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Spector, Grant, Cavaleiro da Lua, as múltiplas personalidades do avatar de Konshu.

Adeus, Mestre.

George Perez e sua fantástica trajetória.

Eu sou as sombras.

The Batman, de Matt Reeves, recria o universo sombrio do Homem-Morcego.

Ser legal não está com nada...Ou está?

Lobo, Tubarão, Aranha, Cobra, Piranha...Que medo!!! Mas eles querem mudar isso.

quinta-feira, 30 de junho de 2022

É até legal, mas... - Crítica – Séries: Obi-Wan Kenobi - 1ª Temporada



 


O retorno (errático) do galante espadachim

por Alexandre César


 
Série da Disney + é desigual por natureza







Din Djarin - o Mando - e Grogu - o “Baby Yoda” - em O Mandaloriano, recolocaram a galáxia “muito muito distante” em seu devido e estratégico lugar no mapa da cultura pop, resgatando o fascínio que este exercia sobre as pessoas. Ela abriu o caminho para um grande revival  do universo Star Wars em novas séries, tanto em animação quanto em live action. Apesar de sua riqueza, por ser uma grande fonte de narrativas, este processo apresentou resultados variáveis, pois depende de um grande planejamento para que suas propriedades intelectuais vinguem na justa medida de seus legados, não tombando no meio do caminho. 


Em Tatooine, trabalhando no sharkeado de uma criatura morta...

Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) trabalha dia-a-dia, desiludido com os rumos da galáxia

 

Dirigida por Deborah Chow (O Mandaloriano) e tendo na equipe de roteiro nomes como Joby Harold (Army of the Dead: Invasão em Las Vegas), Hossein Amini (O Alienista), Stuart Beattie (Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar), Hannah Friedman (Roadies) e Andrew Stanton (Toy Story 4) Star Wars: Obi-Wan Kenobi, a série apresenta em sua 1ª Temporada a tarefa de costurar mais alguns dos elementos compreendidos entre o final da trilogia prequel, as animações, os spin-offs e a trilogia clássica. Tudo isso tentando respeitar o cânon, mesmo que acabe fazendo alguns retcons no meio do caminho. Afinal, se existe um universo pleno de buracos esperando serem preenchidos, este é o universo de Star Wars... 

 

Ele vive numa caverna, levando uma vida solitária

Descobrimos que foi ele quem deu a Luke Skywalker o seu T-16 de brinquedo, que vemos no filme de1977

A série sofreu adiamentos em função da pandemia de COVID-19 e do processo de reelaboração dos roteiros, uma vez que, numa primeira análise, se revelaram com problemas de narrativa e de lógica interna. Agora, se o que é exibido na série é o resultado final das correções, imagine o que deveria ser originalmente. Embora tenha bons momentos (alguns até ótimos), Obi-Wan Kenobi se ressente de outros bastante constrangedores, e mau dirigidos, dignos de qualquer filme dos Trapalhões feitos nas décadas de 70 e 80. A edição de Nicolas De Toth (O Passageiro), Kelley Dixon (Breaking Bad) e Josh Earl (Corrida ao Redor da Terra) fez o possível para disfarçar esse problema.

 

Revemos Alderaan, com seus belos palácios e sua rica cultura, um pilar do refinamento...

...onde o Senador Bail Organa (Jimmy Smits) e sua esposa Breha (Simone Kessell) criam a pequena e impulsiva Leia Organa (Vivien Lyra Blair)

Passados dez anos desde os acontecimentos de Star Wars - Episódio III: A Vingança dos Sith, encontramos Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor, de Aves de Rapina: Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa, sempre mais do que confortável no personagem) vivendo em Tatooine a rotina de sua “vida de operário”. Ele trabalha no sharkeado de um monstruoso ser dos antigos mares do planeta (a fiscalização sanitária agradece...), roubando migalhas para a sua montaria e vivendo numa caverna rochosa. No tempo livre, está comprando peças usadas de Teeka, um jawa trapaceiro (como todos os jawas), e observando à distância o menino Luke Skywalker (Grant Feely, de Creepshow), a despeito da hostilidade de seu tio Owen Lars (Joel Edgerton, de O Cavaleiro Verde). Este, junto com sua esposa Beru (Bonnie Piesse, de Star Wars – Episódio III: A Vingança dos Sith), criam o sobrinho como se fosse seu filho. Owen quer distância desses assuntos de Jedi da vida do menino. Obi-wan leva uma vida solitária, assombrada por fantasmas do passado, pois, para ficar ‘fora do radar’ do Império, ele se desconectou da Força, tendo as suas habilidades de Jedi atrofiadas.


A inquisidora Reva, a Terceira Irmã (Moses Ingram), é obcecada por Kenobi...

... contratando o criminoso Vect Nokru (Flea) para sequestrar a princesa e atrair Kenobi para fora da toca

No outro lado da galáxia, no belo e sofisticado mundo de Alderaan, reencontramos o Senador Bail Organa (Jimmy Smits, de Em um Bairro de Nova York) que, junto com sua esposa Breha (Simone Kessell, de Reckonning: Ajuste de Contas), criam a pequena e impulsiva Leia Organa (a fofa Vivien Lyra Blair). A criança é sequestrada  a mando da inquisidora Reva, a Terceira Irmã (Moses Ingram, de A Tragédia de Macbeth), que disputa com o Grande Inquisidor (Rupert Friend, de A Morte de Stálin) e o Quinto Irmão (Sung Kang, de Velozes & Furiosos 9) , o poder em sua casta e os favores de Darth Vader (Hayden Christensen, de Star Wars: A Ascensão Skywalker). O Lorde Sith guarda ainda muito rancor de Kenobi, que o havia mutilado e deixado para morrer por conta do seu último duelo, quando ainda era Anakin Skywalker. 
 
 
Dentre os adversários de Reva, estão o Grande Inquisidor (Rupert Friend) e o Quinto Irmão (Sung Kang) que disputam o poder dentro da Ordem dos Inquisidores

Kenobi, totalmente fora de forma, segue o rastro dos sequestradores até o planeta Daiyu, 


O sequestro de sua rebenta leva Bail a pedir auxílio de Kenobi, que, para ajudar, pena até retornar a seu pleno potencial, apanhando em combates corpo-a-corpo, e recorrendo ao uso dos ‘pouco civilizados’ blasters até encarar de novo usar o sabre de luz. A música de Natalie Holt (Loki) sublinha momentos-chave da ação, tendo o tema de John Williams adaptado por William Ross em composições eficientes. 
 
Kenobi encontra um ex-soldado clone (Temuera Morrison) vivendo de esmolas, ilustrando como o Império usa e descarta os indivíduos


A muito custo, Kenobi resgata a petulante Leia iniciando o caminho de volta


Temos ainda participações de (Kumail Nanjiani (Eternos) como Haja Estree, um jedi de araque; Indira Varma (Carnival Row) como Tala, uma oficial do Império desertora; O´Shea Jackson Jr. (Godzilla II: Rei dos Monstros) como Roken, líder rebelde; Temuera Morrison (
O Livro de Boba Fett) como um clone trooper mendigo; Zach Braff (Vigaristas em Hollywood) como um alienígena; Rya Kihlstedt (Superman and Lois) como a Quarta Irmã dos Inquisidores (que não fede nem cheira); e do músico Flea do Red Hot Chili Peppers como o sequestrador trapalhão Vect Nokru. Os figurinos de Suttirat Anne Larlarb (007: Sem Tempo Para Morrer) define os arquétipos destes e de outros personagens 
 
 
No planeta Mapuzo, Kenobi tem vislumbres de seu antigo padawan Anakim Skywalker (Hayden Christensen)

Tala (Indira Varma) á uma agente da organização "O Caminho" infiltrada no Império, que ajuda Kenobi e outros fugitivos

 
Fica mais do que óbvio e que o Império não poderia durar, pois se revela ter os piores soldados, os stormtroopers, cuja pontaria piora a cada produção. Além disso, a resistência física, as péssimas habilidades de combate e seus capacetes, que não protegem a cabeça de impacto, os deixa vulneráveis à qualquer tapa dado por uma mulher de menos de 60 kg, nocauteando-os fácil (foi um péssimo negócio descartarem os clones...). Eles também possuem oficiais toscos e incompetentes, que não percebem uma criança escondida embaixo de um casaco. Fora os seus engenheiros, que criam instalações "inexpugnáveis" que qualquer intruso invade, qualquer speeder T-47*1 ataca, e que dispõem de corredores cheios de janelas passíveis de ceder à pressão da profundidade (eles precisam de janelas em profundidades tão altas para ficar olhando os peixinhos???). 
 
No planeta Mustafar, em seu castelo...

...Darth Vader (Hayden Christensen) se prepara para confrontar seu antigo mestre


Visualmente bela, a fotografia de Chung-hoon Chung (Noite Passada em Soho) mantém o Padrão Star Wars de qualidade, valorizando o desenho de produção de Todd Cherniawsky (Star Trek: Picard) e Doug Chiang (O Livro de Boba Fett), que, auxiliado pela direção de arte de Erik Osusky (Ameaça Profunda), Steve Christensen (Westworld), Justin O´Neal Miller (Tenet), Arielle Ness-Cohn (The Happys), Rebekah Scheys (Snowfall) e Lauren Slatten (Watchmen), e pela decoração de sets de Jan Pascale (Top Gun: Maverick), revisita mundos conhecidos dos fãs, como Alderaan e Tatooine,  e apresenta novos: Daiyu, de aspecto cyberpunk, onde Reva revela suas habilidades de “parkour”, dignas do Batman; Mapuzo, um árido mundo de mineração; Mustafar e sua lua aquática Nur, onde se localiza a base dos inquisidores;  e Jabiim, um lixão. A ambientação é fortemente auxiliada pelos efeitos visuais de Industrial Light & Magic (ILM), Respeecher, Happy Mushroom, Image Engine Design, Lola Visual Effects e Weta Workshop, supervisionados por Patrick Tubach (Star Wars: A Ascensão Skywalker), Pablo Helman (O Irlandês), Christopher Balog (O Mandaloriano) e Trent Claus (O Livro de Boba Fett). 

 

Na base dos Inquisidores em Nur, a lua aquática de Mustafar, Vader dá uma lição a Reva, sobre "quem é que manda"...

...enquanto em Jabiim, na base rebelde, é Obi-Wan Kenobi quem lhe dá uma lição sobre usar a fúria de um adversário para cegá-lo


No computo final, Star Wars: Obi-Wan Kenobi consegue até nos entregar grandes momentos, mas que, se analisarmos friamente, agregam pouco peso na costura final da grande tapeçaria que é Star Wars. Se algumas coisas nebulosas são explicadas, novas quebras de lógica no entendimento futuro da saga foram geradas, coisa que mesmo uma 2ª Temporada não resolverá. E a necessidade de se explicar tudo, muitas vezes apenas tira a graça de algo que tinha o seu charme exatamente por permanecer nebuloso, atiçando a imaginação... 

 

Os efeitos visuais e a direção de arte continuam o trabalho impecável de trazer os mundos da "galáxia muito, muito distante", seja o belo, elegante e sofisticado Alderaan...

...ou o soturno Daiyu, de aspecto mais cyberpunk, mas sempre com naves e elementos reconhecíveis dos filmes clássicos, para manter uma unidade iconográfica



Notas:

 


*1: O aero deslizador T-47, mais conhecido como Snowspedeer, é uma nave de pequeno porte, de dois lugares, fabricada pela Incon Corporation, tendo sua maior visibilidade na sequência da batalha no planeta gelado de Hoth em Star Wars – Episódio V: O Império Contra-Ataca (1980), quando os pilotos da Aliança Rebelde enfrentaram os AT-AT imperiais.



"- Meu nome é Kenobi. Ben Keobi..."

sábado, 18 de junho de 2022

Um vôo mais alto e além... Crítica - Filmes: Top Gun: Maverick (2022)

 


Voar, voar... subir subir...

por Alexandre César

Tom Cruise e a superior continuação do filme de 

1986









“Os aviões são belos, o problema é que eles matam pessoas!”

Lembro deste comentário, da autoria do jornalista Paulo Francis por ocasião do lançamento de Top Gun – Ases Indomáveis (1986) de Tony Scott (falecido em 2012 e a quem o segundo filme é dedicado em memória) no longínquo ano de 1986, época em que os F-14 Tomcats eram o “State of Art” da tecnologia bélica, e embora tenha curtido o filme, guardadas as suas limitações, nunca o encarei como mais do que uma peça representativa de sua época e momento sócio-político, os anos Reagan, quando a guerra fria sofreu um aquecimento e os Yuppies e o neo-liberalismo começou a estender as suas garras pelo mundo.

A rivalidade entre Iceman (Val Kilmer) e Maverick (Tom Cruise) observado por Goose (Anthony Edwards ao fundo) é a tônica do filme de 1986



O filme consagrou como astros Tom Cruise e Val Kilmer, que já vinham escalando seus merecidos lugares ao sol hollywoodiano e colocou no mapa Meg Ryan e Kelly McGillis, transformou em sucessos canções como ”Danger Zone”, de Kenny Loggins; o instrumental “Top Gun Anthem”, de Harold Faltermeyer além de imortalizar o tema “Take my Breathe Away” da banda Berlin do xaroposo romance dos protagonistas nas paradas de sucesso, aparecendo na Billboard Hot 100 e foi vencedor do Oscar de melhor canção original. Algo legal, mas apenas um clássico da Sessão da Tarde. Ou não? 

 

O "Darkstar" é um hipotético avião experimental que Maverick testa e... destrói.

 


Passados 36 anos, estando pronto desde o ano passado e esperando a reabertura maior dos cinemas (por conta da pandemia de COVID-19) para ser lançado adequadamente na tela grande (como foi concebido) Top Gun: Maverick (2022) dirigido por Joseph Kosinski (Oblivion) consegue a façanha de ser uma continuação tardia de um filme que era (sejamos sinceros) apenas ok, em algo realmente bom, e (apesar de seus defeitos congênitos) superando em muito o filme matriz. 

 

Se dependesse do Contra-Almirante Chester ’Hammer’ Cain (Ed Harris) Maverick seria chutado da Marinha por destruir o caro protótipo

 


Reencontramos o Capitão Pete ‘Maverick’ Mitchell (Tom Cruise de Missão: Impossível – Efeito Fallout em ótima forma e seguro no personagem) que após um mal-fadado vôo de testes de um avião experimental, contrariando as orientações do Contra-Almirante Chester ’Hammer’ Cain (Ed Harris de Westworld sempre ótimo), fica a um passo de ser chutado da Marinha, por ter perdido a cara aeronave, e por sua natureza rebelde. 

 

De volta à casa: Maverick retorna à Escola de Caça da Marinha dos Estados Unidos, a "Top Gun", onde não havia permanecido por muito tempo

 


Graças à sua boa estrela (e a um “padrinho” maior ainda...) Maverick é redesignado para a Escola de Armas de Caça da Marinha dos Estados Unidos, a “Top Gun”*1, e chegando a base, ele é instruído pelos Almirantes Beau ’Cyclone’ Simpson (Jon Hamm de Mad Men) e Solomon ‘Warlock’ Bates (Chales Parnell de Grand Crew) do objetivo de sua difícil missão ultra secreta: preparar uma equipe de 12 pilotos para uma missão arriscada e potencialmente suicida, para a destruição de uma instalação de enriquecimento de urânio num país “pária” (???) não nomeado – lembremos que missões similares foram realizadas pela Força Aérea de Israel, ao destruir um reator nuclear no Iraque, em 1981 (Operação Opera), e um reator nuclear na Síria, em 2007 (Operação Orchard). Para a missão eles utilizarão caças Boeing F/A-18 Super Hornet, aeronave embarcada destinada à caça e ataque, e que Maverick domina. O peso desta responsabilidade o levará a encarar seus fantasmas pessoais e a reavaliar muitas das suas escolhas de vida.

 

Na nova missão eles utilizarão caças Boeing F/A-18 Super Hornet,a estrela do momento




O roteiro de Ehren Kruger (Dumbo), Eric Warren Singer (Trapaça) & Chistopher McQuarrie (Missão: Impossível – Efeito Fallout) a partir de uma história e Peter Craig (O Batman) e Justin Marks (Mogli - O Menino Lobo) baseado nos personagens criados por Jim Cash e Jak Epps Jr. tem o mérito de conseguir dosar a nostalgia, mas sem torná-la uma muleta, tornar ‘Maverick’ Mitchell um personagem consistente, com conflitos internos decorrentes de ainda sentir-se culpado pela morte de seu amigo “Goose” e de ter e encarar o seu filho, o Ten. Bradley ’Rooster’ Bradshaw (Miles Teller de Whiplash: Em Busca da Perfeição) um dos 12 jovens pilotos escalados para a missão.

Na "Top Gun", Maverick encara o Almirante Beau ’Cyclone’ Simpson (Jon Hamm)


Em contraste, temos também o reconhecimento por parte de Maverick da necessidade de seguir em frente, aceitando o ritmo inevitável da vida, pois ele nunca avançou em sua carreira (já poderia ser almirante) para poder continuar pilotando, e que pela natureza de seu trabalho nunca se permitiu longos relacionamentos, mas aqui reencontra Penny Benjamin (Jennifer Connelly de Expresso do Amanhã), mãe separada e dona de um bar, filha de um almirante*2, e que havia sido mencionada em uma conversa entre Maverick e Goose, no primeiro filme. 

 

Maverick reencontra Penny Benjamin (Jennifer Connelly) a "filha do almirante"



Dos demais personagens, temos poucas informações, apenas o necessário para o filme andar sendo Wo-1. Bernie ‘Hondo’ Coleman (Bashir Salahuddin de GLOW) o fiel suporte da missão em terra, e dos pilotos, os que tem um breve tempo de tela são o Tenente Jake ‘Hangman’ Seresin (Glen Powell de 10 Days) cuja rivalidade com ‘Rooster’, espelha a relação ‘Iceman’-‘Maverick’, as Tenentes Natasha ‘Phoenix’ Trace (Monica Barbaro de Stumptown) e Callie ‘Halo’ Bassett (Kara Wang de Good Trouble) mostram a presença feminina em situação de igualdade e os Tenentes Robert ‘Payback’ Floyd (Lewis Pullman de Outer Range) e Mickey ‘Fanboy’ Garcia (Danny Ramirez de Falcão e o Soldado Invernal) mostram a inclusão dos negros e latinos na aviação naval americana. Inclusão esta refletida na cena de futebol americano na praia, espelhando a cena do volêi de praia do filme de 1986. 

 

Emoção: O reencontro de Maverick com o Almirante "Iceman" Kazanski (Val Kilmer) é o ponto alto do filme, em funçaõ da condição do ator



A bela fotografia de Claudio Miranda (Oblivion) já na sua abertura mostra a conexão muito profunda entre os dois filmes, nas cenas filmadas no porta-aviões nuclear USS Abraham Lincoln, adornadas pela música de Hans Zimmer (Duna), Harold Faltermeyer (Tiras em Apuros) e Lorne Balfe (Viúva-Negra) que resgatam os temas, “Danger Zone” e “Top Gun Anthem”, apostando no sentimento nostálgico, tendo ainda a boa canção-tema por Lady Gaga, “Hold My Hand”, que também merece destaque. 

 

Maverick não dá mole no treinamento dos candidatos para a missão



A ótima edição de Eddie Hamilton (Kingsman: O Círculo Dourado) consegue a façanha de manter a orientação do espectador nas cenas de vôo, que por mais acrobáticas e cinéticas que sejam, não deixam o real entendimento do que está acontecendo em cena se perder, com cortes precisos nas externas, internas e de outros pontos de vista, dando toda a informação necessária para acompanharmos a missão da equipe. 

 

Conflito: O Ten. Bradley ’Rooster’ Bradshaw (Miles Teller) filho de "Goose"



Os figurinos de Marlene Stewart (Uncharted – Fora do Mapa) define de forma correta Maverick, com sua icônica jaqueta e óculos de aviador e da mesma forma os demais personagens em seus uniformes de vôo, tendo seus capacetes personalizados como elementos que os destacam na multidão, contrastando com os adversários, cujos trajes e capacetes negros com vidros escuros espelhados são a perfeita tradução de uma força desumanizante, que torna os homens máquinas, e assim não nos importamos com seus destinos*3

 

Dos menbros da equipe, os Tenentes Robert ‘Payback’ Floyd (Lewis Pullman) e Natasha ‘Phoenix’ Trace (Monica Barbaro) são os poucos com um mínimo desenvolvimento no roteiro




O desenho de produção de Jeremy Hindle (Ruptura) auxiliado pelas equipes de direção de arte chefiadas por Clint Wallace (Homem-Aranha: Sem Volta para Casa); Paul Laugier (Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore); Andrew Bennett (007 – Sem Tempo Para Morrer); David Meyer (Westworld); Jared Patrick Gerbig (Não Olhe Para Cima); A. Todd Holland Perrine (Ghostbusters: Mais Além) e Aja Kai Rowley (Morbius) criam ambientes espartanamente regrados como as instalações da base, que contrastam com o hangar em que Maverick guarda seu North American P-51D Mustang e sua moto Kawasaki, sendo um verdadeiro museu de sua persona, e ambientes acolhedores como o bar de Penny, ou o escritório do Alm. Tom ‘Iceman’ Kazansky (Val Kilmer de The Doors) que a decoração de sets de Andrew McCarthy (Krypton) e Jan Pascale (Mank) capricha em detalhes que remetem ao passado dos dois amigos, numa cena pungente de seu reencontro. 

Às vésperas da missão ocorre uma grande perda para a equipe

 

 
Os efeitos visuais de Inteligent Species, Moving Picture Company (MPC); Method Studios, Lola Visual Effects, Proof, Blind e Gentle Giant Studios, supervisionados por Ryan Tudhope (Ad Astra: Rumo às Estrelas), Yoshi DeHerrera (
Morbius) e Set Hill (Loki) criam de forma competente todo o ambiente que não foi filmado in loco em caças reais, complementando as cenas de forma orgânica, Destaque à parte é o caça experimental (fictício) “DarkStar” da cena inicial, uma bela evolução do clássico SR71-Blackbird, avião de espionagem que serviu de inspiração para o avião dos X-Men

 

 A rivalidade entre "Rooster" e o Tenente Jake ‘Hangman’ Seresin (Glen Powell) espelha a relação Maverick-Iceman

 


Ao final, à despeito da patriotada (típica de uma potência hegemônica) que reflete a visão americana de mundo*4, (pois, levando em conta o seu passado intervencionista, quem são os Estados Unidos para dizer que nações são “párias”???) Top Gun: Maverick é um filme muito superior ao original, atestando o amadurecimento dramático de Tom Cruise fazendo um drama envolvente, mostrando a evolução de um personagem que se sintetiza na famosa frase do primeiro filme, que é repetida no segundo: “Eu sinto a necessidade... a necessidade de velocidade!” 

 

Maverick acaba chefiando a missão numa "Nação Pária"


Esperemos que esta necessidade não leve o astro (que insiste em fazer cenas perigosas dispensando dublês) a se esborrachar feio num futuro Missão: Impossível... 

 

A missão: As filmagens usaram o máximo de efeitos práticos possíveis, usando o CGI apenas onde era necessário






Notas:




*1: A escola conhecida como TOP GUN surgiu após as recorrentes falhas dos mísseis ar-ar empregados pelas aeronaves dos Estados Unidos ​​em combate nos céus do Vietnã do Norte. Durante a Operação Rolling Thunder, que durou de 2 de março de 1965 a 1.º de novembro de 1968, quase 1 mil aeronaves norte-americanas foram perdidas em cerca de 1 milhão de missões realizadas. 

 


A Força Aérea entendeu que suas perdas aéreas se deviam principalmente a um problema de tecnologia, e com isso, instalaram canhões na principal aeronave de caça empregada pela Força Aérea (o icônico McDonnell Douglas F-4 Phantom II), desenvolveram sistemas de radar aprimorados e trabalharam para resolver os problemas de direcionamento dos mísseis ar-ar. Já a Marinha concluiu que o problema decorreu do treinamento inadequado dos pilotos em combate aéreo. Com isso, foi recomendada a fundação da Escola de Armas de Caça na Estação Aérea Naval de Miramar, também conhecida como “Fightertown USA”, para reviver e disseminar a experiência de combate na aviação embarcada que havia ganho renome para a Marinha durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra da Coreia.




*2: Levando-se em conta a diferença de idade entre Cruise e Connelly, deduzimos que na época do filme original, o envolvimento dos dois deve ter-se dado quando Penny seria uma menina de uns 15, 16 anos, enquanto Maverick estaria entre seus 20, 21 anos, o que hoje em dia seria considerado pedofilia, ainda mais sendo ela a filha de um Almirante, um superior hierárquico.




*3: Desde Alexander Nevsky (1938) de Serguei Eiseinstein que a retratação de um oponente como uma força desumana (os oponentes das forças russas eram o Sacro Império Germãnico, servindo de alegoria das forças do 3° Reich alemão) com os soldados e cavaleiros usando elmos que cobriam seus rostos, fazendo-os parecerem robôs, máquinas sem humanidade, e assim não nos importamos com as suas mortes. O mesmo expediente foi usado em Star Wars – Episódio IV: Uma Nova Esperança (1977) em que os pilotos dos caças TIE , do Império Galáctico, usam trajes e capacetes negros com máscaras que lhe dão aspecto desumano, em contraste com os pilotos da Aliança Rebelde, todos com seus rostos bem identificáveis. Top Gun – Ases Indomáveis (1986) e o filme atual, usam do mesmo expediente para contrastar os jovens americanos, sorridentes e honrados com seus capacetes coloridos plenos de identidade em contraste com os adversários, indivíduos sem rosto.


*4: No filme, os inimigos são representados explicitamente por equipamento russo, como o helicóptero de ataque e transporte Mil Mi-24 “Hind”, muito empregado na guerra soviética no Afeganistão, e caças de quinta geração, como o Sukhoi Su-57 “Felon”, que está sendo empregado pela Rússia em ataques na Síria e na Ucrânia. 





"- Escolha o seu caça, e bom game!!!"



A aventura que qualquer garoto adoraria - Crítica – Filmes: Lightyear (2022)

 


O destemido herói do espaço




por Alexandre César

Síntese de referências do Sci-Fi e das origens da Pixar

 




Em 1995 o clássico Toy Story, sacramentou definitivamente o nome Pixar no imaginário coletivo da cultura pop, e assegurou à Disney, com esta parceria, uma posição de destaque na vanguarda tecnológica do iniciante cinema digital. No filme de John Lasseter, fomos apresentados ao menino Andy e sua família e, o mais importante, fomos apresentados aos seus brinquedos: Sr. Cabeça de batata, Slinky Dog, o tiranossauro medroso Rex, a boneca de porcelana Betty, o cowboy Woody e, talvez um dos melhores (senão o melhor): O astronauta Buzz Lightyear, Ranger do Comando Espacial! Ao contrário de Woody, que em Toy Story 2 (1999) teve revelada a sua origem como a representação do personagem de um seriado de marionetes (similar ao dos primeiros trabalhos de Gerry Anderson), a origem do personagem permanecia um mistério, nos sendo revelado apenas que ele tinha um nêmesis: Zurg, tirano despótico meio Imperador Ming, meio Darth Vader, permanecendo todo o contexto restante nebuloso. 

 

Citação: Uma das cenas iniciais remete a "Alien - O Oitavo Passageiro" (1979)

 

Dirigido por Angus Maclane (Procurando Dory) Lightyear (2022) agora lança uma luz nas origens do destemido herói, numa divertida aventura espacial noventista que remete às origens da própria Pixar, e dos filmes da Amblin de Steven Spielberg.

 

Originalmente o boneco Buzz Lightyear tinha a voz de Tim Allen (esq.). Agora, o personagem Buzz Lightyear tem a voz de Chris Evans (dir.) e... cabelos!

 

O roteiro de Jason Headley (Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica) & Angus Maclane baseado no personagem criado por John Lasseter, Pete Docter, Andrew Stanton e Joe Ranft logo na abertura faz um surtil retcom, nos informando que “Em 1995 o menino Andy ganhou de presente um boneco de Buzz Lightyear, o personagem de seu filme favorito. Este é o filme.” e assim, numa introdução que lembra o início de Alien – O 8°Passageiro (1979) de Ridley Scott, mostrando uma gigantesca nave geracional esférica (que remete aos núcleos centrais da naves da Federação de Comércio da trilogia prequel de Star Wars) saindo do hiperespaço, e o computador de bordo analisa um planeta próximo e desperta o piloto (e alguns técnicos) da animação suspensa. O piloto é Buzz Lightyear*1, Ranger do Comando Espacial, uma espécie de Frota Estelar de Star Trek misturada com a USNC de Halo.


Buzz e sua amiga Alisha Hawthorne: Rangers e grandes amigos

O XL-01, o caça de provas do Comando Espacial, onde Buzz testa a amostra do Cristal de Fusão

 

Buzz mantém as características fisionômicas básicas de queixo grande e quadrado (bem heróico) e olhos azuis, agora com uma pele com poros, e cabelos, pois aqui ele é um ser humano, e não um boneco de plástico. Em contraste, sua personalidade individualista, sempre assumindo as responsabilidades da liderança, e sempre querendo ser infalível e resolver tudo, refletem uma insegurança juvenil, sendo um prato feito para a sua amiga Alisha Hawthorne, que zoa a mania dele de “narrar” seus relatórios da missão como se fosse um “Diário de Bordo”, no melhor estilo do capitão James T. Kirk de Star Trek.

 

O lado pioneiro de Buzz Lightyear é bem delineado nas sequências dos vôos testes...

...remetendo a filmes clássicos do gênero como "Os Eleitos" (1983)

Após pousar a nave no planeta (que em uma atmosfera respirável), Buzz, Alisha e um recruta saem numa missão de reconhecimento do terreno, e são atacados por uma forma de vida vegetal tentacular, e ao tentar decolar a nave, Buzz não consegue evitar uma colisão, que danifica o veículo, deixando-os ilhados no planeta.

 

Alisha Hawthorne e sua companheira. Pela primeira vez um casal LGBTQI+ é retratado numa animação da Pixar

Tendo de estabelecer morada no planeta hostil, os tripulantes fundam um assentamento e vão criando a infraestrutura necessária para consertar a nave e de lá sair. Buzz carrega consigo o sentimento e culpa por não ter sido suficientemente habilidoso para desviar a nave, e dedica-se obsessivamente a refazer o Cristal de Fusão, a fonte da propulsão, e testá-lo num caça de provas (no melhor estilo Chuck Yeagher*2). Como a proporção exata dos elementos do cristal é de difícil execução, Buzz vai testando no método do erro-e-acerto, realizando um vôo atrás do outro, e nisso ele vai experimentando o efeito de dilatação no tempo*3, e para cada dia de preparar o cristal e fazer o vôo de teste, ele avança 4, 5 anos, e vai vendo o assentamento virar uma colônia auto-sustentável, e seus amigos envelhecendo, constituindo famílias, enquanto ele (na verdade um homem fora de sua época, como Buck Rogers) só compartilha da companhia de Sox , um gato-robô, e de I.V.A.N. (o piloto automático do caça de provas) e de sua idéia fixa de corrigir o seu erro.

 

A influência do trabalho de designers como Robert McCall e Sid Mead ´se reflete  nos detalhes utiliários como os veículos de manutenção...

... nas instalações da base e nos interiores de habitação, plenos de funcionalidade embalado num design clean

Ao final de 40 anos (e após roubar o caça pois a colônia havia desistido de sair do planeta) ele finalmente acertou a fusão dos elementos do cristal, mas encontra a colônia sitiada por um exército de robôs de uma força alienígena, o terrível Zurg...


Os uniformes de Buzz mesclam detalhes do brinquedo com trajes de pilotos reais


Contando apenas com Izzy Hawthorne, a neta de Alisha, e dois “recrutas”: A rude Darby Steel e o indeciso Mo Morrison, Buzz e Sox têm de encarar o desafio que envolve mais do que o destino da colônia, a sua própria essência, fruto de suas escolhas e visão de mundo...

 

Concepção visual de Garret Taylor da central do Comando Espacial

A gigantesca nave geracional dos colonos remete em seu design a clássicos do Sci-Fi como "2001: Uma Odisséia no Espaço" (1968) e da franquia "Star Wars"


Calcado em uma inteligente trama que mescla paradoxos e profundas reflexões existenciais, mas sem descartar o humor numa sucessão de reviravoltas que a edição de Anthony Greenberg (Os Incríveis 2) não deixa cair o pique narrativo, complementado pela ótima música de Michael Giacchino (O Batman) que com poucos acordes, cria um tema marcante para seu protagonista, num tom de aventura digno de Indiana Jones ou De Volta Para o Futuro.


Concepção visual de Garret Taylor da nave de Zurg


Visualmente rico, a fotografia de Jeremy Lasky (Procurando Nemo) e Ian Megibben (Soul) valoriza o desenho de produção de Tim Evatt (Gat-bull) e a direção de arte de Paul Conrad; Matt Nolte (Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica); Greg Peltz; Garret Taylor e Bill Zahn criam ambientes plenos de detalhes, calcados no imaginário da ficção-científica e de ilustradores como Robert McCall ou Sid Mead além de e easter eggs que remetem ao próprio universo da Pixar, que por si só é pleno de elementos e personagens auto-referenciados.

 

O terrível Zurg, que revela-se uma grande surpresa em sua origem
"Exército Brancaleone": Izzy Hawthorne, a neta de Alisha, com Sox, o gato-robô e dois “recrutas”: O  indeciso Mo Morrison e a rude Darby Steel são a equipe de Buzz Lightyear contra Zurg


 

Visualmente rico, a fotografia de Jeremy Lasky (Procurando Nemo) e Ian Megibben (Soul) valoriza o desenho de produção de Tim Evatt (Gat-bull) e a direção de arte de Paul Conrad; Matt Nolte (Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica); Greg Peltz; Garret Taylor e Bill Zahn criam ambientes plenos de detalhes, calcados no imaginário da ficção-científica e de ilustradores como Robert McCall ou Sid Mead além de e easter eggs que remetem ao próprio universo da Pixar, que por si só é pleno de elementos e personagens auto-referenciados. 

 

 

A colônia tem capacidade de, aproveitando as matérias -primas do planeta, tornar-se plenamente autosuficiente
Qualquer semelhança com Dagobah, é mera citação...



 

Lightyear marca o retorno triunfal da Pixar Animation Sudios e da Walt Disney Pictures ao universo de Toy Story de uma forma tangencial, e ao mesmo tempo nos fazendo pensar que muitas vezes, ao não conseguirmos nos desapegar de idéias fixas, corremos o risco de não enxergarmos o muno à nossa volta, e acabarmos nos tornando o nosso próprio inimigo. 

 

A flora hostil dá muita dor de cabeças à equipe de colonos

 


Obs.: O filme tem três cenas pós-créditos, sendo a última a mais ignificativa por abrir a possibilidade de Zurg virar o “Kang do Buzz Lightyear”... 

 

O "Cristal de Fusão", fonte do vôo interestelar, tem um simbolismo "queer", em sua configuração final



Notas:



*1: Originalmente tendo a voz de Tim Allen, aqui Buzz Lightyear teve a sua voz mudada para enfatizar a diferença entre o ”ator do filme” (Chris Evans de Capitão América: O Primeiro Vingador) e o brinquedo. Aqui, o dublador oficial Guilherme Briggs cede lugar à Marcus Mion, que até faz um bom trabalho, deixando de lado os maneirismos vocais de apresentador a que estamos habituados. 




*2: Chuck Yeagher (13/02/192307/12/2020) foi um aviador, herói de guerra condecorado (12 vitórias em combate na 2ᵃ Guerra Mundial) e piloto de provas pioneiro, tendo quebrado recordes de velocidade pilotando o X-1 entre outros jatos experimentais, sendo conhecido como o primeiro piloto a “quebrar a barreira do som” em 14 de outubro de 1947. Foi retratado no filme de Philip Kaufman Os Eleitos (The Right Stuff) de 1983.

 


 

 *3: O Efeito de Dilatação do Tempo é que à medida que um objeto se move mais próximo da velocidade da luz, mais o tempo vai correndo devagar para ele, diferente da velocidade em que vai correndo normalmente. Ex.: Se eu tiver um irmão gêmeo e eu fizer uma viagem a um planeta (na velocidade da luz) distante 5 anos-luz, ao ir e voltar eu terei envelhecido alguns dias, mas chegando em casa, eu encontrarei o mundo e o meu irmão gêmeo 10 anos mais velhos do que eu, pois como ele ficou na Terra, o tempo correu normalmente 

 

A aventura está apenas começando...