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segunda-feira, 19 de setembro de 2022

"Aqui a vida e até a orquestra é bela!!!” Clássicos: Cabaret (1972)


 


Willkommen, bienvenue, welcome...

Frende, étranger, strange...*1

 
por Alexandre César


O musical, que mostra a ascensão do nazismo na Alemanha que levou à 2ª Guerra, prossegue como um clássico fora dos padrões do gênero até hoje

 




Berlin, 1931. A Alemanha vivia o seu histórico período entre guerras, chamado de República de Weimar. Um período cultural rico (chamado de a “Era do Jazz”) e com grande liberdade social, mas também desastroso na economia, com intensas conflagrações políticas – incluindo assassinatos – e altíssimo índice de desemprego. Neste cenário, o acadêmico britânico em filosofia Brian Roberts (Michael York, de Romeu e Julieta), oriundo de Cambridge, chega à cidade e aluga um quarto na pensão da Fräulein Schneider (Elisabeth Neumann-Vertel), a 50 marcos por mês. Seu objetivo na cidade é dar aulas de inglês. Ele conhece a norte-americana Sally Bowles (Liza Minelli, de New York, New York), que lhe chama a atenção por suas unhas coloridas (a ‘divina decadência’, segundo ela). 


Dupla improvável: Brian Roberts (Michael York), o inglês oriundo de Cambridge, e Sally Bowles (Liza Minelli) a americana "doidinha" na Berlim de 1931



Depois de quase três meses em Berlin (‘uma eternidade’, em seu entender), Brian se encanta pela ‘sabedoria mundana’ daquela garota yankee (ela alega serem apenas ‘instintos antigos’ do acadêmico bretão). Sally almeja tornar-se atriz de cinema, e trabalha à noite no Kit Kat Klub, cabaret onde “a vida é bela, as garotas são belas e até a orquestra é bela”. Seu andrógino Mestre de Cerimônias (Joel Grey, de Remo – Desarmado e Perigoso) apresenta números artísticos variados: números burlescos de duplo sentido, apresentações de Sally (a grande ’estrela internacional’ do local) em números solo ou em dupla com ele, além de lutas na lama, dentre outros exotismos. O pai de Sally é (segundo ela) um ‘quase embaixador’ sempre ‘ocupado com negócios de estado’. Mas ele nunca é visto, não comparecendo inclusive ao encontro marcado com a filha – a única cena que ele poderia de fato dar as caras. 

 

Dentre os amigos da dupla, Fritz Wendel (Fritz Wepper), o falido playboy à procura de um rico casamento, com quem estiver disponível


Através de Sally, Brian conhece Fritz Wendel (Fritz Wepper, de Der Kommissar), playboy sem posses à procura de um casamento vantajoso, e passa a lhe dar aulas. Providencialmente, entre os alunos de Brian ele conhece Natalia Landauer (Marisa Berenson, de Barry Lyndon), rica herdeira judia. Os dois acabam engatando um romance. Enquanto isso, se estabelece um triângulo amoroso entre a espevitada Sally, o certinho Brian, e o envolvente barão alemão Maximilian von Heune *2 (Helmut Griem, de Pedro, o Grande), que leva o casal para passeios, lhes dá presentes e compartilha com eles noites regadas a champagne, caviar e ‘Sangue de turco’, (tradicional bebida alemã). Enquanto vê líderes sindicais mortos nas ruas, o barão diz: “Os nazistas são um bando de rufiões estúpidos, mas eles servem a um propósito. Deixemos que eles acabem com os comunistas e depois nós os controlaremos!”. (Sei...) 

 

Fritz Wendel, junto com Natalia Landauer (Marisa Berenson), aluna de Brian Roberts, formam uma roda de amigos com Sally Bowles,

 

E assim vão se estabelecendo as dinâmicas entre os personagens numa Alemanha que vai gradativamente cedendo ao canto de sereia do nazifascismo, cujo final ainda hoje costuma se repetir vez ou outra em diversos lugares, levando a consequências trágicas... Tudo isso, ocorre surpreendentemente em um musical, um gênero considerado escapista, mas que deixa os números musicais em quase sua totalidade restritos ao próprio cabaré Kit Kat Klub, fazendo com que soem mais naturais, deixando a história ser contada. 

 

o Mestre de Cerimônias (Joel Grey) apresenta as atrações do "Kit Kat Klub", o cabaré símbolo do filme


Produzido por Cy Feuer (Piaf), Martin Baum (O Último Refúgio) e Harold Nebenzal (O Ovo da Serpente), Cabaret (1972) é dirigido por Bob Fosse (All That Jazz), que demonstra ótimo vigor narrativo na história que nos mostra e usa seus números e temas musicais para sublinhar os relacionamentos entre seus personagens e os desdobramentos do panorama político do país e do mundo daquela época, sendo sutil e contundente ao mesmo tempo.  

 

Sally faz vários números em parceria com o Mestre de Cerimônias, destacando-se a imortal “Money makes the world go around”

 

O filme tem um longo histórico, que começa com o romance semi-autobiográfico “Adeus a Berlin”, de Christopher Isherwood. Publicado em 1939, quando começa a 2ª Guerra Mundial, o livro retrata a decadente sociedade alemã em Berlin, nos últimos dias da República de Weimar, com o nazismo em plena ascensão para tomar o país. Junto com o conteúdo de outro romance de Isherwood (“Mr. Norris Changes Trains”), serviu de base para uma peça de sucesso em 1951 de John Van Druten: “I Am a Camara”. A peça ganhou uma versão cinematográfica inglesa em 1955 que manteve o nome e a atriz principal da obra que a inspirou (Jullie Harris, que havia ganho o Tony Award por sua atuação na peça), mas foi um fracasso de público. Tanto a peça quanto o filme eram comédias românticas, bem diferentes do teor trágico do livro de Isherwood. Ambos, porém, acabaram servindo de base para outra peça de teatro, desta vez um musical: Cabaret.

 

No cabaré Kit Kat Klub, “a vida é bela, as garotas são belas e até a orquestra é bela”, ou pelo menos, bem iluminada pela bela fotografia de Geoffrey Unsworthy


O musical foi encenado por Joe Masteroff (Studio One) e Harold Prince (Amor, Sublime Amor). As danças e números musicais foram assinados por Bob Fosse, com supervisão musical e arranjos conduzidos por Ralph Burns (Lenny), além de músicas adicionais por John Kander e Fred Ebb. A produção original da Broadway de Cabaret estreou em 2 de novembro de 1966, teve 1.165 apresentações e ganhou o Tony Award de 1967 de Melhor Musical. O sucesso da nova peça acabou levando a história novamente aos cinemas em 1972, também com uma nova roupagem.

 

O envolvente barão Maximilian von Heune (Helmut Griem) se une a Brian e Sally num triângulo amoroso

 Com roteiro de Jay Presson Allen (Marnie, Confissões de uma Ladra), “Cabaret”, o filme, foca no microcosmo de quatro personagens, que formam dois pares (Sally com Brian e Natalia com Fritz), tendo também Maximilian representando a elite dominante, que usa as pessoas como passatempos descartáveis, e o Mestre de Cerimônias sem nome do Kit Kat Klub, interpretado por Grey, que se apresenta como um narrador distante que tudo observa e diz com seu olhar e sorriso irônico para nós, espectadores, o rumo que as coisas tomarão enquanto a história avança.

 

Fritz Wendel, engata um romance com Natalia Landauer, mas ela receia seguir adiante devido ao clima de antissemitismo vigente

 

Temos poucas e básicas informações sobre os outros moradores da pensão, que, segundo Sally, ‘são todos falidos’. Entre eles se destaca Fräulein Mayr (Sigrid Von Richtofen), uma massagista para senhoras que tem sua sorte lida diariamente por outra moradora, Fräulein Kost (Helen Vita), uma mulher da rua ‘terrivelmente doce’. Todo o dia o prognóstico dela é sempre o mesmo: Que Mayr “irá conhecer um estranho”. E ainda temos Herr Ludwig (Ralf Wolter), que contrata os serviços de Brian para traduzir para o inglês o seu livro “Cleo, a Mulher do Chicote”, um soft pornô. Os personagens restantes não têm falas - como Elke (Ricky Renee), a loura com ‘algo mais’ – ou são figurantes.

 

No banheiro Brian, surpreso, percebe Elke (Ricky Renee), a loura com ‘algo mais’

 

Após a produção contratar para dirigir filme o mesmo Bob Fosse responsável pelos números musicais da peça de teatro *3, grandes e conhecidos atores fizerem testes para se definir quais fariam o casal de protagonistas *4. Originalmente, Bob tinha o interesse de, além de dirigir o filme, fazer o papel do Mestre de Cerimônias (que na peça atende pelo nome de Encee). Mas o produtor Cy Feuer vetou, preferindo escalar Joel Grey, já habituado com o personagem. Ele era o intérprete do personagem no musical da Broadway, pelo qual ganhou o Tony Award de 1967 de Melhor Ator em um Musical. 

 

As meninas do Kit Kat Klub, "virgens" (segundo o Mestre de Cerimônias...)


No fim, todas as escolhas foram acertadas, inclusive na linha assumida pelo roteiro. O diretor instruiu o escritor Hugh Wheeler a revisar o texto para, ao contrário das adaptações anteriores, ele fosse mais fiel às histórias do livro de Christopher Isherwood. Ainda assim, Isherwood e seu círculo de amigos criticaram como o filme glamourizou a Berlim de Weimar da década de 1930 e ignorou a pobreza esmagadora da época na cidade. A despeito dessas discrepâncias, sua esperta intercalação entre a realidade política da Alemanha, que vai se encaminhando para o pior quadro possível, e os comentários velados que os quadros musicais propõem, fazem Cabaret exibir um vigor narrativo ímpar, que não envelheceu nestes 50 anos, ainda se mostrando uma obra relevante – principalmente por sua temática social e política, lamentavelmente ainda atual.

 

O "Teatro das Sombras" era um recurso muito usado para narrativas que evocassem um tom mais fantástico ou exótico

 

Os ensaios e filmagens aconteceram inteiramente na Alemanha, em locações na Berlin Ocidental, antes da reunificação da cidade (e do país). Por razões de economia, cenas internas foram filmadas no Bavaria Atelier Gesellschaft mbh (Bavaria Film Studios), em Grünwald, nos arredores de Munique. As cenas externas ocorreram em torno de Munique e Berlim, e em Schleswig-Holstein e Saxónia. 

 

Num dos números, o Mestre de Cerimônias e suas parceiras viram seus chapéus de damas, tornando-os capacetes militares...

 

O filme tem como grande destaque seus números musicais, solos ou em dupla, de Sally Bowles (Liza Minelli) e do Mestre de Cerimônias (Joel Grey), destacando-se o dueto “Money makes the world go around” e a performance energética de Minelli em “Mein Herr” – enfatizando sua composição visual da personagem, ainda que a inspiração para ela e os que a que conheciam discordassem de sua caracterização*5. Com o auxílio de Gus Le Pre (Dinastia) e seu pai, o diretor Vincent Minnelli, Liza desenhou seu cabelo e elaborou sua maquiagem. Vincent lhe indicou como referências as ícones melindrosas da Era do Jazz, como Louise Brooks e Colleen Moore. Cabe destacar também o quanto é nebuloso o relacionamento entre Sally e o Mestre de Cerimônias. Entre trocas de olhares provocativos e caretas dos dois, fica em aberto se eles têm alguma rivalidade ou não, tal é a química dos dois em cena.

 

... passando a parodiar o clássico "passo de ganso" alemão, prenunciando a ditadura (e a guerra) que virá

 
O palco do Kit Kat Klub é a síntese mágica do lúdico, do alegórico e do satírico, presentes no teatro burlesco da época. No longa tem destaque a expertise do desenho de produção de Rolf Zehetbauer (O Barco: Inferno no Mar), da direção de arte de Jurgen Kiebach (O Insaciável Marquês de Sade) e do set dresser de Herbert Strabl (Um Marido por Favor), que, com a iluminação da fotografia de Geoffrey Unsworth (2001: Uma Odisséia no Espaço), enfatizam os recursos narrativos dos palcos da época. Um exemplo disso é o “teatro das sombras”, em que as sombras dos atores são projetadas numa tela na qual acompanhamos a história, criando um efeito estético. As coreografias de Fred Werner (Mame) e John Sharpe (Charity, Meu Amor) enfatizam o lado cartunesco e satírico, como nos números “One Man, Two Ladies” ou na “marcha” das mulheres que se tornam soldados alemães, alternada com a pichação no portão dos Landauer, quando Natalia encontra seu cachorrinho morto. Tais momentos são bem delineados pela edição de David Bretherton (Westworld: Onde Ninguém tem Alma) com poucos e precisos cortes. A edição foi feita em Los Angeles antes do eventual lançamento nos cinemas em fevereiro de 1972. 

 

Brian, traduz para o inglês o livro de Herr Ludwig (Ralf Wolter): “Cleo, a Mulher do Chicote”,um soft pornô



O make-up e hairstylying de Raimund Stangl (A Fantástica Fábrica de Chocolate) e Susi Krause (O Ovo da Serpente) enfatizam bem a caracterização carregada dos atores do burlesco Kit Kat Klub, bem como o jeito coquete de Sally Bowles e a beleza fria e distante de Natalia Landauer, tão distante e sexualmente reprimida – alguém que só poderia querer ter como amiga a liberada Sally, com seu jeito “Betty Boop” de ser. Os figurinos de Charlotte Flemming (O Castelo dos Amores Proibidos) ilustram o burlesco dos trajes dos shows do cabaré, em contraste com o luxo dos elegantes e sóbrios vestidos de Natalia Landauer, os bem cortados ternos do Barão Maximilian von Heune, e os modestos trajes (com mangas puídas e chapéu de palha) de Fritz Wendel, que anseia o coração da rica herdeira judia. 

 

Em certa altura Brian, P#t0 da vida, puxa briga com alguns nazistas, com consequências dolorosas


A escalada do avanço do nazismo no cotidiano é ilustrada em cenas marcantes, como a que intercala um número musical do Mestre de Cerimônias encenando aquela dança com tapinhas sonoros, com o brutal espancamento de um homem por três nazistas - el
e havia enxotado um deles do Kit Kat Klub na noite anterior. Ou quando Brian e Maximilian von Heune estão num restaurante de estrada quando vêem um belo jovem cantar uma pretensamente bucólica “canção alemã” *6, atestando a eficácia da música de John Kander (Diabólicos Sedutores) e de Fred Ebb (Funny Lady), exaltando o que seriam gloriosos dias do passado e futuro da nação. A câmera afasta o close, mostrando os trajes nazistas do rapaz e o crescente da plateia acompanhando-o na canção, ficando completamente galvanizada – embora na multidão haja um velhinho de olhar impotente e desiludido que sabe no que tudo aquilo vai desembocar. Brian pergunta na saída a Maximilian: “Acha mesmo que vocês poderão controlá-los?” 

 

Curiosidade: A estranha mulher com monóculo, que aparece no início do filme (entre os outros personagens da platéia do Kit-Kat Club) segurando um cigarro é baseada na pintura de 1928 "Retrato da Jornalista, Sylvia Von Harden" do pintor expressionista alemão Otto Dix
 


Outro fator sutil da trama é a bissexualidade de Brian. Ele inicialmente resiste às investidas de Sally Bowles, pois havia saído de um “relacionamento com três mulheres que não deu muito certo”. Queria ser apenas amigo da dançarina, até que um determinado acontecimento faz surgir uma forte atração entre eles e os dois se tornam amantes. Mas, quando Barão Maximilian von Heune 
entra na relação, vemos as sutis trocas de olhares, os avanços educados do nobre e o ciúme de Brian por Sally, com eles assumindo um tom de dança em seu vai e vem... A cena sem diálogos, em que a limousine de Maximilian para diante do prédio de Brian, com os dois sem trocarem palavras, mas com um “climão” mais do que palpável, é antológica. Diz tudo sem falar ou mostrar nada.


 

A questão de gênero é abordada de forma sutil, mas direta e incisiva


O filme se encerra com o número final em que Liza Minelli brilha cantando “Cabaret”, lembrando a mesma luminosidade de sua mãe, Judy Garland, na mescla de sonho, angústia e gana de seguir em frente. O Mestre de Cerimônias pergunta ao público se as preocupações de cada um agora estavam esquecidas e se despede de todos. Então a câmera percorre o reflexo de um espelho deformado, passando pela plateia congelada do teatro, se fixando em dois representantes uniformizados do partido nazista. O ovo da serpente já havia eclodido e, dali para a frente, o rumo determinado pelos acontecimentos seria inexorável. 


Autores de algumas das fontes inspiradoras do musical discordaram da caracterização de Minelli, que consideraram "uma vamp vulgar"



Tendo um orçamento de cerca de US$ 4.6 milhões, o filme teve um faturamento bruto mundial de US$ 23,7 milhões. Para os padrões da época um retumbante sucesso, que se refletiu na festa da entrega do Oscar, com o filme amealhando oito estatuetas: melhor atriz (Liza Minelli); melhor ator coadjuvante (Joel Grey); melhor diretor (Bob Fosse); melhor fotografia (Geoffrey Unsworth); melhor direção de arte & decoração de sets (Rolf Zehetbauer, Hans Jürgen Kiebach e Herbert Strabel); melhor som (Robert Knudson e David Hildvard); melhor edição (David Bretherton) e melhor música e score adaptado (Ralph Burns). E ainda teve mais duas indicações: Para Cy Feuer na categoria de melhor filme e para Jay Presson Allen na categoria de melhor roteiro adaptado. Grey é um dos raros atores a ter ganho o Oscar e o Tony pelo mesmo papel. Entre outros prêmios conquistados pelo longa, têm os BAFTA de melhor filme, direção, atriz, ator coadjuvante, direção de arte, som, figurino (Charlotte Flemming) e edição, ainda sendo indicado para roteiro e atriz coadjuvante (Marisa Berenson). Também levou os Globos de Ouro de melhor filme de comédia ou musical e melhor atriz, sendo indicado também para outras sete categorias na premiação. Liza levou para casa também o prêmio de Melhor Atriz do David di Donatello (Oscar italiano) e eternizou sua imagem na história de Hollywood

 

A cena final, com a imagem distorcida do espelho, revela o destino próximo da Alemanha

 

 

Legado do filme e de sua matriz teatral

 

Jarbas Homem de Mello (Emcee) e Claudia Raia (Sally Bowles) na versão teatral de 2011 .

 
Em 1987 a peça ganhou o seu primeiro revival na Broadway, em Nova York, com Joel Grey mais uma vez como Emcee (Mestre de Cerimônias) e Alyson Reed, como Sally Bowles.

Em 1993 houve uma versão filmada da peça para TV inglesa, dirigida por Sam Mendes (1917), com Jane Horrocks (Laura, a Voz de uma Estrela) no papel de Sally Bowles e Alan Cumming (X-Men 2) como o Mestre de Cerimônias. Este filme foi mais fiel ao texto original. 

 

Emcee (Alan Cumming) e Sally Bowles (Jane Horrocks) na versão dirigida por  Sam Mendes em 1993



Já em 1998, Alan Cumming retornou aos palcos como Emcee, com Natasha Richardson encarnando Sally. Em 2014, Cumming novamente reprisou seu papel em outra montagem, que teve uma longa lista de Sallys, tais como Michelle Williams, Emma Stone e Sienna Miller.

Aqui no Brasil, Cabaret ganhou uma montagem 1989 no Teatro Procópio Ferreira, com Beth Goulart (Sally Bowles) e Diogo Vilela (Emcee / Mestre de Cerimônias) e em 2011, com adaptação de Miguel Falabella, com Claudia Raia no papel de Sally e Jarbas Homem de Mello, no papel do Emcee.

 
O filme de Bob Fosse foi selecionado em 2003 pelo Smithsonian Institution como um dos oito filmes que preservou para as gerações futuras. E Cabaret merece mesmo ser revisto pelas gerações mais novas por se tratar de temas densos e desastrosamente atuais que precisam estar na pauta do dia enquanto não forem resolvidos: fascismo, preconceito, alienação política e problemas sociais diversos. Os mais jovens também podem apreciar conhecer o outro lado daquele período histórico de Berlim, este teatro burlesco onde “a vida é bela, as garotas são belas e, até a orquestra é bela...”.



No número final fica evidente as similaridades entre Liza Minelli e Judy Garland



Notas

*1: Os primeiros versos da introdução intercalam “bem-vindo” e “estranho” em alemão, francês e inglês.


O triângulo entre Maximilian, Brian e Sally é evidente


*2: O personagem do Barão Maximilian von Heune foi baseado em John Blomshield, um rico playboy e artista bissexual que era amigo de Ernest Hemingway. Ele aparece sob o pseudônimo de "Clive" nos livros de Christopher Isherwood em Berlim. Muitos dos detalhes da trama do roteiro do longa-metragem foram extraídos de conversas de Isherwood com a roteirista Jay Presson Allen.

*3: Billy Wilder, Joseph L. Mankiewicz e Gene Kelly foram brevemente considerados pelos produtores do filme para dirigir o projeto antes de Bob Fosse ser contratado. 


Jean Ross, a fonte inspiradora para Sally Bowles


*4: Cerca de 20 atores britânicos foram testados ou testados para o papel de Brian, incluindo Malcolm McDowell, David Hemmings, Timothy Dalton, Leonard Whiting, Jeremy Irons, John McEnery, Bruce Robinson, Tim Curry e Paul Nicholas. Já para o papel de Sally Bowles, concorreram Ursula Andress, Julie Andrews, Ann-Margret, Faye Dunaway, Jane Fonda, Jill Ireland, Glenda Jackson, Shirley MacLaine, Barbra Streisand, Brenda Vaccaro e Natalie Wood. Liza Minelli conseguiu o papel após dois testes. Isherwood, que criou a personagem Sally Bowles para um conto de 1937, sentiu que Liza Minnelli era talentosa demais para o papel. Segundo ele, Sally foi baseada em Jean Ross, uma cantora amadora de 19 anos que vivia sob a ilusão de que tinha qualidade de estrela, a antítese da "filha de Judy Garland".


"Goodbye to Berlin" de Christopher Isherwood, uma das fontes de inspiração do musical


*5: W.H. Auden observou que o filme encobria a terrível realidade histórica: "Foi uma época terrível. Todo mundo estava falido. Christopher, Stephen, Jean, os alemães, todo mundo". Jean Ross, em quem Sally Bowles se baseou, lamentou que a representação de Berlim no filme "fosse muito, muito diferente" das sombrias circunstâncias econômicas em que os berlinenses morriam de fome nas ruas. Jean foi uma aspirante a atriz, cantora e escritora que fez um aborto enquanto trabalhava como cantora de cabaré em Weimar, Berlim. Ross já estava descontente com o retrato de Christopher Isherwood fez dela em seus escritos, como apolítica e antissemita. Ela era membro do Partido Comunista e mais tarde foi correspondente de guerra na Guerra Civil Espanhola. Seu parceiro no final da década de 1930, Claud Cockburn, a descreveu como "uma mulher gentil, culta e muito bonita. Nada parecida com a vamp vulgar exibida por Liza Minnelli"

 

o jovem nazista (Oliver Collignon dublado por Mark Lambert)



*6: "Tomorrow Belongs to Me" foi escrito por John Kander e Fred Ebb no estilo de uma canção tradicional alemã para incitar o patriotismo pela "pátria". Muitas vezes ela foi confundida como sendo um genuíno "hino nazista" e, ironicamente, levou os compositores a serem acusados ​​de antissemitismo, apesar do fato de ambos serem judeus. É também a única música cantada no filme fora do ambiente de cabaré.


“- Aqui, a vida é bela, as garotas são belas e, até a orquestra é bela...”