O Assombroso Multiverso!!!

Dr. Estranho de Sam Raimi traz o terror ao UCM.

As Muitas Faces da Lua

Spector, Grant, Cavaleiro da Lua, as múltiplas personalidades do avatar de Konshu.

Adeus, Mestre.

George Perez e sua fantástica trajetória.

Eu sou as sombras.

The Batman, de Matt Reeves, recria o universo sombrio do Homem-Morcego.

Ser legal não está com nada...Ou está?

Lobo, Tubarão, Aranha, Cobra, Piranha...Que medo!!! Mas eles querem mudar isso.

sábado, 30 de abril de 2022

Lembranças de um velho nerd místico - Resenha: Doutor Estranho nos quadrinhos e na TV

 


O estranho mago e eu

por Alexandre César 
(Revisto e atualizado à partir do texto postado originalmente em 16/10/2016)

Aquele que sempre foi um dos meus heróis favoritos
 
 

 

O look original do personagem era inspirado no ator Vincent Price (abaixo)



 Eu devia ter uns 8 ou 9 anos quando, lendo uma revista do Hulk da editora Ebal - cujo formato era padrão americano e em preto e branco - vi uma história em que o gigante verde furioso era enviado com uma sacerdotisa de um culto maligno para um reino de outra dimensão onde, para variar, enfrentava um titã forte e poderoso como ele. Após a batalha, ambos acabavam agarrados a uma estrutura alienígena onde um carinha de visual legal estava preso. A sacerdotisa, para se redimir de seus atos malévolos, trocava de lugar com o cara de visual maneiro, que usou seus poderes para levar ele e o Hulk de volta a Terra. O tal carinha tinha uma capa imponente, a la Drácula, e uma máscara que o fazia parecer careca. Tinha luvas e um traje meio super-herói, meio capa-e-espada. Achei legal e diferente o nome dele: Doutor Estranho. Também gostei que ele fosse um mago, um feiticeiro que não tivesse o visual camisolão-barba-chapéu-cônico-ou-turbante típico de qualquer mágico de gibi ou seriado da época. 

No final dos anos 60 por um breve período o personagem adotou o visual mais "heróico"


 Anos se passaram enquanto prosseguia com minha dieta regular entre gibis da Disney, Maurício de Souza, Luluzinha, Bolinha, Pimentinha, Riquinho & Cia. Ocasionalmente lia um Batman e aproveitava para pintar as histórias com lápis de cor (afinal, Adam West reinava na TV). De vez em quando lia algo da Marvel. Na maioria das vezes Homem-Aranha, Homem de Ferro, Thor, Quarteto Fantástico. Curtia demais, mas me perguntava: “-Cadê aquele mago de nome esquisito?” Foi preciso a HQs da Marvel passarem da Ebal para a Bloch, com seu terrível “formatinho” (que virara a regra do tamanho dos gibis) e sua palheta de cores bizonha, para eu finalmente esbarrar de novo com o bom doutor. Foi na revista dos Defensores, grupo no qual inclusive participava o existencialista mor da editora, o Surfista Prateado, outro dos meus favoritos. Nesta altura da minha vida já havia presenciado alguns eventos de natureza insólita.
 
O personagem (um dos pilares fundadores da Marvel) enfrentou diversos desafios e oponentes em sua carreira

 
 Eu era leitor ávido da revista Planeta, que trazia artigos instigantes sobre esoterismo e ufologia. Também frequentava os rituais da Ordem Rosacruz-AMORC, da qual meus pais eram membros e cujos princípios eu enxergava como paralelos aos preceitos dos Jedis de “Guerra nas Estrelas” (naquela época se traduzia título da franquia por aqui). Portanto, era muito legal para mim que existisse um mago que fosse um super-herói, de visual dramático, mas sem aquele aspecto teatral do Mandrake, que nunca curti muito. 


Foi nas páginas da Bloch Editores que vim a reencontrar o mago
  
Então num domingo, em 1979, lendo o caderno de TV do jornal “O Globo”, vi na página de destaques da programação da semana escrito “Doutor Estranho” e me surpreendi. Já estava rolando na Globo o seriado do Incrível Hulk, com o Bill Bixby e Lou Ferrigno (com suas incríveis calças...), e o Homem-Aranha, com Nicholas Hammond (ex-membro da família Von Trapp de “A Noviça Rebelde”), começara sua breve carreira também. E havia o impacto causado por “Superman -O Filme”, que estreara semanas antes nos cinemas. Havia uma vibe que tornava os heróis conhecidos do grande público. Aguardei ansioso o filme, mas sem exigir demais. Até porque, como sabia que era um piloto de série e provavelmente com orçamento pequeno, preferi deixar de lado toda e qualquer ideia feita sobre o doutor antes de assistir. 
 
O telefilme de 1978 com Peter Hooten e Jessica Walter

 O filme, escrito e dirigido por Philip DeGuere como a maior parte das adaptações de heróis dos gibis até então (e até alguns anos atrás...) era genérica, tomando grandes liberdades com a origem e histórico do personagem. Era estrelado pelo desconhecido Peter Hooten, tendo John Mills como Lindmer - uma versão “merlinizada” do ancião. Jessica Walter (Arrested Development) atuava como a vilã Morgan (Le Fey?), uma feiticeira a serviço de um “Mestre” - na verdade um boneco em stop motion com uma trucagem de céu demoníaco por trás. O clima era soturno e com bons efeitos óticos para os padrões de telefilmes da época. 
 
 
Stephen Strange e  Wong (Clyde Kusatsu) no Sanctum Sanctorum

Morgan (Jessica Walter) a feiticeira partidária das forças das trevas da Quarta Dimensão

 
Curti muito, pois me deu vontade de conhecer ainda mais sobre o personagem. Posso dizer que a sua missão de transmitir um personagem cativante foi bem sucedida. Tanto que, cerca de um ano depois, quando o filme foi reapresentado numa Sessão Coruja, estava eu lá firme e forte para prestigiá-lo de novo. Mais tarde, passados mais de 25 anos depois, o bom doutor estava de volta, agora numa versão maior pela Marvel Studios e com a missão de tirar o personagem do anonimato quanto ao grande público e ocupar seu lugar no panteão dos heróis Marvel, sendo a grande chance deste que é um dos primeiros personagens daquele universo ficcional, que até então havia sido subaproveitado nos últimos anos. A sorte estava lançada...


A viagem astral de Stephen pelo plano astral é emulada numa cena do filme de 2016 que foi aos cinemas


O filme e suas consequências
 
 
O filme de 2016 com Benedict Cumberbatch como Stephen Strange numa ótima composição

 
Ao final, à despeito de seus atrelamentos à "Fórmula Marvel"  Doutor Estranho (2016) de Scott Derrickson,  foi  bem tanto com a crítica quanto nas bilheterias, firmando o ótimo Benedict Cumberbatch (Ataque dos Cães) como a encarnação definitiva do bom doutor, tirando o personagem do anonimato quanto ao grande público e garantindo o seu lugar no panteão dos heróis Marvel como a solução para vários problemas nas tramas dos filmes subsequentes do estúdio.  O filme além da produção impecável com seu elegante design de produção e seus ótimos efeitos visuais (indicados ao Oscar) estabeleceu o lado místico do Universo Cinematográfico Marvel, bem como os personagens ao redor de Stephen Strange, como Wong (Benedict Wong de Vingadores: Guerra Infinita), Mordo (Chiwetel Ejiofor de 12 Anos de Escravidão), aqui numa ótima construção de personagem e futuro antagonista; Tilda Swinton (Vingadores: Ultimato) na controversa mas acertada caracterização da Anciã (o personagem originalmente era um velho oriental) que evitou estereótipos passíveis de críticas nestes tempos de cancelamento, além da bela e fofa Rachel McAdams (Sherlock Holmes) como Christine Palmer, interesse romântico do herói. Do lado dos antagonistas temos Kaecilius (Madds Mikelsen de Druk - Mais Uma Rodada) como um bom oponente, e o terrível Dormammu (dublado pelo próprio Cumberbatch), qua ainda deverá futuramente gerar novas dores de cabeça para o mago.
 
 
A "Ancã" (Tilda Swinton) e Mordo (Chiwetel Ejiofor). Asmudanças de gênero e de etnia foram bem orquestradas num bom resultado

 
Passados alguns anos desde então Strange mostrou em participações nos outros filmes do estúdio o seu valor e agora, após se estabelecer o conceito do multiverso,  estamos prestes  a acompanhar a segunda grande aventura do herói, Doutor Estranho: Multiverso da Loucura (2022) agora dirigido pelo mestre Sam Raimi (a cine série The Evil Dead e a sua aclamada trilogia do Homem-Aranha com Tobey Maguire e Kirsten Dunst) diretamente relacionada aos desdobramentos  de Homem-Aaranha: Sem Volta para Casa , que permitirá soft reboots de elementos já explorados por outros estúdios, e que deverá alicerçar de vez a sua posição como o  Mago Supremo deste rico universo ficcional.
 

Kaecilius (Madds Mikelsen) vilão originalmente secundário, que sofreu uma boa reformulação


Agora deveremos ver a consagração do personagem como uma das pedras angulares desta nova fase da Marvel.  Que o Olho de Agamoto ilumine o seu caminho...
 
"-Isso, vai girando a mão no sentido horário e se foca no CEP do destinatário, senão tu acaba caindo em Hogwarts..."

 
 

terça-feira, 26 de abril de 2022

O dilema democrático - Crítica - Séries: O Expresso do Amanhã - 3ª Temporada

 

Reconectar, desconectar, seguir adiante...

por Alexandre César

Série contextualiza a necessidade do consenso


 

Obs: Spoilers

Alguns meses se passaram desde que o revoltosos desengataram o Snowpiercer do resto da composição, tornando-o um trem rápido e de  maior manobrabilidade


Desde que o despótico Joseph Wilford (Sean Bean de As Crônicas de Frankenstein) reassumiu o Snowpiercer na temporada passada, reimpondo o antigo regime draconiano, onde os fundistas são sufocados à ferro e fogo, que O Expresso do Amanhã, deixou pra trás suas dificuldades iniciais*1, entrando de vez nos trilhos. 


Ícone da extrema direita: Joseph Wilford (Sean Bean) governa o trem com mão de ferro

Agora, em sua terceira temporada, absérie veiculada pela Netflix, que é a adaptação do filme de 2013 do diretor sul-coreano Bong Joon-Ho (O Hospedeiro, Parasita) baseado na graphic novel francesa Le Transperceneige (O Perfuraneve) de Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jen-Marc Rochette de 1982*2 segue mostrando os percalços de Andre Layon (Daveed Diggs de Black-ish) o líder fundista em formação, que ao final da temporada anterior, havia desengatado o Snowpiercer, e se separado da composição principal, ficando o seu grupo com um trem menor e veloz, como uma nau pirata, para traçar um plano de retomar o poder. 

 

Líder indeciso: Andre Layon (Daveed Diggs) tem que superar suas limitações para retomar o trem e manter a democracia funcionando. Ou não?


Num complexo abandonado, Layton encontra uma sobrevivente e ele tem uma visão

 

Passados alguns meses desde o desengate, Layton, com seus aliados, a segurança Bess Till (Mickey Sumner de Where Are You); o maquinista Bennett Knox (Iddo Goldberg de Westworld); a fundista Josie Wellstead (Katie McGuinness de Hollywood) e Alexandra Cavill (Rowan Blanchard de Em Um Mundo Distante) dispõem dos dados científicos do legado da desaparecida Melanie Cavill (Jennifer Connelly de Alita: Anjo de Combate) mãe de Alexandra, e descobrem numa instalação nuclear abandonada, Asha (Archie Panjabi de Ponto Cego) uma sobrevivente traumatizada e ao resgatá-la Layton sofre um acidente e tem um vislumbre de um destino para os sobreviventes, no Chifre da África*3, e partem para o ataque, dispondo de um trunfo: Miss Audrey (Lena Hall de Nature Cat) amante de Wilford. 

 

A segurança Bess Till (Mickey Sumner) e a prisioneira Miss Audrey (Lena Hall) passam a limpo suas diferenças e encontram afinidades 



No trem principal, puxado pelo robusto Big Alice, Wilford prossegue mantendo a sua “ordem”, racionando os alimentos, a luz e o aquecimento, pouco se importando que para isso, mantenha buracos para congelar os braços dos revoltosos e mutilá-los (e manter as classes baixas no “seu lugar”) intimidando toda a 2ª e 3ª Classe e gerando medo e ressentimento, cabendo a Pyke (Steven Ogg de Westworld) e a Ruth Wardell (Alison Wright de Castle Rock) organizar a resistência, fazendo um jogo de gato e rato com a segurança nos recantos de manutenção do trem. A proximidade acabe unindo-os de forma improvável. 

 

Melanie Cavill (Jennifer Connelly) dada como morta, aparece nos sonhos de sua filha Alexandra (Rowan Blanchard)


Zarah Ferami (Sheila Vand de Garota Sombria Caminha pela Noite) grávida de Layton, é mantida como “hóspede” de Wilford, e o vagão boate, agora é administrado pela lindinha psicopata L. J. Folger (Annalise Basso de Camp) e pelo ex-operador e segurança John Osweiller (Sam Otto de Refugiado) que se casam com as bençãos de Wilford, como símbolo da “nova ordem” (embora ela esteja a postos para virar a casaca no momento certo) enquanto a rebelião começa a confrontar mais abertamente o plutocrata, pagando o seu preço em sangue. 

 

Bess Till, Josie Wellstead (Katie McGuinness),Alexandra Cavill e Andre Layton traçam um plano para interceptar o trem de Wilford

A sobrevivente Asha (Archie Panjabi) guarda muitos traumas, mas reacende a esperança de Layton de encontrar um refúgio



Após embates dos fundistas com os guardas wilfordistas e uma “batalha naval” entre os trens Layton consegue depor Wilford, lhe dando uma liberdade vigiada em troca da rendição, mas é claro que (Wilford, sendo Wilford) ele irá esperar o momento certo para tentar dar um novo bote. Uma das primeiras iniciativas de Layton é libertar os dissidentes que haviam ido para as gavetas criogênicas, entre eles, Sam Roche (Mike O´Malley de O Bom Lugar) e sua filha Carly (Esther Ming Li de O Projeto Adam) mas sua esposa não tem tanta sorte, deixando o chefe operador amargurado e querendo vingança. Para unir o trem em torno de um ideal de esperança, Layton vende a ideia do novo Éden no Chifre da África apesar de ser mais uma decisão intuitiva do que algo baseado em fatos científicos mensuráveis. Surge uma discordância entre Layton e Pyke, pois este acredita que Ruth seria uma líder mais competente do trem, ao invés de uma segunda em comando (coisa que ela aceita de bom grado) gerando um conflito que abala os fundistas e a tênue (e bota tênue nisso!!!) liderança de Layton, que entra em coma e em seu delírio enxerga a verdade de sua visão... 

 

O "Big Alice" segue carregando a composição, em seu jogo de gato-e-rato com o  "Snowpiercer" em meio a paisagem congelada

 

Enquanto alguns personagens perecem (Wilford menciona ter havido um surto de “uma gripe” que matou alguns deles, entre outros passageiros), outros ressurgem, como o maquinista Javier de La Torre (Roberto Urbina de Louco Por Ela) o “ravi” que lida com as suas cicatrizes do ataque pelos cães de Wilford, fazendo uma boa dupla com Sykes (Chelsea Harris de Ambulância – Um Dia de Crime) que o ajuda a encarar o trauma. Revemos o jovem Miles Miles (Jaylin Fletcher de Clickbait) “filho” de Josie, que cresceu (e muito!) e segue em seu aprendizado de maquinista, e o engenheiro sobrevivente Boscovic (Aleks Paunovic de Van Helsing) se torna o novo “Icy Bob” graças aos serviços da Mengueliana Dra. Headwood (Sakina Jaffrey de Perdidos no Espaço), que tem uma curiosa discussão sobre ética médica com a Dr. Pelton (Karin Konoval da trilogia Planeta dos Macacos) durante o parto de Zarah. 

 

Zarah Ferami (Sheila Van) é o trunfo de Wilford, que obriga o maquinista " Ravi"(Roberto Urbina) a pilotar o trem

Apesar de quase descarrilhar, Layton acaba fazendo valer seus trunfos


Wilford descobre, um sinal numa linha auxiliar indicando, para alegria da equipe (e para seu ganho pessoal...) que Melanie Cavill está viva, tendo convertido um pequeno módulo de manutenção dos trilhos num pod de hibernação, atestando a sua engenhosidade. Resgatada, em poucos dias após se recuperar, ela vai a público denunciando a pouca confiabilidade do plano de Layton, causando um ‘racha’ no trem, o que Wilford esperava que fosse acontecer. 

 

A "visão" de Layton assume um tom visionário



Aqui vemos um paralelo entre os passageiros que após oito anos fechados naquele claustrofóbico trem e querendo voltar a sentir o ar livre, mesmo que correndo riscos, com as pessoas ansiosas pelo afrouxamento das normas de isolamento social da pandemia de COVID-19, e essa ânsia é até compreensível no caso dos fundistas, que como diz Layton sempre sofrem as perdas mais pesadas, tendo vivido na miséria e insalubridade nestes oito anos dentro daquela caixa de metal sobre trilhos.

Os maquinistas " Ravi" e Bennett Knox (Iddo Goldberg, sentado) avaliam os danos. A direção de arte mostra a gradual deterioração do trem decorrente do uso

 

Wilford faz uma aliança com Melanie, visando reaver o poder pelas suas costas, mas ela o conhece, e ao dialogar com Layton, ambos reconhecem que o confronto só destruirá os dois lados e numa grande virada a série mostra que a despeito do que se fala, a política uma ferramenta de solução de problemas, com cada lado aceitando regras e cedendo em ponto para ganhar em outro e vice-versa para todas as partes caminharem juntas. Uma escolha é feita e cada parte toma um rumo, havendo a possibilidade de um reencontro adiante, havendo depois um salto no tempo de três meses... 

 

Após prender Wilford, Layton e Pyke (Steven Ogg) entram em gradual oposição

  Carly (Esther Ming Li) e seu pai Sam Roche (Mike O´Malley) enfrentam uma tragédia cujo responsável é Wilford



A fotografia de Jaime Reynoso (O Método Kominsky) e Trig Singer (Megadream) seguem o bom trabalho dos seus predecessores, contrastando os tons cinzas e azulados das entranhas do Snowpiercer e do Big Alice, cujo aspecto frio, impessoal e inóspito reflete a divisão verticalizada de classes, adquirindo tons solares no episódio do delírio de Layton, acompanhado pela edição de Jay Prychidny (Altered Carbon) Erin Deck (Into the Badlands) e Nicholas Wong (The Expanse) mantém o ritmo e o tom narrativo na medida certa, acelerando nos momentos tensos como no confronto de Layton com Pyke ou na travessia da ponte em direção ao “Chifre da África”, que a trilha musical de The Haxan Cloak - Bobby Krlic (Midsommar: O Mal Não Espera a Noite) prossegue no seu tom atmosférico, incorporando os sons mecânicos na música, ora sublinhando, ora num crescendo nas horas mais explosivas. 

 

Ferido, Layton tem um sonho onde Sykes (Chelsea Harris) e Wilford são espiões. A direção de arte transforma o trem num cenário caribenho de espionagem



O desenho de produção de Stephen Geaghan (Outra Vida) segue expandindo o universo do interior do Snowpiercer, com novos elementos como o pequeno trem que manteve Melanie viva, e a direção de arte de Susan Parker (Take Two) e Ainsley Barteluk (Reel Women Seen) vai detalhando mostrando a deterioração gradativa do trem, que ainda consegue se transformar, como no delírio de Layton, que a decoração de sets de Roger Trory (Era Uma Vez) transforma num cenário de filme de espionagem de ares caribenhos, onde os figurinos de Caroline Cranstoun (Um Match Surpresa) brincam com os clichês, mantendo no resto da temporada, a palheta de cores dos trajes chiques e decadentes de Wilford, o tom vintage dos trajes de Audrey (refletindo o seu passado de atriz Burlesca), e os com os trajes padronizados, sóbrios, mas elegantes da Segunda Classe, os meramente funcionais da Terceira e dos soldados e, os fundistas com seus trapos de tons pretos, cinzas, terrosos e sujos mostrando o “seu lugar” no construto social. 

 

Os efeitos visuais continuam de alto nível criando belas e tristes cenas como a das pirâmides do Egito congeladas


Prosseguindo no trabalho de expandir esse gélido, rico e hostil universo narrativo, os efeitos visuais de Fuse FX, Method Studios, Zoic Studios, Torpedo Pictures, Mr. X, Image Engine Design Inc., supervisionados por Geoff D. E. Scott (Orphan Black) e Jamie Barty (The Orville) entregando belas e tristes cenas como o Egito e suas pirâmides congelados, ou plenas de dinamismo como quando Snowpiercer e o Big Alice se confrontam como numa batalha de navios piratas, ou o trem precisa atravessar uma nuvem vulcânica ácida e corrosiva. 

 

Retorno triunfal: Melanie Cavill havia convertido um trenzinho de manutenção de trilhos num módulo de sobrevivência, sendo resgatada pelo Snowpiercer

Discordando de Layton (?) Melanie faz uma aliança com Wilford, que esperava isso, mas Melanie tem seus planos também

 

Ao final, O Expresso do Amanhã termina com a grande mensagem de que por piores que as coisas possam ser, somente com a decisão política dos lados beligerantes, se chega a uma forma negociada que permitirá que ambos os lados sobrevivam. Mesmo que a série terminasse aqui, terminaria bem, em grande estilo, mas ela ainda abre caminho para a próxima temporada, já confirmada, que trará Clak Greg (Marvel´s agentes of S.H.I.E.LD.) além de outras dinâmicas que deverão trazer novos desafios a Layton, Melanie, e até mesmo a Wilford, que continua como uma carta que pode retornar ao baralho desse jogo...


Ao final rumos são traçados e destinos alcançados mas ainda não chegamos ao final de fato




Notas:

 

*1: Produzida pela TNT e aqui veiculada no streaming pela Netflix, a série teve várias dificuldades na primeira temporada oriunda da troca de showrunners, e de emissoras (originalmente pela TNT, foi para a TBS, retornando depois para a TNT), roteiros reescritos, novas direções entre outras coisas. 



*2: Que apresentava uma distopia com ótima alegoria sobre a luta de classes ao mostrar um mundo glacial, onde os remanescentes da espécie humana habitam um gigantesco trem em movimento contínuo numa volta ao mundo (num moto perpétuo) vivendo num sistema de castas em que os ricos têm ótimas acomodações, alimentação, e à medida que vamos descendo de classe social, o espaço, comida, etc... vão decaindo até chegarmos nos últimos vagões, onde os fundistas vivem como párias na fome, miséria e desesperança. 

 



*3: O “Chifre da África” (ou “Corno de África”) é a região também conhecida como Nordeste Africano e algumas vezes como Península Somali, é uma designação da região nordeste do continente africano, que compreende a Somália, a Etiópia, a Eritreia e o Djibouti. Tem uma área de aproximadamente 2 milhões de km² e uma população de cerca de 116 milhões de pessoas (Etiópia: 94,3 mi, Somália: 14,7 mi; Eritreia: 5 mi; Djibuti: 956 mil).



"Foi um prazer estar com vocês, brincar com vocês,mas agora é hora de dar tchau! Até a próxima temporada!!!"


segunda-feira, 25 de abril de 2022

Um trem para o passado - Crítica - Séries: Boneca Russa - 2ª Temporada

 

Olhar para trás para seguir em frente...

por Alexandre César

Série contextualiza que o passado é a chave para o futuro

 

Nestes últimos três anos Nadia Vulvokov (Natasha Lyone) e Alan Zaveri (Charlie Barnett)mantiveram contato e a amizade mas nada bizarro aconteceu



Desde os eventos da noite de seu aniversário de 36 anos, em que ficou morrendo e voltando, sempre na noite de seu aniversário, a cínica e sarcásticas engenheira de software Nadia Vulvokov (Natasha Lyone de Big Mouth) foi levando a vida, sempre mantendo contato com seu colega de loop temporal Alan Zaveri (Charlie Barnett de Ordinary People), caso algo voltasse a acontecer. Agora, às vésperas de completar 40 anos (algo crucial na vida da maioria de muitas mulheres), sempre que toma certa linha (dos 6 trens da 77th Street do metrô de Nova York), ela se vê viajando no tempo para algum momento importante de sua linhagem familiar, e tomando o lugar da protagonista daquele momento, tal qual Sam Beckett no seriado Contra Tempos *1.

 

Nadia, ao tomar uma linha do metrô, literalmente se vê como a sua falecida e tabagista mãe Lenora (Chloë Sevigny) grávida dela mesma


Em sua segunda temporada, Boneca Russa (Russian Doll) a série da Netflix criada por Lesley Headland, Amy Poehler e Natasha Lyonne continua investindo em seu humor ácido e, embora narrativamente derrape em alguns momentos continua com uma história interessante, graças ao seu roteiro, com reviravoltas insólitas, num ritmo ágil embora dessa vez desigual, trocando dessa vez o mote do loop temporal (dispositivo de enredo usado regularmente para demonstrar uma sensação de claustrofobia) pela viagem no tempo, aprofundando a alegoria das matrioskas*2 russas, ampliando agora geograficamente o universo da trama, mas felizmente ainda se apoiando em seu ótimo elenco.

 

Nadia, no corpo de Lenora, tem um rolo com Chez (Sharlto Coplay) o namorado picareta e ladrão de sua mãe

 
Agora, vivenciando alternadamente momentos em que desembarca do trem em Astor Place voltando a 1982, a cínica Nadia, literalmente se vê como a sua falecida e despirocada mãe Lenora (Chloë Sevigny de We Are Who We Are) que morreu aos 36 anos de idade (uma mãe que ela praticamente não conheceu e aqui, grávida dela mesma!); e mais adiante ainda, em 1944 como a sua avó Vera Peschauer (Ilona McCrea de
Dear Kate) em Budapeste, na Hungria ocupada pelos nazistas.
 

Paralelo à trama de Nadia, Alan, está relaxado e feliz, vivendo o amor


Ao perceber que tem a oportunidade de reescrever seu passado, Nadia tenta garantir que a família não perca sua herança (que ela acha que resolveria seus anseios de ter uma família melhor resolvida). Mas, suas ações geram consequências bizarras (mas não tão inesperadas)... 

 

Alan, vive em Berlim Oriental em 1962 , no corpo de sua avó Agnes (Carolyn Michelle Smith) uma estudante de intercâmbio, natual de Gana


Alan, por sua vez, vivencia algo semelhante ao se transportar para Berlim Oriental em 1962 , se vendo no corpo de sua avó Agnes (Carolyn Michelle Smith de Cherish the Day), natural de Gana, e que nunca conheceu, que participava de um intercâmbio universitário, tendo um romance com Lenny (Sandor Funtmek de Azul é a Cor Mais Quente) e descobrindo mais adiante (para seu horror) que os dois planejam com outros estudantes, fugir para o Ocidente através de um túnel que estão cavando a seis meses por baixo do Muro de Berlim*3. coisa que se forem pegos poderá lhes trazer consequências fatais...

 

Mais adiante Nadia se vê em 1944, como a sua avó Vera Peschauer (Ilona McCrea) em Budapeste, na Hungria ocupada pelos nazistas.



Em suas passagens por 1982, Nadia encontra uma versão jovem de Ruth Brenner (Annie Murphy de Murderville) amiga fidelíssima de sua mãe e a sua “mãe” espiritual e que no presente (vivida por Elizabeth Ashey de Oito Mulheres e um Segredo) passa por complicações de saúde. Nadia de quebra, se relaciona com Chez (Sharlto Coplay de Distrito 9) o namorado picareta de sua mãe, com quem haviam roubado os 150 Krugerrands*4 da família, para a decepção de sua avó Vera Peschauer (Irén Bordán de Operação Berlim)

 

Nadia vai pesquisar suas origens em Budapeste (atual Hungria) com sua amiga Maxine (Gretta Lee) encontrando túmulos de antepassados



Como ela se vê responsável, ou cúmplice de sua mãe tabagista (que mesmo grávida, fuma como uma chaminé, coisa que todos na série fazem...) pelo sucedido, se lança à uma caça ao tesouro do paradeiro de sua herança, indo para Budapeste, na Hungria atual (2022) com sua amiga Maxine (Gretta Lee de The Morning Show), à tiracolo, para descobrir o que aconteceu com os objetos de valor que a família tinha antes da Segunda Guerra Mundial; e ao voltar no tempo, em 1944 (no corpo de sua avó), tenta rastrear a herança roubada pelos nazistas, sendo auxiliada pela fiel amiga Delia (Franciska Farkas de Apatigris). Apesar do perigo latente, não há “momentos de ação” de fato, sendo os momentos históricos mais alegorias dos desvios e percalços da vida do que outra coisa. 

 

Um Budapeste, Maxine tenta fazer um filho com Kristofz (Balázs Czukor) por ver 'bons genes'



A edição de Todd Downing (Generation) e Debra F. Simone (Mrs. Fletcher) mantém um ritmo ágil na narrativa, embora ao final quando fica mais frenético, em alguns momentos nos fazer ter de voltar o episódio por ficar mais corrido do que o ideal. 

 

Em 1982, Nadia recorre ao voluntário Derek (Ephraim Sykes) dos 'Guardians Angles' para ter informações sobre o paradeiro de sua herança



Entre os desdobramentos das interrelações de Nadia e Alan (que passaram os últimos três anos esperando que algo acontecesse) voltam rostos conhecidos como Lizzy (Rebecca Henderson de Inventando Anna) parceira de Maxine, (aqui com pouca presença) e outros novos como Kristofz, o artista húngaro (Balázs Czukor de Baptiste) com quem Maxine tenta fazer um filho, e em 1982, Derek (Ephraim Sykes de Hamilton) membro dos Guardians Angles, um grupo de vigília do crime de Nova York, que ajuda Lenora num momento-chave 


Em 1962, Alan/Agnes descobre que seu 'crush' Lenny (Sandor Funtmek) e amigos pretendem fugir da Alemanha Oriental por um túnel

 


A fotografia de Urzula Pontikos (Marcella) valoriza bem as locações na Hungria, dando um tom mais dessaturado nas passagens de 1944 e realçando bem o colorido do metrô de Berlin Oriental, que a direção de arte de Christopher Minard (Run the World) e a decoração de sets de Lindsay Stephen (O Justiceiro) enfatizam bem o lado brega do realismo socialista arquitetônico e decorativo do período (1962) bem como a cafonália do apartamento de Vera Peschauer e retratando a Nova York de 1982 através de um prisma da cultura pop e referências sociopolíticas, como o filme A Escolha de Sophia acabara de ser lançado, o moicano ainda é um penteado popular entre os rebeldes sociais, a cidade ainda estava naquele momento de decadência e alta criminalidade (antes da gestão de Giuliani) e A Lista de Schindler ainda não havia sido feito, e termos como "Wi-Fi" e "millennials" ainda não haviam sido inventados. 

 

Em1944, Nadia, no corpo de Vera Peschauer (sua avó) conta com a fiel amiga Delia (Franciska Farkas)



Ainda há o resgate do desenho de produção de Michael Bricker (Não Provoque) quando em certo momento Nadia reaparece no banheiro com a porta luminosa (e com a maçaneta/gatilho de revólver), do apartamento de sua amiga, Maxine, que a recebe, sempre com a saudação “Olha, a aniversariante”, recebendo um “cigarrinho” suspeito e, ameaçando recomeçar o loop da temporada anterior, devido a uma de das burradas, resultantes de seu egoísmo, que vão bagunçando o passado, na tentativa de consertar o próprio futuro, havendo um bom trabalho dos efeitos visuais da Ingenuity Studios supervisionados por Gabriel Regentin (The Humans) nos momentos mais surreais nos últimos episódios.

 

Em certo momento, se volta à festa da noite da primeira temporada
 

O sistema metroviário de Nova York serve brevemente como cenário para a segunda temporada, em 1968 e em 2022, quando reencontramos o mendigo Horse (Brendan Sexton III de O Homem nas Trevas 2), que agora “trabalha” no Metrô (aquele que no início da primeira temporada encontra Aveia, o gato perdido de Nadia) e que demonstra de forma misteriosa “saber das coisas”, desta situação surreal, como quando diz a Nadia que “quanto mais próximo você chega do centro da Terra, mais perto você fica da verdade” , sendo um personagem que de certa forma referencia O Pescador de Ilusões (1991) de Terry Gillian. 

 

E Nova York dá as boas vindas à mais uma cidadã...



Os figurinos de Jennifer Rogien (Katy Keene) trabalham bem a caracterização dos períodos retratados, caprichando na caracterização de Lenora, e nas versões mais velhas de Vera Peschauer e sua amiga Delia (Athina Papadimitriu de Os Bórgias) em 1968/1982, e nos elegantes modelitos da jovem Ruth Brenner. 

 

O Metrô de Berlim Oriental. A direção de arte trabalha bem o lado brega so 'Realismo Socialista' em sua ênfase propagandística

 


A trilha musical de Joe Wong (Kenan) ainda pontua ocasionalmente o tema Gotta Get Up de Harry Nilsson (a “música do capeta” que Nadia chamava na temporada anterior...) intercalando com hits clássicos dos anos 80 e 60 como Bela Lugosi's Dead por Bauhaus; Put a Straw Under Baby de Brian Eno; Der Kommissar por Falco; 99 Luftballoons por Nena; Runnin' With the Devil do Van Halen; trechos de Shine On You Crazy Diamond do Pink Floyd, Get It While You Can de Janis Joplin, e utiliza trechos de Piano Concerto No 4 in G Major, Op. 58: III. Rondo: Vivace de Beethoven nos momentos ambientados em 1944. 

 

Nadia encontra a jovem Ruth Brenner (Annie Murphy) fiel amiga de sua mãe, e sua futura madrinha

 

No final de sua segunda temporada, Boneca Russa, embora de forma desigual (talvez mais um ou dois episódios permitisse fechar melhor os arcos narrativos) continua sendo uma comédia fora do padrão, com momentos engraçados e dramáticos, balanceando o sombrio, com o cômico, pois se a mensagem da 1ª temporada era sobre aceitação e superação de nossas culpas cotidianas, a 2ª temporada, é sobre como o passado modela o presente e o futuro e como ao não viver o presente, acabamos muitas vezes perdendo os últimos momentos de entes queridos. 

 

O mendigo Horse (Brendan Sexton III) como sempre parece "saber mais das coisas" do que aparenta 



Ao fazer seus dois protagonistas entenderem que o sentido da vida não é procurar por “Coney Island” (aquela coisa que tornaria tudo melhor, caso tivesse acontecido) nos convidando a apreciar cada momento da vida, ao invés de ficarem presos no mundo do “e se?”; e da mesma forma, remetendo às questões inacabadas entre pais e filhos e ao se conscientizar de que se vivêssemos as mesmas situações, não erraríamos de forma semelhante, daí a alegoria das matrioskas, que retratam uma história de amor – seja próprio, por seus familiares ou por todos que fazem parte da nossa vida (pois nunca sabemos por quanto tempo eles estarão ao nosso lado). E como diria Renato Russo seus pais “são crianças como você como você, vai ser, quando você crescer” ... 

 

Ruth Brenner  (Elizabeth Ashey) a madrinha, amiga e “mãe” espiritual de Nadia, provando em todas as épocas que o amor real é dado de graça



 


 

 

Notas:

 




*1: Contra Tempos (Quantum Leap - 1989 -1993) foi um seriado criado por Donald P. Bellisario em que o cientista Samuel Beckett (Scott Bakula de Star Trek: Enterprise) pulava de um período histórico para outro, sempre trocando de lugar com o indivíduo em questão, sempre se vendo no espelho a pessoa com a qual trocou de lugar. Ele era sempre monitorado por um holograma de seu amigo Al Calavicci (Dean Stockwel da versão de Duna de 1984) que só ele via, que lhe dava as informações necessárias para que ele corrigisse a linha temporal daquele momento, e assim pudesse voltar para casa, dando um salto quântico (quantum leep) para outro período histórico. Como o personagem vivenciava em cada episódio a experiência de ser jovem, velho, negro, mulher, escravo, etc... a série era por muitos interpretada como uma versão sci-fi do conceito de reencarnação, pois Becket poderia ser visto como a alegoria de um espírito em evolução, com cada episódio como uma vida passada que lhe ensinaria uma coisa, e o holograma seria o seu guia espiritual. 

 


*2: Matrioskas (a “Boneca Russa” do título da série) são peças de artesanato originais da Rússia que são bonecas que carregam cópias exatas ou semelhantes de figuras femininas uma dentro da outra em tamanhos decrescentes, contando simbolicamente histórias familiares, de uma mãe que carrega a filha no útero, que por sua vez carrega a neta e, assim em diante, servindo de alegoria das nossas camadas pessoais interiores.

 


*3: O Muro de Berlim foi uma barreira física construída pela Alemanha Oriental durante a Guerra Fria, que circundava toda a Berlim Ocidental. Era parte da fronteira interna alemã. Este muro, além de dividir a cidade de Berlim ao meio, simbolizava a divisão do mundo em dois blocos ou partes: República Federal da Alemanha (RFA), que era constituído pelos países capitalistas encabeçados pelos Estados Unidos; e a República Democrática Alemã (RDA), constituído pelos países socialistas sob jugo do regime soviético. Construído na madrugada de 13 de agosto de 1961, dele faziam parte 66,5 km de gradeamento metálico, 302 torres de observação, 127 redes metálicas electrificadas com alarme e 255 pistas de corrida para ferozes cães de guarda. Este muro era patrulhado por militares da Alemanha Oriental Socialista com ordens de atirar para matar (a célebre "Ordem 101") os que tentassem escapar, o que provocou a separação de dezenas de milhares de famílias berlinenses. A queda do Muro de Berlim abriu o caminho para a reunificação alemã que foi formalmente celebrada em 3 de outubro de 1990. Muitos apontam este momento também como o fim da Guerra Fria.

 


*4: Krugerrand é uma moeda de ouro da África do Sul, sendo cunhada pela primeira vez em 1967 para ajudar a vendas do metal produzido pelo país. Em 1980, o Krugerrand respondia por 90% do mercado global de moedas de ouro. O nome em si é um composto de "Kruger", e "Rand", a moeda em circulação na África do Sul. Alguns países ocidentais proibiram a sua importação durante os anos 1970 e 1980 por causa de sua associação com o governo do apartheid da África do Sul. O Krugerrand é atualmente uma moeda popular entre os colecionadores.
A produção de Krugerrands variou significativamente durante os últimos 50 anos. Durante o período 1967-1969 cerca de 40.000 moedas foram cunhadas em cada ano. Em 1970, o montante subiu para 211.018 moedas. Mais de um milhão de moedas foram produzidas em 1974 e em 1978 foram produzidos um total de seis milhões de Krugerrands. Após o fim do apartheid a produção caiu para 23.277 moedas em 1998 e desde então os níveis aumentaram novamente. São moedas trocadas nas casas de penhor nos bairros judeus, como opção ao pagamento em dinheiro (cash) caso os clientes queiram “algo mais seguro” do que o papel-moeda, mais sujeito às oscilações cambiais.

 

Ao final, é perdoando os erros dos pais que os filhos se perdoam as próprias falhas