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Dr. Estranho de Sam Raimi traz o terror ao UCM.

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Spector, Grant, Cavaleiro da Lua, as múltiplas personalidades do avatar de Konshu.

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George Perez e sua fantástica trajetória.

Eu sou as sombras.

The Batman, de Matt Reeves, recria o universo sombrio do Homem-Morcego.

Ser legal não está com nada...Ou está?

Lobo, Tubarão, Aranha, Cobra, Piranha...Que medo!!! Mas eles querem mudar isso.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

O Show da Poderosa!!! - Crítica: Alita - Anjo de Combate (2019)


"Zoiuda" encantadora

por Alexandre César


Robert Rodriguez traz a melhor adaptação de um mangá/anime



  Cerca de 300 anos após “A Queda” - um confronto global que envolveu a Terra contra a RUM (Repúblicas Unidas de Marte) - Zalen, a única cidade terrestre remanescente quase intacta, continua flutuando acima da superfície - embora o seu pináculo central continue destroçado pelo conflito. A cidade flutuante, ancorada por colossais amarras, mantém uma relação simbiótica com o que restou da Cidade do Aço, localizada logo abaixo: uma metrópole devastada pelo conflito e cuja área central é um lixão onde é despejado constantemente todo e qualquer refugo tecnológico da metrópole aérea. Os habitantes do lixão peneiram para encontrar qualquer item aproveitável para fazer componentes protéticos mecânicos ou qualquer gambiarra que lhes ajude no dia a dia.


Dr. Dyson Ido (Christoph Waltz) dá o nome de sua falecida filha, Alita, à recém-chegada

 
O sonho de todos que vivem na Cidade do Aço é um dia juntar dinheiro e ir morar naquele paraíso nas nuvens. Para isso trabalham nas fazendas, no comércio, em qualquer setor que alimenta a metrópole aérea, em meio às dificuldade do dia a dia. No lixão, parte de uma ciborgue é descoberta pelo Dr. Dyson Ido (Christoph Waltz), um cientista que tem uma clínica que ajuda os mutilados ou detentores de má formação, reconstruindo partes protéticas. Embora não tenha memórias de sua origem a ciborgue Alita (Rosa Salazar, de Maze Runner – A Cura Mortal) revela grande habilidade de combate. Enquanto busca informações sobre seu passado, ela arruma um trabalho como caçadora de recompensas (pois o que não falta por lá são ciborgues malfeitores) e, à medida que recobra suas memórias, descobre as coisas simples que nos fazem humanos, como o senso de unidade familiar, a amizade e o amor.

A direção de arte foge do lugar comum cyberunk ao estilo "Blade Runner",criando um mundo real e palpável
Romance fofo: Alita e Hugo (Keean Johnson), o jovem trabalhador que tem um segredo. Mas o amor faz milagres...

    Embora parta de uma premissa para lá de genérica - que já vimos em centenas de filmes, séries, quadrinhos, animações, games etc - Alita – Anjo de Combate (2019) surpreende com um frescor e domínio narrativo inesperado, fruto da conjunção de três nomes: Robert Rodriguez (Sin City, de 2005) na direção e da dupla James Cameron e Jon Landau (Titanic, de 1997 e Avatar, de 2009) na produção. E se revela, até o momento, a melhor adaptação de um mangá/anime (quadrinho/ animação japonesa) feito em Hollywood. Ele é baseado em Battle Angel Alita, de Yukito Kishiro, um mangá recomendado com muita atenção por Guillermo del Toro para o colega James Cameron, que se encantou com o conceito - embora o projeto d transformá-lo em filme tenha sido adiado vezes sucessivas devido ao trabalho de Cameron no filme Avatar e suas sequências.


Neste mundo distópico, a alta tecnologia convive com a estratificação social

Em 2015 Robert Rodriguez embarcou no projeto, trabalhando inicialmente em cima do roteiro de Cameron e Laeta Kalogridis. Rodriguez condensou num resultado feliz as 186 páginas de roteiro de Cameron e combinou com as 600 páginas de anotações no que seria o roteiro de filmagem, satisfazendo Cameron, que lhe ofereceu a direção do filme. Percebe-se não temos aqui “um filme imitando um anime”, mas um filme que tem pique narrativo e jeito de anime. E não só na parte visual, mas na estruturação do roteiro, resultando num filme que é realmente feito para jovens, por alguém que consegue pensar como jovem e não um velho se fingindo de jovem, mas não se arriscando por medo de ousar e “quebrar a cara”. Rodriguez soube dosar o ar juvenil na narrativa (afinal a cinesérie Pequenos Espiões - com filmes lançados em 2001, 2002, 2003 e 2011-, além de As Aventuras de Shark Boy & Lava Girl, de 2005, serviram de laboratório para que ele entendesse o cinema infanto-juvenil) e usou bem seu amplo domínio de utilização da tecnologia disponível (aprendido nos anos iniciais da carreira, como realizador de clássicos B e Trash) para contar uma história da melhor forma possível.
 

Alita: Uma adolescente com o coração na mão (mesmo!)

 
A direção de arte, a fotografia de Bil Pope (da trilogia Matrix) e os efeitos visuais acertaram em cheio ao criar um mundo pós-conflito global, mas não pós-apocalíptico, evitando tal como ocorre em Jogador Nº1 (e foram até melhor...),o estereótipo da “megalópole futurista sombria sempre chovendo” tipo Blade Runner. Ele opta por um mundo palpável onde a tecnologia, mesmo que de segunda mão, está incorporada ao cotidiano. Onde a cidade é perigosa, mas as pessoas trabalham, criam seus filhos e sonham tentando viver da melhor forma possível. Como vemos esse mundo com os olhos lúdicos (e que olhos... ponto para a Weta Digital!!!) e inocentes de Alita, não caberia uma visão de ambiente sinistra. 

Chiren (Jennifer Connely), a fria ex-mulher do Dr. Dyson. Personagem que pedia um maior desenvolvimento de seu arco

 
O perigo existe - mostrando volta e meia a sua cara feia, como é a face do do cyborgue criminoso Grewishka (Jack Earle Haley, de Watchmen e do seriado Alvo Humano), baseado em Grewcica, personagem do  OVA (Original Video Animation) Battle Angel, que age em acordo com Vector (o oscarizado Mahershala Ali), um líder do submundo. Vector arma as partidas de Motorball, esporte com gladiadores, híbrido do clássico Rollerball (1975, de Norma Jewison) e das corridas norte-americanas de Nascar. Completam este rico universo ficcional: Zapan (Ed Skrein), um arrogante ciborgue caçador de recompensas; Hugo (Keean Johnson), o interesse amoroso de Alita - bad boy mas de bom coração - que a ensina a jogar Motorball; Gelda (Michelle Rodriguez), uma ciborgue que treinou Alita e aparece em flashbacks; e Chiren (a bela diva Jennifer Connelly), a ambiciosa ex-mulher de Dyson que divide tramoias e o leito com Vector. Todos estes são lacaios de Nova, misterioso vilão ligado ao passado de Alita que observa a tudo e a todos de sua base segura em Zalen.
 
Grewishka (Jack Earle Haley) a face feia do perigo...

Zapan (Ed Skrein): o seboso ciborgue caçador de recompensas

 
Salazar, auxiliada pela tecnologia de captura de performance convence - apesar de já estar entrando nos trinta - como uma adolescente (superpoderosa e cibernética, mas ainda uma adolescente) cheia de sonhos e anseios, capaz de dar o seu coração (literalmente) pelos que ama. Ela carrega bem o filme - com sua dose de dramalhão (como todo anime), humor e ação -, revelando boa química com o elenco, em especial com Johnson, seu par, e com Christoph Waltz, que caminha a passos largos para ser o novo Max Von Sydow (ator consagrado que não se importa de participar de produções comerciais enquanto não pinta “aquele filme” que aumentará a sua já estabelecida consagração...). Waltz e Salazar estabelecem uma boa dinâmica de pai amoroso e filha rebelde e Connelly convence como mulher fria e ambiciosa, mas não imune à boas ações apesar de seu arco não se concluído de forma satisfatória (talvez, na continuação, possamos conhecê-la melhor....). 
 

O jovem casal sonha e faz planos...
Vector (Mahershala Ali) líder do submundo e Chiren (ao fundo) obedecem ao misterioso "Nova", o real vilão.
 
A arena de "Motorball": o lado vídeo game do filme é abraçado plenamente com bons resultados

 
No computo final, Alita –Anjo de Combate se revela uma grande e bela surpresa, com tudo para agradar ao público com seu visual rico, que sabe dosar o cyberpunk e o vídeo game. Narrado com competência e não subestima a inteligência de seu público procurando usar aquele pensamento de que  “basta botar explosões e edição acelerada e está feito!”
 
Os "Parças" James Cameron & Robert Rodriguez: Feliz união de forças criativas

 
Cameron e Rodriguez, a dupla improvável, mostraram que não importa quão batida seja a história, mas sim, como contá-la de forma inteligente e sem excessos. E que venha Alita II ou 2!
 
- Vai encarar???
 

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

O retorno da bela de chifres - Crítica - Filmes: Malévola: Dona do Mal (2019)

Flertando com Game of Thrones...

 

por Alexandre César 

(Originalmente postado em 17/ 10/ 2019)


 Angelina Jolie e Michelle Pfeifer em duelo de divas


O primeiro filme de 2014 provou que uma mulher de chifres pode (e muito!) ser linda e cativante!!!

 
Nestes tempos de luta violenta por reafirmar as suas propriedades intelectuais em franquias lucrativas a Disney tem se deparado com as seguintes alternativas: Refilmar os seus clássicos mais populares da animação, muitas vezes sacrificando a expressividade da animação em função do uso de atores conhecidos encarnando seus personagens e de um fotorrealismo via CGI e captura de movimentos que, dependendo das forças criativas no roteiro e direção produziram resultados bem diversos fosse pelo mergulho no conceito clássico original (Cinderela de 2015 de Kenneth Branagh) fosse pela mera submissão à`tecnologia (O Rei Leão de 2019 de Jon Favreau), ou então, procurar criar uma linha narrativa distinta, como se fosse passado num universo paralelo ao dos clássicos da animação (como os elseworlds dos quadrinhos da Marvel e DC) subvertendo os cânones para olhar a trama sobre uma nova ótica, pautada em valores e problematizações mais contemporâneos, muitas vezes para horror dos mais puristas. Dentro desta linha posicionam-se Alice no País das Maravilhas (2010) de Tim Burton e Malévola (2014) de Robert Stromberg.


Passados 5 anos, a filhinha vai virando mulher, para o desespero da "mãe" (Angelina Jolie)

 
Fruto da roteirista Linda Woolverton (que roteirizou Alice, A Bela e a Fera, e O Rei Leão original) que reinterpretou a históra da “feiticeira má, muito má, muito má” que enfeitiçou “a linda rosa juvenil” (como dizia a musiquinha de roda da nossa infância caros velhos nerds...) tirando o peso do nome da protagonista como determinante de seu caráter*1, ficando este apenas por sua sonoridade, como se fosse um nome como outro qualquer e aliando de forma sutil a questão da pauta feminista às relações da cultura cristã e patriarcal que reescreve as narrativas, se apropriando de temas de origem pagã, determinando quem é bom ou mal de acordo com suas necessidades.


A bela Rainha Ingrith (Michelle Pfeifer) mãe de Felipe (Harris Dickinson) que ficaria mais à vontade em Westeros

 
Em que pese uma série de falhas estruturais do roteiro, a sua espetacular direção de arte, figurino e ótimos valores de produção caíram no gosto popular graças sobretudo ao carisma de sua protagonista , Angelina Jolie e a sua entrega ao papel que mostraram a toda uma geração de meninas que uma mulher, se for confiante de seu valor, pode seguir o seu caminho superando problemas como violência, o estupro e outros impedimentos colocados em seu caminho, sem ter de se sujeitar à vontade de um homem (a cena em que Stefan corta as suas asas, após lhe dar um boa noite cinderela” é uma ótima alegoria não só do estupro, como da mutilação genital praticada em muitos países islâmicos) e seguir em frente não tendo vergonha dos seus chifres, que aqui se tornaram um símbolo do seu orgulho e beleza. Parte da crítica e do público fundamentalista detestou, mas o sucesso, e seus U$ 758,5 milhões de bilheteria regaram a semente e era só uma questão de tempo até encontrarem uma forma de fazer a continuação de uma história que parecia fechada... ou não?


Aurora (Elle Fanning), Malévola e Diávolo (Sam Riley): Os representantes de Mohrs

 
 Dirigido por Joachim Rønning (Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar de 2017 e Expedição Kon Tiki de 2012, ambos com Espen Sandberg) Malévola: Dona do Mal (2019) traz novamente Angelina Jolie, cada vez mais diva e segura de si, ao papel que consagrou e cuja beleza para lá de exótica a toda uma legião conquistou, colocando a anti-heroína face a questões pontuais como a imposição da submissão da mulher à sociedade, o avanço do reacionarismo, a intolerância a até, as fake news que espalham o medo entre os povos, dividindo-os para depois, conquistá-los. É claro que como é um blockbuster da Disney não devemos esperar algo demasiadamente profundo e impactante, mas que a alegoria está lá, olha com atenção espectador, que está...



Como diz o título de um filme clássico: "Adivinhe quem vem para jantar?"

 
No roteiro de Woolverton (reescrito por Jez Butterworth em colaboração com Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster) já se passaram cindo anos, e a lenda da Bela Adormecida se espalhou por todos os reinos e para surpresa de Malévola, apesar de sua redenção pessoal, ela continua a ser retratada como uma bruxa maligna, indigna de simpatia. Neste contexto, a Princesa Aurora (Elle Fanning, fofa e cativante) regente do reino mágico de Mohrs é pedida em casamento pelo Príncipe Felipe (Harris Dickinson, substituindo Brenton Thwaites) e... finalmente ela aceita, para preocupação da super-protetora madrinha, por ainda não confiar plenamente nos humanos. Os regentes do reino vizinho, pais do noivo são o bonachão gente boa Rei John (Robert Lindsay) e a bela e ambiciosa Rainha Ingrith (Michelle Pfeifer, ótima no “modo Cersei Lannister de Game of Thrones) que rancorosa por confrontos passados de sua dinastia com Malévola, não vê a hora de por as mãos nas terras e recursos de Mohrs, depois é claro, de se livrar de todos as fadas e aqueles outros seres elementais incômodos, os “povos da floresta”... Familiar não???


O "tempo fecha" paraa a Senhora de Mohrs, graças às maquinações da Rainha

 
Auxiliada pelo fiel escudeiro Diávolo (Sam Riley) Malévola tenta polir seu trato social para causar um boa impressão na corte do noivo. Durante o jantar de apresentação, fica evidente o conflito iminente entre as duas casas, refletidos nos impecáveis trajes, atestando aqui a competência da figurinista Ellen Mirojnick (O Rei do Show, Minha Vida com Liberace, Tropas Estelares) que captam o luxo e ostentação com um toque demodê da nobreza, em contraste com a elegância sóbria e despojada dos povos mágicos. Apesar de seu esforço “diplomático” (de não “cair matando”...) tudo dá errado, colocando Malévola contra Aurora, e incriminando-a em um atentado para logo em seguida ser ferida em fuga, e depois ser resgatada inconsciente e levada a descobrir o santuário do seu povo, que há muito ela julgava perdido.
 


As aparências enganam: Conall (Chiwetel Ejiofor) o pacífico líder do povo alado, de onde Malévola se origina

 
Surge aqui uma interessantíssima adição à mitologia da personagem, que esperamos ser futuramente mais expandida: Os auto intitulados “Filhos das Trevas”, liderados pelo pacífico Conall (Chiwetel Ejiofor de O Rei Leão e Doutor Estranho) se constituem uma união de seres alados de várias partes do mundo, com grande diversidade racial nos traços, cor de pele, olhos, cabelos e formatos de chifres, que foram se afastando à medida que os reinos dos homens cresciam e se expandiam, sendo descendentes de um ser mítico chamado “Ave Fênix” (Bom, agora a Marvel é Disney não?!) da qual, por seus poderes de transmutação, Malévola é a descendente direta. Aqui devemos ressaltar a incrível trabalho do Design de Produção de Patrick Tatopoulos (Liga da Justiça, Eu, Robô, Cidade das Sombras) e da equipe de direção de arte e de caracterização dos personagens, bastante similares em termos de estrutura social aos Navihs de Avatar (2009) de James Cameron, e também tendo um quê”de O Paraíso Perdido de John Milton, pois estes seres alados tem o seu refúgio numa grande caverna subterrânea, parecendo uma reinterpretação do conceito de “anjos caídos” (os neopentecostais vão “adorar”...) temperados com um toque de ”United Colors of Bennethon”. Inclusão é pauta de ordem.
 


O guarda-roupas real é uma boa analogia aos "bons modos" que escondem atos e interesses escusos

 
 Aurora é acolhida pela futura sogra, e vai se submetendo às imposições dela para se tornar uma “bela e recatada do lar” até chegar o ponto de descobrir as maquinações da Rainha, cuja corrida armamentista e a campanha de caluniar a reputação de Malévola tem como objetivo a expansão territorial e dominar do reino de Mohrs, com direito inclusive a uma paródia (mais branda é claro...) do ”casamento vermelho” de Game of Thrones.
 


feminilidade tóxica: em contraste com a relação Malévola-Aurora, a Rainha Ingrith e Gerda (Jenn Murray) representam o lado negro das alianças femininas

 
Obviamente Malévola recupera sua força e há uma grande batalha entre os homens e sua tecnologia bélica e os “Seres das Trevas” alados e, tendo ao final a vitória das forças da justiça e do entendimento, culminando no casamento do príncipe e da princesa e, na fusão dos reinos estabelecendo a convivência pacífica dos povos (e você duvidava de que isso não fosse acontecer, não?).
 


Tal qual Felipe, O seu pai Rei John (Robert Lindsay) mostra um modelo de masculinidade mais acolhedora e amorosa

 
Os personagens falam e fazem o que o roteiro pede de forma básica, sendo assim, Felipe é o príncipe galante de boa índole numa mostra de masculinidade gentil, Diávolo, que agora tem menos espaço em cena do que no filme anterior continua sendo o equivalente ao amigo gay da heroína, caso estivéssemos diante de uma comédia de Julia Roberts ou Sandra Bullock, da mesma forma que o trio das fadas atrapalhadas Flittle (Lesley Manville), Thistlewit (Juno Temple) e Knotgrass (Imelda Stauton) são meros alívios cômicos, o Rei John é um regente amoroso que contrasta com a sua ambiciosa esposa (o que nos leva a questionar a sua competência por não notar as intrigas da Rainha correndo enbaixo de seu nariz...), embora outros deixem interrogações no ar como Gerda (Jenn Murray) a fiel escudeira da rainha, cujo visual um tanto andrógino remete à jovem Tilda Swinton em Orlando, A Mulher Imortal(1992) de Sally Potter ou Borra (Ed Skrein de Alita: Anjo de Combate e Deadpool) o impetuoso guerreiro alado com toques de William Wallace de Coração Valente (1995) de Mel Gibson cujas trocadas rápidas de olhar sugerem que futuramente, caso haja um terceiro filme, poderá haver match para Malévola, a solitária Senhora de Morhs.
 

Os "Seres das Trevas" são uma ótima adição à mitologia da história, pedindo um maior desenvolvimento futuro

 
A música de Geoff Zanelli (Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar) embala a trama eficientemente, e a fotografia de Henry Brahan (Guardiões da Galáxia Vol. 2, A Lenda de Tarzan) valoriza em belos closes a beleza de suas atrizes e os seus incríveis ambientes, aliada à edição de Laura Jennings (No Limite do Amanhã, 007 – Operação Skyfall) e Craig Wood (Homem-Formiga e a Vespa, A Grande Muralha) acertam o ritmo das cenas de ação eficientemente, aliados aos efeitos visuais da Moving Picture Conpany e da Mill Film que mostram bem a diferença de combate entre um povo avançado em tecnologia bélica e estratégia e de um que guerreia de forma instintiva, ainda que com maior força física e capacidade de vôo.
 

A Rainha vai a guerra com tudo!!!

Ao final, entre erros e acertos podemos afirmar sem sombra de dúvida, nestes tempos de personagens femininas fortes e de universos de super-heróis a seguinte frase:

Malévola, no auge da luta mostra porque é descendente da "Ave Fênix"...

- A Marvel têm a Viúva negra, a Vespa, a Capitã Marvel e a Feiticeira Escarlate (entre muitas outras...), A DC têm a Mulher-Maravilha, a Supergirl, a Batgirl, a Zatanna e a Mulher-Gato (entre muitas outras também...) e a Disney

- Ah! A Disney tem a Malévola, e está de bom tamanho!!!”

Ao final, só amor entre mãe e filha é o que conta...


"- Nos vemos em breve na sequência meus súditos!!!"

Notas:

*1: Malévola: Feminino de malévolo (Que possui uma péssima índole; que é mau; malvado. Que causa o mal a alguém; que tende a ser pernicioso;...) . O mesmo que: maia, perversa, malvada, maldosa, maléfica, malfazeja, maliciosa. Que possui... adj. (do dicionário online de Português)


quinta-feira, 10 de outubro de 2019

O vício da dor e da perda - Crítica - Séries: O Justiceiro - 1ᵃ temporada

 

“GUERRA” é guerra?!?
 
 
por Alexandre César
(Originalmente postado em 29/ 09/ 2019 ) 

E Jon Bernthal encontra o papel de sua vida



Origens: Em Kandahar, os irmãos em armas Frank Castle (Jon Bernthal) e Billy Russo (Ben Barnes, de touca) servem à patria, "para trazer paz ao mundo"...


Frank Castle  era um patriota. Amava o seu país, e como extensão natural a sua família,  tendo jurado defender ambas de seus inimigos, indo parar no Afeganistão, como fuzileiro, e participado de missões especiais e feito coisas indizíveis para segundo os seus superiores, “manter a América segura de seus inimigos”. Findo o seu período no front e retornando à vida civil, tentando esquecer os fantasmas da guerra e o seu contato com o “ lado negro”, a sua família é morta num tiroteio entre gangues, um “efeito colateral” da guerra urbana levando o nosso herói a adotar a identidade de o Justiceiro e expiar seus pecados, combatendo o crime e fazendo justiça com as próprias mãos... Simples, não?


"- Trarei a Paz, nem que tenha de matar a todos os 'Motherfuckers' do mundo!!!"



Seria simples se estivéssemos na década de 70, quando Charles Bronson e Clint Eastwood barbarizavam no cinema como Paul Kershey e Larry Calahan nas cineséries Desejo de Matar e “Dirty” Harry, as duas, fontes de inspiração de O Justiceiro, nova série Marvel/Netflix, baseda no personagem de quadrinhos da "Casa das Idéias", onde Jon Bernthal, que já havia interpretado o personagem na segunda temporada de Demolidor, aqui tem o seu vôo solo, constatando que o grande inimigo por trás das mortes de sua família e de muito mais gente... é a própria trindade CIA - Exército AmericanoNSA, dentre outros pilares institucionais dos “valores americanos”.

 


Aliança entre "homens mortos": Castle une forças ao hacker David Lieberman (Ebon Moss-Bachrach) para ferrar com seus antigos chefes



 
Na sua cruzada de vingança contra aqueles que tiraram o seu “porto seguro” no mundo, Castle acaba formando (ainda que relutante) uma aliança com o hacker David Lieberman/Micro (Ebon Moss-Bachrach) dado como morto para proteger a esposa Sarah (Jaime Ray Newman) e filhos. A química entre os dois atores é muito boa, criando uma ótima dupla disfuncional. Ambos vão atrás o todo-poderoso William Rawlins (Paul Schulze), escroto à toda prova e mentor das “operações especiais” do grupo de Castle no Afeganistão, envolvido com tráfico de drogas, “queimas de arquivo” e toda sorte de abusos que forças de ocupação costumam praticar em nome da paz e da segurança nacional.
 

Pela América: O Mal. Schoonover (Clancy Brown) e William Rawlins (Paul Schulze) criaram as "Operações Especiais" para tudo, menos fazer do mundo um lugar melhor...

 

A dupla cruzará com as investigações da agente especial Dinah Madani (Amber Rose Revah) de origem árabe, que apura abusos do exército. Ela inicialmente se envolve com um antigo companheiro de unidade de Castle, Billy Russo agora empresário da área de segurança privada (o eterno Príncipe Caspian Bem Barnes, que desde Westworld vem se especializando em personagens ”bonitinhos mas ordinários”) com quem protagoniza cenas quentes. 

 

Curtis Hoyle (Jason R Moore): Amigo nas horas difíceis de Frank, acostumado a lhe fazer curativos e suturas

 

Temos ainda no elenco de apoio Sam Stein (Michael Nathanson) parceiro de Madani e seu fiel escudeiro, Curtis Hoyle (Jason R. Moore) ex-fuzileiro amigo de Frank que dirige um grupo de ex-combatentes, que é uma de suas poucas âncoras na sanidade. Diferente das outra séries Marvel/Netflix aqui, o elo de ligação é Karen Page (Deborah Ann Woll) e não a Enfermeira noturna, já que foi ela que demonstrou empatia com o drama de Castle na sua aparição em Demolidor, vendo-o como um ser humano e não um terrorista, interagindo com o ex-fuzileiro desequilibrado de 26 anos Lewis Alcott (Daniel Weber), que envereda pelo caminho dos atentados civis achando que assim consertará o mundo. Pela primeira vez vemos Karen como algo mais do que um bibelô, prova de um melhor conhecimento da personagem da parte dos roteiristas.



A Bela e a Fera: Karen  Page (Deborah Ann Woll) é o elo de ligação com o universo das séries Marvel / Netflix.


 
Uma vez que Frank Castle é o “trem desgovernado” que todos conhecemos, a violência, e o sangue correm soltos, até mesmo por uma questão de fidelidade ao personagem. Afinal não dá para ser o Justiceiro e ser PG-13. Logo, Tiros, facadas, socos, chutes, mordidas e mutilação para todos os gostos. E como Frank Castle sangra... ao longo dos 13 episódios o vemos ser baleado, ferido, torturado, ficando às portas da morte diversas vezes, sangrando bicas, numa via crucis de expiação de culpas, revolta e certa dose de insanidade.
 


Sam Stein (Michael Nathanson) e Dinah Madani (Amber Rose Revah) investigam as ações de Rawlins & seus associados...


 
Bernthal mostra ser a encarnação definitiva do personagem, numa interpretação ora visceral, ora minimalista mostrando grande versatilidade, mesmo falando grunhindo, como um Silvester Stallone com dicção e um corte de cabelo que se crescer mais, parecerá com o do Moe de Os Três Patetas. Nunca um personagem tão bidimensional ganhou tanta profundidade.
 


O ex-fuzileiro Lewis Alcott (Daniel Weber) ao se meter com o falso ex-combatente O´Connor (Delaney Williams) segue numa espiral decadente

 
 
Todos personagens tem os seus arcos bem desenvolvidos, apesar de que a série poderia ter um ou dois episódios a menos e funcionaria melhor. Outra coisa é que muitos poderão reclamar que esta série é mais uma série procedural tipo N.C.I.S. com o Justiceiro no meio do que uma série do próprio, mas entendamos que a maior falha na série, é justamente o seu maior mérito. Fazer um personagem bruto  como Frank Castle enxergar que  o sistema que o moldou é justamente o mesmo que tirou de seu alcance os seus entes queridos é uma boa sacada, ainda mais porque no momento atual, personagens como Castle são perfeitos para pessoas e grupos em busca de ícones que  justifiquem atitudes violentas e discriminatórias como espancar mendigos (e grupos étnicos, sexuais ou religiosos) ou até mesmo a legitimar o vigilantismo e a formação de milícias, coisa que as firmas de segurança privada (principalmente as americanas) já o são.
 
 

Adiante descobrimos que Billy Russo, agora um empresário do setor de segurança e Rawlins, são sócios de empreitadas ilícitas


 
Outra questão é a velha temática do stress traumático dos ex-combatentes, um efeito colateral de toda potência hegemônica. Transformam os homens em máquinas de combate, até o dia em apertam as suas mãos em agradecimento e esperam que eles retornem à vida civil sem problemas. Lewis é a materialização desta visão das coisas.


Logo Frank mostra o que faz melhor, e voam pedaços de oponentes para todos os lados...



 No cômputo final podemos dizer que sejam mariners, spetznas, ou qualquer outra denominação de combatente a história é sempre assim: Mandam os indivíduos à guerra, eles “fazem o que têm de fazer” e aos sobreviventes, dão a dispensa e “a certeza do dever cumprido” como se tirar o indivíduo da guerra fosse a mesma coisa que tirar a guerra do indivíduo. Guerra é algo viciante como bem demonstrou Kathryn Bigelow em Guerra ao Terror (2008) e seja no Oriente Médio, seja no Harlem ou nas comunidades pacificadas, alguns indivíduos estão atrás da sua dose...
 

No final, Castle ajusta as contas Billy Russo, Rawllins e toda a corja


Frank Castle tem a dor da sua perda, e o vício de sentir a dor da sua perda. Daí a importância de indivíduos como Curtis Hoyle, que o ajuda a encarar seus fantasmas e o vício.


E nós, talvez tenhamos o vício de vê-lo viciar-se em sua dor. Até a próxima dose, digo, temporada.



" - O chato não é fazer o trabalho, mas ter de limpar a bagunça depois..."