segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Crítica - Filmes: Turma da Mônica : Lições (2021)

 


Divertido e Profundo

por Alexandre César

A nova e visceral, aventura da turminha
 


 

 

Após passarem todo o final de semana ensaiando uma peça para o festival de teatro da escola, Mônica (Giulia Benite), Cebolinha (Kevin Vechiatto), Cascão (Gabriel Moreira) e Magali (Laura Rauseo) acabam esquecendo de fazer a lição de casa e resolvem matar a aula, saindo escondidos da escola, resultando num acidente e, eles acabam tendo que lidar com as consequências deste erro, enquanto descobrem o verdadeiro significado da palavra amizade.
 
 Plano Infalível: Cebolinha (Kevin Vechiatto), Magali (Laura Rauseo), Cascão (Gabriel Moreira) e Mônica (Giulia Benite) tentam fugir da escola, só que não...

 
 
Dirigido novamente por Daniel Rezende (Bingo: O Rei das Manhãs de 2017) Turma da Mônica: Lições (2021) deixa um pouco de lado o tom aventuresco do primeiro filme, e investe com sensibilidade, e muito bom humor, nas dores do crescimento e da necessidade de conciliar a responsabilidade, sem abrir mão dos sentimentos, fazendo deste o mais visceral filme da Turma do Bairro do Limoeiro, colocando seus protagonistas numa jornada de amadurecimento, e de auto -aceitação de si mesmos na medida em que aprendem a sair de suas bolhas, e conhecer o outro.
 
 
 
Capa da Graphc Novel dos irmãos Caffagi na qual o filme se baseia

 
Assim, Dona Luíza, a mãe (Monica Iozzi) e seu Souza, o pai da Mônica (Luiz Pacini), resolvem colocá-la numa nova escola, em tempo integral, para que ela conheça novas crianças e faça novas amizades; Seu Cebola da Silva (Paulo Vilhena) e a Dona Cebola da Silva (Fafá Rennó) colocam Cebolinha numa fonoaudióloga (para deixar de trocar os “Rs” pelos “Ls”); Seu Paulinho Lima (Beto Schultz) e Dona Lili (Ana Carolina Godoy) matriculam Magali numa escola de culinária para que ela aprenda a controlara a sua ansiedade quanto à comida e, Seu Antenor (Adriano Paixão) e Dona Lurdinha (Angélica Paula) matriculam Cascão numa escola de natação esperando que seu filho supere o medo de água...
 
 

Com um braço fraturado e isolada de seus amigos, Mônica se retrai

 
Com estes desafios, Cebolinha tem de encarar que mesmo sem Mônica no pedaço, ele não é o “Dono da Lua” pois o vácuo da ausência da “- Baixinha! Golducha! Dentuça!” é preenchido por Tonhão (Marcos Felipe Bojar) que passa a lhe fazer bullying, tendo de se esconder na hora do recreio; Magali tem de encarar suas inseguranças, Cascão tem de bolar estratagemas para evitar cair na piscina e a tão autoritária Mônica, se retrai por não conhecer ninguém na escola, ficando fragilizada à ponto de perder uma disputa com Pedrão (Vitor Queiroz) um garoto grandão e cabeludo, tipo emo.
 
 
Na nova escola, Mônica se ampara na  Professora (Malu Mader)

 
O roteiro de Thiago Dottori (Psi) com a colaboração de Mariana Zatz (Ninguém Tá Olhando) e Marina Maria Iono (Bugados) baseado na graphic novel dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi, trabalha com as motivações dos personagens e seus sentimentos, sem cair na farofada sentimentalóide e banal investindo em seu âmago de forma segura. É particularmente sagaz a forma como o roteiro faz as crianças entenderem o paralelo entre as hostilidades entre as famílias de Mônica e Cebolinha e a dos Capuletos & Montechios de Romeu e Julieta, a peça que eles estavam ensaiando (e aqui um grande easter-egg com uma das publicações clássicas dos personagens, já levada à animação ao teatro) mas até lá
A montagem de Marcelo Junqueira (Legalize Já- Amizade Nunca Morre de 2018) que imprime um ritmo certo à narrativa, dosando os momentos de ação e brincadeira com outros mais sensíveis e reflexivos, como quando dentro da máxima “os adultos brigam, as crianças sofrem”, é particularmente tocante a cena em que uma Mônica solitária, ao dormir, pega seu coelhinho Sansão e ela mesma, chorando, lhe amarra as orelhas, para assim sentir a presença de Cebolinha. Mais profundo que muita cena de novela... 
 
 
Comunidade alternativa:Tina (Isabelle Drumond), Rolo (Gustavo Merighi), Pipa (Camila Brandão) e Zecão (Fernando Mais) dão o toque universitário à história

 
 
Mas é claro que nossos heróis vão encarando seus desafios e, com o surgimento de novos amigos, vão encontrando os seus “caminhos das pedras” para vencer os empecilhos. É particularmente reconhecermos personagens deste universo ficcional surgirem para dar uma força, e então ao longo do filme surgem, do lado da Mônica Tina (Isabelle Drumond) Rolo (Gustavo Merighi), Pipa (Camila Brandão) Zecão (Fernando Mais) uma trupe de jovens de estilo universitário (e meio riponga), a desenhista Marina (Laís Villela), Dudu (Giovani Donato) o primo de Magali, e alguns conselhos ainda lhe são dados por sua Professora (Malu Mader). Magali faz amizade com a meiga Milena (Emily Nayara) que lhe apresenta o gato Mingau, e Tia Nena (Eliana Fonseca) sua professora de culinária lhe ensina que fazer a comida é uma forma de degustá-la com todos os sentidos, sendo o paladar o último a ser experimentado (controlando assim sua compulsão). Cascão conta com o insólito Do Contra (Vinícius Higo) para entender que ele pode fazer tudo que os outros fazem e ainda assim ser único, e Cebolinha no banco de espera da fonoaudióloga, toma o mudo e comunicativo Humberto (Lucas Infante), como “analista” para verbalizar o quanto Mônica é importante para ele. Todos do seu jeito vão absorvendo as “Lições” do título, de forma orgânica, e bem humorada.
 
 
Logo Mônica faz amizade com a desenhista Marina (Laís Villela),


 
No ato final temos a reunião do grupo, com o reforço de personagens conhecidos como Nimbus (Rodrigo Kenji), e o engenhoso Franjinha (Tiago Minski Schmitt), elemento-chave para o time conseguir montar a peça no festival da escola e apaziguar os ânimos numa montagem toda própria dos Apaixonados de Verona que embora diferente em seu final, provavelmente Shakespeare curtiria...
 
 
Dentre s novos rostos, temos a meiga Milena (Emily Nayara)que cuida de animais

 
Visualmente belo, o filme conta com ótimos valores de produção como o desenho de produção de Cássio Amarante (As Melhores Coisas do Mundo de 2010 e Bingo: O Rei Manhãs) e a direção de arte de Mariana Falvo (Órfãos do Eldorado de 2015 e O Doutrinador de 2018) que recria o Bairro do Limoeiro nas ótimas locações de Minas Gerais*1 com sua pracinha com barraquinhas de sorvete e cachorro-quente e banca de jornais, de aspecto atemporal, misto de cidade do interior e subúrbio dos anos 60/70 e suas casinhas com telefones fixos e vários elementos auxiliados pelos efeitos visuais de Natália de Martini (Uma Quase Dupla) e Marco Prado (Acquaria) permitindo-nos ver rapidamente numa cena Bidu, o cachorro azul do Franjinha (Floquinho, que roubou a cena no filme anterior é o grande ausente) apesar de ser uma produção mais enxuta que seu antecessor, que teve de encarar cortes e adiamentos*2.
 
 
Tia Nena (Eliana Fonseca) ensina à Magali a como controlar o seu apetite através da culinária

 
Não faltam citações à personagens do universo de Maurício de Souza como Jotalhão, Horácio e até Bugu. Os figurinos de Fernanda Marques (Hard) e Manuela Mello (Malasartes e o Duelo com a Morte de 2017)  definem e caracterizam bem os personagens sem deixá-los datados, e a bela fotografia de Azul Serra (O Mecanismo) com rica palheta de cores, tendo boas nuances de claro e escuro mantendo o clima lúdico da trama, embalado pela trilha sonora de Fabio Goes (Mulheres Alteradas de 2018).
 
 
Do Contra (Vinícius Higo) leva o Instrutor de natação (Augusto Madeira) ao limite

 
Ao final Turma da Mônica: Lições segue firme mantendo o rumo das jornadas de vida da Turma do Bairro do Limoeiro trabalhando a dinâmica Mônica-Cebolinha, e sua relação de antagonismo (e mais adiante atração), abrindo caminho para Lembranças, a terceira obra dos irmãos Cafaggi, mas que, devido ao inevitável crescimento se seu elenco juvenil, talvez a produção se veja obrigada à escalar novos atores ou, incorporar este crescimento, dando um enfoque mais próximo da Turma da Mônica Jovem, a bem-sucedida versão mangá destas personagens, levando os embates à outros patamares, que possivelmente os levarão a serem um casal no futuro, mas até lá, muitas surras Mônica dará em Cebolinha, e desencontros ocorrerão, à despeito de seus “planos infalíveis” que nunca dão certo...

As locações em Poços de Caldas se mostraram mais do que adequadas pra recriar o "Bairro do Limoeiro" de forma crível e aconchegante





Notas:
 
*1: O filme foi gravado inteiramente em Poços de Caldas, MG. O elenco chegou no local das filmagens no dia 7 de janeiro de 2020, e voltaram para São Paulo após o termino das filmagens no dia 12 de fevereiro de 2020, poucas semanas antes da pandemia do COVID-19 no Brasil.
 
*2: Inicialmente o filme estava marcado para o dia 8 de outubro de 2020. Depois foi adiado para 10 de dezembro de 2020. Porém foi novamente adiado (devido `pandemia do COVID-19) para o dia 24 de Junho de 2021. Até recentemente o filme estava programado para estrear no dia 30 de dezembro de 2021 nos cinemas.


"- Ó minha amada Julieta! Espelo que semple se lemble de mim!!!"


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