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Dr. Estranho de Sam Raimi traz o terror ao UCM.

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Spector, Grant, Cavaleiro da Lua, as múltiplas personalidades do avatar de Konshu.

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George Perez e sua fantástica trajetória.

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The Batman, de Matt Reeves, recria o universo sombrio do Homem-Morcego.

Ser legal não está com nada...Ou está?

Lobo, Tubarão, Aranha, Cobra, Piranha...Que medo!!! Mas eles querem mudar isso.

sábado, 15 de junho de 2019

Caminho aberto para o desfecho - Crítica - Séries: Game of Thrones - 7ª Temporada

 

O inverno chegou e muralhas cairão...


por Alexandre César 
(Originalmente postado em 14/ 05 /2019)

 Mesmo derrapando em alguns momentos, a série mostra força e aquece os motores para uma conclusão apoteótica
 
 
George R. R. Martin: Daqui para frente, só linhas gerais
 
 
Agora não tem volta. Os livros já foram deixados para trás desde a temporada anterior, sobrando apenas o plot com linhas gerais deixado pelo autor George R.R. Martin para os produtores do seriado Game of Thrones se basear na elaboração dos rumos da saga de Westeros. Todo e qualquer erro ou acerto terá agora estes produtores como os dois únicos responsáveis: David Benioff & D.B. Weiss. Eles são autores da maior parte dos roteiros que, nesta 7ª temporada, foram fechando os núcleos narrativos da trama para abrir espaço para a próxima temporada, que deverá ser a última. 
 
"-Chegamos seus Lannisters f #//@ da %*!!!"

 
Ao contrário do formato em 10 capítulos das temporadas anteriores, optou-se por apenas sete episódios. Se por um lado isso redirecionou recursos para um maior investimento na computação gráfica das sequências com zumbis e com dragões (muito usados nesta temporada em cenas espetaculares com qualidade digna de cinema), por outro acabou forçando uma aceleração na resolução das tramas, prejudicando personagens que pediam um ritmo menos frenético para concluírem suas trajetórias de forma mais natural. Além disso, há mais ação, reduzindo a quantidade de diálogos afiados e reviravoltas, características que sempre foram diferenciais da série. 
 
Daenerys (Emilia Clarke) e Jon (Kit Harington): o casal que todos esperavam
 
 
Jon Snow (Kit Harington) se firma como o grande herói "pau-para-toda-obra". O tão aguardado encontro dele com Daenerys Targarien (Emilia Clarke), e o consequente relacionamento dos dois, ocorre um tanto rápido demais. Tyrion Lannister (Peter Dinklage), por sua vez, sofre revezes em sua posição de estrategista-mor da série, sendo superado por adversários que cresceram ao longo das temporadas e agora mostram a que vieram. Cersei Lannister (Lena Headey) atinge a sua plenitude como vilã da série, dominando cada cena com maestria, revelando toda a sua malícia e periculosidade em seu olhar e atitudes mesquinhas. Sua relação com seu amante/irmão Jaime (Nicolaj Coster Waldau) está abalada e este vai, pouco a pouco, tornando-se o cavaleiro que deveria ter sido. Algo que ele não se tornara por causa dos compromissos com a sua casa familiar e do seu amor proibido. 
 
Cersei Lannister (Lena Headey): vilã com "V" maiúsculo

 
 Também vemos a evolução de Sandor Clegane, o "Perdigueiro" (Rory McCann), e de Theon Greyjoy (Alfie Owen-Allen), rumando cada um para a redenção de seus erros passados. Finalmente ocorre o reencontro dos últimos remanescentes do Clã Stark: Bran (Isaac Hempstead-Whrigth), agora o "corvo -de-três-olhos", usa seus poderes para ajudar o seu núcleo familiar e as pessoas no geral, enquanto as irmãs Sansa (Sophie Turner) e Arya (Maisie Willians) acertam as suas diferenças. 
 
Bran (Isaac Hempstead-Whrigth): Revelações sobre o passado de Jon Snow
 
 
Temos o primeiro grande uso dos dragões como arma contra os exércitos dos Lannisters e do Rei da Noite, rendendo momentos marcantes, mas que não atingem todo o seu potencial devido a urgência em colocar a história em movimento. Isto gerou distorções narrativas relativas à passagem do tempo. Ainda assim o quadro geral continua acima da média entre os seriados da atualidade. 
 
 
O Rei da Noite e seu exército: adversário formidável
 
 
Apesar dos haters de plantão, Game of Thrones continua sendo uma série de primeira linha que, quando acerta, nos dá grandes momentos na história da TV, como a bela e sutil cena em que começa nevar em King´s Landing, mostrando que o inverno chegou a todos os cantos de Westeros. Os arcos envolvendo as intrigas em Dorne e Winterfell são concluídos de forma satisfatória e personagens saem da série por já terem cumprido a sua função dramática, deixando espaço para o desenvolvimento da tão aguardada guerra entre os homens e o exército dos mortos do Rei da Noite – um inimigo que nas duas últimas temporadas mostrou ser um adversário formidável, não dando trégua em seu avanço. Agora, além de contar com a vantagem numérica, ele tem uma arma de destruição em massa que provou saber usar com maestria.
 
 
"E vai seguindo a procissão..."
 
Será uma grande espera e um grande inverno...
 
 
 

 

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Criança "levada" - Crítica - Filmes: A Lenda de Golem (2018)

 

Do barro vieste...


por Alexandre César
(Originalmente postado em 16/ 06/ 2019)


Terror israelense se revela uma boa surpresa 


A inovação vem na escolha de fazer um "monstro-criança"



Na Europa central do século 17, uma vila judaica é hostilizada por pagãos. A região vem sofrendo com uma epidemia que tem causado diversas mortes e, a doença vitimiza a filha de Vladimir (Aleksey Tritenko) líder do povoado vizinho que, devido à esse fato organiza um ataque ao vilarejo onde habitam Hannah (a ótima Hani Furstemberg de American Gods) e Benjamin (Ishai Golan, numa interpretação é cheia de nuances) seu marido, causando terror e violência a população. Hannah que é uma estudiosa da Cabala (mesmo que escondida pois o conhecimento em religião era proibida para as mulheres naquela época) e uma fiel com vasto conhecimento na mitologia judaica, sugere a criação de um Golem para proteger a população dos tiranos. Desconsiderada pelo rabino Horrovits (Lenny Ravich) ela decide por conta própria salvar sua família e o povoado, recorrendo à criação do Golem. Invocado no barro, o ser ganha vida, assumindo a forma de um garoto (Konstantin Anikienko, que embora não tenha falas, tem boa presença de cena), e faz de tudo para proteger sua criadora (com quem mantém um elo similar ao de uma mãe com o filho) inclusive matar qualquer inimigo, seja ele um bando de salteadores, seja uma vizinha interessada no seu marido, com consequências funestas...

Paul Wegener como a criatura em "O Golem, Como Ele Veio ao Mundo" (1920)



Dirigido pelos irmãos Doron e Yoav Paz (Jeruzalém de 2015, Phobidilia de 2009 ) a partir do roteiro de Ariel Cohen (que é um dos co-produtores) A Lenda de Golem (2018) surpreende como um bom filme de terror, com uma boa atmosfera de época (atemporal e fabulesca ao mesmo tempo) bons valores de produção que usam bem os recursos disponíveis com a história simples mas bem construída e um elenco afinado abordando temas como a luta das mulheres face à imposição de um papel submisso na sociedade, que sufoca suas aspirações, os dilemas da maternidade e a religião como instrumento de regulação e controle do indivíduo. Filmado em Kiev, na Ucrânia, este terror israelense, calcado na fábula judaica, que já foi abordada no clássico expressionista O Golem, Como Ele Veio ao Mundo (1920) de Carl Boese e Paul Wegener (que fazia a criatura) e entre outras obras, O Carrasco de Pedra (1967) de Herbert J. Leder, com Roddy McDowall. A fábula do ser artificial trazido à vida serviu, entre outras fontes, para a criação de Frankenstein (coisa que se reflete nas suas roupas remendadas) apresentando aqui, uma releitura bastante original quanto à história original.


Hannah (Hani Furstemberg): Uma mulher à frente de seu tempo e vilarejo...


Hannah destaca-se por sua coragem e atitude (se levarmos principalmente em conta a época e o tipo de sociedade em que ela vive...) não se relacionando com o estereótipo de cientista louco, desencadeando ela, toda a trama, motivada pela perda de seu filho (e as consequências que isso lhe trouxe) especialmente no tocante à pressão social de que ela precisa engravidar novamente, pois nessa sociedade, uma mulher que não dá à luz a crianças é considerada inútil e ingrata. Mas mesmo ridicularizada pelos homens que a chamam de lunática e é vista como chacota, ainda assim utiliza de seus conhecimentos para dar vida à criatura mística para proteger os habitantes de seu vilarejo. Ela foge ao desígnio social de que a função da mulher é ser apenas uma parideira recatada e do lar. Por mais que ela tenha a vontade de ser mãe e carregue a dor da perda, ela almeja horizontes maiores.


A peste assola a região... Apesar da ambientação século XVII o filme tem uma atmosfera atemporal, de fábula



A construção de personagens é precisa, fugindo de estereótipos fáceis. Assim, Benjamin, o marido de Hanna, foge ao perfil de homem machista e controlador, sendo um parceiro amoroso, compreensivo e não-agressivo, ou partidário de medidas radicais (típicas de um homem desse tipo de comunidade) que também sofre em silêncio o trauma que o casal viveu, sendo o responsável por fornecer os livros religiosos para ela, inclusive ajudando-a nos momentos em que ela se esconde abaixo do assoalho do templo onde ocorrem as reuniões religiosas exclusivas para os homens. Sente-se o seu temor às coisas divinas, mas também seu sacrifício pela esposa.


Perigo real e imediato: Vladimir (Aleksey Tritenko) e seu bando ameaçam o vilarejo motivados pelo medo e superstição


Até mesmo Vladimir, o vilão que ameaça incendiar o vilarejo, não é totalmente mau, sendo motivado pela ignorância, por atribuir a doença de sua filha à cultura dos judeus, acreditando que seus feitiços foram responsáveis pela moléstia que acomete a sua filha, não sendo apenas um assassino, mas um homem amargurado pelo sofrimento de quem mais ama, tomando a única atitude que a sua formação tosca permite.


Hannah invoca o Golem, que assume a forma de um garoto (Konstantin Anikienko de costas), com quem assume uma relação de "filho adotivo"




A fotografia Rotem Yaron trabalha bem as paisagens, em sua maioria externas, numa palheta de cores que vai de tons vinho, e terrosos a amarelos e beges e fazendo bom uso das sombras numa atmosfera que lembra as pinturas de Brueguel, a música Tal Yardeni utiliza bem as músicas de violino tocadas por Benjamin enfatizando a construção social dessa comunidade tipicamente machista e conservadora ao máximo mas ainda sim capaz de lirismo e sabedoria, típicas da cultura judaica. A montagem Einat Glaser-Zarhin & Itamar Goldwasser compõe adequadamente o ritmo narrativo onde todas as ações têm suas consequências. O design de som de Yuval Bar-on de forma sutil sublinha as motivações e temores dos personagens em suas tomadas de decisões. O CGI apesar de limitado não prejudica o filme, pois o importante é a narrativa, e não sustos fáceis e previsíveis.





Benjamin (Ishai Golan tocando violino) e o Golem. A música sempre acalma as feras, sejam elas de qualquer natureza



Ao final podemos dizer que se você procura uma história de terror calcada em direção, interpretações e numa história bem construída e coerente, e não no gore, efeitos digitais e sustos fáceis, A Lenda de Golem é o seu filme, por fugir das conveniências do “terror shopping center” tão em voga. Infelizmente esse filme deve passar batido pelos cinemas, sendo provavelmente descoberto no futuro nas TVs por assinatura ou no streaming.





União: Benjamin e Hannah apesar de tudo, são um casal que se ama e que estão para o que der e vier


Ou até que alguém resolva fazer uma “versão americana” do mesmo. Que os céus nos poupem...





O rabino Horrovits (Lenny Ravich) tenta dialogar com Vladimir, sem muito sucesso