sábado, 4 de dezembro de 2021

Prendendo o fôlego... - Crítica - Filmes: Ameaça Profunda (2020)

 

 

Ripley submarina 

por Alexandre César
 (Originalmente postada em 09/ 01/ 2020)

Terror submarino peca por ser demasiado genérico
 

Norah Price (Kristen Stewart): Tudo começou numa situação casual, cotiiana

 
Fossas Marianas, 10.000 de profundidade. A engenheira mecânica Norah Price (Kristen Stewart da cine-série Crepúsculo, em visual andrógeno e dando o melhor de si para carregar o filme nas costas) está escovando os dentes num banheiro da instalação de uma companhia de prospecção mineral submarina. Logo ela repara gotas d´água vazando do teto e logo em seguida, após o que parece um terremoto devastador, rompe-se a vedação de um módulo, iniciando o colapso da estrutura, levando-a a fugir, e ajudar seus colegas de trabalho para que juntos, os sobreviventes possam encontrar uma saída daquele inferno silencioso, cuja pressão absurda e o frio extremo é morte certa para qualquer ser humano. Só que “alguma coisa” do lado externo, provocou aquela ruptura do complexo e está disposta a eliminar todo e qualquer humano...

A sala de controle, apesar das semelhanças, não é na "Nostromo", e nem na "Sulaco"...

 
Desde o primeiro trailer lançado meses atrás, já se percebia que Ameaça Profunda (2020) dirigido por William Eubank (O Sinal: Frequência do Medo de 2014) seria mais uma tentativa de se fazer uma versão submarina de Aliens – O Resgate de James Cameron, coisa já feita anteriormente em Leviatã (1989) de George Pan Cosmatos e Deep Star 6 de Sean S.Cunningham entre outros filmes B, de resultados bem piores ainda do que estes dois... O filme na realidade começou a ser rodado em 2017, tendo sofrido paradas e demorado a ser finalizado por conta dos trâmites decorrentes da compra da 20th Century Fox pela Walt Disney Company que deixou no limbo alguns projetos pendentes e cancelou outros.

 
Capitão Lucien (Vincent Casel), o mais próximo de autoridade nas circunstâncias

 
O roteiro de Brian Duffield (A Babá) e Adam Cozad (A Lenda de Tarzã) a partir da história de Duffield trabalha em cima de quase todos os clichês do gênero, nesta premissa, digna de um videogame de sobrevivência em primeira pessoa, onde o grupo sobrevivente encara fases disfarçados de arcos narrativos para sair do oceano com vida, indo a cada etapa num crescendo de desafios, e dificuldades, seja pelos equipamentos defeituosos da explosão, ou pelos adversários marinhos mais difíceis, misteriosos, e mais ameaçadores tanto em quantidade quanto em tamanho.
 

Os trajes de mergulho de alta profundidade remetem aos trajes de astronauta de "Alien" (1979) de Ridley Scott

 
Além de Norah, que é a “Ripley”do grupo sobrevivente, temos Paul Abel (o polêmico T. J. Miller de Deadpool 2) o alívio cômico do grupo com suas tiradas pop ( como ele diz em certo momento: “- Por favor, que não venha nada como em 20.000 léguas submarinas...”), a assustada Emily (Jessica Henwick de Punho de Ferro) que se revela até bem aguerrida, o seu noivo Lee (Gunner Wrigh de J. Edgar), o Capitão Lucien (Vincent Cassel de O Pacto dos Lobos) que é o “Dallas da vez” (se você conhece Alien vai entender...), Liam Smith (John Gallagher Jr. de Rua Cloverfield, 10) e Rodrigo Nagenda (Mamoudou Athie de O Círculo). Não precisa dizer que boa parte do elenco perecerá ao longo de sua jornada.

Paul Abel (T.J. Miller) é o piadista do grupo, tentando controlar o pânico...

Eubank faz um filme bem sensorial, graças aos truques de câmera, cujo maior mérito é fazer o espectador sentir que está ali vivendo aqueles eventos catastróficos com os personagens, nesta ambientação claustrofóbica, onde o visual escuro e ao mesmo tempo marcante da fotografia de Bojan Bazelli (Esquadrão 6) trabalha bem os tons frios de cinza, azul, e verde oceano numa atmosfera ao mesmo tempo suja e artificial, auxiliado pela música de Marco Beltrami (Presságio) e de Brandon Roberts (A Mulher de Preto 2: O Anjo da Morte) é eficiente, trabalhando bem com os momentos de silêncio e optando por um toque atmosférico, sendo quase imperceptível.

Comida de monstro: À esquerda (de costas) o Cap.Lucien. 
Ao fundo, Emily (Jessica Henwick), Paul Abel e Norah. À direita,
 também de costas, Rodrigo Nagenda (Mamoudou Athie)...

Os valores de produção são de boa qualidade, destacando o desenho de produção de Naaman Marshall (Stuber: A Corrida Maluca), a direção de arte de Erik Osusky (Dunkirk) e Scott Plauche (Logan) e a decoração de sets de Karen Frick (Inimigos Públicos) criando espaços de aspecto tecnológico, e aqui as instalações do conglomerado chinêsYuan que remetem às da Weyland-Yutani*1 com sua relação de largura bem maior que altura e formato octogonal (sempre que querem dar um aspecto “espacial” a um cenário, fazem os corredores e salas octogonais...) e os figurinos de Dorotka Sapinska (da série Penelope K, by the Way) são práticos, como um ambiente industrial pede, com seus escafandros de pressão profunda, similar a trajes de astronauta, e por dentro, colocando as meninas com tops e shortinhos de malha que valorizam a sua boa forma. Os efeitos visuais da Furious FX, Image Engine Design, Legacy Effects, Moving Picture Company (MPC) e Proof são competentes, e só.Tudo muito bem feito, mas tal qual o filme como um todo, sendo extremamente genérico e remetendo a outras obras que beberam na mesma fonte, coisa que Tentáculos (1998) de Stephen Sommers também tinha, mas sabia assumir e não se levar a sério.

Norah e o Capitão demonstram uma relação quase de pai e filha...

Apesar de seus defeitos, o grande mérito de Ameaça Profunda repousa na habilidade de Eubank em conseguir tornar um ambiente subaquático totalmente alienígena, traduzindo o silêncio e a solidão do vácuo do espaço, no vazio amedrontador do oceano e em vez de aliens, temos uma raça de criaturas misteriosas e extremamente perigosas, obra do conceptual designer Leandre Lagrange (Shazam!) evocando em algumas cenas além da Rainha Alien, por seu tamanho e aspecto ciclópico, Godzilla e o mítico Cthulhu de H.P.Lovecraft, sendo mais do que um filme de terror (ou meramente susto) por ser eficaz na construção de um suspense. Talvez com uma metragem menor, poderia ser um ótimo episódio de uma série de antologia tipo Além da Imaginação ou Black Mirror. Ao invés de mais uma tentativa e fazer Alien embaixo d´água...

"- Deixe ver: Estamos a mais de 10.000 metros de profundidade onde
 a pressão da água ultrapassa umas 50 toneladas por polegada. 
Será que este vazamento vai 'dar ruim'?"

Notas:
 
 

*1: No universo da franquia Alien temos a corporação Weyland Company, que mais tarde, após uma fusão, tornou-se a Weyland-Yutani, uma empresa sinônimo de todas as práticas sórdidas de que o meio corporativo é capaz, como a Umbrella Company em Resident Evil ou a OCP em Robocop ou a Lexcorp nos quadrinhos da DC Comics.

 

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