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Blade Runner - O Caçador de Androides (1982): de fracasso de bilheteria a clássico e agora, uma nova visita a este universo narrativo |
O
que nos torna humanos? Se não tivéssemos uma história de vida pregressa
e as lembranças dessa história, com suas alegrias e tristezas, seríamos
diferentes de um manequim de loja ou de uma geladeira?
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Mantendo o 'status quo': K (Ryan Gosling) o policial-replicante |
Blade Runner – O Caçador de Andróides (1982, dirigido por Ridley Scott) tentava responder essa pergunta, formulando outras no caminho. Egresso do seu sucesso Alien - O Oitavo Passageiro (1979), este longa-metragem - agora clássico cult - de Scott teve uma filmagem conturbada, com o diretor sendo demitido na caótica pós-produção. Enfrentando inicialmente críticas negativas e fracasso de bilheteria, o filme acabou ao longo dos anos tendo sete versões lançadas no cinema, vídeo e DVD - incluindo aí a "versão do diretor" em 1992, que Scott não aprovou, pois foi feita à sua revelia. Somente em 2007 foi lançado um final cut definitivo, mostrando de fato a visão do diretor. Cultuado mundo afora, tendo influenciado inúmeros outros filmes posteriores, ele é considerado um dos maiores filmes de ficção científica de todos os tempos, ficando, em geral, só atrás de 2001 - Uma Odisseia no Espaço (1968, dirigido por Stanley Kubrick).
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Aridez: Uma Las Vegas abandonada é parte das locações do filme |
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Brazil - O Filme (1985): decadentes e estimulantes cenários |
Passados 27 anos após o original, agora temos Blade Runner 2049, que revisita a megalópole de Los Angeles que domina o filme original, além de incluir no trajeto uma San Diego que se tornou um mega-lixão e uma Las Vegas deserta por conta da radiação e de problemas passados. A exemplo de Matrix, os produtores realizaram alguns curtas-metragens para explorar este rico universo e explicar o que aconteceu desde o filme original, que se passa em 2019.
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Joi (Ana de Armas) a companheira-holográfica é a única saída de K. para a solidão sufocante da metrópole |
Neste novo filme de Villeneuve acompanhamos K. (Ryan Gosling, surpreendente), o Blade Runner da vez. Um solitário que compartilha sua vida e aspirações apenas com sua amante virtual, Joi (Ana de Armas, ótima). Ele recebe de sua superior, a tenente Joshi (Robin Wrigth), a missão de investigar algo que poderá ameaçar a estrutura social vigente. Esta investigação o colocará no rastro de Rick Deckard (Harrison Ford) e Rachael (Sean Young), casal fugitivo do filme de 1982. Seu caminho também se cruzará com os de Niander Wallace (Jared Leto, messiânico e assustador) e sua assistente replicante Luv (Sylvia Hoeks), o "perigo real e imediato" da vez. Niander é o atual dono dos espólios da Tyrrel Corporation, a antiga fabricante dos replicantes originais. O que este empresário ambiciona pode lhe dar poder em uma escala assustadora, além de alterar completamente a pirâmide social daquela sociedade a médio e longo prazo.
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Niander Wallace (Jared Leto): messiânico e assustador |
Nada mais será dito sobre o enredo, pois poderia estragar seu prazer em assistir a obra. O importante no filme, a despeito da sua exuberante parte visual, são as questões que levanta quanto à vida e suas variantes, ficando ao espectador a tarefa de refletir sobre o que vê, ouve e, sente. O que nos faz seres reais? Nascer? Viver? Amar? Questionar o mundo a nossa volta? Procriar? Morrer? Todas essas questões juntas ou bastam só algumas intercaladas? E onde fica a memória como registro de que esta trajetória de vida foi real. Caso não seja real, ainda sim não seria verdadeira por causa das emoções despertadas em nós e que nos moldaram?
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Mariette (Mackenzie Davies ao centro) é uma das prostitutas-replicantes da cidade, que gosta de K |
Viver nunca foi algo para os fracos.
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Direção de arte: A cenografia em momentos-chave entra no surrealismo |
Tal qual o filme original, este também naufragou nas bilheterias em sua abertura. Não é difícil encontrar pessoas roncando nas sessões, provavelmente frustradas por esperarem mais um filme-pipoca corrido e descartável, mostrando que sua jornada para ser devidamente reconhecido também será árdua. Villeneuve fez com Blade Runner 2049 o mesmo que James Cameron fez com Aliens em 1986: recriou um universo ficcional, dando a sua interpretação, sem cortar os laços com o filme original, permitindo novas possibilidades. Só espero que, caso façam uma sequência ( que acho improvável), mostrem as colônias espaciais, onde os replicantes são mão-de-obra escrava. Lá sim, os pobres diabos precisam e mais e melhores blues...
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