terça-feira, 6 de julho de 2021

"Comédia Sofisticada" - Crítica - Filmes: Homem-Formiga e a Vespa (2018)

 


A gata e ... o formiga

por Alexandre César

(Originalmente postado em 08 /07/ 2018)


A parceira do herói divide (e rouba) o protagonismo 
 

Há cerca de 10 anos, a Marvel Studios construiu um Universo Cinematográfico invejável criando e conectando todos os filmes desde Homem de Ferro (2008, de Jon Favreau) para a culminação de grandes eventos, cujos maiores são Vingadores: Guerra Infinita - parte I (2018) e parte II (programado para 2019), ambos dirigidos pelos irmãos Russo.  

 

Scott Lang (Paul Rudd) e a filhinha Cassie (Abby Ryder). Fofura na relação de pai e filha


A final da parte I incomodou inúmeros espectadores (“OS HERÓIS PERDERAM?! COMO PODE!?”). Para recuperar a plateia do choque, o ideal seria algo mais leve e digestivo, emocionalmente menos intenso do que o confronto dos maiores heróis da Terra contra o titã Thanos. Para isso,  o filme Homem-Formiga e a Vespa (2018), uma aventura da Marvel com seu herói mais despretensioso, cai como uma luva neste momento, firmando seu diretor Peyton Reed como o autor daquela que talvez seja a melhor comédia do Universo Cinematográfico Marvel, nada devendo aos trabalhos de James Gunn (Guardiões da Galáxia 1 & 2) e Taika Waititi (Thor: Ragnarok), sem os excessos desses últimos e mesclando ação, humor e aventura na medida certa, de forma enxuta e precisa. Em sei trabalho o humor está a serviço do filme e não é um fim em si mesmo.

 

Hope Van Dyne (Evangeline Lilly): A melhor coisa na carreira de super-herói de Lang


Agora, sem ameaças globais ou intergalácticas, vemos Scott Lang (Paul Rudd, ótimo) cumprindo a sua pena de dois anos de prisão domiciliar, decorrente dos eventos mostrados em Capitão América: Guerra Civil (2016, dos irmãos Russo), ansioso para retomar sua vida e passar mais tempo com a filha, Cassie (a fofa Abby Ryder Fortson). 

"O subespaço, a fronteira final..."


Enquanto isso o Dr. Hank Pym (Michael Douglas, carismático e eficiente, como sempre) e sua filha Hope (Evangeline Lilly, afiada no papel, caminhando para se tornar umas das grandes heroínas Marvel do cinema) seguem foragidos do FBI. Eles planejam resgatar o terceiro membro de sua família: Janet Van Dyne (Michelle Pfeiffer, linda mesmo aos 60) que está presa no reino quântico. Ao se encontrarem no que parece ser um beco sem saída, eles procuram o auxílio de Bill Foster (Lawrence Fishburne), um ex-colaborador de Pym dos tempos da S.H.I.E.L.D (nos quadrinhos ele é o personagem Golias). Por falar em reino quântico, os fãs de Star Trek: Discovery e da nova versão do seriado de divulgação científica Cosmos vão adorar ver um elemento que aparece durante a trajetória da viagem ao reino subatômico.


Hank Pyn (Michael Douglas) e Hope: Inimigos públicos com o FBI na sua cola

Os personagens coadjuvantes também tem seus momentos de brilho. Luis (Michael Penã), Kurt (David Dastmalchian) e Dave (Tip “T.I.” Harris) - os amigos de Scott que, tal como ele, são criminosos reformados - roubam de forma hilária a maioria das cenas em que aparecem. E aqui temos a adição de James Woo (Randall Park), o agente F.B.I. que, literalmente, pega no pé de Scott e é capaz de explicar as consequências dos eventos da Guerra Civil do Capitão América para Cassie de forma didática e divertida. 

 

Fantasma (Hannah John-Kamen): vilã genérica, mas funcional

As ações destes personagens destacam a qualidade do argumento e roteiro de Cris McKenna, Erik Sommers, Andrew Barrer, Gabriel Ferrari e do próprio Rudd, cujo foco está na forma como as viradas da trama se beneficiam do humor, entregando piadas de forma supostamente trivial, estabelecendo-as e sustentando-as de forma enganosamente despreocupada, mas eficiente, mesmo usando saídas fáceis ou coincidências oportunas. O roteiro também aproveita situações envolvendo Scott e os poderes de seu traje, com ótimas gags quando ele está gigante ou diminuto. A preocupação com detalhes é notada até nos efeitos sonoros, que estabelecem uma lógica própria, criando um senso de coerência no micro e no macro mundo.

 

O vilão Sonny Burch (Walton Goggins): Continuando a tradição

Apesar de pouco desenvolvidos, os vilões apresentam lógica coerente com as necessidades do roteiro - Seja o mafioso Sonny Burch (Walton Goggins, continuando a sua tradição de vilões meia-boca como o de Tomb Raider: A Origem) em busca apenas pelo lucro, ou a Fantasma (Hannah John-Kamen de Jogador N˚1) uma vilã genérica, mas com justificativas para suas ações. Tudo funciona para preencher o espaço funcional na narrativa.


Hank Pym: No início do filme com rejuvenescimento via CGI e no resto do filme, sem a maquiagem digital


Michelle Pfeiffer e Michael Douglas brilham, sejam com a sua idade real, sejam rejuvenescidos digitalmente, nas sequências em que nos sentimos vendo um antigo filme dos anos 90. Pfeiffer continua sendo uma mulher bonita e talentosa, como visto recentemente em Assassinato no Expresso do Oriente.

 

O agente James Woo (Randall Park),do F.B.I.  vive tentando pegar Scott no "flagra"


A dinâmica de Homem-Formiga e a Vespa segue as regras da comédia romântica, a ”Comédia Sofisticada” dos anos 30-40, derivada da screwball shakespeariana. Aqui temos Hope como uma mulher socialmente acima e bem mais despachada do que seu parceiro de cena: ela entende de ciência, enquanto Scott não; ela é muito boa de briga, enquanto Scott é apenas um malandro esperto. Ela afirma que estes fatores teriam feito diferença e evitariam que ele fosse preso na chamada Guerra Civil (coisa de que não duvidamos). 


Janet Van Dyne (Michelle Pfeiffer): linda e talentosa sessentona

Rudd confere uma certa ingenuidade, comicidade e um charme bobo ao seu personagem, tornando Scott Lang o mais identificável personagem do Universo Cinematográfico Marvel com o homem comum - alguém que é nerd e tem problemas de toda sorte na batalha do dia a dia. O herói ainda tem uma hilária cena de "possessão", com troca de papel entre homem e mulher, que demonstra a versatilidade do ator, que se encontrou no Homem-Formiga tal como Robert Downey Jr. no Homem de Ferro, tornando indissociável o ator do personagem.


Bill Foster (Lawrence Fishburne), ex-colaborador de Pym, tenta ajudar a Fantasma

A trilha do compositor Christophe Beck, pontuada por temas inusitados, como o tema do seriado setentista da Família Dó-Ré-Mi, é condizente com o espírito de Sessão da Tarde do filme e ajuda a criar essa sensação da imprevisibilidade que norteia o longa metragem, sendo vital para vivenciá-lo. 

 

As sequências de Hank, hora diminuto, hora como o gigante são estupendas.


Como saldo final, Homem-Formiga e a Vespa é uma comédia de aventuras com ação, momentos fofos e triviais do cotidiano capazes de humanizar seus personagens, agradando até a quem não curte as piadinhas da Marvel. Peyton Reed, que no primeiro filme do personagem chegou para substituir Edgar Wright na direção, acabou se mostrando similar a Joss Whedon (diretor e roteirista dos dois primeiros filmes dos Vingadores), que também pensa situações cômicas como um atalho para facilitar a conexão emocional com o espectador.

 

Luis (Michael Penã),o amigo ex-presidiário retorna com o seu alto-astral característico


Obs: Existem duas cenas pós-créditos, uma que conecta o filme ao conflito com Thanos, e outra beeeem infame, mas divertida.

 

Ele precisa de montaria, ela, é mais do que auto-suficiente


 

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