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quarta-feira, 29 de julho de 2020

A falta que faz um telão... - Greyhound: Na Mira do Inimigo (2020)

por Alexandre César





No mar,Tom Hanks cuida dos seus



Hanks estrela e escreve o roteiro deste filme, baseado num
livro que lhe foi presenteado pela diretora Nora Ephron....


1942: O Atlântico Norte no "Poço Negro", zona além da escolta
 aérea aos comboios, onde eles estavam por sua própria conta...


Em meio à esta época em que a propagação do Novo Corona Vírus (COVID-19) além de ceifar vidas e de revelar, com a necessidade de impor regras rígidas de distanciamento social, a fragilidade de nossa sociedade e modo de vida, um dos meios mais afetados por isso tem sido o setor cultural, sendo o cinema um dos principais, levando os estúdios à adiarem lançamentos ou encaminhá-los diretamente ao streaming, tendência essa que se antes da pandemia já ocupava grande espaço, agora parece ser a única alternativa de veiculação fora os canais à cabo.



O capitão Krause (Tom Hanks) lida com a tensão de lidar com as
responsabilidades do comando e de não se deixar levar
pela sua inexperiência...


Produzido pela Sony Pictures, e veiculado pela APPLE TV+, e dirigido por Aaron Schneider (Segredos de um Funeral) o drama de guerra Greyhound: Na Mira do Inimigo (2020) traz Tom Hanks (Um Lindo Dia na Vizinhança) como o inexperiente Capitão Krause, no comando de um Destróier Classe Fletcher*que lidera o comboio aliado HX-25 no mês de fevereiro de 1942, durante a fase mais agressiva da Segunda Guerra Mundial, quando os U-Boats alemães massacravam os comboios que partiam com tropas e suprimentos em direção à Inglaterra, como parte do esforço de guerra, atravessando o Norte do Oceano Atlântico, no trecho conhecido como o “Poço Negro”onde os navios estavam além da alcance da escolta aérea, contando apenas com os seus próprios recursos para se defenderem de um inimigo implacável.



Braço-Direito: O subcomandante Charlie Cole (Stephen Graham)
ajuda Krause a manter as coisas funcionando à bordo...


O roteiro do próprio Hanks baseado na novela ”The Good Shepherd”de C.S. Forester , autor de aventuras de temática militar, mais conhecido pela série de romances náuticos do Capitão Horatio Hornblower (personagem fictício que serviu de fonte de inspiração a um certo James Tiberius Kirk) se atém ao microcosmo e da tensão a que estão sujeitos os indivíduos que estão na ponte de comando, tendo de calcular cada passo meticulosa e concemtradamente, pois um passo mal calculado pode ser a diferença entre a vida e a morte, e portanto detalhes como a tendência a pigarrear ou tossir e um oficial que tem de repassar um comando de um setor a outro ou relatar um parecer pode ser problemático para o tempo de reação doo navio.


Juventtude: O Tenente Nystrom (Matt Helm) é a perfeita encarnação
de toda uma geração de garotos que foi para guerra, exibindo
uma alegria infantil nos momentos de vitória...


Hanks compõe o seu personagem de forma sóbria e contida: Krause é um líder que pegou o seu primeiro comando já tardiamente, e carrega o peso das vidas que deve proteger nas costas, mas como um cristão fervoroso, assume as suas responsabilidades, fazendo o seu trabalho mas não odiando o seu inimigo, aqui tal qual visto em Dunkirk como algo impessoal, pois vemos os submarinos, mas não os seus tripulantes, sendo fácil assim desumanizá-los, coisa que a música de Blake Neely (Flash) colabora, com soluções bem criativas como anexar cantos de baleias nas cenas em que aparecem os submarinos alemães espreitando o comboio e preparando o cerco, tal qual orcas que cercam uma presa ou, lobos que cercam um rebanho.


Criatividade: A idéia de usar cantos de baleia (ou algo parecido)
na trilha sonora dá uma personalidade predatória aos U-Boats,
como se fossem animais marinhos...





A direção de Schneider é competente, definindo bem os seus personagens, auxiliado pela fotografia de Shelly Johnson (No Olho do Furacão) de tons frios na maioria das cenas, e da edição de Mark Czyewski (JFK, a História Não Contada) e Sidney Wollinsky (A Forma da Água) que mantém o ritmo tenso desta narrativa tensa de jogo-de-gato-e-rato, em que não há lugar para grandes construções de personagens, a despeito do bom elenco, que define bem seus papéis como o subcomandante Charlie Cole (Stephen Graham de O Irlandês) que é o braço-direito do capitão e só, pois só precisamos saber disso para o filme andar, a despeito de duas, três ou mais licenças poéticas** em nome da dramaticidade.



"Momento Frank Capra": A lembrança do encontro com Evelyn
(Elisabeth Shue) dá forças para Krause não esmorecer...




Nesta caracterização do protagonista, que mostra que Hanks se vivesse na década de 30 com certeza seria um ator que Frank Capra escolheria, temos para mostrar algo mais do que só cenas de batalha e a rotina da vida num navio, um flashback em cores mais quentes e aconchegantes, quando Krause, prestes a assumir o comando, no Natal de 1941, encontra-se com Evelyn (Elisabeth Shue de Despedida de Las Vegas) seu interesse romântico, cuja beleza é realçada pelo figurino de Julie Weiss (Meu Jantar com Hervé) e a quem propõe casamento, mas ela declina por causa do momento atual que o mundo está passando, e assim Krause tal qual um bom pastor (correto, e por que não dizer, casto), vai em frente, cuidando do seu rebanho, disciplinando de forma firme mas humana seus tripulantes e sendo o seu crítico mais severo, não demonstrando orgulho quando o seu trabalho chega às últimas consequências, sendo particularmente interessante a cena em que o jovem Tenente Nystrom (Matt Helm de Rainhas do Crime) o congratula dizendo: “- Parabéns capitão! É o seu primeiro U-Boat! São 50 alemães a menos!” e Krause responde sem muita empolgação: -” Sim. 50 almas.” e segue para continuar as manobras, não fazendo questão de passsar na área de detritos do submarino para pegar algum pedaço que ateste o afundamento, parecendo em alguns momentos uma versão naval do personagem vivido por Hanks em O Resgate do Soldado Ryan (1998) de Steven Spielberg.


Um bom pastor conduz o seu rebanho na vida e na morte...


O lado de guia moral e espiritual do personagem é bem traduzido numa sequência em que num momento de calmaria entre um combate e outro Krause prepara uma cerimônia rápida de funeral para os mortos pois ele não tem mais espaço para empilhá-los, e ao depositá-los no mar ele ordena a parada total do navio. Singelo e conciso.


À medida que o tempo vai passando, Krause vai mostrando que mesmo inexperiente ele sabe lidar com o perigo...



O visualmente correto desenho de produção de David Crank (Entre Facas e Segredos) aliado à direção de arte de Tom Frohling (O Protetor 2) e Lauren Rosenbloom (The Rookie) e a decoração de sets de Leonard R. Spears (Corra!) recria bem os espaços apertados e austeros das instalações e cômodos do navio, de cores monocromáticas e neutras de natureza funcional, destacando-se uma maior dramaticidade nos momentos em que se usa a luz vermelha nas cenas noturnas. Tecnicamente os efeitos visuis da Day For NIte, Double Negative (DNEG), Industrial Pixel VFX impressionam apesar de em alguns momentos pela natureza das sequências*** sentirmos um “quê” de videogame, por ter peso dramático, mas não muita verossimilhança****.


Ótimos efeitos visuais, embora sejam poucas as cenas submarinas...



Nos créditos finais é relatado que durante a Batalha do Atlântico, cerca de 3.500 navios, carregando milhões de toneladas de carga foram afundados e 72.200 vidas foram perdidas. No conjunto, Greyhound: Na Mira do Inimigo é um filme correto, que perde muito por não ser exibido na tela grande, perdendo muito do impacto de suas cenas, narrando uma situação episódica típica a um conflito desssas proporções, mas que não coloca a possibilidade de se conhecer os dois lados desse mesmo conflito como por exemplo em A Raposa do Mar (1957) de Dick Powell que com muita habilidade coloca Robert Mitchum como um capitão de destróier americano e Curd Jürgens como um capitão de submarino alemão, mostrando que há seres humanos tanto de um lado quanto do outro de uma guerra, e a grande falha é não percebermos que o grande inimigo na verdade, é a guerra em si mesma...


No melhor estilo "Piratas do Caribe", ainda que suicida para os alemães...






NOTAS:


*:A Classe Fletcher foi uma classe de detróiers (ou contratorpedeiros) usada pelos EUA durante a Segunda Guerra Mundial, tendo sido criada em 1939 como resultado com a insatisfação com as classes anteriores, a Portere a Somer. Algumas unidades dessa classe serviram durante as Guerras da Coréia e a do Vietnã.Eram navios de alta performance e longo alcance, atuando em guerra anti-submarinos e guerra anti-aérea, podendo cobrir as vastas distâncias necessárias pelas ações tanto no Atlântico quanto no Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial. Posteriormente algumas unidades foram adquiridas pela Marinha Brasileira e incorporadas à Classe Pará.


Cerca de sete unidades dessa classe foram
vendidas para a nossa marinha...


**1: Temos a figura de dois taifeiros negros Cleveland (Rob Morgan de 12 Anos de Escravidão) e Pitts (Craig Tate de Demolidor) que servem as refeições do Capitão em seu posto de comando (que sempre acaba adiando comer por causa dos acontecimentos), coisa que na época não era a prática corrente, sendo os negros relegados à atividades longe da ponte de comando.


Cleveland (Rob Morgan): Atenuando o quadro racista da época...


**2: Em certa altura o Greyhound capta uma mensagem de um comandante de um U-Boat tentando intimidá-lo, coisa absurda pois quebrando o silêncio de rádio os equipamentos do destróier facilmente poderiam triangular a sua posição, e afundá-lo.


Silêncio no rádio era vital no "Jogo-de-Gato-e-Rato"...


***: Em outra sequência os U-Boats emergem próximos à superfície antes de atacar, quando na realidade eles ficavam a uma distância média de 3 quilômetros de seus alvos e lançavam uma saraivada de torpedos à profundidade de periscópio, para preservar a sua localização.


A natureza furtiva do submarino não é muito obedecida aqui...


****: Em uma sequência de batalha temos uma troca de tiros entre o Greyhounde um U-Boat na superfície, passando um ao lado do outro em sentido contrário, como os navios de filmes de piratas, coisa que nenhum comandante alemão faria, pois a diferença de armamentos no número de canhões, metralhadoras e calibres de um destróier para um submarino é brutal, sendo algo suicida.


Diferença mortalmente gritante...





"Toda a missão em que você sai do navio andando com as próprias
pernas é uma missão bem-concluída!!!"









quarta-feira, 22 de julho de 2020

Frio, mas vai esquentando... - O Expresso do Amanhã: 1ª Temporada



Seguindo nos trilhos apesar dos desvios

por Alexandre César


Série começa devagar mas logo acelera e se firma


A versão de Bong Joon-Ho de 2013 com Chris Evans,
Tilda Swinton, John Hurt entre outros...


Surgido em 1982,a graphic novel francesa Le Transperceneige (O Perfuraneve) de Jacques Lob, Benjamin Legrand e Jen-Marc Rochette apresentava uma distopia com ótima alegoria sobre a luta de classes ao mostrar um mundo glacial, onde os remanescentes da espécie humana habitam um gigantesco trem em movimento contínuo numa volta ao mundo (num moto perpétuo) vivendo num sistema de castas em que os ricos têm ótimas acomodações, alimentação, e à medida que vamos descendo de classe social, o espaço, comida, etc... vão decaindo até chegarmos nos últimos vagões, onde os fundistas vivem como párias na fome, miséria e desesperança. Familiar, não?


Melanie Cavill (Jennifer Connelly) e Ruth Wardell (Alison Wright) fazem relações públicas com os ricos passageiros...

Alçada como um dos grandes clássicos modernos da ficção-científica, a obra ainda que desconhecida do grande público logo chamou a atenção de Hollywood, que associou-se ao (atualmente laureado com o Oscar por Parasita) diretor sul-coreano Bong Joon-Ho (O Hospedeiro) que junto com Kelly Masterson (Quem Matou Kennedy?) adaptou a obra para o formato de longa-metragem em 2013 estrelado por Chris Evans, Song Kang-ho, Tida Swinton, Jamie Bell, Octavia Spencer, Go Ah-sung, John Hurt e Ed Harris como o plutocrata Sr.Wilford, o dono do trem. Quando lançado no ocidente, teve um complicado processo de distribuição, que resultou no seu fracasso na bilheteria, mas que chamou atenção suficiente de produtores americanos para uma nova adaptação, agora formatada como série de televisão.


Amor fundista: Andre Layton (Daveed Diggs) o último detetive, e Josie Wellstead (Kate McGuinness) aguerrida sobrevivente...

Mesmo com o cineasta coreano à bordo como produtor executivo,a nova trajetória do Snowpiercer foi turbulenta desde a aquisição dos direitos em 2015 até chegar ao ar em 2020, com a troca de showrunners, e de emissoras (originalmente pela TNT, foi para a TBS, retornando depois para a TNT e sendo aqui veiculada pela Netflix), roteiros reescritos, novas direções e tudo o que poderia dar errado, e neste processo, quase descarrilando completamente o projeto, que inicialmente tinha Josh Friedman (O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio) como showrunner, que logo, em função das famosas “diferenças criativas”, foi substituído por Graeme Manson (Orphan Black) que aceitou o desafio de pegar um conceito fascinante e complicá-lo (no bom sentido) de maneira lógica e eficiente.


Os maquinistas Bennett Knox (Iddo Goldberg) e o "Arrombador" Boscovic (Aleks Paunovic) McGuinness enfrentam e superam muitos obstáculos técnicos que surgem pelo caminho...


Com um preâmbulo em animação, contextualizando a história, onde após uma tentativa mal sucedida de engenharia climática, tentando de parar o aquecimento global acaba involuntariamente criando uma nova era glacial, logo nos focamos na invasão do trem por diversas pessoas desesperadas no dia de sua partida e que ficaram relegadas a alguns vagões no final deste trem de 1.001 vagões em moto-perpétuo ao redor do planeta, em terríveis condições de vida e o jugo opressor daqueles que ocupam os vagões da frente, e passados quase sete anos em que se consolida o constante sentimento de revolta dos fundistas com o que sofrendo sem comida, calefação boa e condições de higiene numa mais do que óbvia analogia com o mundo de hoje em termos de divisão de classes. Acompanhamos Andre Layton (Daveed Diggs de Ponto Cego) detetive (provávelmente o último do mundo) e líder fundista que é convocado por Melanie Cavill (Jennifer Connelly de Alita: Anjo de Combate) que dita as ordens à bordo em nome do misterioso Sr. Wilford (sempre ausente) para resolver um crime no melhor estilo Assasinato no Expresso do Oriente, e ele, como membro da classe inferior passageiros do fundo da cauda do trem, vê nesta tarefa uma maneira de fazer um reconhecimento do ambiente, para mais adiante levar uma revolução contra a elite da frente do trem.


Luta de classes: Robert (Vincent Gale), Lilah (Kerry O´Malley) e L.J.Folger (Annalise Basso) são a elite, o que se reflete em seus trajes, cabelo e acessórios...


...contrastam com os trajes utilitários dos soldados ou da operadora Bess Till (Mickey Sumner) ou, dos trapos de Layton...


Embora a trama investigativa pareça alheia a tudo o que é mostrado, sirva para apresentar ao espectador este microcosmo, a confusão sofrida pela produção da série ao longo destes cinco anos se reflete nos primeiros episódios, que são legais, mas num ritmo morno, não engajando o espectador inicialmente, apesar de gradativamente ir ganhando camadas e mais camadas para complicá-la e justificar um material antropologicamente tão rico e possibilitar as reviravoltas da segunda metade da temporada, que é quando a série encontra a sua voz e se firma.


Quando eclode a revolução Miss Audrey (Lena Hall), Bess Till e Layton forjam uma aliança...


Do lado de Layton, temos entre os fundistas “Big John” (Jonathan Walker de Continuum) um dos líderes, veterano de outros levantes sufocados; o “Último Australiano” (Aaron Glenane de Mr. Inbetween) pau-para-toda-a-obra meio atrapalhado; Josie Wellstead (Kate McGuinness de Hollywood) “mãe” de “Miles Miles” (Jaylin Fletcher de A Química do Amor) garota órfão que é designado para trabalhar na locomotiva como aprendiz (tornando-se importante para a revolução) e “Lights” (Miranda Edwards de The Strain) lutadora casca-grossa mas de raciocínio sagaz. Todos esperando a hora de lutar para tomar o poder no trem e estabelecer uma sociedade menos estratificada à bordo.


O brutal comandante Grey (Timothy V. Murph) faz Layton e os fundistas passarem maus momentos...


Quanto à Melanie, descobrimos que ela tomou o Snowpiercer de Wilford, pois ele havia pervertido o seu projeto inicial (ela é que projetou o trem) vendendo passagens a milionários e pouco se importando com o futuro da humanidade, querendo apenas sobreviver com o maior luxo possível. Ela mantém o sistema de catas herdado tentando gradativamente torná-lo mais humano (sem muito sucesso) tendo de tomar muitas vezes atitudes indigestas, revelando o seu lado humano arás da atitude gélida que expõe para os passageiros e subalternos. Ela conta com o maquinista Bennett Knox (Iddo Goldberg de Faith) com quem tem um caso, e com a sua auxiliar Ruth Wardell (Alison Wright de Castle Rock) que tem uma adoração messiânica pelo Sr. Wilford (é o “mito” dela) mas sente que o equilíbrio de forças à bordo está se deteriorando neste sete anos de viagem ininterrupta em torno do globo, deteriorando-se como inevitavelmente os equipamentos do trem (num episódio Knox diz a Miles que embora o movimento perpétuo do trem dê um suprimento ilimitado de energia, “um dia todos morrerão por causa da pane de algum componente insignificante”) e os próprios trilhos, que um dia irão colapsar...


Ao longo da temporada o logo se alterna de posição, ora ficando um "W" (Wilford) ora ficando um "M" (Mellanie) refletindo um duelo ideológico...


Dentre os membros da 1ª classe, se destacam o casal milionário Robert (Vincent Gale de Van Helsing) e Lilah Folger (Kerry O´Malley de Joven Sheldon) pai e mãe de L.J. Folger (Annalise Basso de Slender Man: Pesadelo Sem Rosto) jovem mimada e envolvida na trama investigativa e interessados em depor Melanie e ditar as regras no expresso,trazendo para o seu lado o comandante Grey (Timothy V. Murph de Westworld) chefe da bem armada tropa de segurança interna.


O layout do "Snowpiercer" e seus 1001 vagões...

 

Já na 2ª Classe temos Miss Audrey (Lena Hall de Girls) a chefe do cabaré, que trabalha com Zarah Ferrami (Sheila Vand de Argo) ex-fundista e antigo amor de Layton; e Jinju Seong (Susan Park de Fargo) nutricionista e amiga que compartilha o segredo de Mellanie.


Forma e função: A direção e arte acertou no design dos ambientes internos dos vagões...

...como o do salão da Primeira Classe acima, aqui, o do vagão-escola  e o da locomotiva...

...refletindo a funcionalidade dos espaços internos com soluções interessantes...


E temos 3ª Classe, a dos operários do trem, o grupo mais importante para a revolução, onde destacam-se Roche (Mike O´Malley de O Bom Lugar) chefe de operações de segurança e Bess Till (Mickey Sumner de História de um Casamento) a sua braço-direito e amante de Jinju; John Osweiller (Sam Otto de Collateral) operador, ex-atleta de caráter dúbio; a Dra. Pelton (Karin Konoval da nova trilogia Planeta dos Macacos) e o Dr. Henry Klimpt (Happy Anderson de The Tick) que cuida dos pacientes das “gavetas” onde passageiros condenados ficam em hibernação induzida.


Os efeitos visuais acertaram no visual, dentro dos limites orçamentários...

... mostrando esse mundo árido e gelado de cidades, países e continentes congelados...


Surpreendentemente, a trama investigativa dos crimes, que dava a impressão de que se extenderia por toda a temporada, se soluciona no sexto episódio, tendo logo em seguida um julgamento que divide o equilíbrio de classes dentro do trem e logo em seguida abrindo o caminho para a revolução, quando o ritmo se acelera e alianças se fazem enquanto outras se desfazem, levando Layton a ter de aprender a lidar com o peso das decisões que uma guerra cobra. E todas as conseqências das decisões tomadas vem cobrar o seu preço em ritmo acelerado, se engatando em você e pisando hora no acelerador, hora no freio...


Ruth assume uma postura reacionária defendendo obstinadamente a  figura do Sr. Wilford, o seu "mito"...

...em contraste com a atitude compassiva de Josie, que é solidária com todos, na miséria dos vagões do fundo...


Os figurinos de Cynthia Ann Summers (Lemony Snicket: Desventuras em Série) e Caroline Cranston (Smallville) marcam bem a pirâmide social dos personagens,com as classes bem separadas visualmente, nos figurinos e penteados, com os trajes delicados, coloridos e refinados da Primeira Classe, com os padronizados, sóbrios, mas elegantes da Segunda Classe, os meramente funcionais da Terceira e dos soldados, até os trapos mulambentos dos fundistas de tons pretos, cinzas, terrosos e sujos.


As paisagens apesar de realistas, guardam semelhanças com as imagens dos quadrinhos...


O desenho de produção de Barry Robison (X-Men Origens: Wolverine) é criativo na criação dos espaços internos do Snowpiercer, cuja direção de arte de Paul Alix (Alita: Anjo de Combate), Thomas P. Wilkins (Mulan) e Gwendolyn Margetson (The Terror) e a decoração de sets de Louise Roper (Okja) aproveitam o espaço confinado que facilita a produção em termos orçamentários, revelando o cuidado na criação de um espaço interno lógico e bem determinado, contrastando o luxo das áreas da Primeira Classe com os espaços mais funcionais das outras classes, que vão ficando mais apertadas e menos coloridas, revelando momentos criativos como o vagão aquário que leva à preparação de sushi, que embora não seja extraordinário, revela o cuidado com os detalhes, nos dando de vontade ver mais, além desse surreal mini-universo em constante movimento que se revela credibilidade sem muita forçação de barra.


Jinju Seong (Susan Park), nutricionista e companheira de Bess Till, compartilha dos segredos de Mellanie...


Em termos visuais a fotografia de John Grillo (The Leftovers) e Thomas Burstyn (Salvation) contrasta os tons cinzas e azulados das entranhas do Expresso enfatizando seu aspecto frio e inóspito mais escuros do que o inferno gelado exterior (quase sempre iluminado) caminhando com a edição de Jay Prychidny (Orphan Black), Cheryl Potter (Perdido em Marte), Marta Evry (O Pacífico), Allan Lee (Loudermilk), Steve Polivka (Justified) e Rebecca Valente (O Paradoxo Cloverfield) que mentém a narrativa em movimento, embora não acelerada, embalada pela trilha de Bear McCreary (Battlestar Galactica) que incorpora sons mecânicos na atmosfera da música, apesar de não ser o seu trabalho mas inspirado, mas que vai num crescendo nos últimos episódios.


A ex-amada de Layton Zarah Ferami (Sheila Vand) é forçada por Mellanie a uma atitude questionável...


Devemos elogiar os efeitos visuais da Torpedo Pictures que eficientemente dentro do orçamento de um seriado televisivo conseguiram bons visuais nas externas desse mundo desolado enos percalços que o Snowpiercer enfrenta em seu trajeto ininterrupto, como quando o Snowpiercer passa por uma avalanche e uma janela se quebra no vagão-celeiro matando por congelamento o gado, ou quando ele tem de desengatar alguns vagões durante a revolução, ou ainda ao cruzar com um “elo” de ligação com as suas origens...

 

"Big Alice", o protótipo do "Snowpiercer" e a grande surpresa do final, cujo design remete às antigas locomotivas à diesel...


...prometem mais revoluções a acontecer dentro nos vagões...


Ao final da temporada O Expresso do Amanhã ganha fôlego e surpreende, deixando o tom morno da primeira metade para trás, subvertendo expectativas do que nos havia sido colocado desde o início e, apontando num senhor gancho para a próxima temporada, em que já temos confirmada a presença de Sean Bean (Game of Thrones) como o Sr, Wilford (seja presencialmente, seja em flashbacks) e logo de cara já percebemos que o desafio mais fácil para Layton e os fundistas era fazer a revolução...