sábado, 14 de março de 2020

A volta da Porralouca! - Crítica - Séries: Jessica Jones - 2ª temporada

 


Poderosa e fraturada
 
por Alexandre César
(Originalmente postado em 14/ 10/ 2019 ) 

 Enveredando pelo passado de Jessica e Patsy

 

Living La Vida Loca: Jessica (Krysten Ritter) heroína para lá de imperfeita


  Ácida, beberrona, boca suja e adepta do sexo casual, entre outras características que muitos consideram questionáveis, ela é a maior anti-heroína da Marvel. Trata-se de Jessica Jones (agora na sua 2ª temporada pelo serviço de streaming Netflix), alguém que poderia ser uma colega da Rê Bordosa ou da Mara Tara, personagens das saudosas e hilárias HQs da série Chiclete com Banana do nosso Angeli. Mas, como vemos nessa nova etapa da vida da problemática detetive, nada aqui é engraçadinho e o nosso passado parece sempre nos assombrar de uma forma ou de outra.


Malcolm Ducasse (Eka Darville): senhor do seu destino



 O que vemos se passa após os eventos anteriores narrados na 1ª temporada, quando Jessica (Krysten Ritter, acrescentando cada vez mais camadas à personagem) pôs um ponto final na sua relação tóxica e abusiva com Kilgrave, o Homem-Púrpura (David Tennant). Aqui não há nenhuma referência ao que aconteceu na 1ª temporada de Os Defensores (também disponível na Netflix). De fato, temos a impressão de que esta temporada se situa antes do programa que reúne os heróis da Marvel com séries próprias na Netflix até então.



A entrada em cena do personagem de Janet McTeer preenche muitas lacunas do passado de Jessica...
 
 
Jessica continua tocando a sua vida. Agora, porém, com um maior senso de responsabilidade em relação aos seus atos e as pessoas à sua volta. Dentre estas, destaca-se Trish Walker (Rachael Taylor, surpreendente). A amiga/irmã do peito da nossa detetive agora está envolvida por sua obsessão por protagonismo e em não ser uma “donzela em perigo” - e isto a leva a uma jornada perigosa. Também temos Malcolm Ducasse (Eka Darville). O sidekick/ funcionário/sócio - além de eventual alívio cômico - cresce, tornando-se protagonista de sua própria vida. 
 
 
Oscar Arocho (J.R. Ramirez) e seu filho: De implicância inicial a possibilidade de relacionamento da heroína
 
 
 
Inicialmente Jessica tem problemas com o novo senhorio do prédio onde fica seu escritório. Oscar Arocho (J.R. Ramirez) tem reservas quanto a presença de gente superpoderosa e sua tendência a gerar danos colaterais à sua volta. Já a todo-poderosa advogada Jeri Hogarth (Carrie-Anne Moss) sofre uma reviravolta pessoal que mostra que, não importa o quão poderosos, bem-sucedidos e no topo da cadeia alimentar estejamos, somos apenas seres humanos, falhos e perecíveis.
 
 
 
É claro que ao longo da temporada não faltam os meliantes e babacas ocasionais
 
 
 
Tendo cada episódio sido dirigido por uma diretora diferente, a série, comandada por Melissa Rosemberg, mostra com vigor e, ao mesmo tempo, sutileza (talvez devido ao olhar feminino), temas como preconceito racial e de gênero, uso de pessoas em experimentos científicos sem o devido consentimento, o “fechar os olhos” de alguns pais de ídolos infantis/teens quanto a exposição dos filhos a abusos (pois acreditam que “ajudará na sua carreira”) e a violência policial, entre outros tópicos. Mas o mote principal da temporada é o passado de Jessica e a origem e dos seus poderes, com ela procurando descobrir o que é a misteriosa IGH - entidade que a fez de cobaia, entre outras pessoas. Alguns se decepcionarão por não haver um “vilão” no sentido clássico, como era o próprio Kilgrave, mas a escolha ao humanizar os seus antagonistas, borrando a fronteira entre o que é certo e errado e entrando em rota de colisão com a norma vigente, gera conflitos internos mais palpáveis do que a máxima tradicional Ele é o mal. Devo matá-lo! ” No mundo real todos nós temos a nossa própria cota de mentiras, onde manipulamos e somos manipulados, tendo de pagar a conta no final.
 
 
Jeri Hogarth (Carrie-Anne Moss): dolorosa constatação de sr apenas humana

 
 
Temos arcos fechados de vários núcleos de personagens, que até contornam bem o comprimento padrão estabelecido de 13 episódios (algo que a Marvel/Netflix deveria rever), suavizando as comuns “barrigas narrativas”. A temporada mostra coisas interessantes do passado de Jessica, como a origem de seu visual e da sua jaqueta, bem como a rotina de suas relações familiares (mostrando o quanto uma geração se espelha na outra). E ainda vemos a fase em que Trish era a Patsy, ídolo teen à lá Britney Spears/Christina Aguilera com um estilo de vida autodestrutivo, que a induziu a secretamente invejar Jessica, olhando-a como a heroína que ela sempre quis ser, apesar de Jessica nunca ter querido tal fardo. Será que teremos Trish assumindo a identidade heroica de Felina (Hellcat) como originalmente ocorreu nos quadrinhos da Marvel
 
 
Trish Walker (Rachael Taylor): possibilidade de se tornar a heroína Felina (Hellcat)
 
 
 
E Jessica? Ela seguirá como sempre, mas agora percebendo que, por mais fraturada emocionalmente que seja, ela não precisa quebrar aqueles à sua volta (e que de fato se importam com ela), seja com as palavras ou os punhos.
 
 
Jeri, Jessica, Trish e Malcolm: Novos rumos em suas jornadas pessoais
 

 

 

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