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quarta-feira, 18 de março de 2020

Quando começa a engrenar... é o "Fim" - Crítica - Séries: Punho de Ferro – 2ª Temporada

 

 

Famílias disfuncionais, relacionamentos tóxicos e o adeus...

por Alexandre César
(Originalmente postado em 15/ 10/ 2019 ) 

E Daniel Rand se despede acertando o passo
 


Davos (Sacha Dawan) e Danny Rand (Finn Jones): Irmãos de armas e rivais

 
 
Desde que a Marvel /Netflix iniciou o seu ciclo de séries de  “Heróis de Rua”, personagens que não gozavam do status de um Homem de Ferro ou de um Capitão América mas tinham o seu nicho de fãs e o potencial para histórias mais realistas, sem a necessidade do suporte de uma superprodução, o seriado se mostrava um formato ideal para este universo ficcional. Demolidor, foi o mais bem sucedido, seguido de Jessica Jones e de Luke Cage que tiveram méritos apesar de falhas ocasionais, seguidos em seguida de Punho de Ferro, que se revelou o mais problemático, parecendo uma causa perdida para muitos quando a série chegou no ano passado, sendo alvo de tantas críticas e comentários negativos, que um segundo ano para muitos fãs estava quase fora de cogitação.Mas, apesar dos pesares, a série retornou, com um novo produtor (M.Raven Metzner que substitui Scott Buck) e uma equipe técnica diferente e reduziu o número de episódios dos 13 iniciais para 10 no intuito de reduzir “adiposidades narrativas”... E mostrou ser ainda merecedor de crédito apesar de tudo. 
 
 


Faceta 1: a Meiga "Mary" (Alice Eve) se encanta por Danny...


 

 A única motivação do Punho de Ferro até então havia sido a sua missão de derrotar o Tentáculo, algo que foi definitivamente eliminado na 1ªTemporada de Os Defensores , mas ao contrário de Jessica Jones, Luke Cage ou do Demolidor, Danny Rand (Finn Jones, mais à vontade no personagem) não tinha temáticas alternativas muito bem definidas para explorar em sua própria série e, findo o Tentáculo, as gangues de Chinatown preencheram o vácuo existente, disputando o domínio do crime na cidade, ficando de um lado os Carrascos e de outro, os Tigres Dourados, sendo o controle das docas o motivo dos primeiros conflitos entre essas organizações criminosas. 



Faceta 2: ...mas dando lugar à fria e letal Walker (Alice Eve). Devemos em futuro próximo, ver mais "alguém"...
 
 
Pela necessidade de dar uma razão de ser ao herói, nada melhor do que voltar aos elementos de K’un-Lun para firmar a sua identidade de herói marcial. Embora tecnicamente superior, a segunda temporada é muito vinculada à primeira, de onde vem o seu grande vilão, Davos (Sacha Dhawan), bem como todos os elementos que constroem a nova narrativa. São 10 episódios e dois arcos de histórias. No primeiro, se constroem as alianças e suas motivações, culminando no terceiro capítulo, onde são reveladas as intrigas, seguidos do arco seguinte, mais interessante, onde as tramas se interligam.  
 


Davos para atingir seu intento se alia a Joy Meachum (Jessica Stroup à direita) e inclusive, rompe seus votos...

 
 
Há alguns momentos para agradar os fãs dos quadrinhos, como por exemplo, a polícia categorizar como 616 as chamadas quando se trata de “possível suspeito com habilidades”. Esse é o número do universo principal da Marvel Comics, bem como nos flashbacks de Danny e Davos em K’un Lun, os vemos com uma versão do traje e da máscara icônica do personagem, elemento cuja ausência na 1ª Temporada e em Os Defensores fêz muita falta, pois um herói sem o seu uniforme, perde muito de sua identidade.



Fanservice: Vemos finalmente a máscara icônica do personagem.
 

Um dado que persiste é a questão dos relacionamentos tóxicos e abusivos marcando seus personagens, fornecendo explicações para muitas de suas atitudes, como no caso a perseguição obsessiva de Davos (nos quadrinhos, o Serpente de Aço) a conseguir (roubar) o poder do Punho de Ferro, do qual ele não considera que Danny seja digno, levando-o a assumir cada vez mais um comportamento cruel e impiedoso e, em contradição com a filosofia de K’un-lun (como um capanga diz ironizando: “- ele é um vegetariano que mata gente!”), fruto da cobrança opressiva de sua mãe que impunha-lhe a obrigação de ou ser O Imortal Punho de Ferro, ou ser um fracasso completo! Nesta linha, também ganham novos contornos os irmãos Ward e Joy Meachum (Jessica Stroup e Tom Pelphrey), cujos acontecimentos da primeira temporada ainda influenciam seus comportamentos, passando um certo ar de dubiedade. Pelphrey, em especial, oferece bons momentos, revelando a Joy o quanto a relação abusiva com o seu pai Howard o marcou, levando ao vício e a um comportamento auto-destrutivo e vampirizante quanto à irmã, surpreendendo quando se relaciona com Danny, revelando um querer deixar para trás sua persona babaca. Ela, ao aliar-se à Davos no primeiro arco revela a revolta para com Danny e com o irmão por terem-na deixado à parte quanto à verdadeira situação das famílias Rand e Meachum, bem como o seu voltar atrás mostra a sua confusão sobre que atitude deveria ter realmente tomado. 



Os flashbacks em K’un-Lun enriquecem a narrativa sobre a relação dos antagonistas


 
Abuso traumático também está vinculado à grande surpresa da temporada, uma personagem que aproveitou ao máximo sua presença: Mary Walker (Alice Eve, ótima, entregando a melhor performance na carreira) . Sua atuação, similar a de James McAvoy em Fragmentado (2017), rouba a cena ao mostrar uma personagem com transtorno de personalidade múltipla, sendo uma Alice, meiga, romântica, fofa, e a outra Walker, uma mercenária fria e calculista. Ao longo da temporada, do primeiro ao último episódio, pois a sua caminhada é relacionada a uma situação de aprisionamento em zona de guerra e o consequente abuso a que as mulheres costumam ser submetidas neste contexto. É nesse ponto que a série se conecta com  Vingadores a Era de Ultron (2015) e Capitão América: Guerra Civil (2016) pois ela é uma combatente aprisionada em Sokovia. Criada por Ann Nocenti e John Romita Jr. Em 1988 nas páginas de Demolidor, A personagem Mary Alice Walker é a vilã Mary Typhoid que ainda deve dar as caras e gerar muita dor de cabeça pois se indica que “alguém” (que não era nem Alice e nem Walker) salvou a combatente dos guerrilheiros sokovianos, com requintes de crueldade. Esperemos se vai rolar... 



Girl Power: Misty Knight (Simone Missick) e Coleen Wing(Jessica Henwick). Boas na amizade...

 
 
Nesta temporada sentimos a ausência da Enfermeira Noturna (Rosario Dawson) que até então costumava ser o elo de ligação entre todos os personagens do universo de séries Netflix/ Marvel, mas temos a presença de Misty Knight (Simone Missick) que menciona os eventos passados na última temporada de Luke Cage, inclusive questionando os rumos tomados por seu protagonista.  



... melhores ainda na pancadaria. Veremos algum dia "As Filhas do Dragão"???

 
 
Uma grande sacada também desta temporada foi dar um maior protagonismo a Colleen Wing (Jessica Henwick), transformando a personagem em uma co-protagonista, tornando Punho de Ferro numa série sobre os dois, numa decisão muito acertada. Transformar Colleen em uma descendente de Wu Ao-Shi (a Rainha Pirata de Pinghai, primeira a invocar o poder supremo de K’un-Lun) não apenas inseriu sua transformação no cânone, como abriu novas possibilidades. Caso possam retomar esse universo ficcional, haverá a oportunidade de mergulhar de vez nas águas da Wuxia, gênero de fantasia chinesa que mistura lutas ao fantástico – inclusive preparando terreno para uma versão das Filhas do Dragão, série da Marvel nos quadrinhos, com Colleen Wing e Misty Knight, que juntas são sócias da Knightwing Restorations uma empresa de fachada da sua agência de investigações, e nesta temporada demonstram ótima química entre as suas intérpretes suplantando em muito até o protagonista principal.



As meninas inclusive seguram melhor a onda do que os "manos" Luke Cage (Mike Coulter) e Danny Rand


 
A Segunda Temporada se mostra mais eficiente nas coreografias de luta (graças a Clayton Barber de Pantera Negra ) e, sendo uma continuação bastante conectada à primeira, encerra as pontas de um passado problemático e até... “chato”, que faz a inclusão de uma nova personagem mas com argumentos bons, não verdadeiramente empolgantes. Porém, foi um avanço se comparada à Primeira Temporada. Embora tenha todos os arcos fechados com coerência, o final da série deixou (muito bem) portas para novos rumos a serem trilhados, como a capacidade de seus protagonistas conseguirem inserir seu chi em objetos, como a Katana empunhada por Colleen, ou as armas que Danny aprende a utilizar (fazendo citação a Orson Randall, um dos Punhos de Ferro do passado). Uma vez que a Marvel/ Netlix anunciou o encerramento das séries do personagem, bem como de Demolidor , de Luke Cage , ainda não tendo se pronunciado sobre Jessica Jones , O Justiceiro ou Os Defensores , só podemos esperar se estas pontas em aberto ainda serão de alguma forma fechadas nestas séries ou em longa-metragens solo ou se a Marvel migrará seus personagens para o serviço de Streaming da Disney, cujo foco até o presente seria o de um público “mais família”, bem diferente do público-alvo dos seriados em parceria com a Netflix
 


Ferramentas energizadas: O "Shi" pode fluir de um punho para uma katana...



 Esperemos as rodadas de negociações corporativas para saber se Danny Rand irá ou não tornar-se definitivamente (mesmo!!!) O Imortal Punho de Ferro.



...ou para pistolas!!! Que venha uma maior demonstração desse poder!




sábado, 14 de março de 2020

A volta da Porralouca! - Crítica - Séries: Jessica Jones - 2ª temporada

 


Poderosa e fraturada
 
por Alexandre César
(Originalmente postado em 14/ 10/ 2019 ) 

 Enveredando pelo passado de Jessica e Patsy

 

Living La Vida Loca: Jessica (Krysten Ritter) heroína para lá de imperfeita


  Ácida, beberrona, boca suja e adepta do sexo casual, entre outras características que muitos consideram questionáveis, ela é a maior anti-heroína da Marvel. Trata-se de Jessica Jones (agora na sua 2ª temporada pelo serviço de streaming Netflix), alguém que poderia ser uma colega da Rê Bordosa ou da Mara Tara, personagens das saudosas e hilárias HQs da série Chiclete com Banana do nosso Angeli. Mas, como vemos nessa nova etapa da vida da problemática detetive, nada aqui é engraçadinho e o nosso passado parece sempre nos assombrar de uma forma ou de outra.


Malcolm Ducasse (Eka Darville): senhor do seu destino



 O que vemos se passa após os eventos anteriores narrados na 1ª temporada, quando Jessica (Krysten Ritter, acrescentando cada vez mais camadas à personagem) pôs um ponto final na sua relação tóxica e abusiva com Kilgrave, o Homem-Púrpura (David Tennant). Aqui não há nenhuma referência ao que aconteceu na 1ª temporada de Os Defensores (também disponível na Netflix). De fato, temos a impressão de que esta temporada se situa antes do programa que reúne os heróis da Marvel com séries próprias na Netflix até então.



A entrada em cena do personagem de Janet McTeer preenche muitas lacunas do passado de Jessica...
 
 
Jessica continua tocando a sua vida. Agora, porém, com um maior senso de responsabilidade em relação aos seus atos e as pessoas à sua volta. Dentre estas, destaca-se Trish Walker (Rachael Taylor, surpreendente). A amiga/irmã do peito da nossa detetive agora está envolvida por sua obsessão por protagonismo e em não ser uma “donzela em perigo” - e isto a leva a uma jornada perigosa. Também temos Malcolm Ducasse (Eka Darville). O sidekick/ funcionário/sócio - além de eventual alívio cômico - cresce, tornando-se protagonista de sua própria vida. 
 
 
Oscar Arocho (J.R. Ramirez) e seu filho: De implicância inicial a possibilidade de relacionamento da heroína
 
 
 
Inicialmente Jessica tem problemas com o novo senhorio do prédio onde fica seu escritório. Oscar Arocho (J.R. Ramirez) tem reservas quanto a presença de gente superpoderosa e sua tendência a gerar danos colaterais à sua volta. Já a todo-poderosa advogada Jeri Hogarth (Carrie-Anne Moss) sofre uma reviravolta pessoal que mostra que, não importa o quão poderosos, bem-sucedidos e no topo da cadeia alimentar estejamos, somos apenas seres humanos, falhos e perecíveis.
 
 
 
É claro que ao longo da temporada não faltam os meliantes e babacas ocasionais
 
 
 
Tendo cada episódio sido dirigido por uma diretora diferente, a série, comandada por Melissa Rosemberg, mostra com vigor e, ao mesmo tempo, sutileza (talvez devido ao olhar feminino), temas como preconceito racial e de gênero, uso de pessoas em experimentos científicos sem o devido consentimento, o “fechar os olhos” de alguns pais de ídolos infantis/teens quanto a exposição dos filhos a abusos (pois acreditam que “ajudará na sua carreira”) e a violência policial, entre outros tópicos. Mas o mote principal da temporada é o passado de Jessica e a origem e dos seus poderes, com ela procurando descobrir o que é a misteriosa IGH - entidade que a fez de cobaia, entre outras pessoas. Alguns se decepcionarão por não haver um “vilão” no sentido clássico, como era o próprio Kilgrave, mas a escolha ao humanizar os seus antagonistas, borrando a fronteira entre o que é certo e errado e entrando em rota de colisão com a norma vigente, gera conflitos internos mais palpáveis do que a máxima tradicional Ele é o mal. Devo matá-lo! ” No mundo real todos nós temos a nossa própria cota de mentiras, onde manipulamos e somos manipulados, tendo de pagar a conta no final.
 
 
Jeri Hogarth (Carrie-Anne Moss): dolorosa constatação de sr apenas humana

 
 
Temos arcos fechados de vários núcleos de personagens, que até contornam bem o comprimento padrão estabelecido de 13 episódios (algo que a Marvel/Netflix deveria rever), suavizando as comuns “barrigas narrativas”. A temporada mostra coisas interessantes do passado de Jessica, como a origem de seu visual e da sua jaqueta, bem como a rotina de suas relações familiares (mostrando o quanto uma geração se espelha na outra). E ainda vemos a fase em que Trish era a Patsy, ídolo teen à lá Britney Spears/Christina Aguilera com um estilo de vida autodestrutivo, que a induziu a secretamente invejar Jessica, olhando-a como a heroína que ela sempre quis ser, apesar de Jessica nunca ter querido tal fardo. Será que teremos Trish assumindo a identidade heroica de Felina (Hellcat) como originalmente ocorreu nos quadrinhos da Marvel
 
 
Trish Walker (Rachael Taylor): possibilidade de se tornar a heroína Felina (Hellcat)
 
 
 
E Jessica? Ela seguirá como sempre, mas agora percebendo que, por mais fraturada emocionalmente que seja, ela não precisa quebrar aqueles à sua volta (e que de fato se importam com ela), seja com as palavras ou os punhos.
 
 
Jeri, Jessica, Trish e Malcolm: Novos rumos em suas jornadas pessoais
 

 

 

terça-feira, 10 de março de 2020

A "ELITE" da elite - Críticas - Séries: The Boys - 1ª Temporada

 

 

 Collants, raios, sangue & porrada 

por Alexandre César

(Originalmente postado em 05/ 08/ 2019)


Série da Amazon demole o conceito dos "Supers" 


Semelhanças icônicas: "Os Sete": A novata Luz Estrela (Erin Moriarty), Profundo (Chace Crawford) Translúcido (Alex Hassell), Rainha Maeve, (Dominique McElligott), Black Noir (Nathan Mitchell), Tren-Bala (Jessie T. Usher) e o poderoso Capitão-Pátria (Antony Starr) o líder. Lembra alguma coisa???

Watchmen de Allan Moore & Dave Gibbons, Marshal Law de Pat Mills & Kevin O´Neil, O Procurado de Mark Millar & J. G. Jones... cada qual ao seu jeito partiram de uma ideia comum: “Imagine um Universo onde super-heróis (e super-vilões...) existem de verdade...” daí vindo formas distintas de contextualizar quais seriam as consequências do convívio de seres poderosos com os meros seres humanos, ora pela alegoria e a crítica social, ora pela descarada paródia iconoclasta ou a mais apelativa e sanguinolenta sucessão de cenas que destilam a baixaria nerd (misoginia, homofobia, racismo, etc...) no final das contas a conclusão acaba sempre sendo, de uma forma ou de outra, a mesma: “Se grandes poderes trazem grandes responsabilidades”, como diria o bom e velho tio Bem Parker do Homem-Aranha, a falta de um senso moral faz com que o poder corrompa, e aqui, de forma exponencial...


O alucinado Billy Butcher / Bruto (Karl Urban) convoca o reprimido Hughie Campbell (Jack Quaid) para a sua "vendeta" contra os super-poderosos


Baseada nos quadrinhos de Garth Ennis (Preacher, O Justiceiro) e Darick Robertson (Transmetropolitan) The Boys é a nova aposta da Amazon Prime Video que já nos rendeu obras como O Homem do Castelo Alto, American Gods, Good Omens, sendo ela, uma das principais rivais da gigante do streaming Netflix, cujo volume e catálogo de produções é muito maior, mas de qualidade bem variável...


Aparências nada mais: Rainha Maeve (Dominique McElligott) & Hmelander/ Capitão Pátria (Anthony Starr) são os "Deuses que caminham entre os reles mortais"...


Os produtores Seth Rogen e Evan Goldberg aprenderam durante a série Preacher, que adaptar Garth Ennis não é uma tarefa fácil. Mesmo assim, o desejo de explorar o catálogo do autor foi maior, e unidos a Eric Kripke, o criador de Supernatural, precisaram tomar algumas liberdades narrativas, mudando muito em tom e ritmo para comportar uma fração da história original, mas mantendo a coerência interna. E olhe, valeu a pena.


O grupo disfuncional se compõe de Billy, o Francês (Tomer Capon abaixado), Milk Mother/ Leitinho (Laz Alonso, atrás) e Hughie, que de "Zé-Mané", logo evolui como agente de campo


Neste universo ficcional, os heróis são controlados por uma corporação, a Vought International, que cuida do merchandising, filmes, séries de TV, brinquedos e toda a sorte de colecionáveis, ainda microgerenciando cada super equipe e carreiras individuais via redes sociais, de olho em quem é popular, quem está nos trending topics, qual a demografia de likes de cada um. Afinal, os heróis são produtos corporativos, sendo interessante a cena de uma reunião de acionistas que não deixa de lembrar as cenas que rolam nos palcos da San Diego Comic-Con anunciando a nova fase do Universo Cinematográfico Marvel...


Madelyn Stillwell (Elisabeth Shue) apresenta aos acionistas da Vought. The Deep/ Profundo (Chace Crawford) e a novata Starlight/ Luz-strela (Erin Moriarty), a idealista Annie January, que descobre que "AJOELHOU, TEM QUE REZAR!"


Tendo os quadrinhos sido publicados pela Dynamite Entertainment entre 2006 e 2008, a trama acompanha Hughie Campbell (Jack Quaid), um jovem que perde Robin (Jess Salgueiro) sua namorada em um brutal acidente envolvendo A-Train/ Trem-Bala na versão dublada (Jessie T. Usher) o herói velocista do grupo Os Sete (o equivalente à Liga da Justiça desse universo). Após perceber que existe todo um sistema pensado para inocentar os superpoderosos, com um exército de advogados, relações públicas e toda sorte de obstáculos corporativos, Hughie entende que sua única esperança de encontrar justiça é com a ajuda de um misterioso estranho chamado de Billy Butcher/ Billy Bruto (Karl Urban da cine série Star Trek, surtado e deliciosamente caricato), que lhe aborda oferecendo uma chance de vingança.


Profundo alterna uma masculinidade tóxica, fruto de uma personalidade perturbada por ser "o cara que fala com os peixes" do grupo e não conseguir superar suas próprias amarras

 
O grupo principal, a jóia da coroa da Vought International são Os Sete que compoem-se de Homelander/ Capitão-Pátria (Antony Starr de Banshee, ótimo como um psicopata hedonista) o ”Superman”do grupo, Black Noir (Nathan Mitchell) o “Batman”, Rainha Maeve (Dominique McElligott de House of Cards) a “Mulher-Maravilha”, A-Train/ Tren-Bala, o ”Flash”, The Deep/ Profundo (Chace Crawford), o “Aquaman”,Translúcido (Alex Hassell), um “Homem-Invisível” (no original, este personagem não existia, mas sim,um alienígena parodiando do “Caçador de Marte”) e Starlight/ Luz-Estrela (Erin Moriarty) a novata do grupo, que substitui Facho de Luz, um membro que se “retirou” do grupo, tendo um visual que remete à Mary Marvel, sendo ela a jovem inocente Annie January, jovem de formação cristã criada pela mãe Donna (Ann Cusack) que sonhava ter uma filha heroína/ celebridade, levando-a desde criança à concursos de heroísmo e afins. Ela então, descobre amargamente que seus ídolos não passam de seres amorais, egoístas, que por trás dos sorrisos em público não se importam ao cumprir as suas missões, com o dano colateral de inocentes que estejam nas proximidades. Ela logo de cara descobre que para permanecer no grupo tem que fazer o “teste do sofá”com um dos supers e descobre toda a sorte aberrações sexuais, abuso, hipocrisia e masculinidade tóxica que emanam dos membros da comunidade heroica.
 


O sorriso luminoso das "selfies" esconde um profundo desprezo pela humanidade

 
Para lidar com esses super-heróis corruptos que usam seu status para se promoverem ainda mais, colocando em risco a própria população, uma equipe do FBI foi preparada no passado para cuidar desses casos. Conhecidos como "os meninos" (daí o título The Boys), esses agentes tinham a missão de vigiar o trabalho dessas personalidades, assim como controlar o surgimento de novos heróis. Billy chefiava essa seção que posteriormente foi desativada devido às pressões da Vought, tendo desejo de vingança contra o Homelander/ Capitão Pátria, que teria se envolvido e estuprado Becca (Shantel VanSanten), a sua esposa, com consequências desastrosas.
 


Hughie e Annie se conhecem e começam um relacionamento que ajudará a menter-se firme em seus valores

O grupo reunido por Billy para retomar as atividades é composto por Francês (Tomer Capon), o cara das traquitanas, armas e explosivos, Milk Mother /Leitinho (Laz Alonso) um “pau-para-toda-obra” que tenta retomar a sua vida conjugal, longe de Billy e seu desejo de vingança (mas acaba voltando ao grupo pois como diz Billy:  “- Nós somos como as F@# das Spice Girls: Juntos somos Os Caras , separados somos uns M3R%@S!!!” ) tendo a adesão da Fêmea (Karen Fukuhara) uma vítima de experiências ilegais com o “Composto V” uma droga que (tal qual a talidomida ´nos anos de 1960 foi ministrada a mulheres grávidas gerando deformidades nos fetos) transforma humanos em supers, e que está sendo pirateado por terroristas. Billy tenta convencer a sua antiga chefe a Agente Susan Raynor (Jennifer Esposito) a dar suporte ao grupo,mas só consegue um apoio parcial sem garantias pelas implicações políticas.
 


Sangue e tripas não faltam em momentos-chave...

O principal diferencial da série nesta era dos super-heróis no audiovisual é um enorme desprezo por eles e pela cultura ao seu redor sendo aqui, ao contrário dos gloriosos representantes da humanidade, os superpoderosos são seres secretamente desprezíveis, fabricados por grandes corporações que querem vender bonecos, filmes, quadrinhos e videogames - com olhos para conquistar mais e mais poder, dinheiro e influência, tendo esta sátira ácida e cínica, muito a dizer não só sobre o nosso culto aos heróis, mas também dos políticos, empresários e celebridades que se mantêm em seus pedestais enquanto deixam as controvérsias embaixo do tapete (estes,os poderosos do mundo real...), aqui representada por Madelyn Stillwell (Elisabeth Shue, inspiradíssima), a calculista executiva da Vought que controla com voz suave e mão de ferro tudo e todos à sua volta, com uma atitude sedutora de mãe ora amorosa, ora incestuosa para com o Homelander/ Capitão Pátria (ele mesmo um poço de dualidade perversa) sendo uma figura que poderia estar em qualquer ramo de atuação, o que revela o quão assustador pode ser o meio corporativo....


Rainha Maeve: "Empoderada" presa na gaiola corporativa que a sufoca e a impede deser ela mesma

O rico universo da série ainda inclui personagens do lado humano como o pai de Hughie (Simon Pegg de Star Trek e Missão: Impossível - Efeito Fallout) como easter egguma vez que originalmente ator serviu de modelo para o personagem da HQ; Cherie (Jordana Lajoine) amante do Francês e amiga nos momentos difíceis; e o Dr. Jonah Vogelbaum (John Doman de Gothan) responsável por boa parte dos supers (que considera o Capitão Pátria “o seu maior fracasso...”) e do lado super, Popclaw/ Lâmina (Brittany Allen) heroína Sex Symbol decadente, e amante de Trem-Bala, Mesmer (Haley Joel Osment de Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal) herói mentalista de segundo escalão procurando uma chance de voltar ao estrelato, e Ezekiel (Shaun Benson), o herói gospel neopentecostal, pregador da “cura gay” mas na realidade homossexual enrustido e hipócrita.


Profundo e Capitão-Pátria: O líder paternalista que comanda com sorrisos amigáveis e mão-de-ferro os membros da equipe e "ai" de quem o questiona...

Um dos elementos chave é o alto nível do elenco, que raramente deixando a desejar nas atuações. o Billy Butcher/ Blly Bruto de Karl Urban abraça a intensidade caricata das HQs acertando no espírito doentio da história de Ennis, Erin Moriarty convence na complexidade de Starlight/ Luz-Estrela, uma garota que acaba batendo de frente com a cruel realidade, como quando a corporação a obriga a trocar o seu uniforme mais recatado por um modelito que remete aos das heroínas da Image Comics, que eram o supra-sumo da objetificação feminina (parabéns às figurinistas Laura Jean Shannon, autora dos super-trajes, e Joyce Schure) contrastando com a Rainha Maeve, que embora seja a “empoderada” tal a nossa Princesa Amazona, na realidade se mostra como mais uma mulher oprimida numa gaiola de ouro, tiranizada pelo líder da equipe. Dominique McElligott surpreende como uma heroína cujo olhar triste revela a angústia de ter “ser” o que não se é de fato. Coisa similar a muitas Pop Stars símbolos do“empoderamento feminino” mas cujos modelitos das roupas da sua grife são fruto de costureiras exploradas em regime de precarização semiescrava. Antony Starr com seu Homelander/ Capitão-Pátria impressiona nas mudanças de ânimo instantâneas de seu personagem, seja num tom de voz ou um olhar, fielmente retratando sua essência, cujo sorriso luminoso, esconde o desprezo por toda a humanidade, lembrando certos líderes políticos populistas que no momento atual pululam pelo mundo.


Annie/ Luz-Estrela acaba se revelando mais complexa do que o seu visual de "loirinha de família" aparenta

No cômputo geral The Boys é uma série de gente ruim se livrando de gente ainda pior, ninguém se salva na história, pegando a essência distorcida do humor negro de Ennis e contextualizando-a numa ótima estrutura narrativa, a série se preocupa em avançar sua trama e evoluir seus personagens, ao invés de manter o espectador fisgado pelo absurdo. Assim, arcos como o crescimento de Hughie (que mesmo sendo um covarde reclamão, acaba tendo que sujar as mãos) ou a relação do Francês com a Fêmea ganham mais espaço, diluindo e remodelando eventos chocantes dos quadrinhos para casar com essa versão mais humana da trama. Mas isso não quer dizer que seja uma série leve, pois há há bastante violência, tanto visual quanto temática, mostrando gore, abuso sexual desde seu início, mas ainda assim esses elementos são mostrados de forma controlada, raramente soando gratuitos - embora claramente inseridos para causar impacto. O Desenho de Produção de David Blass acerta aoa recriar esse mundo colorido high-tech mas fincando um pé na realidade,não devendo nada a muita série ou filme calcado nos universos Marvel ou DC, da mesma forma que os bons efeitos visuais, além das citações metalinguísticas à Matrix entre outros elementos pop, como a seleção musical na trilha de Christopher Lennertz (Perdidos no Espaço) que inclui Hits de Spice Girls, The Runaways, Simon & Garfunkel, e vários outros.


Relação ambígua: Madelyn e Capitão-Pátria ora parecem mãe e filho, ora amantes, numa alternância incrível

Embora seja recheada de momentos violentos, sangrentos, palavrões, tudo é para fazer uma crítica sobre o mundo atual onde vivemos, ambientado no universo dos quadrinhos, com os mesmo tipo de personagens e de trama, fizeram algo bem raro: a história é... diferente, tendo sequência insólitas, ora hilárias como a que Milk Mother/ Leitinho e Billy, encurralados, usam um bebê que solta lasers como arma; outras chocantes como um resgate de um avião tomado por terroristas que termina tragicamente. De quebra, ela mostra a formação dos Boys além de muitos detalhes do lado dos Supers que não é mostrado nos quadrinhos, sendo a revelação do último episódio uma grande surpresa, criando um gancho explosivo para a segunda temporada, onde descobriremos o que Billy fará com a descoberta, e como isso implicará em sua vingança contra o Homelander/ Capitão Pátria e, como o super-herói sem empatia e escrúpulos (e sem identidade secreta) irá lidar com essa situação, além também dos eventuais desenvolvimentos de personagens enigmáticos como Black Noir (até agora, o “Boba Feet” do grupo), ou Stan Edgar (Giancarlo Esposito de Maze Runner: A Cura Mortal) o todo poderoso da Vought que promete ser mais do que aparenta... as apostas estão feitas!  
 
 

"-Capricha bem na aquarela Alex Ross, se tu sabe o que é bom para você..."