Quinteto Fantástico
Quinteto Fantástico
por Alexandre César
(Originalmente postado em 01/ 07/ 2018)
Sequência do clássico da Pixar diverte e empolga
Lançado em 2004 no auge da Era Moderna da animação, Os Incríveis, da, da Pixar dirigido por Brad Bird, usava a temática super-heróica como pretexto para falar sobre as desilusões da vida adulta, a versão disfuncional do Quarteto Fantástico da Marvel com um viés inspirado em Watchmen de Alan Moore e Dave Gibons se tornou o filme favorito de muita gente (US$ 633 milhões de bilheteria mundial) por refletir sobre o que aspiramos ser, e o que acabamos nos tornando, por conta dos compromissos assumidos e, de nossas próprias limitações. Passados quatorze anos, Os Incríveis II (2018) novamente com Bird na direção, retoma a lembrança da família Pêra, e assume novos contornos quando a idade assegura a experiência para entender os temas abordados pelo diretor e roteirista.
Trazendo uma família com super-poderes (e super-problemas) coisa que se conecta com todas as famílias de todo mundo e divertindo crianças e adultos, enquanto joga reflexões sobre os padrões destrutivos nos relacionamentos, e a necessidade de cooperação. Aqui o mundo dos super-heróis representa os sonhos e desejos que afastam homens e mulheres de questões como maturidade, responsabilidade, família e realização pessoal e, se um tem dificuldade em comprometer-se com o lado chato da vida - emprego, horários, contas -, e o outro acaba por isso assumindo as tarefas, aí começam os conflitos e, o relacionamento faz água...
Estando na lista dos melhores filmes de super-heróis de muita gente, apesar dos filmes da Marvel, Fox e... da DC, Bird retoma a história da família Pêra com o mesmo equilíbrio e, invertendo a dinâmica: Novamente proibidos de ser quem são, os heróis lidam com outra crise. Sendo agora, Helena, a Mulher-Elástica (Holly Hunter) é a escolhida para uma vida de aventuras (assumindo protagonismo) pelo publicitário Winston Deavor (Bob Odenkirk) que planeja trazer os super-heróis de volta à sociedade, deixando Roberto, o Senhor Incrível (Craig T. Nelson), com os afazeres do lar. Seu cansaço, é muito bem explorado pela narrativa, cuja movimentação nos planos é quase imperceptível, sugerindo tédio. Helena faz as pazes com o seu lado heroína, e ele aprende a ser do lar e cuidar das crianças, refletindo as mudanças atuais das divisões do trabalho e da evolução do papel da mulher na sociedade. Ele, tendo que lidar com as desavenças amorosas de Violeta (Sarah Vowell), os deveres de casa de Flexa (Huck Milner), sendo ambos incapazes de chegar ao um acordo sobre quem deve cuidar de Zezé, o bebê, cuja descoberta dos poderes é o ponto alto do filme.
Após a Pixar começar a fazer sequências como Carros 2 (2011), Toy Story 3 (2010) e Procurando Dory (2016), ficou claro que o estúdio começou a sofrer altos e baixos em seu outrora impecável currículo. Era inevitável o retorno da super-família, trazendo Bird de volta, aqui como diretor e roteirista. Conhecido pelos extremamente bem recebidos O Gigante de Ferro (1999) e Ratatouille (2007) e o próprio Os Incríveis. A animação vira de cabeça para baixo as dinâmicas existentes no cenário sessentista do filme, optando por jogar no seguro, mas sem usar dessa facilidade por descaso, usando-a como possibilidade de renovar e encorpar as temáticas relacionadas ao item que realmente importa: a família.
Enquanto constrói o argumento, Bird brinca com a mitologia do super-herói e os poderes do grupo, refletindo as suas personalidades, seja a Mulher-Elástica que se desdobra para resolver problemas ou na solidez e força de Beto, o “grande provedor” ou a hiperatividade de Flexa (todos menos ele têm poderes similares ao Quarteto Fantástico, pois as crianças poderiam se machucar brincando com fogo, caso ele fosse como o tocha-humana...) e a evolução de Violeta, enfrentando a timidez, além do grande time de coadjuvantes, tendo uma maior participação de Gelado (Samuel L. Jackson) a figuraça Edna Moda, a figurinista dos super-heróis (com voz do próprio Brad Bird). A simpática Karen (Sophia Bush), amiga de Helena, ou Evelyn Deavor (Catherine Kenner) a genial irmã de Winston, ou o impagável Toninho Rodrigues (Michael Bird), interesse romântico de Violeta. Os Incríveis II assume uma postura cômica ainda mais afiada que o filme anterior, justamente por trabalhar a incompetência inicial de Roberto no que tange tomar conta da sua própria família. Apesar de o Hipnotizador, vilão da vez, não guardar segredos realmente inéditos ao sub-gênero, tudo tem uma razão de ser.
A computação gráfica evoluiu muito em quatorze anos, mantendo aos traços angulosos originais sobressaindo-se na textura,com padrões levemente realistas de tecido, pele, cabelos, metal e água, dando “palpabilidade” à imagem na telona, aproximando a realidade e o ficcional, da estética dos quadrinhos dos anos 60,explorando mais os cenários suburbanos da cidade, sobretudo nas cenas noturnas, ajudando na idealização das mesmas, fora que as cenas de ação são extremamente realistas... Parecendo às vezes um filme live-action, embalado pela ótima trilha sonora de Michael Giacchino que continua se mostrando um dos grandes compositores de sua geração.
Apesar de alguns deslizes da dublagem (gírias como “A Casa Caiu” e “Eu vim do Acre”), Os Incríveis II é um filme muito divertido feito para a família, que une humor e ação na medida certa, com uma boa dose de nostalgia, mas por ser uma reciclagem de tudo já visto, e, por vir da Pixar, alguns fãs mais antigos e exigentes que estão esperando a sequência há mais de uma década poderão sair decepcionados. Eu gostei, pois o gênero inevitavelmente em algum momento trará o “mais do mesmo”, mas o próprio gênero exige esse “mais do mesmo” em algum momento. Faça a sua avaliação, leitor.
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