Ser ou... não ser... o quê???
Delphine Dayrieux (Emmanuelle Seigner, musa de Roman Polanski) é uma escritora bem-sucedida, que está lançando o seu mais recente best-seller. Seu processo de elaboração foi extremamente dolorido por ter se baseado em sua vivência com sua falecida mãe, que deduzimos não ter sido uma pessoa de trato fácil. Aliviada por ter virado esta página, mas ainda emocionalmente fraturada, Delphine ainda tem que lidar com as cobranças dos editores pelo próximo livro - que já a assombra por causa da assustadora primeira página em branco que tem diante de si, tão intimidadora para qualquer escritor.
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Delphine (Emmanuelle Seigner) está exausta física e emocionalmente pela criação de seu último livro |
Em uma noite de autógrafos ela conhece uma fã - Elle (Eva Green), que é ghost-writer de celebridades. Elas iniciam uma amizade, tanto pelas suas afinidades quanto por seus contrastes.
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Delphine e Elle (Eva Green): A gradual aproximação da vida e da identidade do outro |
Delphine é uma mulher bonita de meia-idade, reclusa, que veste moletons e calças jeans. Tem um apartamento aconchegante e um modus operandi simples para seu trabalho, que inclui cadernetas para a anotação dos aspectos de cada livro que escreve. Elle é jovem, vaidosa, sensual, sempre super produzida com roupas de grife. Seu apartamento é super decorado e sua forma de escrever inclui fazer diagramas na parede e fichas com o perfil de cada personagem. Tudo programado com precisão militar.
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Delphine e Elle. Visuais, atitudes e modus operandi no ofício de escrever contrastantes |
A amizade delas vai se desenvolvendo com a controladora Elle se introduzindo em cada aspecto da vida da emocionalmente frágil Delphhine, pois, segundo Elle “ela precisa se afastar de tudo e de todos para escrever o grande livro está devendo a seus leitores, aquele que será definitivo”.
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Elle Seigner vai gradualmente revelando um comportamento manipulador e tóxico sobre todos os aspectos da vida de Delphine |
Assim se desenvolve Assim se desenvolve Baseado em Fatos Reais (2017), de Roman Polanski, que assina o roteiro ao lado de Olivier Assayas - responsável pelo roteiro de Personal Shopper (2016, de Kiyoshi Kurosawa). A história se ampara na química das duas estrelas em cena, que nos conduzem por esta trama de obsessão, loucura, apropriação do outro e a eterna questão do que é “real”, e o que é “versão”, uma vez que quase toda narrativa costuma privilegiar um lado da história ao desenvolver um enredo.
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Envolvimento: Química entre estrelas |
Em uma certa altura a trama lembra o clássico O Que Terá Acontecido a Baby Jane? (1962, de Robert Aldrich), por se apoiar no duelo de duas grandes atrizes, mas logo parece uma variação do tema apresentado em (1962, de Robert Aldrich), por se apoiar no duelo de duas grandes atrizes, mas logo parece uma variação do tema apresentado em Louca Obsessão (1990, de Rob Reiner), com Dayrieux no lugar de Paul Sheldon (James Caan) e Elle como a louca fã número 1 Annie Wikes (Kathy Battes, no papel que lhe deu o Oscar de melhor Atriz). A obra de Polanski nos apresenta todos os elementos visuais do gênero thriller que estamos acostumados a ver em filmes, telefilmes, séries, novelas etc. Assim, deduzimos o que deve acontecer. Mas isso não seria a isca apresentada por um habilidoso ilusionista?
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"Louca Obsessão" (1990, de Rob Reiner): Seria Elle uma nova Annie Wikes, a "fã número 1"? |
Assim, como a dama num baile, que vai sendo conduzida por seu par, Polanski nos conduz de forma segura e eficiente ao longo do filme (que, mesmo não sendo o mais extraordinário em sua carreira, ainda supera muito boa parte do que rola por aí...). Ao final somos brindados com um encerramento surpreendentemente. Fomos enganados ou nos deixamos enganar? Escreva você a sua história do jeito que lhe for mais conveniente, e enfrente a folha em branco, leitor!
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