Lúdico, Divertido e Cativante!!!
por Alexandre César
(Postado originalmente em 16/07/2019)
A "Turma do Bairro do Limoeiro" mostra serviço, e bem!!!
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O "Fab Four" ou o "Quarteto Fantástico" dos quadrinhos brasileiros
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Aqui
no Brasil, todos que nasceram depois de 1959 em algum momento de sua
vida travou contato com uma turminha composta por uma menina magrinha e
comilona vestida de amarelo. Um garoto também de amarelo e shorts
vermelhos não muito chegado a um banho, um outro de camisa verde e
shorts pretos de cabelo pontudo que falava trocando o “R” pelo “L” e
uma menina mandona, dentucinha e invocada que com seus punhos e munida
de seu letal coelho de pelúcia, que usa como clava ou como petardo
teleguiado tal qual o Mjolnir do ”Deus do Trovão” da Marvel, não deixava pedra sobre pedra. Reconhecem?
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Mãe e filha: Dona Luiza (Monica Iozzi) e Mônica (Giulia Benite).
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Tendo surgido como uma resposta brasileira à Turma da Luluzinha (e do Bolinha) e rapidamente ganhado identidade própria, A Turma da Mônica,
criação de Maurício de Souza vem à cerca de sessenta anos encantando
gerações de crianças, que cresceram lendo os seus quadrinhos, tiveram
filhos que se tornaram fãs da turma e, por sua vez cresceram, tendo
filhos que também acompanharam as aventuras da turminha na sua versão
tradicional ou, na sua “versão mangá” A Turma da Mônica Jovem,
um sucesso de vendas entre revistas, livros, brinquedos, roupas,
animações e um bom número de colecionáveis, faltando apenas o desafio
supremo de uma versão live action, coisa das mais arriscadas, uma vez
que a tradução do traço impresso para atores de carne e osso já
resultaram em traumáticos projetos que afundaram franquias promissoras.
Normalmente não existem “mais-ou-menos” neste ramo do cinema, ou seja: É “ou vai, ou racha”, e muitos naufragaram...
Dirigido por Daniel Rezende (Bingo: O Rei das Manhãs de 2017) Turma da Mônica: Laços
(2019) resgata com garra, sensibilidade e muito bom humor a magia dos
personagens em perfeita sintonia com a expectativa do público-alvo. O
roteiro de Thiago Dottori (da série Psi da HBO)
define bem os seus personagens e suas motivações sem perder-se em
banalizações ou psicologismos rasteiros. Na trama Floquinho (um Lhasa
Apso colorido digitalmente de verde) o cachorro de Cebolinha (Kevin
Vechiatto) é raptado pelo “Homem do Saco”
(Ravel Cabral) que rouba diversos cães para fins escusos.
Desconsolado, ele recorre aos seus amigos a comilona Magali (Laura
Rauseo), o cheiroso e fiel parceiro Cascão (Gabriel Moreira) e a
invencível Mônica (Giulia Benite) para pôr a prova o seu plano infalível
de resgate...
Baseado na graphic novel dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi, e mesclando elementos de Lições,
a obra seguinte da série, a alma do filme na realidade é a jornada de
amadurecimento (mas não tanto...) de Cebolinha, e a sua relação de
antagonismo (e mais adiante atração) por Mônica, resgatando um dado
pouco conhecido atualmente: Originalmente o grupo era A Turma do Cebolinha, e se vocês tiverem acesso à primeira grande aventura A Invasão dos Homens de Lata vemos o garoto que troca os “Rs” pelos “Ls” exercendo
com grande desenvoltura o papel de líder e estrategista do grupo, algo
que posteriormente mudaria com a ascensão da empoderada “- Baixinha! Golducha! Dentuça!” relegando-o ao papel de obsessivamente querer ser o “o dono da lua” , fazendo “planos infalíveis”
que nunca dão certo, resultando numa bela surra nele e no fiel
escudeiro Cascão. Até mesmo no elenco adulto, em que pese a presença da
Dona Luíza, a mãe (Monica Iozzi) e seu Souza, o pai da Mônica (Luiz
Pacini), temos maior destaque na família do Cebolinha, com Seu Cebola da
Silva (Paulo Vilhena) usuário do “Cabelol”, produto para queda capilar (gravem o nome!) e principalmente a Dona Cebola da Silva (Fafá Rennó) numa performance sensacional feita de olhares e sutilezas, roubando para si a atenção da audiência, não deixando dúvidas de que é uma “MÃE”.
Cabe aqui o destaque da incrível participação do Louco (Rodrigo Santoro de Westworld da HBO) que incrivelmente caracterizado serve como um guia espiritual de Cebolinha, levando-o a refletir sobre o valor dos vínculos (Laços)
de amizade e o valor do grupo, fazendo-o ser menos egocêntrico e
realmente assumir o seu protagonismo como líder estrategista. O resto do
elenco não tem tanto destaque pois o show é dos protagonistas-mirins,
dos quais, em nenhum momento duvidamos de suas identidades. Apesar de
Magali e em especial, Cascão terem seus grandes momentos é na dinâmica
Mônica-Cebolinha que o filme se apoia, mostrando que os embates dos dois
futuramente os levarão a serem um casal no futuro, mas até lá, muitas
surras ela dará nele. personagens como Titi, Xaveco, Jeremias, e Cascuda
entre outros são facilmente reconhecidos, mas são apenas figurantes,
sendo o engenhoso Franjinha e seu cachorro azul Bidu as grandes ausências. Talvez deêm as caras no próximo filme...
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O Louco (Rodrigo Santoro) numa performance excepcional, servindo de "sensei-qualquer-coisa" de Cebolonha (Kevin Vechiatto)
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Visualmente o filme é belíssimo, com ótimos valores de produção como o desenho de produção de Cássio Amarante (As Melhores Coisas do Mundo de 2010 e Bingo: O Rei das Manhãs) e a direção de arte de Mariana Falvo (Órfãos do Eldorado de 2015 e O Doutrinador de 2018) que recriam o microcosmo do Bairro do Limoeiro e sua pracinha com barraquinhas de sorvete e cachorro-quente e banca de jornais (reparem em quem é o “Stan Lee”
do filme) como algo atemporal, misto de cidade do interior e subúrbio
dos anos 60/70 e suas casinhas com telefones fixos e vários elementos
evocando personagens do universo de Maurício de Souza como bonecos de Jotalhão e Horácio, ou um cemitério abandonado cujos elementos remetem ao universo do Penadinho.
Os figurinos de Fernanda Marques, Veronica Julian (Malasartes e o Duelo com a Morte
de 2017) e Manuela Mello definem e caracterizam bem os personagens sem
deixá-los datados, e a bela fotografia de Azul Serra (da série O Mecanismo da Netflix)
trata as cores e as nuances e claro e escuro de forma precisa, se
casando harmoniosamente com a montagem de Marcelo Junqueira (Legalize Já- Amizade Nunca Morre de 2018) e Sabrina Wilkins (O Dourtinador)
que imprime um ritmo certo à narrativa, dosando os momentos de ação e
brincadeira com outros mais sensíveis e reflexivos como quando Cebolinha
consegue levar Mônica às lágrimas e não apanhar dela (acreditem!) tudo
bem embalado pela trilha sonora de Fabio Goes ( Mulheres Alteradas de 2018), e o tema de Tiago Iorc.
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Seu Cebola da Silva (Paulo Vilhena) o usuário do "Cabelol", produto para a calvície
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Ao
final saímos da sala com um sorriso nos lábios e uma lágrima de
satisfação por termos presenciado um feito do moderno cinema brasileiro
realizado com maestria, sendo capaz de encantar da mais ingênua e pura
criança ao mais crítico ancião, mostrando uma oportunidade de sonhar
liricamente e dar boas risadas com velhos amigos que sempre fizeram
parte da família brasileira e mundial enfrentando o mal não com armas e
traições, mas com “planos infalíveis” e coelhinhos de pelúcia.
A julgar pelo hype gerado pelo filme uma continuação é quase certa e esperemos que seja rodado no menor tempo possível, aproveitando o crescimento do elenco tal qual na cine série Harry Potter, o que permitiria mostrar a inevitável transição de seus intérpretes da infância para a adolescência e, talvez a um terceiro ou quarto filme, já baseado em A Turma da Mônica Jovem, completando assim um arco da vida desses personagens tão queridos. Fica a dica...
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O microcosmo do " Bairro do Limoeiro" é recriado à perfeição
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A julgar pelo hype gerado pelo filme uma continuação é quase certa e esperemos que seja rodado no menor tempo possível, aproveitando o crescimento do elenco tal qual na cine série Harry Potter, o que permitiria mostrar a inevitável transição de seus intérpretes da infância para a adolescência e, talvez a um terceiro ou quarto filme, já baseado em A Turma da Mônica Jovem, completando assim um arco da vida desses personagens tão queridos. Fica a dica...
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E que venham as sequências!!!
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