segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

“Respeitável Público... com vocês... A Inclusão!!!” - O Rei do Show (2017)

 

Belo, Lúdico & Fake... 

 por Alexandre César

(publicado originalmente em 08/ 01/ 2018)


Hugh Jackman brilha em biografia fantasiosa

 

Batman: o clássico seriado "Camp" dos anos 60

 

P. T. Barnum, o “Príncipe das Falcatruas”. Uma alcunha dessas seria digna de um dos vilões do seriado televisivo Batman, de 1966, onde a cor, a psicodelia e a fantasia cativaram aquela geração e além. Nada daquela indigesta e dolorosa “realidade”, onde sorrisos corteses na maioria das vezes escondem dor, amargura e interesses escusos. Lá, o herói é o herói e nada nos faz duvidar disso seja em sua aparência, seja em suas atitudes.

 

P.T. Barnum (Hugh Jackman), sua esposa Charity (Michelle Willians) e suas filhas

 
 
Em O Rei do Show (The Greatest Showman), dirigido por Michael Gracey, Hugh Jackman aposta todas as suas fichas ao encarnar a trajetória de Phineas Taylor Barnum, que, de uma infância miserável como o filho de alfaiate, tornou-se o maior empresário do show business de sua época. A encenação, que tem como grandes trunfos as direções de atores e de arte, faz desse musical algo que parece uma fusão do lado mais colorido e lúdico de Tim Burton com a energia frenética dos musicais de Bazz Lhurman. Um filme que empolga, mas que, por certas forçadas de barra no roteiro, não é inesquecível. Afinal a necessidade da inclusão no cinema e na arte em geral de grupos que quase não vistos em filmes é algo importante e louvável – e não dá para se falar de Barnum sem debater inclusão -, mas a quase obrigação de dar destaque as minorias para agradar o grande público criou uma versão irreal da história e de seus protagonistas. Isto não condena o filme ou seu personagem central, realmente um indivíduo fascinante, mas dilui o seu impacto. 

Charity ( Michelle Williams): a Boa Fada do Sul

  

Aqui, nosso herói ainda pobre, ganha o coração de sua amada de origem abastada Charity - Michelle Williams, e aqui parece uma versão humana de sua Glinda, a Boa Fada do Sul de Oz, Mágico e Poderoso (2013, dirigido por Sam Raimi), de tão doce, dedicada e fiel que é. Ela se casa com ele apesar da oposição dos pais. Após perder o emprego miserável e vivendo uma crise financeira, Barnum começa a usar de seu tino para os negócios e sua malandragem, forjada na necessidade de sobreviver, e cria o primeiro dos freak shows. Um espetáculo de gosto duvidoso, onde apresentava toda a sorte de pessoas disformes ou destoantes do convencional, além de fraudes descaradas (assumidas ou não). Que lhe rendeu uma fortuna, mas também a fama de embusteiro, pois, enquanto o povão ia a suas apresentações, a “elite respeitável” torcia o nariz, quando não o execrava publicamente. 

 

Phillip Carlyle (Zac Efron) e P. T. Barnum: parceria vantajosa para ambos


 

Sua busca por respeitabilidade o leva a associar-se a Phillip Carlyle (Zac Efron, amadurecendo como ator), ator bem-nascido, de sucesso e respeitabilidade junto à crítica, mas rebelde, procurando algo à mais em sua vida estável, segura e enfadonha. Graças a esta associação, virá a aclamação de reis e rainhas, bem como da nata da sociedade, atingindo o seu ápice nas apresentações da diva lírica Jenny Lind (Rebecca Ferguson). Mas esta ânsia por reconhecimento poderia levar seu mundo a ruína por fazê-lo esquecer um detalhe importante: nem todo mundo tem a ambição de que precisa ser aceito por todos, apenas por quem lhe é realmente importante.

 

  A trapezista Anee Wheeler (Zendaya) ganha o coração de Carlyle
 
 
Podemos dizer que a clássica Jornada do Herói, definida por Joseph Campbell, permeia o roteiro de Jenny Bicks e Bill Condon (aqui no melhor estilo do ”É tudo real, tirando uma ou duas mentiras...”) que apresenta Barnum como um homem à frente de seu tempo, uma grande figura da inclusão social e não apenas um esperto comerciante. 

 

Lettie Lutz (Keala Settle): presença de destaque


Temos também no filme, após sua participação em Homem Aranha: De Volta Ao Lar (2017, dirigido por Jon Watts) a ex-atriz infantil da Disney Zendaya, como Anee Wheeler, a trapezista, que faz par romântico com Efron (como essa menina cresceu!!!). Mas quando abre a boca, quem se destaca é a mulher-barbada Lettie Lutz (Keala Settle), esta sim uma figura de inclusão!

 

Hugh Jackman brilha, mostrando a sua entrega ao papel
  

Porém, quem brilha de forma incontestável é Hugh Jackman, em ótima forma física e bela presença em cena. Dá gosto de ver como ele se entrega ao seu papel, mesmo mostrando alguns maneirismos dos tempos de Wolverine. Ironicamente é neste filme que podermos dizer que ele se tornou o chefe da sua própria “Escola de Superdotados”. A sua trupe de excluídos lembra um pouco os X-Men e a própria Jenny Lind nos remete à Fênix Negra por representar o fruto proibido da aceitação do diferente pelas elites. Percebemos a energia do ator no brilho de seus olhos, que passam um quê de inocência infantil e que pode ser traduzido numa frase: Ele está feliz. Jackman se jogou num projeto pelo qual tinha carinho e acertou. As canções funcionam muitíssimo bem em cena, apesar de algumas serem meio xaroposas, mas cumprem a sua função, devendo alguma delas figurar entre as mais pedidas no ano que se inicia. A indústria fonográfica agradece.

 

A diva Jenny Lind (Rebecca Ferguson) é a tentação de nosso herói
  

Ao final, para fechar com chave de ouro, somos brindados com uma de suas frases: “a melhor coisa da vida é distribuir alegria!, deixando claro para o expectador – apesar de muitos não concordarem - a grande figura da inclusão que foi Barnum. Nada mal para alguém cuja frase mais famosa a ele atribuída seja: “Nasce um trouxa a cada minuto! ”

 

Cartaz original de um dos espetáculos de P.T. Barnum
 
Tolos somos nós se não acreditarmos. Mas, e daí? Eu adorava o Batman!

 

"- Respeitável público... até a próxima!!!"



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