representação em retratos e outras obras artísticas era como um homem branco, como ocorria com o nosso Machado de Assis. Isso só mudou depois de 30 de novembro de 2002, quando o presidente francês Jacques Chirac ordenou que seu corpo fosse exumado do local onde estava sepultado em Villers-Cotterêts, onde nasceu, e foi transportado para o Panteão de Paris, o mausoléu onde repousam os corpos de grandes filósofos e escritores da França, como Victor Hugo e Voltaire

Nesta cerimônia, transmitida pela TV, seu corpo foi carregado por homens que se trajavam como D'Artagnan e os Três Mosqueteiros. Em entrevista depois da cerimônia, o presidente reconheceu o racismo do qual Dumas sempre foi alvo e que sua mudança de repouso foi um reconhecimento a isso e a sua importância na História da Literatura. A França possui alguns dos mais importantes escritores de todos os tempos e Dumas foi o mais lido de todos eles. Suas histórias foram traduzidas para quase 100 idiomas e inspiraram mais de 200 filmes. 

 

 

Philippe Noiret (D´Artagnan) e Sophie Marceau (Eloïse) em "A Filha de D'Artagnan"

*3: O pai do diretor Martin Bourboulon, Frédéric Bourboulon, foi produtor de A Filha de D'Artagnan (1994), de Bertrand Tavernier. Martin tinha 14 anos quando seu pai o levou para visitar o set. As lembranças dessa época foram um dos motivos pelos quais ele aceitou o convite do produtor Dimitri Rassam para dirigir este filme.

 


*4: Peter Paul Rubens (Siegen, 28 de junho de 1577 / Antuérpia, 30 de maio de 1640) foi um pintor brabantino (nascido na região de Brabante, entre a Bélgica e os Países Baixos). Foi adepto do barroco, com um estilo extravagante que enfatizava movimento, cor e sensualidade. É conhecido por suas obras contra-reformistas, retratos e pinturas históricas de assuntos mitológicos e alegóricos.

 

 
"E aí, mademoiselle? Hoje rola???"