sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Brincando de John Wick - Crítica - Filmes: Um Dia Para Viver (2018)

 


“Bom” filme “B”
 

por Alexandre César

(Originalmente postado em 07/ 06/ 2018)


Ethan Hawke protagoniza aventura "Bad Ass"

 


“Travis Conrad (Ethan Hawke) é um antigo soldado de elite devastado pelas trágicas mortes da sua mulher e filho. É então que lhe aparece Jim Morrow (Paul Anderson), um amigo do exército que agora trabalha para a Red Mountain, uma empresa paramilitar ultra-secreta que lhe apresenta uma proposta de assassinato irrecusável. Travis aceita a missão, mas tudo dá errado e ele é alvejado e morto por Lin Bisset (Xu Qin), uma agente da Interpol igualmente habilidosa em armas de fogo que o intercepta no preciso momento em que ele localiza o alvo.
 
 
Frank (Rutger Hauer) e Travis (Ethan Hawke): Sogro e ex-soldado irmanados na dor.

Travis acorda da morte, graças a uma perigosa invenção médica da Red Mountain que lhe dará mais 24 horas de vida - aparentemente tempo mais que suficiente para Morrow extrair de Travis a informação da localização do seu alvo e assim poder completar a missão. Porém Travis foge. Determinado a se redimir de uma vida de erros e correndo contra o tempo, ele vai tentar salvar a agente da Interpol e, ao mesmo tempo, destruir a Red Mountain no processo.”
 
Lin Bisset (Xu Qin): Bela, mãe amorosa e mortalmente competente.

Este é argumento de filme B de Um Dia para Viver (2018, de Brian Smrz), digno dos “clássicos” da Cannon Group, a lendária empresa de Menahen Golan & Yoran Globus, os reis das produções de Home Video das décadas de 1980/90. Um honesto e enxuto filme de ação que assume sua premissa absurda sem neuras, lembrando um pouco Adrenalina (2006, de Mark Neveldine e Brian Taylor), mas despido de excessos estilísticos na fotografia e na edição. Isto resulta em um ritmo narrativo cru e eficiente conduzido por Smrz, originalmente coordenador de dublês. Talvez por essa origem ele se revela pragmático em sua narrativa, contando e mostrando tudo de forma rápida, concisa e clara. 

Jim Morrow (Paul Anderson): Amigo "mui amigo"

Produzido pela Produzido pela Thunder Road Pictures dos filmes da franquia John Wick (2014-17, de Chad Stahelski e David Leitch), o filme se desenvolve sem barrigas narrativas, permitindo a Ethan Hawke montar, com pleno domínio de cena, o seu personagem de forma clara e falhas de caráter (servindo-se para isso de seu charme grisalho), com direito a uma boa química com o seu sogro Frank (um Rutger Hauer curtindo a sua decadência e, pagando o aluguel) e alguma metafísica de botequim nas alucinações de Travis com a seus finados esposa (Jenna Upton) e filho. 

As favelas da África do Sul, por estarem em planícies, parecem não ter fim...

Podemos destacar Keith Zera (Tyrone Keogh) o “alvo” da missão de Travis, que convence como o bronco arrependido, e Amahle (Hakeem Kae-Kazim, do seriado Black Sails), o ex-soldado amigo de Travis e líder de uma “comunidade”, onde lidera um bando de favelados sul-africanos para ajudar o amigo. Paul Anderson faz um Jim Morrow relutante, de forma contida e eficiente, e o vilão Wetzler (Liam Cunningham, de Game of Thrones) é feito de forma seca, objetiva e desagradável, como de fato costuma ser um executivo FDP que está somente preocupado com o lucro de seu negócio, não se importando com quantos esqueletos tiverem de ser varridos para debaixo do tapete.
 
Lin e Keith Zera (Tyrone Keogh): Proteção à testemunha contra uma grande corporação

No conjunto, esta produção de Hong Kong e da África do Sul tem lá o seu charme e suas sutilezas - como o paralelo entre o meio líquido/os peixes e o sangue (que corre solto...); vozes femininas, como da falecida Kate (a esposa de Travis) e da inteligência Artificial do prédio da Red Mountain, que ecoam uma realidade imaterial. E não podemos esquecer da sala de Wetzler, com suas poltrona e a mesa de centro metálica com rebites chumbados, seus painéis suspensos de cristal líquido nos quais acessa as câmeras e toda parte informatizada da companhia. Elementos que contrastam com a fachada do seu QG (um prédio comercial convencional) e nos remete às bases dos vilões clássicos de James Bond. Um achado. Tudo sublinhado pela música de Tyler Bates, que é eficiente, apesar de convencional.
 
 
Quando Travis decide "aloprar" no geral, não fica pedra sobre pedra

Temos boas sequências de ação sem abuso de CGI, cenas de luta não rebuscadas e uma fotografia que capta a beleza das paisagens desérticas e a representação da estratificação social sul-africana, ao enquadrar o horizonte quase infinito de suas favelas, numa mostra de que “miséria é miséria em qualquer canto...”. Um cenário que contrasta com a diversidade arquitetônica de Hong Kong, também presente no filme.
 
Wetzler (Liam Cunningham) Vilão seco mas com ótimo gosto para a decoração de seu QG
  
 
Ao término, apesar do gancho meio forçado - que até pode servir para dar algum tipo de continuação -, saímos satisfeitos da sala, desde que tenhamos ido ao cinema para ver um filme “B”. Se você não está com este espírito é melhor esperar passar na TV...
 
 
-"Comecei fazendo parte da Sociedade dos Poetas Mortos, e agora pertenço à Confraria dos Justiceiros Desmortos... Como eu faço agora Chev Chelios???"

 
 
 

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