Poderosa e fraturada
por Alexandre César
(Originalmente postado em 14/ 10/ 2019 )
Enveredando pelo passado de Jessica e Patsy
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Living La Vida Loca: Jessica (Krysten Ritter) heroína para lá de imperfeita
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Ácida,
beberrona, boca suja e adepta do sexo casual, entre outras
características que muitos consideram questionáveis, ela é a maior
anti-heroína da Marvel. Trata-se de Jessica Jones (agora na sua 2ª temporada pelo serviço de streaming Netflix), alguém que poderia ser uma colega da Rê Bordosa ou da Mara Tara, personagens das saudosas e hilárias HQs da série Chiclete com Banana do
nosso Angeli. Mas, como vemos nessa nova etapa da vida da problemática
detetive, nada aqui é engraçadinho e o nosso passado parece sempre nos
assombrar de uma forma ou de outra.
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Malcolm Ducasse (Eka Darville): senhor do seu destino
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O
que vemos se passa após os eventos anteriores narrados na 1ª temporada,
quando Jessica (Krysten Ritter, acrescentando cada vez mais camadas à
personagem) pôs um ponto final na sua relação tóxica e abusiva com
Kilgrave, o Homem-Púrpura (David Tennant). Aqui não há nenhuma referência ao que aconteceu na 1ª temporada de Os Defensores (também disponível na Netflix).
De fato, temos a impressão de que esta temporada se situa antes do
programa que reúne os heróis da Marvel com séries próprias na Netflix até então.
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A entrada em cena do personagem de Janet McTeer preenche muitas lacunas do passado de Jessica...
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Jessica
continua tocando a sua vida. Agora, porém, com um maior senso de
responsabilidade em relação aos seus atos e as pessoas à sua volta.
Dentre estas, destaca-se Trish Walker (Rachael Taylor, surpreendente). A
amiga/irmã do peito da nossa detetive agora está envolvida por sua
obsessão por protagonismo e em não ser uma “donzela em perigo” - e isto a leva a uma jornada perigosa. Também temos Malcolm Ducasse (Eka Darville). O sidekick/ funcionário/sócio - além de eventual alívio cômico - cresce, tornando-se protagonista de sua própria vida.
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Oscar Arocho (J.R. Ramirez) e seu filho: De implicância inicial a possibilidade de relacionamento da heroína
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Inicialmente
Jessica tem problemas com o novo senhorio do prédio onde fica seu
escritório. Oscar Arocho (J.R. Ramirez) tem reservas quanto a presença
de gente superpoderosa e sua tendência a gerar danos colaterais à sua
volta. Já a todo-poderosa advogada Jeri Hogarth (Carrie-Anne Moss) sofre
uma reviravolta pessoal que mostra que, não importa o quão poderosos,
bem-sucedidos e no topo da cadeia alimentar estejamos, somos apenas
seres humanos, falhos e perecíveis.
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É claro que ao longo da temporada não faltam os meliantes e babacas ocasionais
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Tendo
cada episódio sido dirigido por uma diretora diferente, a série,
comandada por Melissa Rosemberg, mostra com vigor e, ao mesmo tempo,
sutileza (talvez devido ao “olhar feminino”), temas como preconceito racial e de gênero, uso de pessoas em experimentos científicos sem o devido consentimento, o “fechar os olhos” de alguns pais de ídolos infantis/teens quanto a exposição dos filhos a abusos (pois acreditam que “ajudará na sua carreira”)
e a violência policial, entre outros tópicos. Mas o mote principal da
temporada é o passado de Jessica e a origem e dos seus poderes, com ela
procurando descobrir o que é a misteriosa IGH - entidade que a fez de cobaia, entre outras pessoas. Alguns se decepcionarão por não haver um “vilão” no
sentido clássico, como era o próprio Kilgrave, mas a escolha ao
humanizar os seus antagonistas, borrando a fronteira entre o que é certo
e errado e entrando em rota de colisão com a norma vigente, gera
conflitos internos mais palpáveis do que a máxima tradicional “ Ele é o mal. Devo matá-lo! ” No
mundo real todos nós temos a nossa própria cota de mentiras, onde
manipulamos e somos manipulados, tendo de pagar a conta no final.
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Jeri Hogarth (Carrie-Anne Moss): dolorosa constatação de sr apenas humana
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Temos
arcos fechados de vários núcleos de personagens, que até contornam bem o
comprimento padrão estabelecido de 13 episódios (algo que a Marvel/Netflix deveria rever), suavizando as comuns “barrigas narrativas”.
A temporada mostra coisas interessantes do passado de Jessica, como a
origem de seu visual e da sua jaqueta, bem como a rotina de suas
relações familiares (mostrando o quanto uma geração se espelha na
outra). E ainda vemos a fase em que Trish era a Patsy, ídolo teen à
lá Britney Spears/Christina Aguilera com um estilo de vida
autodestrutivo, que a induziu a secretamente invejar Jessica, olhando-a
como a heroína que ela sempre quis ser, apesar de Jessica nunca ter
querido tal fardo. Será que teremos Trish assumindo a identidade heroica
de Felina (Hellcat) como originalmente ocorreu nos quadrinhos da Marvel?
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Trish Walker (Rachael Taylor): possibilidade de se tornar a heroína Felina (Hellcat)
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E
Jessica? Ela seguirá como sempre, mas agora percebendo que, por mais
fraturada emocionalmente que seja, ela não precisa quebrar aqueles à sua
volta (e que de fato se importam com ela), seja com as palavras ou os
punhos.
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Jeri, Jessica, Trish e Malcolm: Novos rumos em suas jornadas pessoais
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