quarta-feira, 18 de março de 2020

Quando começa a engrenar... é o "Fim" - Crítica - Séries: Punho de Ferro – 2ª Temporada

 

 

Famílias disfuncionais, relacionamentos tóxicos e o adeus...

por Alexandre César
(Originalmente postado em 15/ 10/ 2019 ) 

E Daniel Rand se despede acertando o passo
 


Davos (Sacha Dawan) e Danny Rand (Finn Jones): Irmãos de armas e rivais

 
 
Desde que a Marvel /Netflix iniciou o seu ciclo de séries de  “Heróis de Rua”, personagens que não gozavam do status de um Homem de Ferro ou de um Capitão América mas tinham o seu nicho de fãs e o potencial para histórias mais realistas, sem a necessidade do suporte de uma superprodução, o seriado se mostrava um formato ideal para este universo ficcional. Demolidor, foi o mais bem sucedido, seguido de Jessica Jones e de Luke Cage que tiveram méritos apesar de falhas ocasionais, seguidos em seguida de Punho de Ferro, que se revelou o mais problemático, parecendo uma causa perdida para muitos quando a série chegou no ano passado, sendo alvo de tantas críticas e comentários negativos, que um segundo ano para muitos fãs estava quase fora de cogitação.Mas, apesar dos pesares, a série retornou, com um novo produtor (M.Raven Metzner que substitui Scott Buck) e uma equipe técnica diferente e reduziu o número de episódios dos 13 iniciais para 10 no intuito de reduzir “adiposidades narrativas”... E mostrou ser ainda merecedor de crédito apesar de tudo. 
 
 


Faceta 1: a Meiga "Mary" (Alice Eve) se encanta por Danny...


 

 A única motivação do Punho de Ferro até então havia sido a sua missão de derrotar o Tentáculo, algo que foi definitivamente eliminado na 1ªTemporada de Os Defensores , mas ao contrário de Jessica Jones, Luke Cage ou do Demolidor, Danny Rand (Finn Jones, mais à vontade no personagem) não tinha temáticas alternativas muito bem definidas para explorar em sua própria série e, findo o Tentáculo, as gangues de Chinatown preencheram o vácuo existente, disputando o domínio do crime na cidade, ficando de um lado os Carrascos e de outro, os Tigres Dourados, sendo o controle das docas o motivo dos primeiros conflitos entre essas organizações criminosas. 



Faceta 2: ...mas dando lugar à fria e letal Walker (Alice Eve). Devemos em futuro próximo, ver mais "alguém"...
 
 
Pela necessidade de dar uma razão de ser ao herói, nada melhor do que voltar aos elementos de K’un-Lun para firmar a sua identidade de herói marcial. Embora tecnicamente superior, a segunda temporada é muito vinculada à primeira, de onde vem o seu grande vilão, Davos (Sacha Dhawan), bem como todos os elementos que constroem a nova narrativa. São 10 episódios e dois arcos de histórias. No primeiro, se constroem as alianças e suas motivações, culminando no terceiro capítulo, onde são reveladas as intrigas, seguidos do arco seguinte, mais interessante, onde as tramas se interligam.  
 


Davos para atingir seu intento se alia a Joy Meachum (Jessica Stroup à direita) e inclusive, rompe seus votos...

 
 
Há alguns momentos para agradar os fãs dos quadrinhos, como por exemplo, a polícia categorizar como 616 as chamadas quando se trata de “possível suspeito com habilidades”. Esse é o número do universo principal da Marvel Comics, bem como nos flashbacks de Danny e Davos em K’un Lun, os vemos com uma versão do traje e da máscara icônica do personagem, elemento cuja ausência na 1ª Temporada e em Os Defensores fêz muita falta, pois um herói sem o seu uniforme, perde muito de sua identidade.



Fanservice: Vemos finalmente a máscara icônica do personagem.
 

Um dado que persiste é a questão dos relacionamentos tóxicos e abusivos marcando seus personagens, fornecendo explicações para muitas de suas atitudes, como no caso a perseguição obsessiva de Davos (nos quadrinhos, o Serpente de Aço) a conseguir (roubar) o poder do Punho de Ferro, do qual ele não considera que Danny seja digno, levando-o a assumir cada vez mais um comportamento cruel e impiedoso e, em contradição com a filosofia de K’un-lun (como um capanga diz ironizando: “- ele é um vegetariano que mata gente!”), fruto da cobrança opressiva de sua mãe que impunha-lhe a obrigação de ou ser O Imortal Punho de Ferro, ou ser um fracasso completo! Nesta linha, também ganham novos contornos os irmãos Ward e Joy Meachum (Jessica Stroup e Tom Pelphrey), cujos acontecimentos da primeira temporada ainda influenciam seus comportamentos, passando um certo ar de dubiedade. Pelphrey, em especial, oferece bons momentos, revelando a Joy o quanto a relação abusiva com o seu pai Howard o marcou, levando ao vício e a um comportamento auto-destrutivo e vampirizante quanto à irmã, surpreendendo quando se relaciona com Danny, revelando um querer deixar para trás sua persona babaca. Ela, ao aliar-se à Davos no primeiro arco revela a revolta para com Danny e com o irmão por terem-na deixado à parte quanto à verdadeira situação das famílias Rand e Meachum, bem como o seu voltar atrás mostra a sua confusão sobre que atitude deveria ter realmente tomado. 



Os flashbacks em K’un-Lun enriquecem a narrativa sobre a relação dos antagonistas


 
Abuso traumático também está vinculado à grande surpresa da temporada, uma personagem que aproveitou ao máximo sua presença: Mary Walker (Alice Eve, ótima, entregando a melhor performance na carreira) . Sua atuação, similar a de James McAvoy em Fragmentado (2017), rouba a cena ao mostrar uma personagem com transtorno de personalidade múltipla, sendo uma Alice, meiga, romântica, fofa, e a outra Walker, uma mercenária fria e calculista. Ao longo da temporada, do primeiro ao último episódio, pois a sua caminhada é relacionada a uma situação de aprisionamento em zona de guerra e o consequente abuso a que as mulheres costumam ser submetidas neste contexto. É nesse ponto que a série se conecta com  Vingadores a Era de Ultron (2015) e Capitão América: Guerra Civil (2016) pois ela é uma combatente aprisionada em Sokovia. Criada por Ann Nocenti e John Romita Jr. Em 1988 nas páginas de Demolidor, A personagem Mary Alice Walker é a vilã Mary Typhoid que ainda deve dar as caras e gerar muita dor de cabeça pois se indica que “alguém” (que não era nem Alice e nem Walker) salvou a combatente dos guerrilheiros sokovianos, com requintes de crueldade. Esperemos se vai rolar... 



Girl Power: Misty Knight (Simone Missick) e Coleen Wing(Jessica Henwick). Boas na amizade...

 
 
Nesta temporada sentimos a ausência da Enfermeira Noturna (Rosario Dawson) que até então costumava ser o elo de ligação entre todos os personagens do universo de séries Netflix/ Marvel, mas temos a presença de Misty Knight (Simone Missick) que menciona os eventos passados na última temporada de Luke Cage, inclusive questionando os rumos tomados por seu protagonista.  



... melhores ainda na pancadaria. Veremos algum dia "As Filhas do Dragão"???

 
 
Uma grande sacada também desta temporada foi dar um maior protagonismo a Colleen Wing (Jessica Henwick), transformando a personagem em uma co-protagonista, tornando Punho de Ferro numa série sobre os dois, numa decisão muito acertada. Transformar Colleen em uma descendente de Wu Ao-Shi (a Rainha Pirata de Pinghai, primeira a invocar o poder supremo de K’un-Lun) não apenas inseriu sua transformação no cânone, como abriu novas possibilidades. Caso possam retomar esse universo ficcional, haverá a oportunidade de mergulhar de vez nas águas da Wuxia, gênero de fantasia chinesa que mistura lutas ao fantástico – inclusive preparando terreno para uma versão das Filhas do Dragão, série da Marvel nos quadrinhos, com Colleen Wing e Misty Knight, que juntas são sócias da Knightwing Restorations uma empresa de fachada da sua agência de investigações, e nesta temporada demonstram ótima química entre as suas intérpretes suplantando em muito até o protagonista principal.



As meninas inclusive seguram melhor a onda do que os "manos" Luke Cage (Mike Coulter) e Danny Rand


 
A Segunda Temporada se mostra mais eficiente nas coreografias de luta (graças a Clayton Barber de Pantera Negra ) e, sendo uma continuação bastante conectada à primeira, encerra as pontas de um passado problemático e até... “chato”, que faz a inclusão de uma nova personagem mas com argumentos bons, não verdadeiramente empolgantes. Porém, foi um avanço se comparada à Primeira Temporada. Embora tenha todos os arcos fechados com coerência, o final da série deixou (muito bem) portas para novos rumos a serem trilhados, como a capacidade de seus protagonistas conseguirem inserir seu chi em objetos, como a Katana empunhada por Colleen, ou as armas que Danny aprende a utilizar (fazendo citação a Orson Randall, um dos Punhos de Ferro do passado). Uma vez que a Marvel/ Netlix anunciou o encerramento das séries do personagem, bem como de Demolidor , de Luke Cage , ainda não tendo se pronunciado sobre Jessica Jones , O Justiceiro ou Os Defensores , só podemos esperar se estas pontas em aberto ainda serão de alguma forma fechadas nestas séries ou em longa-metragens solo ou se a Marvel migrará seus personagens para o serviço de Streaming da Disney, cujo foco até o presente seria o de um público “mais família”, bem diferente do público-alvo dos seriados em parceria com a Netflix
 


Ferramentas energizadas: O "Shi" pode fluir de um punho para uma katana...



 Esperemos as rodadas de negociações corporativas para saber se Danny Rand irá ou não tornar-se definitivamente (mesmo!!!) O Imortal Punho de Ferro.



...ou para pistolas!!! Que venha uma maior demonstração desse poder!




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