sexta-feira, 5 de abril de 2019

TREMEI MORTAIS! (Mas, vamos nos divertir...) Crítica - Filmes - Thor : Ragnarok (2017)

  


Onde o arco-íris é ponte...

 
por Alexandre César
(originalmente publicado em 14 de março de 2018)


Taika Waititi reinventa (com "sucesso") a roda asgardiana 

 

 
 

Se Você leitor, fã dos seriados Game of Thrones, Vikings e outros similares espera ver um espetáculo wagneriano, sombrio, um Götterdämmerung* no seu ápice, Thor: Ragnarok (2017, de Taika Waititi), a mais recente empreitada solo do deus nórdico da Marvel Studios/Disney, não é com certeza o seu filme.

 

Surtur dá as caras para ajustar as contas com o Reino Eterno


Mas, por outro lado, se você estiver esperando um “Filme Marvel”, pipoca até a medula, colorido e tendo como lema “diversão custe o que custar!”, Thor: Ragnarok será o seu filme e o seu porto seguro de bom humor e aventura descompromissada frente à esta dura realidade que vivemos.  

 

Thor (Chris Hemsworth): Perdido no espaço, em Sakkar.


Deixando de lado os conflitos shakespearianos familiares do primeiro filme (Thor, de 2011, dirigido por Kenneth Branagah) e as diferenças e semelhanças entre magia e ciência do segundo (Thor: O Mundo Sombrio, de 2013, dirigido por Allan Taylor), Waititi investe no humor (em alguns momentos, quase pastelão) e pisa fundo no acelerador, apostando num vasto colorido, com riquíssimas referências visuais ao trabalho dos quadrinistas Jack Kirby e Walt Simonson na cenografia, figurino e adereços. Kirby é responsável pela maior parte do chamado “Visual Cósmico Marvel” e é referência iconográfica de nove entre dez desenhistas de super-heróis até hoje. Simonson revitalizaou o Thor nos quadrinhos na década de 80, trazendo vários elementos da mitologia nórdica original às tramas. Com tal mix de ação-humor-visual, por muito pouco não temos um Guardiões da Galáxia: Volume III. Ainda assim o filme não deixa de ter um tom pessoal de Waititi que surpreende.

Hela, a Deusa da Morte (Cate Blanchett), e Executor (Karl Urbam). Ele, uma promessa não cumprida, ela, poderosa, mas com um espírito de Maga Patológika (tudo bem, a Marvel é Disney...)

 

Thor (Chris Hemsworth) é bobo e sabe ser bobo na medida certa. Da mesma forma, quando tem de flexionar os músculos e surrar todos à sua volta, sabe fazê-lo com precisão, parecendo um herói clássico, mas não muito. Já Loki (Tom Hiddleston) assume que pode ser bom com ardis e intrigas mas, por melhor que imite e se faça passar por Odin (Anthony Hopkins), não está a sua altura, acabando por desencadear a oportunidade que Hela, a Deusa da Morte (Cate Blanchett, sempre poderosa) esperava para atacar Asgard e - majestosa, cruel e estilosa como só ela - impor o seu domínio no Reino Eterno. Ainda sim ela poderia ser uma adversária mais perigosa. Este é um problema recorrente dos filmes da Marvel, que até tem bons vilões, mas não os usa com 100% de seu potencial.

 

Grão-Mestre (Jeff Goldblun), o Regente de Sakkar: divertido


Neste conjunto temos como destaques a inspiradíssima atuação do Grão-Mestre (Jeff Goldblun) que com suas falas leeentas e seu tom irônico criam um personagem único e, obviamente, o Hulk (Mark Ruffalo) que, quando não é Bruce Banner (a maioria das vezes), é o “tanque de guerra” bronco e divertido que todos esperamos. Do resto do elenco, temos um Executor (Karl Urban) mal aproveitado e a guerreira Valquíria (Tessa Thompson) bem pouco nórdica, apesar de descolada Temos também participações pontuais de Heimdall (Idris Elba, com um visual mais para o do Bishop dos X-Men) e Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch), fazendo aquilo que o roteiro pede para conduzir a aventura.  

 

Valquíria (Tessa Thompson) e um figurante "kirbyniano". Descolada e nada nórdica. Supostamente bissexual, mas o que se vê em cena não deixa claro


Como o Deus do Trovão sempre foi o personagem cujos filmes solo faturaram menos no Universo Cinematográfico Marvel, a decisão dos executivos foi mudar o que fosse necessário para popularizá-lo, enfiando humor talvez mais do que o tema pedisse. No final, a impressão é que temos é que querem transformar o Thor no “Superman da Marvel” (essa impressão se torna ainda mais intensa em Vingadores: Guerra Infinita - Parte 1). O objetivo foi alcançado: Thor ficou mais popular, como a bilheteria deste filme provou, mas fugiu às suas características seminais.  

Thor & Hulk (Mark Ruffalo): Dupla da pesada


e as Jóias e a Manopla do Infinito? E a busca por aquele que estaria a manipulá-las? E as cenas pós-créditos? Tudo isto caros leitores, caso já não tenham visto Vingadores: Guerra Infinita – Parte I , não contaremos para que a sua experiência seja prejudicada.  

Os heróis caem dentro na "hora do pau!"

 


Notas:

*Götterdämmerung (O Crepúsculo dos Deuses) é uma ópera do compositor alemão Richard Wagner. A quarta parte da tetralogia Der Ring des Nibelungen (O Anel dos Nibelungos), fábula que narra as aventuras do herói mítico Siegfried das sagas da mitologia nórdica. Pelo seu tom grandioso e épico, com seres míticos e heróis maiores do que a vida, lutas grandiosas de vida ou de morte, criou o adjetivo ”wagneriano”. 

 

"É um pássaro? É um avião? Não é... o Deus do Trovão?!?"



 

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