
Espaço, a aventura afinal...?
por Alexandre César
(Originalmente postada em 14/ 04/ 2018)
A mais amada família exploradora volta com tudo
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Os Robinsons originais, tipicamente WASP (White Anglo-Saxonian
Protestant) - Branco Anglo-Saxônico Protestante - como o padrão da época
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Marco pop da cultura televisiva de massas desde a sua estreia em 1965 - e, talvez, a mais popular série produzida pelo lendário ”Mestre do Desastre” Irwin Allen
-, as aventuras da Família Robinson povoaram a imaginação de gerações.
Avós, pais e filhos vibravam com esta fábula familiar de união face às
adversidades (Sobre o seriado original, clique aqui).
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Paralelo à série de Irwin Allen existia a série em quadrinhos "Space Family Robinson", que era uma outra abordagem do conceito dos "Robinsons Suíços"...
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A criação de Allen deu origem a brinquedos, quadrinhos, um piloto de desenho animado pela Hanna-Barbera
em 1976, além de uma versão cinematográfica em 1997 (dirigido por
Stephen Hopkins) e uma tentativa de voltar a TV num piloto de série em
2004 pelas mãos do diretor de filmes de ação John Woo.
Todas fracassaram, apesar de terem boas ideias (com exceção do desenho
animado...) e valores de produção de ponta (Mais sobre as origens do
conceito e essas outras facetas dos Robinsons na cultura pop você pode
ver aqui).
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A versão cinematográfica de 1998 com William Hurt e Mimi Rogers como John e Maureen Robinson mostrava a família exploradora sob uma ótica disfuncional
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Agora coube ao gigante do streaming Netflix, tal qual fez com Star Trek: Discovery,
aceitar o desafio de apresentar repaginado em forma de série para um
novo público e tornar relevante um conceito ao mesmo tempo datado e
instigante.
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O novo design do Júpiter2. Parte de uma frota de naves colonizadoras. Design meio Millennium Falcon, meio Defiant
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Perdidos no Espaço (2018) nos apresenta a saga dos Robinsons, exploradores que no ano de 2046 que tem a sua nave, a Júpiter 2 (parte
de uma frota de naves exploratórias), tragada por uma fenda no
espaço-tempo. Indo parar num mundo anos-luz de seu destino, ficam
encalhados com outros colonos e precisam enfrentar um ambiente hostil e a
si mesmos enquanto tentam reparar a nave e sair de lá.
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Direção perigosa: À frente, Maureen (Molly Parker) e John Robinson (Toby Stephens). Atrás Will, Penny e Smith...
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Na Júpiter 2 temos John Robinson (Toby Stephens de Black Sails),
comandante da missão; sua esposa Maureen Robinson (Molly Parker), uma
engenheira aeroespacial. Além do casal temos os filhos Judy (Taylor
Russel), a mais velha (fruto do primeiro casamento da mãe); Penny (Mina
Sundwall), a competitiva filha do meio; e Will (Maxwell Jenkins), o
caçula genial. Além dos Robinsons, a equipe também conta com Don West
(Ignacio Serricchio), que nesta versão é um contrabandista que
identifica nos Robinsons a unidade familiar a que sempre procurou;
Victor (Raza Jaffrey), um jovem político e administrador; e... a Dra.
Smith (Parker Posey), dando uma nova dimensão às tramoias do icônico
personagem, que no passado foi vivido por Jonathan Harris.
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A
Resolute, a Nave-Mãe que leva os colonizadores da Terra para Alpha Centauri, sendo a base de onde todas as naves Jupiter saem
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A
composição de Smith, aliás, June Harris (familiar não?), feita por
Posey é de tirar o chapéu. Digna da Catherine Trammel de Sharon Stone de Instinto Selvagem (1992,
de Paul Verhoeven). Ela apronta todas, inverte os fatos à sua vontade
envenenando os outros e, como todo mentiroso compulsivo, acredita nas
próprias mentiras que conta de que “ela é uma pessoa boa, e só faz o que precisa para sobreviver...”.
O mais sensato seria, é claro, colocá-la na câmara de descompressão e
ejetá-la longe, mas aí boa parte da série se diluiria. Prestem atenção a
quem faz o verdadeiro Dr. Zachary Smith na série - é um ótimo easter egg.
Alguns espectadores mais exigentes poderão reclamar sobre o quão
perigoso é manter uma pessoa tão ardilosa na nave, o que na crua lógica,
não é nada sensato, mas, se os Robinsons fossem realmente sensatos não seria Perdidos no Espaço, certo?
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Parker Posey, a Drª Smith, substituindo o lendário Jonathan Harris. Upgrade em vilania
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Além
da mudança de etnia em Don e Judy, e de gênero em Smith, temos a
redefinição do robô mais icônico da ficção científica, sempre associado a
série. Agora ele é uma Inteligência Artificial alienígena naufragada no
planeta em que cai a Júpiter 2 e
que se une ao grupo por estar tão perdida quanto eles. Ao longo da
temporada, porém, surgem revelações quanto a sua origem que não deixa de
lembrar o piloto da abortada série de 2004, bem como algumas questões
de conspiração governamental no melhor estilo Arquivo X.
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Will (Maxwell Jenkins) e o Robô, cujo design audacioso é propício às cenas de ação. Sua origem abre boas possibilidades para as temporadas seguintes...
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Reformulada pelos roteiristas Matt Sazama e Burk Sharpless (Drácula: A História Não Contada
de 2014 dirigida por Gary Shore), a série conta com 10 episódios em sua
1ª temporada, dirigidos por veteranos como Neil Marshall, Tim Southan e
David Nutter. Ela dosa bem ação e momentos mais intimistas, que nos
permitem conhecer melhor os personagens. Um dado interessante é que
nesta primeira temporada eles não são os únicos náufragos da missão de
colonização, criando entre eles e os colonos das outras naves Júpiter uma dinâmica similar a Lost, mas sem aquele excesso de penduricalhos narrativos.
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Hora da bronca. De frente: Judy, Maureen John, Don West (Ignacio Serricchio) e Penny. De costas Will Robinson
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A
música de Christopher Lennertz é uma boa atualização do tema lendário
composto por John Williams para a série original e sublinha bem os
momentos mais dramáticos e silenciosos. O trabalho de composição visual é
espetacular mostrando onde foi gasto cada centavo na ambientação
planetária e espacial - em especial nos designs da Resolute, a nave-mãe da missão, e na repaginada das naves Jupiters, que lembram um mix da Millennium Falcon de Star Wars com a Defiant de Star Trek - Deep Space 9. Parabéns para o designer
de produção Ross Dempster, o diretor de arte David Clarke, o
figurinista Angus Strathie, e suas respectivas equipes, que, junto com o
trabalho dos diretores de fotografia Sam McCurdy e Joel Ranson souberam
trabalhar bem com a equipe de efeitos visuais para criar ambientações
de nível cinematográfico, nada devendo ao que poderíamos estar vendo,
caso tivessem decido por uma nova versão para as telonas.
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As meninas Robinson: Judy (Taylor Russel), fruto do 1° casamento da mãe Maureen, e Penny (Mina Sundwall), a filha do meio. Amor e rivalidade entre irmãs...
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Ao término desta maratona, e pelo senhor gancho do final, ficamos com um gosto de “quero mais”,
pois, apesar das mudanças feitas para um público mais exigente e menos
ingênuo, sentimos de volta aquela aventura juvenil e descompromissada
da série original que estava fazendo falta, resgatando e repaginando o
valores familiares de união e solidariedade que Irwin Allen e Shimon
Wincelberg nos haviam legado há mais de 53 anos. Valores que se resumem
numa frase: “Os Robinsons ficam juntos!”
E que voltem para uma nova temporada!!!
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A "jornada" dos Robinsons está apenas começando...
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