Bolo de caixa com recheio de Nutela...
Saga distópica-juvenil chega a conclusão não grandiosa, mas satisfaz
O problema de ter visto e lido uma quantidade considerável de filmes, séries, livros, quadrinhos, etc. é que, depois de um certo tempo, você automaticamente reconhece em obras recentes semelhanças, similaridades e cópias descaradas de vários trabalhos que, se você não tivesse esse conhecimento prévio, fruiriam melhor, sem sentir aquele gosto de “já vi isto antes”, “agora vai acontecer isso ou aquilo”, tornando você um chato que vai chamar o filme de “genérico” , “formulaico” e parecer gratuitamente mais um “do contra”. Este é o caso de Maze Runner: A Cura Mortal (2018, dirigido por Wes Ball).
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Thomas (Dylan O´Brien), o herói de ação da geração millennial |
Tendo visto os dois filmes anteriores da série (Maze Runner: Correr ou Morrer, de 2014, e , de 2014, e Maze Runner: Prova de Fogo, de 2015, ambos também dirigidos por Ball) sem ter lido os livros, pude apreciá-los por suas características próprias, identificando, por exemplo, uma analogia do labirinto e da fuga dele como o dilema de sair do “útero materno”, do mundinho familiar, para enfrentar o mundo ou se estagnar. Por outro lado, foi inevitável não notar os lugares-comuns e as similaridades com outros blockbusters de temática apocalíptico-adolescente ou de ação e horror (principalmente no segundo filme da franquia). Perde-se de um lado ganha-se do outro.
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A sede da W.K.E.D. é visualmente sofisticada e imponente |
Maze Runner: A Cura Mortal continua a saga concebida pelo escritor James Daschner, com as aventuras (e desventuras) de Thomas (Dylan O´Brien de Teen Wolf), o “herói de ação da geração millennial”, contra a ”, contra a C.R.U.E.L. (no original, W.K.E.D.) corporação que procura encontrar e controlar a cura para a infestação “fulgor”, usando os jovens fugitivos dos labirintos como cobaias (uma alegoria do mundo adulto e impessoal do trabalho) personificados na Dra. Ava Paige (a ótima Patricia Clarkson de Ilha do Medo) e seu braço direito, Janson (Aidan Gillen de Game of Thrones).
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Newt (Thomas Brodie-Sangster): o coração da trama |
Iniciamos a trama dando sequência aos fatos do filme anterior, com Thomas e cia., tentando resgatar Minho (Ki Hong Lee de 7 Desejos) numa sequência de ação que mostra que O´Brien poderá - quem sabe? - substituir Paul Walker ou Tom Cruise em futuros filmes de ação (capacidade física e estampa o rapaz tem). O resgate liberta alguns prisioneiros mas falha ao salvar Minho, levando o grupo a infiltrar-se numa cidade-fortaleza murada digna de Resident Evil (os games e os filmes) onde se localizam os laboratórios da C.R.U.E.L. onde Ava, Janson e a bela e dúbia Teresa (Kaya Scodelario de Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar) que estão na reta final para encontrar uma cura para o vírus e evitar a transformação dos infectados em cranks - criaturas que não devem nada aos zumbis de outras produções recentes. Contando com a ajuda de Brenda (Rosa Salazar de CHiPS: O Filme), seu “pai” adotivo Jorge (Giancarlo Esposito de Breaking Bad), Vince (Barry Pepper de Os Kennedys) e Newt (o ótimo Thomas Brodie-Sangster de Godless, um ator que ainda irá muito longe), Thomas põe o seu plano de resgate em prática, lidando com as inevitáveis reviravoltas e - como sempre - correndo, correndo, fugindo e correndo. Afinal é para isso que os personagens da série foram feitos: fugir das prisões que representam alegoricamente as escolhas da vida adulta que, cedo ou tarde, todos nós somos obrigados a fazer. A “imunidade” que Thomas e seus amigos possuem representaria o não-conformismo às normas da sociedade. E como eles correm...
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Teresa (Kaya Scodelario) e a Dra. Ava Page (Patricia Clarkson) procuram a cura do "fulgor" |
A produção se beneficiou de um maior orçamento, que salta aos olhos nos efeitos visuais (tanto no CGI quanto no grande uso de efeitos práticos), na fotografia de Gyula Pados (Predadores ) com uma boa paleta de cores para os ambientes criados pelo desenho de produção de Daniel T. Dorrance (Os Mercenários 3), e na edição de Paul Harb (Os Mercenários) e Dan Zimmerman (A Torre Negra), que dinamiza a trama, apesar de alguns momentos arrastados que são mais culpa do roteiro do que outra coisa, abusando dos Deus Ex Machina além do ponto recomendável. Já os figurinos de Sanja Milkovic Hays (Star Trek: Sem Fronteiras) definem os personagens e suas posições na pirâmide social, de forma funcional, da mesma forma que a música de John Paesano (Os Defensores) sublinha e marca a ação, mas não apresenta nenhum tema realmente memorável.
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Janson (Aidan Gillen): vilão traiçoeiro |
Percebemos como o elenco é bom pela sua capacidade de nos fazer gostar de personagens que não têm muita profundidade, em alguns momentos até fugindo do óbvio maniqueísmo, quando percebemos as motivações da Dra. Ava e de Janson, apesar deste último se mostrar um ótimo vilão traiçoeiro, o que prova que quem uma vez for “Mindinho” (seu personagem em (seu personagem em Game of Thrones) nunca será “fura bolo” (perdoem mas não podia deixar passar essa infâmia...).
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A produção conta com bons efeitos visuais expandindo esse universo ficcional |
Ao final, apesar dos vários tropeços e as várias semelhanças a outras obras conhecidas, temos uma conclusão satisfatória da história, dialogando com as aspirações, medos e dúvidas da geração millennial. É como quando compramos uma caixa de massa pronta para bolo, e para diferenciar, adicionamos algum outro ingrediente para dar um recheio, seja uma polpa de fruta, geleia, ou Nutella, e levamos ao forno. Com sorte, se tudo correr bem e a massa não solar, teremos um bom lanche que mesmo não sendo uma iguaria culinária, enriquecerá o lanche da tarde.
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Thomas e Cia.: não-confirmismo para as escolhas da vida adulta |
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