O Assombroso Multiverso!!!

Dr. Estranho de Sam Raimi traz o terror ao UCM.

As Muitas Faces da Lua

Spector, Grant, Cavaleiro da Lua, as múltiplas personalidades do avatar de Konshu.

Adeus, Mestre.

George Perez e sua fantástica trajetória.

Eu sou as sombras.

The Batman, de Matt Reeves, recria o universo sombrio do Homem-Morcego.

Ser legal não está com nada...Ou está?

Lobo, Tubarão, Aranha, Cobra, Piranha...Que medo!!! Mas eles querem mudar isso.

terça-feira, 31 de agosto de 2021

O "Fantasma" exumado - Crítica - Filmes: A Morte de Stalin (2018)

 


 
 
Irônico, incômodo, polêmico... como a vida

 

por Alexandre César

(Originalmente postado em 08/ 06/ 2018)


 Criador de "Veep" faz comédia em período controverso
 

O "staff" do líder, e a pergunta: "E agora???"

Fazer um relato sobre um período histórico denso e carregado - usando como tom condutor da narrativa a comédia -, é, pelo menos, arriscado. Se estivermos falando de episódios dramáticos e sangrentos, possivelmente soará desrespeitoso àqueles que de alguma forma estejam emocionalmente ligados aos fatos relatados. Tal reação pode ser ainda mais complicada se as paixões políticas e interesses ideológicos se misturarem neste debate.
 
 
Josef Stalin (Adrian McLoughlin): O rei está morto! Longa vida..."

Dirigido por Armando Iannucci, de Dirigido por Armando Iannucci, de Conversa Truncada (2009) e criador da série (2009) e criador da série Veep (2012-2017), A Morte de Stalin (2017) parte da história em quadrinhos norte-americana homônima (2010-12), de Fabien Nury e Thierry Robin, dando uma visão do que acontece nos bastidores da União Soviética imediatamente após a morte de Josef Stalin (Adrian McLoughlin), em 5 de março de 1953. Isso ocorre após pedir uma gravação de um recital de música ao vivo (e gerar um caos na Rádio de Moscou para recriá-la, pois não havia sido gravada e negar um pedido do líder soviético era fatal) e ter um derrame e tombar após ler um bilhete malcriado da pianista Maria Yudina (Olga Kurylenko de Hitman). No chão ele permaneceu até sua condição ser descoberta horas depois, pois todos os guardas e empregados temiam bater à porta chamando-o e perguntar se estava tudo bem...
 
Nikita Krushchev (Steve Buscemi),Maria Yudina (Olga Kurylenko) e Lavrentiy Beria (Simon Russell Beale): As intrigas e "puxadas de tapete"

Mas quem, perguntarão os mais jovens, é Stalin? Peçamos ajuda a wikipedia:
 
 
 
 
Josef Vissariónovitch Stalin, (em russo: Иосиф Виссарионович Сталин) foi secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética e do Comitê Central de 1922 até a sua morte em 1953, sendo assim o líder supremo... 
... e o equivalente ao Bicho-Papão para toda a população, ou pelo menos para aqueles que ousavam ter um vago pensamento dissonante do estabelecido pelo Estado (personificado em sua pessoa).
 
O funeral: Pompa e circunstância

Após finalmente descobrirem o estado agonizante do líder, o seu staff se reúne para votar que providências tomar. Chamar um médico? Anos atrás Stalin havia fuzilado ou aprisionado a maioria dos médicos acusando-os de querer envenená-lo. E, assim até se tomar uma decisão, o tempo corre e finalmente o líder morre, iniciando a disputa interna pelo cargo vago.
 
 
Kaganovich (Dermot Crowley), Anastas Mikoyan (Paul Whitehouse) Krushchev (Buscemi), Malenkov (Jeffrey Tambor) e Bulganin (Paul Chahidi): Humor ácido sobre líderes despreparados

O temido Lavrentiy Beria (Simon Russell Beale) chefe da NKVD (sucedida pela KGB), toma a largada, mas Nikita Krushchev (Steve Buscemi) sabe jogar e vai ganhando terreno. A princípio o fraco Geórgiy Malenkov (Jeffrey Tambor) assume o posto, mas não durará muito. Vyacheslav Molotov (Michael Palin), Nicolai Bulganin (Paul Chahidi), Anastas Mikoyan (Paul Whitehouse) e Lazar Kaganovich (Dermot Crowley) entram nesta disputa, com um querendo apunhalar o outro pelas costas, tendo em vista o que podem ganhar no processo: de dar à libertação de presos políticos do antigo líder para “ficar bem na foto”, entre outras coisas. Como politicamente é um momento delicado, ninguém quer arriscar a vida ou perder os seus privilégios. 
 
Vasily Stalin (Rupert Friend) e Svetlana Stalina (Andrea Riseborough) : os infelizes filhos do ditador

O ótimo elenco está totalmente à vontade, com seus personagens utilizando nuances, olhares, formas de andar, tiques, movimentos das mãos e outras sutilezas para revelar líderes venais, inadequados e despreparados para o que tem pela frente - vindo daí muito da comicidade sutil do filme, cujas piadas de gosto agridoce nos leva a questionar se realmente deveríamos rir daquilo. As ações deles também revelam um governo corrupto, cujo malabarismo para alcançar seus nefastos objetivos nós brasileiros conhecemos bem de nossa história política passada, presente e, possivelmente, futura.
 
 
Marechal Georgy Zhukov (Jason Isaacs): "Soviet Action Hero"

 
O roteiro de Iannucci, David Schneider e Ian Martin tem uma narrativa ágil, mesmo usando uma boa dose de realismo histórico - apesar de comprimir demais o tempo de eventos que originalmente ocorreram entre março (quando Stalin morreu) e dezembro (quando Beria foi executado) de 1953. O roteiro mostra com sarcasmo toda a loucura, depravação e desumanidade do totalitarismo onde o povo, este personagem tão mencionado e tão ausente das decisões, costuma fazer o papel de bucha de canhão entre forças antagônicas.
 
Tudo era decidido por votação "democrática"...

Compõem o elenco Andrea Riseborough e Rupert Friend como Svetlana Stalina e Vasily Stalin, filhos do ditador. Ela se definia "a maior prisioneira política do Stalinismo". Ele, morreu na casa dos 40, vítima do alcoolismo. E ainda temos Jason Isaacs de Star Trek: Discovery como o Marechal do Exército Vermelho e Herói de Guerra Georgy Zhukov. Quando entra em cena carrega o clímax do filme com ele. É antológica a cena em que ele surge no funeral e abre o casacão revelando o seu uniforme de gala azul com uma constelação de estrelas, medalhas e penduricalhos que levariam Mutley (“Medalha! Medalha!”) - do nosso querido desenho Esquadrilha Abutre, da Hanna-Barbera - ao orgasmo.
 
 
"Nunca ache que a KGB tem mais moral do que o Exército Vermelho..."

Ao final fica claro o ritmo cíclico das engrenagens do poder: Krushchev sucedeu Stalin, se revelando reformista. Leonid Brejnev afastou Krushchev por “excessos reformistas” e brecou avanços. Ele ficou no cargo até morrer de velhice, como os seus sucessores Iúri Andropov (ex-chefe da KGB) e Konstantin Chernenko. A seguir assumiu o reformista Mikhail Gorbachev, que tentou salvar o sistema, mas aí era tarde. E agora, Vladimir Putin procura retomar o papel de superpotência que a Rússia havia perdido nestes quase trinta anos após o final do regime comunista da União Soviética.
 
 
O fim de Beria: seu nome foi retirado da Enciclopédia Soviética e substituído por um verbete referente ao Estreito de Bering...

 
É curioso o fato desta Tragicomédia de poder chegar aos cinemas em 2018, quando os governos liberais ao redor do mundo exumam o fantasma do “perigo vermelho comunista” - apesar de nenhum levante comunista se insinuar no horizonte (será que ainda esperam o ataque dos médicos cubanos?) -, usando este fantasma para legitimar medidas inescrupulosas. Muito disto, é claro, deriva dos mistérios, mitos e ignorância de muitos em relação aos fatos que rondam a agora quase lendária União Soviética, o que torna mais surpreendente como A Morte de Stálin é, ao mesmo tempo, hilário de forma sutil e satisfatoriamente fiel aos fatos retratados.
Hoje, na Rússia e em vários países do leste a figura de Stalin foi parcialmente reabilitada por sua vitória contra o nazismo na Segunda Guerra Mundial e por ter, mesmo que de forma autoritária, trazido industrialização e progresso a regiões extremamente atrasadas, que dificilmente progrediriam em situação normal. Seria algo como falar a um romeno que Vlad Tepes Dracul, "o impalador" foi um tirano sanguinário e cruel. Ele provavelmente diria que sim, mas que ele foi também um líder que resistiu ao avanço do Império Otomano no leste europeu, sendo um símbolo de identidade nacional. Em vista disso, como é que ficamos Brasil???
 
 

 

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

E Se... O Mundo Perdesse Seus Heróis Mais Poderosos? - What if...? - 3º episódio - 1ª Temporada

 


Situação complicada

por Ronald Lima


Série prossegue apostando em tramas disruptivas 
 
"- Sinceramente não estou muito a fim de fazer parte disso não."

 
 O Vigia na voz de Jeffrey Wright mais uma vez acompanha diferentes cenários em diferentes Universos onde pequenas mudanças têm grandes efeitos.


Chegamos ao terceiro episódio de What... If? na Disney+. Com toda certeza o mais corajoso até agora, por abordar não somente o que aconteceria se os heróis clássicos da MARVEL sequer se tornassem heróis e muito menos formassem o grupo dos Vingadores mas, principalmente pelas contundentes situações com que cada um desses personagens é impedido de se tornar quem conhecemos. Uma boa e convincente história policial.

Ir tão longe em usar personagens tão importantes para fora dos seus mantos de heróis permite espaço para diferentes gêneros, se for assim for será interessante para manter o título em módulo: "surpreendente" como foi até agora. Como no título em quadrinhos não há limites e de fato tudo pode acontecer... Legal.

O Episódio 3 abrange um bom número de produções do MCU, literalmente arranca cinco filmes da narrativa lançando um novo foco para a 1ª aventura dos Vingadores no cinema pois abre uma perspectiva interessante e que foi devidamente ocupada ali mesmo. 

Não há o impacto das lutas de Capitã Carter, ou a mudança total de perspectivas quando T’Challa Starlord causa enorme efeito positivo no Universo; é um enredo que demanda mais atenção e que lhe impulsiona para a curiosidade. Fica então a impressão de ser mais arrastado que os anteriores? Nem um pouco, há muita tensão e dúvida entre cada um dos personagens envolvidos.

Você irá seguir os passos de Nick Fury, Natasha Romanov, o agente especial Phil Coulson e Loki na busca pela solução em um clima de intriga, mistério, invasão e traição porque dessa vez não temos a exata percepção de qual evento (s), causou tanta diferença nesse UniversoCaso não tenha acompanhado todas as produções fique tranquilo e não se preocupe, somente irá deixa-lo mais curioso. Aos fãs que não perderam uma, eu aconselho a estarem atentos aos mínimos detalhes do roteiro. As pistas vão surgindo e cabe a você juntar ou descartar cada uma. Muito parecido com o famoso jogo Detetive. Como em toda produção MARVEL assista até o final.

"- Vocês estão tão quietinhos."
"- É que estamos tentando prestar atenção."

Os 4 personagens citados acima evidentemente possuem ótimas participações e bom destaque também para Betty Ross. Para a Viúva Negra em particular faz parecer que cada Universo lhe reserva o papel daquela que possui o maior empenho, dedicação e sacrifício apesar de não demonstrar nem um pouco isso. Fico imaginando um "What.. If?" tendo ela como principal. Loki está presente com toda sua ambição e desejo de grandeza e muito perspicaz na escolha do melhor momento. Outro personagem além da Viúva Negra que multiverso parece preservar é o agente especial Coulson e sua paixão "nerd/ geek" em relação as "Maravilhas", tudo com bons toques de humor, o alívio cômico sem grosserias.

Nick Fury também mudou pouco, fica curiosa sua reação aos eventos pois lhe parece que tudo daria certo... e não foi bem assim, pode coloca-lo como um representante nosso no roteiro tentando entender o que deu errado e tateando em busca de soluções.

O 2D Cel Shade dessa vez ganha uma oportunidade para mostrar que consegue realizar uma bela paisagem natural com um bonito Campus da Universidade onde Betty Ross trabalha.

Um passo bem ousado dessa vez, o que parece confirmar que a MARVEL pretende dizer que realmente TUDO é possível em What... If?

Aguardemos o próximo.

"- É Coulson... Agora a coisa complicou."
"- Eu que o diga!"



quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Ele é "O Cara!!!" - Crítica – Filmes: Magnatas do Crime (2019)

 

Rei da Selva

por Alexandre César

(Originalmente postado em 22/ 05/ 2020)


Guy Richtie mescla reflexão, ironia e metalinguagem
 

Guy Ritchie fala sobre a estabilidade e a necessidade de mudança, 
mesmo no mundo do crime...

 

Michael Pearson (Matthew McConaughey de Clube de Compras Dallas) é um talentoso americano, graduado em Oxford, usando suas únicas habilidades (audácia e pecha para a violência), cria um império da marijuana empire usando seus contatos com a aristocracia inglesa. Entretanto, nosso “Rei da Selva”, pegou gosto por uma vida estável e tranqula, junto com a sua bela esposa Rosalind (Michelle Dockery de Downton Abbey) e quer curtir a meia-iade sem se preocupar em olhar à sua volta. Mas, quando ele tenta vender o seu império para um amigo bilionário americano, uma corrente de eventos se inicia, envolvendo chantagem, decepção, desentendimentos e assassinatos entre gangs de rua, oligarcas russos, gangsters das Tríades chinesas e jornalistas enxeridos.

A "rainha" Rosalind (Michelle Dockery) e o "Rei" Michael Pearson (Matthew McConaughey): Cidadãos e filantropos de respeito na alta sociedade londrina

 
Escrito e dirigido por Guy Ritchie (Aladdin, a cinesérie Sherlock Holmes) Magnatas do Crime (2019) reflete com ácida ironia sobre a virada da meia-idade e devido à ela, a necessidade de aceitar a mudança, e o aprender a se necessário, adiar os planos quando a realidade não permite a sua execução imediata (ou não?).
 
 
Ray (Charlie Hunnam) o "braço direito" de Michael, acostumado a fazer todo o tipo de trabalho necessário

O roteiro de Guy Ritchie, em parceria com Ivan Atkinson & Marn Davies destila cinismo e ironia ao descrever o universo de Michael, Rosalind e o seu consignere Ray (Charlie Hunnam de Círculo de Fogo), o braço-direito e “pau-para-toda-obra”de Michael, que resolve qualquer parada, lidando com a galeria de tipos que povoam este universo de caras durões, mas capazes de questionamentos existenciais e conceituais, numa similaridade com, do outro lado do oceano, Quentim Tarantino.

Semeando problemas: Michael compra a antipatia do chefão da mídia Big Dave (Eddie Marsan) ao recusar um aperto de mão numa reunião

O trabalho obriga Ray em certa altura a orientar a jovem Laura Pressfield (Eliot Sumner) em encontrar um sentio para a vida

Somos apresentados a tipos como Mathew (Jeremy Strong de O Juiz) o milionário yanque judeu (e gay discreto) que se interessa em assumir o negócio; Coach (Colin Farrel de Dumbo) treinador de uma academia de lutas e que tem uma relação paternal com os jovens que treinam no seu espaço; o l´der da Tríade chinesa Lorde George (Tom Wu de Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw) e o seu discípulo rebelde Dry Eye (Henry Golding de Podres de Ricos) que quer “tomar conta do pedaço” ; o inimigo figadal de Michael e barão da imprensa Big Dave (Eddie Marsan de Deadpool 2) e Fletcher (Hugh Grant de Um Grande Garoto) o repórter enxerido e canalha que é mandado por Dave para levantar os podres de Michael mas acha melhor propor uma chantagem.Tipos ao mesmo tempo estereotipados mas com uma palpabilidade que só uma boa direção de atores e um bom elenco é capaz de criar.
 
 
Amigos, amigos... Matthew (Jeremy Strong) é o bilionário americano interessado em comprar o negócio de Michael

 
Uma grande sacada é a forma como o roteiro, em conjunção com a fotografia de Alan Stewart (Aladdin) e a montagem de James Herbert (Aladdin), Paul Machliss (Scott Pilgrim Contra O Mundo) flerta com a metalinguagem nos momentos em que Fletcher conta À Ray a história de Michael como se fosse um roteiro cinematográfico, e inclusive em certa altura inclusive citando A Conversação (1974) de Francis Ford Coppola e descrevendo as qualidades da película em 35 mms e a vantagem do analógico sobre o digital.

Coach (Colin Farrel) é o dono de uma academia de lutas que "paga um dobrado" para manter seus rapazes na linha

Fletcher discorre altos papos meta-linguísticos que dão o charme à trama
 
 
O desenho de produção de Gemma Jackson (Game of Thrones) e a direção de arte de Oliver Carrol (Han Solo: Uma História Star Wars) e Fiona Gavin (Outlander) delimita bem as classes e tribos sociais em seus espaços ora luxuosos e até um pouco saturados em alguns casos para diferenciar um rico elegante e refinado de um novo-rico cafona passando pelos ambientes austeros e funcionais da fazenda de Cannabis de Michael ou da academia de Coach, coisa que a decoração de sets de Sarah White (Bohemian Rhapsody) valoriza com detalhes sutis como o “peso de papel” que auda e muito à Rosalind num momento crucial da trama; complementados pelos figurinos de Michael Wilkinson (Liga da Justiça) que marca bem a distinção de origens e formação nos trajes elegantes e sóbrios de Rosalind, os ternos bem cortados de Michael e principalmente de Ray, nos moletons de Coach e seus rapazes, ou no casaco de trabalho de Fletcher.
 
 
O repórter Fletcher (Hugh Grant) levanta todo o passado de Michael, bem como suas atividades, visando uma chantagem rentável

"M3#d@ acontece!" Os Toddlers, rapazes da academia se metem numa "roubada" e Coach se compromete com Michael e Ray a compensá-los pelos erros de seus "meninos"

 
A música de Christopher Benstead (Gravidade, Dep. Musical) ilustra esse universo citadino heterodoxo mesclando vários ritmos em sua trilha incidental, que inclui nos créditos finais a versão sem cortes do video clipe "Box in the Bush" dos Toddlers e incluem Oh Shit” por The Pharcyde definindo a pluralidade de ritmos, que levaria Ray a se perguntar, como em certa altura ele o faz à um grupo de drogados: -” No meu tempo, se fumava um baseado, tomávamos um vinho e transávamos ouvindo Barry White! O que houve com vocês?”
 

Conflito de gerações: Dry Eye (Henry Golding) discorda de Lord George (Tom Wu) quanto ao rumo que as Tríades chinesas Londrinas devem tomar no negócio das drogas

Rosalind, é o "porto seguro" de Michael, por quem ele tem uma paixão louca

 
 Ao final Os Magnatas do Crime continua a tradição de Guy Ritchie de mostrar esse submundo do crime inglês com a mesma desenvoltura, e pique narrativo de sempre, que se não inova, diverte com suas reviravoltas e narrativa picotada, sem se levar a sério mas ainda sim tendo um bom fôlego para contar uma história e deixando claro como diz Mickey Pearson: -”Só há uma lei na selva: Quando o leão está faminto, ele come!”
 

A direção de arte e os figurinos marcam bem a diferença de mundos dos personagens, de perfil mais popular dos protagonistas, bem diferentes de Matthew, que é a elite em pessoa

- "Não basta ser o Rei da Selva,. Tem que agir como um!!!"
 
Que aprendamos a andar na selva tendo isso em mente...
 
- " O cara caiu na linha e o tren pegou... foi mal parceiro!" 
- " Pois é! Desculpa tá:!?"

 

domingo, 22 de agosto de 2021

Trágico episódio - Crítica - Filmes: Kursk – A Última Missão (2018)

 

Lágrimas no Fundo do Mar...



por Alexandre César
(Originalmente postado em 10/ 01/ 2020)

Bom e morno drama de uma tragédia anunciada

 

Com a História não há spoiler. Logo, o relato do acidente do submarino nuclear russo K-141 Kursk, um submarino da classe Oscar II, carregando mísseis balísticos, que afundou no Mar de Barents em agosto de 2000, e que não deixou sobreviventes, não poderia dar um drama de sobrevivência hollywoodiano. À medida que os 23 marinheiros remanescentes do acidente inicial lutam pela sobrevivência dentro da embarcação, em terra, as suas famílias desesperadas lutam com obstáculos burocráticos e as probabilidades assustadoras quanto ao destino de seus entes queridos, num quadro cada vez mais negro, constatamos que jamais veremos Michael Bay ou seus colegas de blockbusters encararem empreitada deste tipo.


União: O paizão Mikhail Averin (Matthias Schoenaerts) e o filho Misha (Artemiy Spiridonov)



Dirigido pelo dinamarqês Thomas Vinterberg (A Caça de 2012 e Longe Deste Insensato Mundo de 2015) Kursk - A Última Missão (2018) é uma produção franco- belga, filmada na Romênia, Bélgica Noruega e França que tendo entre outros nomes Luc Besson (Anna - O Perigo Tem Nome) como um dos produtores executivos, e lida com um relato que já sabemos de antemão qual será o final, sendo o desafio real, dar um enfoque especial a esta narrativa. Se não é o filme de ação esperado, paciência, pois a vida tem um ritmo e caminhar próprio diferente das nossas aspirações.

Mikhail e sua esposa Tanya (Léa Seydoux): a beleza da gravidez numa interpretação sólida


O roteiro de Robert Rodat (O Resgate do Soldado Ryan) e Robert Moore, baseado no seu livro ”A Time to Die” situa historicamente a trama naquele período em que, extinta a União Soviética, houve aquele limbo em que a recém-fundada Federação Russa, liderada por um iniciante Vladmir Putin estava econômica e militarmente estagnada, tendo que lidar com boa parte de seu antigo arsenal estar se deteriorando por falta de condições materiais e, sendo pressionada pelo ocidente, como em certa altura diz amargo, o Alm. Vyacheslav Grudzinsky (Peter Simonischek de O Intérprete) : “- Há 20 anos tínhamos três vezes mais navios neste exercício... Agora, a maior parte da frota está parada enferrujando...” sabendo que os marinheiros (orgulhosos de sua tradição) tinham que lidar com baixos (e atrasados) salários, além de falta de equipamento e peças de reposição, que os forçavam naquela época à canibalização de peças de uma embarcação para outras.
 

Mikhail Tanya são os padrinhos do casamento de Pavel Sonin (Mathias Schweghofer) e de Daria (Katrine Greis-Rosenthal) numa cerimônia aconchegante

 
O mais trágico exemplo deste quadro é que o melhor submarino de resgate havia sido vendido, convertido para milionários verem no fundo do mar os destroços do naufrágio do Titanic, e restando à Frota do Norte, um modelo obsoleto, cujo anel de atracação não conseguia fazer a vedação necessária para possibilitar o resgate, com consequências funestas...
 

O Alm.Vyacheslav Grudzinsky (Peter Simonischek à direita de costas) sabe que a frota não é mais a mesma...

Grudzinsky pressente que nestas condições, a Frota do Norte está à beira de um desastre

 
Vinterberg faz a clara escolha de focar-se mais no lado emocional e humano da tragédia, do que do lado político, resultando num forte drama que dá mais importância às suas vítimas (e esposas) do que do submarino propriamente dito, que aqui não chega a ser um personagem, como por exemplo em outros filmes de tragédias, como o transatlântico Titanic ou o dirigível Hindenburg. A despersonalização do submarino serve para se evidenciar a situação de indivíduos presos numa situação em que o cálculo político (a demora do governo russo em admitir precisar de ajuda externa, pela humilhação da situação que vivia, além do temor de no resgate, ter segredos estratégicos revelados) se sobrepõe às vidas envolvidas.
 
Mikhail no dia seguinte embarca no Kursk para mais uma missão de rotina
 
Pavel se preocupa com um torpedo que estava se superaquecendo

 
Assim acompanhamos o capitão-tenente Mikhail Averin (Matthias Schoenaerts de A Garota Dinamarquesa, Army of the Dead: Invasão de Las Vegas) e sua esposa Tanya (Léa Seydoux de Azul é a Cor Mais Quente) grávida do segundo filho e seu rebento Misha (o ótimo Artemiy Spiridonov). Mikhail, como os seus amigos mais chegados são submarinistas embarcados no Kursk, que irá sair num exercício da Frota Russa, sendo que no início acompanhamos os preparativos do casamento do oficial Pavel Sonin (Matthias Schweghofer de Der geilste Tag) com Daria (Katrine Greis-Rosenthal de Um Homem de Sorte) onde os colegas, entre eles o divertido Oleg Lebedev (Magnus Millang de A Comunidade) fazem um rateio, vendendo os seus relógios de pulso (Um relógio de submarinista é um ítem de grande valor) para conseguir as bebidas para a festa, em virtude dos salários atrasados. Nesta cena a musica de Alexandre Desplat (Ilha dos Cachorros) usa acordes de balalaika, situando musical e sentimentalmente aqueles homens casados com suas famílias e com o mar, o misterioso mar...
 
A profundidade onde o Kursk estava nem era tão grande assim, mas o péssimo estado do equipamento de resgate inviabilizava tudo
 
O Comodoro David Russel (Colin Firth) oferece ajuda à marinha russa

 
Logo que acontece o acidente quando um torpedo defeituoso explode, detonando os outros e destruindo a proa do submarino, matando Pavel entre outros, levando Anton Markov (August Diehl de Bastardos Inglórios) a lacrar o reator por dentro, sacrificando-se, e ficando os 23 sobreviventes numa espera excruciante, cabendo a Mikhail e a Oleg manter o moral, controlando o pânico de Leo (Joel Basman de Terra de Minas), o desespero de Maxim (Pit Bukowski de O Bunker) que surta em certo momento e os demais marujos.
 

Mikhail (deitado) e Sasha (Kristof Coenen ) por pouco não se afogam num momento dramático
 
Cabe a Tanya e as esposas dos tripulantes cobrarem uma atitude das autoridades que não querem admitir sua incapacidade

 
Do lado de fora, o Comodoro da Royal Navy David Russel (Colin Firth de Somente o Mar Sabe) detecta o problema e agindo em conjunto com Grudzinsky, procura agilizar o resgate, esbarrando na oposição pétrea do Almirante Vladmir Petrenko (Max von Sydow de Flash Gordon) homem forte da marinha que se opõe à dar acesso a qualquer um de fora que possa implicar numa quebra de segredos de estado, o que acaba atrasando o resgate de forma fatal... Temos ainda no elenco uma pequena participação de Michael Nyqvist (John Wick: De Volta ao Jogo e da série de TV sueca Millennium) em sua derradeira atuação, tendo morrido logo em seguida de câncer.


Tristeza: Russel e Grudzinsky comparecem ao funeral dos tripulantes com um gosto amargo na boca

 
A fotografia de Anthony Dod Mantle (Quem Quer Ser um Milionário) alterna cores mais intensas nas locações externas em contraste com os tons mais contrastados do interior do submarino naufragado, gradualmente aumentando os cinzas e azuis a medida que o tempo vai passando em seu interior, e a água vai subindo caracterizando o frio sepulcral, tornando o ritmo lento mas expressando a agonia dessa situação-limite.

 
A diferença de tamanho dos submarinos da classe Oscar em comparação com os da classe Ohio americana. Grande, mas ainda menor do que os Typhon russos...

 
A edição de Valdis Óskarsdóttir (Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças) vai pontuando o ritmo intenso das tentativas de resgate, ou os momentos mais angustiantes como quando Milhail e Sasha (Kristof Coenen de Professor T.) nadam num compartimento inundado para recuperarem cartuchos de filtragem do equipamento de ar, ou o arrastar da negociação entre as autoridades e o crescendo de desespero dos familiares dos tripulantes, liderados por Tanya, Daria, Vera Markov, esposa de Anton (Helene Reingaard Neumann de A Comunidade) e Oksana, a mãe de um dos tripulantes (Pernila August de Star Wars episódios I e II).
 

Tanya e Misha tem de seguir com suas vidas, carregando as lembranças de Mikhail


O desenho de produção de Thierry Flamand (da versão francesa de A Bela e a Fera de 2014) aliada a direção de arte de Virginie Hernvann (Submersão) Simon Weisse e Gladys Garot e a decoração de sets de Lieven Baes (Promessa ao Amanhecer) e Pascalle Willame (O Novíssimo Testamento) acertam ao inicialmente usar de filmagem num submarino real, para logo depois do acidente, definir o espaço como claustrofóbico e frio (apesar de ainda serem maiores do que a média desse tipo de embarcação) contrastando com os espaços pequenos, simples e aconchegantes do apartamento do casal Averin e as instalações do clube dos oficiais, já deteriorado pelo tempo mas ainda ostentando as glórias passadas da URSS, bem como os conjuntos habitacionais padronizados de concreto, lembrando os dos nosso antigos IAPC e BNH (filmados na cidade de Vulcan, no condado de Hunedoara, Romênia) complementado pelos figurinos de Catherine Marchand (Marina) que define bem a realidade social sem muita sofisticação destas pessoas simples, cujos trabalhos exigem um alto nível técnico em contraste com sua origens proletárias.


Ao final a reprovação do olhar de uma criança e a sua recusa em aceitar desculpas são mais contundentes do que um discurso contra os responsáveis


As condições de vida em submarinos russos/ soviéticos acidentados é um tema já abordado em filmes como o ótimo K-19 The Widow Maker (2002) de Kathryn Bigelow e   Phantom – A Última Missão (2013) de Todd Robinson e é claro que somente as trágicas missões é que acabam ganhando espaço justamente pelo seu teor dramático, fora as implicações de crítica política, Ao final, embora não seja o melhor filme do diretor, Kursk: A Última Missão é correto ao mostrar a relação entre pessoas, o tempo que temos de vida (que nunca sabemos quanto temos...) e o choque entre a urgência da vida e as conveniências das autoridades.

 
Trágico: O casco do Kursk numa doca seca revelando a extensão da explosão na sala de torpedos, que destruiu a proa