quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Novos exploradores... - Crítica - Séries: Perdidos no Espaço - 1ª temporada

 

Espaço, a aventura afinal...?


por Alexandre César
(Originalmente postada em 14/ 04/ 2018)


A mais amada família exploradora volta com tudo

Os Robinsons originais, tipicamente WASP (White Anglo-Saxonian 
Protestant) - Branco Anglo-Saxônico Protestante - como o padrão da época


Marco pop da cultura televisiva de massas desde a sua estreia em 1965 - e, talvez, a mais popular série produzida pelo lendário ”Mestre do Desastre” Irwin Allen -, as aventuras da Família Robinson povoaram a imaginação de gerações. Avós, pais e filhos vibravam com esta fábula familiar de união face às adversidades (Sobre o seriado original, clique aqui). 


Paralelo à série de Irwin Allen existia a série em quadrinhos 
"Space Family Robinson", que era uma outra abordagem
 do conceito dos "Robinsons Suíços"...


 

A criação de Allen deu origem a brinquedos, quadrinhos, um piloto de desenho animado pela Hanna-Barbera em 1976, além de uma versão cinematográfica em 1997 (dirigido por Stephen Hopkins) e uma tentativa de voltar a TV num piloto de série em 2004 pelas mãos do diretor de filmes de ação John Woo. Todas fracassaram, apesar de terem boas ideias (com exceção do desenho animado...) e valores de produção de ponta (Mais sobre as origens do conceito e essas outras facetas dos Robinsons na cultura pop você pode ver aqui).


A versão cinematográfica de 1998 com William Hurt e Mimi Rogers como John e
 Maureen Robinson mostrava a família exploradora sob uma ótica disfuncional

 

Agora coube ao gigante do streaming Netflix, tal qual fez com Star Trek: Discovery, aceitar o desafio de apresentar repaginado em forma de série para um novo público e tornar relevante um conceito ao mesmo tempo datado e instigante.

 

O novo design do Júpiter2. Parte de uma frota de naves colonizadoras. Design meio Millennium Falcon, meio Defiant


Perdidos no Espaço (2018) nos apresenta a saga dos Robinsons, exploradores que no ano de 2046 que tem a sua nave, a Júpiter 2 (parte de uma frota de naves exploratórias), tragada por uma fenda no espaço-tempo. Indo parar num mundo anos-luz de seu destino, ficam encalhados com outros colonos e precisam enfrentar um ambiente hostil e a si mesmos enquanto tentam reparar a nave e sair de lá. 
 

Direção perigosa: À frente, Maureen (Molly Parker) e John Robinson (Toby Stephens). Atrás Will, Penny e Smith...


Na Júpiter 2 temos John Robinson (Toby Stephens de Black Sails), comandante da missão; sua esposa Maureen Robinson (Molly Parker), uma engenheira aeroespacial. Além do casal temos os filhos Judy (Taylor Russel), a mais velha (fruto do primeiro casamento da mãe); Penny (Mina Sundwall), a competitiva filha do meio; e Will (Maxwell Jenkins), o caçula genial. Além dos Robinsons, a equipe também conta com Don West (Ignacio Serricchio), que nesta versão é um contrabandista que identifica nos Robinsons a unidade familiar a que sempre procurou; Victor (Raza Jaffrey), um jovem político e administrador; e... a Dra. Smith (Parker Posey), dando uma nova dimensão às tramoias do icônico personagem, que no passado foi vivido por Jonathan Harris. 

 
A Resolute, a Nave-Mãe que leva os colonizadores da Terra para Alpha Centauri, sendo a base de onde todas as naves Jupiter saem


 
A composição de Smith, aliás, June Harris (familiar não?), feita por Posey é de tirar o chapéu. Digna da Catherine Trammel de Sharon Stone de Instinto Selvagem (1992, de Paul Verhoeven). Ela apronta todas, inverte os fatos à sua vontade envenenando os outros e, como todo mentiroso compulsivo, acredita nas próprias mentiras que conta de que ela é uma pessoa boa, e só faz o que precisa para sobreviver.... O mais sensato seria, é claro, colocá-la na câmara de descompressão e ejetá-la longe, mas aí boa parte da série se diluiria. Prestem atenção a quem faz o verdadeiro Dr. Zachary Smith na série - é um ótimo easter egg. Alguns espectadores mais exigentes poderão reclamar sobre o quão perigoso é manter uma pessoa tão ardilosa na nave, o que na crua lógica, não é nada sensato, mas, se os Robinsons fossem realmente sensatos não seria Perdidos no Espaço, certo?

Parker Posey, a Drª Smith, substituindo o lendário Jonathan Harris. Upgrade em vilania

 
Além da mudança de etnia em Don e Judy, e de gênero em Smith, temos a redefinição do robô mais icônico da ficção científica, sempre associado a série. Agora ele é uma Inteligência Artificial alienígena naufragada no planeta em que cai a Júpiter 2 e que se une ao grupo por estar tão perdida quanto eles. Ao longo da temporada, porém, surgem revelações quanto a sua origem que não deixa de lembrar o piloto da abortada série de 2004, bem como algumas questões de conspiração governamental no melhor estilo Arquivo X
 

Will (Maxwell Jenkins) e o Robô, cujo design audacioso é  propício às cenas de ação. Sua origem abre boas possibilidades para as temporadas seguintes...

 
Reformulada pelos roteiristas Matt Sazama e Burk Sharpless (Drácula: A História Não Contada de 2014 dirigida por Gary Shore), a série conta com 10 episódios em sua 1ª temporada, dirigidos por veteranos como Neil Marshall, Tim Southan e David Nutter. Ela dosa bem ação e momentos mais intimistas, que nos permitem conhecer melhor os personagens. Um dado interessante é que nesta primeira temporada eles não são os únicos náufragos da missão de colonização, criando entre eles e os colonos das outras naves Júpiter uma dinâmica similar a Lost, mas sem aquele excesso de penduricalhos narrativos.
 

Hora da bronca. De frente: Judy, Maureen John, Don West (Ignacio Serricchio) e Penny. De costas Will Robinson

 
A música de Christopher Lennertz é uma boa atualização do tema lendário composto por John Williams para a série original e sublinha bem os momentos mais dramáticos e silenciosos. O trabalho de composição visual é espetacular mostrando onde foi gasto cada centavo na ambientação planetária e espacial - em especial nos designs da Resolute, a nave-mãe da missão, e na repaginada das naves Jupiters, que lembram um mix da Millennium Falcon de Star Wars com a Defiant de Star Trek - Deep Space 9. Parabéns para o designer de produção Ross Dempster, o diretor de arte David Clarke, o figurinista Angus Strathie, e suas respectivas equipes, que, junto com o trabalho dos diretores de fotografia Sam McCurdy e Joel Ranson souberam trabalhar bem com a equipe de efeitos visuais para criar ambientações de nível cinematográfico, nada devendo ao que poderíamos estar vendo, caso tivessem decido por uma nova versão para as telonas.
 

As meninas Robinson: Judy (Taylor Russel), fruto do 1° casamento da mãe Maureen, e Penny (Mina Sundwall), a filha do meio. Amor e rivalidade entre irmãs...


 
Ao término desta maratona, e pelo senhor gancho do final, ficamos com um gosto de “quero mais”, pois, apesar das mudanças feitas para um público mais exigente e menos ingênuo, sentimos de volta aquela aventura juvenil e descompromissada da série original que estava fazendo falta, resgatando e repaginando o valores familiares de união e solidariedade que Irwin Allen e Shimon Wincelberg nos haviam legado há mais de 53 anos. Valores que se resumem numa frase: Os Robinsons ficam juntos!

E que voltem para uma nova temporada!!! 
 

A "jornada" dos Robinsons está apenas começando...

0 comentários:

Postar um comentário