
Os
cuidados que a Xerox pede...
por Alexandre César
(Originalmente postado em 19/ 04/ 2019)
Bom filme de baixo orçamento em trama convencional

Contando com uma filmografia que inclui hits como Velocidade Máxima, as trilogias Matrix e John Wick, Keanu Reeves, que além de driblar bem a passagem do tempo (tal qual Tom Cruise) tem o dom de fazer filmes ruins se tornarem bons, somente com seu carisma, entrando num seleto grupo: O das estrelas que levam uma produtora a construir um filme centralizando toda história em cima de um grande nome de Hollywood: Pacino e De Niro, por exemplo, encheram os bolsos com este tipo de projeto na década passada – o chamado “B refinado” – que muitas vezes resultam em filmes de qualidade questionável, além do baixo orçamento e do consequente lançamento limitado (quase sempre voltado para home video ou streaming). Aqui ele revisita a história arquetípica do cientista que desafia os limites da ciência, e que nesse processo vai enlouquecendo progressivamente no meio das suas obsessões, coisa que já rendeu bons exemplos da ficção científica seja no cinema e na TV (em especial no streaming, com séries como Black Mirror e no clássico Twilight Zone), sendo Réplicas (2018) de Jeffrey Nachmanoff soa como um filme “B” reciclado dos anos 90 que apesar de seus pesares, é funcional, mas não o impediu de amargar nas bilheterias, sendo possível que no futuro, via TV ou streaming venha transformar-se num guilty pleasure dos futuros espectadores.
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robô "XBox": Os efeitos visuais refletem o baixo orçamento do filme
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Ambientado em Porto Rico, nesse longa Keanu Reeves (que também é um dos produtores) é o cientista Will Foster, e seus estudos e experiências implicam a transferência da consciência de um indivíduos falecidos para um corpo artificial, seja ele cibernético ou clonado, tema já explorado em filmes como Robocop, O Sexto Dia e Chappie - exemplos cinematográficos derivados do subgénero Mind Uploading).
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A perda repentina da família o empurra numa direção arriscada.
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Ele mapeia o cérebro humano e coloca via realidade virtual um modelo “impresso” deste cérebro em um robô. Mas o cérebro e o robô não se conectam, e o robô arranca partes do próprio corpo, se destruindo (ainda não há compatibilidade entre um modelo biológico e um cibernético...) fazendo o o infame chefe Jones (John Ortiz) brigar com ele, ameaçando fechar o projeto. Ele percebe que está atrasado para a viagem de fim de semana e corre para casa. Chegando em casa, logo ele parte com sua família: A esposa Mona (Alice Eve), os adolescentes Matt (Emjay Anthony), Sophie (Emily Alyn Lind) e a caçulinha Zoe (Aria Lyric Leabu) para uma típica viagem de férias, mas na noite estava chuvosa eles acabaram batendo o carro e capotando, até que caíram em um lago e o único sobrevivente do acidente é William que, vendo a morte de sua família o que faz? Obviamente pede a ajuda de seu amigo, Ed (Thomas Middleditch, que tem uma ótima química com Reeves) ele logo transforma sua família em réplicas clonadas.
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Jones (John Ortiz) e William: O patrão implacável X o gênio rebelde.
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O filme entrega a experiência de uma interatividade futurista, ainda não alcançada (que pode ou não vir a ser o nosso futuro) com uma ideia promissora, embora tratada de forma um pouco superficial, sendo um filme escapista que recicla material para abordar de forma ligeira temas como a Inteligência Artificial, clonagem e a ética e moral que as envolve, isto enquanto simultaneamente se tenta entregar um thriller de ação onde amor pela ciência e família se cruzam numa avenida de lugares comuns, provavelmente por culpa dos investidores que queriam um produto mais comercial.
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Zoe (Aria Lyric Leabu) a caçulinha e a grande perda da família.
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Num certo momento Mona, a esposa de William começa a sentir um vazio, isso por conta que ele retirou as memórias não só dela mas de toda a família, sobre a filha mais nova Zoe, (pois não haviam cápsulas de clonagem suficientes...) para eles ela nunca existiu, entretanto todos eles sentem falta de algo, questionando a sua existência e o seu "renascimento". No filme as réplicas são muito inteligentes, e rápidas quase melhores que os originais. O filme a partir desse momento segue, Reeves tentando se adaptar a nova família, enquanto ele concilia o trabalho. Aqui se encontra a melhor parte do filme, com William tentando burlar a verdade invasiva com uma mentira cobrindo outra e sempre tentando encontrar uma saída.
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Ed Ed (Thomas Middleditch), o amgo que o alerta dos riscos. Ele e Reeves realmente parecem ser amigos de longa data
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O roteiro de Chad St. John e Stephen Hamel (história) em algumas passagens fica com a suspensão da descrença ameaçada, como a simplicidade com que em 17 dias William e Ed (que constantemente o alerta sobre os riscos da experiência) fazem os clones desde o momento que ele pensa em transformar a família em réplicas, até o momento do roubo dos itens para isso, ficando no ar a pergunta, Como uma empresa que replica pessoas não tem uma segurança reforçada? Mas, na metade final existe uma explicação calcada nos ardis corporativos da empresa que salvam por um triz a credibilidade da trama, mas infelizmente introduzem o clima genérico de perseguição que compromete o potencial do filme, A direção de Jeffrey Nachmanoff dribla até que razoavelmente algumas das lacunas, evitando o desastre, graças ao bom elenco.
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"É só colocar umas células na incubadeira por 17 dias e... voilá, um clone completo e autosuficiente!!!"
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O desenho de produção de Johnny Breeedt e os figurinos de Julia Michelle Santiago funcionam de forma básica, sem nenhum atrativo a mais. A fotografia de Checco Varese também é funcional, valorizando as belezas de Porto Rico, nos raros momentos de externas, e a música de música de Mark Kilian & Jose Ojeda também embala a ação como um típico telefilme, e os efeitos visuais, vão pelo mesmo caminho, não acrescentando nada demais, parecendo saídos de um game.
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Mona (Alice Eve) a amada esposa. Única, ou quase...
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Produzido pela Riverstone Pictures o filme teve um agressivo marketing que vendeu o longa como “uma grande experiência de ficção científica”, tendo seus gastos superarado os trinta milhões de dólares (a maior parte gasto com certeza nos cachês de Reeves e Eve), um valor impossível de cobrir apenas vendendo DVD’s e Blu Rays ou mesmo assinando um contrato com a Netflix.
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O infame chefe Jones: "- É hora de discutir as questões trabalhistas William!"
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Réplicas – De Volta à Vida mescla gêneros, como Sci-Fi, ação, drama, comédia e suspense, e faz uma mistura agradável. O filme não tem um vilão implícito, e quando vemos o grande vilão da trama percebemos que ele não tem nada de grande e serve só parar dar uma desfecho com ação, descartando a questão ética em torno da transferência de memórias de um humano para um robô, terminando num tom “sarcástico” que até abre possibilidades para uma “continuação” ambientada neste universo narrativo, sem necessariamente se focar na família de William. Coisa que face a péssima recepção da bilheteria nos EUA não deve ocorrer, embora os produtores tenham encontrado compradores em mercados como Brasil, Japão e Índia – talvez quem sabe se faça uma continuação genérica, com custo menor, diretamente para o vídeo ou Streaming – ou seja, uma cópia da cópia...
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"- Deixe-me ver: Copio uma sinapse aqui, apago outra ali, e imprimo o resto, cruzo os dedos e vejo no que vai dar..."
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