terça-feira, 2 de março de 2021

Um Crime Honesto... - Crítica: Oito Mulheres e Um Segredo (2018)

 


"Coisa de Mulher"...
 
por Alexandre César
(Originalmente publicado em 07/ 06/ 2018)

Sandra Bullock, Cate Blanchett & Cia. fazem a festa 


Chegou a vez das meninas "brincarem"!!!

“Vocês não estão fazendo isso por mim, vocês não estão fazendo isso por vocês. Vocês estão fazendo isso por aquela menina de oito anos que está em casa sonhando um dia dar o maior golpe da história e se tornar a maior ladra do mundo. Vocês estão fazendo isso por essa menina!” 

Lou (Cate Blanchett) e Debbie (Sandra Bullock): "Sisters" na vida e no crime...

É com este emocionado discurso motivacional que Debbie Ocean (Sandra Bullock de Gravidade) conclama as suas parceiras a darem o melhor de si na execução do maior roubo de sua vida. Um roubo que planejou durante os cinco anos, oito meses e 12 dias que passou na cadeia em decorrência de uma jogada feita com Claude Becker (Richard Armitage da trilogia O Hobbit), um namorado traíra, que a deixou para trás. Após cumprir a pena, a irmã do - até agora “falecido” - ladrão internacional Danny Ocean decide mostrar ao mundo a que veio, dando um golpe milionário que honra a tradição da família no ramo do crime. Proposta edificante em seu cinismo e ironia, definindo todo o espírito do filme. Ainda bem!

 

Rose (Helena Bohan Carter): Estilista "discreta" como o atriz...

 

Dirigido por Gary Ross, a partir de sua história, cujo roteiro escreveu em parceria com Olivia Milch Oito Mulheres e um Segredo (2018) retoma o universo ficcional de Onze Homens e um Segredo (2001, de Steven Soderbergh) e estrelado por George Clooney (o mencionado Danny Ocean), que por sua vez eram baseados em filme de 1960 dirigido por Lewis Milestone com Frank Sinatra e a sua trupe, chamada (não por eles) de Ratpack (Dean Martin, Sammy Davis Jr. Peter Lawford e Shirley MacLaine, entre outros). O filme de Soderbergh teve duas continuações, em 2004 e 2007. Aqui vemos que, como os “ratos” não estão presentes, chegou a hora das gatas mostrarem as garras...

 

Daphne Kluger (Anne Hattaway) e Claude Becker (Richard Armitage): a estrela e o traíra

Debbie recruta a sua velha parceira Lou Miller (Cate Blanchett de Carol) para iniciarem os preparativos do plano: roubar diamantes que valem nada menos do que 150 milhões de dólares. Eles deverão estar pendurados no pescoço da famosa atriz internacional Daphne Kluger (Anne Hathaway de Interestelar) no evento do ano, o Baile de Gala do Metropolitan Museum of Art de Nova York, com a nata do mundo fashion e das celebridades entre seus convidados.

 

Há um espelhamento dos perfis das personagens com os da turma do filme original

Juntas, elas vão à luta recrutando os talentos necessários à execução do golpe. Compõe o seu time de especialistas: a joalheira Amita (Mindy Kaling de The Office), que quer fazer a sua independência; a golpista Constance (Awkwafina de Vizinhos 2), de mãos levíssimas e rápidas; a receptadora e ótima dona-de-casa Tammy (Sara Paulson de American Horror History); a super hacker Bola Nove (Rihanna de Valerian e a Cidade dos Mil Planetas); e a estilista decadente de moda Rose (Helena Bonham Carter de Cinderela), que abraça o golpe como a sua tábua de salvação.

 

O figurino desenha bem os perfis de cada uma das personagens

Fiel às tradições de filmes de assaltos sofisticados, acompanhamos o passo-a-passo da construção do elaborado golpe, que não economiza reviravoltas e nos brinda com diálogos afiados que funcionam graças ao carisma e talento do competente elenco (até Rihanna está bem!!!). A edição de Juliette Welfling (Jogos Vorazes) encadeia bem a construção desse esquema, onde as peças vão se encaixando uma a uma, tal qual num show de ilusionismo onde uma mão faz a mise en scène e a outra, mais discreta, faz a mágica de fato diante dos olhos de todos. 

O palco do golpe: O Baile de Gala do Metropolitan Museum of Art de Nova York

Ao longo do filme temos algumas referências aos filmes anteriores e algumas participações pontuais de personagens que trazem boas lembranças ao público que curtiu as tramoias de George Clooney, Brad Pitt, Matt Damon e etc. A própria dinâmica Bullock-Blanchett remete à química entre os personagens de Clooney e Pitt. Uma brodagem feminina.

 

Amita (Mindy Kalling)a joalheira indiana: Pouco espaço para desenvolver a personagem.

Na noite do baile, embalado pela trilha de Daniel Pemberton (O Agente da U.N.C.L.E.), vemos um desfile de participações especiais de autênticas celebridades do meio fashion (como Anna Wintour e Heidi Klum) e de fora dele (como a it-girl Kim Kardashian e as tenistas Maria Sharapova e Serena Williams), valorizadas pela fotografia de Eigil Bryld (Amor e Tulipas), que realça o trabalho do desenhista de produção Alex DiGerlando (The OA) criando espaços amplos e elegantes que situam a ação e seus protagonistas. Os figurinos de Sarah Edwards (A Vida Secreta de Walter Mitty) amarram bem a caracterização de cada personagem ressaltando sua classe social, tipo físico e perfil psicológico. E, como nos bons filmes de roubo... Ah! Vejam vocês mesmos!

 

Constance (Awkwafina) a "mão-leve": personagem pedia mais tempo para sua melhor definição, pois ela rouba a cena


É claro que nem tudo é perfeito, pois, apesar de o número de protagonistas ser menor do que em Onze Homens e Um Segredo, o tempo de tela de cada uma das oito não é tão equilibrado quanto o da maioria dos personagens no filme de Soderbergh, e alguns big closes (demasiadamente grandes!) realçam um excesso de maquiagem na face de Bullock, evidenciando uma tentativa de mascarar a passagem do tempo.

 

Nine Ball (Rihanna) e Tammy (Sara Paulson). Aparecem menos do que deveriam. A cantora está bem em cena e a dona-de-casa receptadora é uma figuraça

Ao término temos uma resolução satisfatória, pois o filme não se nega a ser o que se pretende desde o início: um filme de roubo, com personagens agradáveis e uma ar sofisticado que permeia cada pixel das imagens, e finaliza com cada uma das empoderadas golpistas seguindo seus destinos individuais, numa conclusão que, caso as bilheterias o favoreçam, pode dar um novo fôlego à saga da família Ocean - coisa que George Clayton Johnson e Jack Golden Russell, os roteiristas do filme original nos distantes anos de 1960, jamais devem ter pensado.


Women Power: "- Mulheres unidas! Jamais serão vencidas!!!"

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