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quarta-feira, 26 de julho de 2023

O Cineasta além de qualquer era - In Memorian: Stanley Kubrick

 
  
Perfeccionismo inabalável 
 
por Alexandre César
(Originalmente publicado em 25/07/2018)

Narrador que ia de um gênero a outro de forma primorosa
 

Na infância, junto com sua irmã Barbara Mary. Desde cedo ele já tinha a "cara e olhar de Stanley Kubrick..."


 

Perfeccionismo, originalidade e persistência à toda prova, aliados à um refinado senso estético, uma técnica meticulosa e profunda, além de infinita paciência, colocaram Stanley Kubrick (⭐ Manhattan, Nova York, 26 de julho de 1928 – ✝ St. Albans, Hertfordshire, 7 de março de 1999) no panteão dos mais influentes diretores da história do cinema, tendo sido também roteirista, produtor e fotógrafo. Foi autor de grandes clássicos do cinema, como Spartacus (1960), Lolita (1962), Dr. Fantástico (1964), 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), Laranja Mecânica (1971), Barry Lyndon (1975), O Iluminado (1980), Nascido Para Matar (1987) De Olhos Bem Fechados (1999), entre outros. 

 

"Medo e Desejo" (1953) é raramente visto, sendo o primeiro filme de ficção de Kubrick, passado durante uma guerra indefinida


O novaiorquino Stanley era o filho mais velho do casal de judeus, Jacob Leonard e Sadie Gertrude Kubrick. O pai de Kubrick tinha ascendência de judeus da Polônia, da Áustria e da Romênia. Já sua mãe era filha de imigrantes austríacos. Eles se casaram em 1927, quando Jacob se formou em medicina. Apesar de vir de uma família judia, Kubrick nunca professou a religião e se definia como ateu.

 

O jovem fotógrafo Stanley Kubrick em um de seus trabalhos para a revista "Look"


 
O futuro diretor de cinema não era o que se podia chamar de "aluno exemplar". Raramente fazia as lições de casa e suas notas não eram das melhores. Mas, apesar disso, o pai reconhecia a sua mente criativa, encorajando-o a aprender xadrez (no qual se tornou especialista) e lhe deu sua primeira máquina fotográfica. Ainda na adolescência, visando a carreira como fotógrafo, conseguiu emprego na conceituada revista Look, mas logo Kubrick descobriu que o seu futuro estava ligado a outro tipo de câmera. 

 

"Day of The Fight" (1951): o primeiro trabalho de Kubrick no cinema


Estreou como cineasta realizando curta-metragens aos 22 anos. Seu primeiro trabalho na área, financiado por ele mesmo, foi Day of The Fight (1951), baseado num artigo da Look cobrindo um dia na vida do boxeador irlandês-americano Walter Cartier no auge de sua carreira, quando ele lutou contra Bobby James. Seguiu-se no mesmo ano The Flying Padre, que acompanha a rotina do Reverendo Fred Stadtmuller que pilota seu próprio avião, o Espírito de São José, para cuidar de 11 paróquias espalhadas por 6 mil km² do Novo México. Em 1953 ele digiriu The Seafarers, documentário institucional sobre os benefícios dos membros da organização Seafarers International Union

 

Jamie Smith em "A Morte Passou por Perto" (1956): Seu primeiro filme oficial

Aos 25, obteve uma grande ajuda financeira do pai, que penhorou a casa para a produção de Medo e Desejo (1953), seu primeiro longa-metragem. No fim considerou o trabalho amador e, mesmo com algumas boas críticas, logo tratou de retirá-lo de circulação. Até hoje, o filme permanece fora de catálogo, tendo sido exibido poucas vezes em festivais ou distribuído ilegalmente. Logo após, Kubrick realizaria outro longa, A Morte Passou Por Perto (1955) - outro filme pouco divulgado e de difícil acesso -, considerado um film noir tardio.


"O Grande Golpe" (1956): divisor de águas na filmografia de Kubrick

 

Mas é a partir de O Grande Golpe (1956) que sua carreira começa a funcionar. A trama, estrelada por Sterling Hayden, versa sobre um plano de assalto e ganhou a atenção de alguns produtores. Alguns achavam sua sua montagem confusa, mas atualmente ele é considerado um dos melhores filme noir já feitos, sendo um das grandes influências de Quentin Tarantino, e tendo sido fonte de inspiração do prólogo de Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008) de Christopher Nolan

 

"Glória Feita de Sangue" (1957): Douglas e Kubrick tiveram uma boa química neste filme, que se tornou um clássico


Apesar disso, teve dificuldades com a adaptação da novela Paths of Glory. O filme homônimo foi estrelado pelo astro Kirk Douglas. O ator o ajudou a levantar o projeto após ele ter sido rejeitado pelos estúdios. Kubrick fez um dos filmes antibélicos mais poderosos já vistos, focado não em heróis, mas sim em covardes. Apesar das excelentes críticas, Glória Feita de Sangue (1957) foi proibido em alguns países, incluindo a França, por mostrar a hipocrisia do alto-comando do exército que coloca a vida dos soldados e das pessoas comuns em segundo plano face aos seus interesses mesquinhos e politicagens. Nele vemos um julgamento fraudulento de soldados acusados de deserção para ocultar falhas graves do seu comandante, o que entra em choque com as convicções humanistas do oficial encarregado da defesa dos acusados (Douglas).

 

"Spartacus" (1960): Kirk Douglas e Wood Strode num épico além das sandálias e espadas, que marcou gerações


Kirk Douglas, que havia perdido o papel título de Ben-Hur (1959, de William Wyler) para Charlton Heston, havia prometido a si mesmo fazer um épico inesquecível. Como gostou de trabalhar com Kubrick, o chamou para dirigir o épico  Spartacus (1960), baseado no livro de Howard Fast, com roteiro do caçado pelo Macartismo Dalton Trumbo. Kubrick foi chamado para o trabalho após a tensa demissão do veterano diretor Anthony Mann, que já havia filmado boa parte da produção. Com apenas 29 anos, ele acabou enfrentando vários problemas logísticos, fora a rivalidade de Laurence Olivier e Charles Laughton.

 

Kirk Douglas em "Spartacus". Diferenças criativas com Kubrick

A boa relação com Douglas viria por água a baixo quando suas diferenças criativas se confrontaram. Kubrick perdeu a batalha e se viu obrigado a filmar sem poder colocar algumas de suas ideias em prática. ainda assim, o filme revolucionou o gênero por ser não um épico religioso-cristão, mas sim, um épico humanista, com soluções na montagem inspiradas nas idéias do lendário diretor russo Serguei Eisenstein. Mesmo com o sucesso do filme, ele decidiu que dali por diante só iria aceitar projetos em que pudesse ter total liberdade criativa. E foi com esse pensamento que Kubrick se muda para a Inglaterra em 1962.


Sue Lyon em "Lolita" (1962): furor erótico numa produção sutil e elegante que sugere muitíssimo mais do que mostra


No mesmo ano ele começa as filmagens de No mesmo ano ele começa as filmagens de Lolita (1962), clássico da literatura escrita pelo russo Vladimir Nabokov. A curiosidade sobre a adaptação da obra de Nabokov deu grande visibilidade ao filme, que, mesmo imerso em polêmicas (a relação entre um homem de meia-idade e uma adolescente era a principal delas), se torna outro grande sucesso de crítica, com grandes interpretações de James Mason, Shelley Winters, Peter Sellers e a novata Sue Lyon. Kubrick mais tarde comentou que, se ele tivesse percebido como eram severas as limitações da censura da época, ele provavelmente nunca teria feito o filme. 

 

"Doutor Fantástico" (1964): a Sala de Guerra, criação de Ken Adam que é referência até hoje


Dois anos depois, o diretor lança outro clássico absoluto: Dois anos depois, o diretor lança outro clássico absoluto: Doutor Fantástico (1964). Tendo como tema a ameaça nuclear, o filme é uma comédia de humor negro com atuações e roteiro primorosos.

 

Cel. Mandrake (Peter Sellers) e o Gen. Ripper (Sterling Hayden): o temor e o bom senso de um e a loucura paranóica do outro...


Para atuar, Kubrick chamou o comediante inglês Peter Sellers (que ficaria posteriormente imortalizado como o Inspetor Closeau da cinesérie A Pantera Cor-de-Rosa), que se desdobra em três papéis: Merkin Muffley, Presidente dos Estados Unidos (definido como um “Roosevelt fracassado”); o Coronel Lionel Mandrake, amigo do louco General Ripper (Sterling Hayden) que manda uma frota de bombardeiros B-52 Stratofortress atacarem a União Soviética; e o Doutor Fantástico (Strangelove no original) cientista louco e caricato, digno de gibis. Sellers já estava acostumados a proezas deste tipo - já havia interpretado mais de um papel num mesmo filme em O Rato Que Ruge (1959, de Jack Arnold). Dr. Fantástico também contou com as atuações de George C. Scott (que em 1970 se destacaria de vez em Patton, Rebelde ou Herói?, de Franklin J. Schaffner ), Slim Pickens e Keenan Wynn, entre outros. 

 

Doutor Fantástico (Sellers): encarnação de cientista louco, vilão bondiano e "n" figuras que o cinema e a cultura pop criaram


 Entre os vários momentos clássicos do filme, o final é um destaque, com um major cowboy T. J. “King” Kong (Pickens) montado sobre uma bomba atômica no ar prestes a cair sobre o seu alvo, resultando num cogumelo atômico. Esse trabalho rendeu a Kubrick sua primeira indicação ao Oscar de melhor diretor.

 

Os "parças" Arthur C. Clarke e Stanley Kubrick, responsáveis pela ficção científica das ficções científicas

 
O visual do cenário da “Sala de Guerra”, trabalho do production designer Ken Adam (responsável pelo sofisticado visual cenográfico da cinesérie  James Bond) é referência até hoje nas retratações de bases estratégicas de superpotências em filmes, desenhos animados, séries de tv e histórias em quadrinhos, sem contar que o visual icônico do cientista alucinado perdura no imaginário pop. 

 

"2001: Uma Odisséia no Espaço" (1968) permanece como marco na história do cinema e na evolução da tecnologia dos efeitos especiais


Cinco anos de produção foram necessários para o desenvolvimento de seu filme seguinte - 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), para muitos a melhor ficção científica já filmada. O cultuado escritor de SciFi Arthur C. Clarke colaborou o roteiro (parcialmente baseado em dois contos seus: “O Sentinela” e “Encontro no Amanhecer”) enquanto ao mesmo tempo escrevia um romance homônio ao filme, com sua versão pessoal da história. O livro se tornou um clássico do gênero. 

 

Dirigindo Keir Dullea na sequência final de "2001"


Com 2001 ele é novamente indicado a melhor diretor, mas vê o seu prêmio escapar mais uma vez. Logo após, chateado com o cancelamento do longa-metragem que pretendia fazer sobre Napoleão Bonaparte, ele segue para mais uma adaptação de um romance. Dessa vez o escolhido é Laranja Mecânica (1971), baseado no livro de Anthony Burgess focado na violência, principalmente, da juventude. O autor do romance não gostou do filme, pois o livro é uma crônica de costumes, enquanto o filme é uma ficção política. 

 

"Laranja Mecânica" (1971) Kubrick e Malcolm McDowell, que ficou indissociavelmente ligado a personagens "perigosos"



Para estrelar o filme, Kubrick escolheu Malcolm McDowell. O diretor chegou a atrasar o início das filmagens porque McDowell estava comprometido com as filmagens de outro longa. Segundo Kubrick, não havia outro interprete à altura do personagem.

Alex (McDowell) e seus "drugs" na "Leiteria Korova" bebendo leite aditivado e decidindo a vida. O set criado pelo "production design" John Barry, é um caso à parte



Laranja Mecânica causou grande polêmica na época de seu lançamento e foi acusado de incitar a barbárie. Na história, em um futuro próximo quatro jovens de classe trabalhadora passam as noites cometendo as maiores atrocidades: brigar, roubar, estuprar são apenas algumas delas. A vida de um deles, Alex (McDowell no seu papel definitivo) toma um rumo diferente quando vai para a cadeia. Este é, disparado, o trabalho mais controverso do diretor, que lhe rendeu outra indicação  ao Oscar e outra derrota. 

 

O "Experimento Ludovico", que condicionava à força indivíduos violentos a rejeitarem a violência, tolhendo o livre-arbítrio

 

Proibido pela censura da ditadura militar brasileira na época do seu lançamento, o filme foi liberado em 1978 por ocasião da “abertura” do General João Figueiredo, causando risos na plateia pelas “bolas pretas” inseridas no filme nas regiões genitais dos atores nas cenas de nudez, inclusive em momentos que não aparecia qualquer genitália.

 

"Barry Lyndon" (1975). Ryan O´Neal na melhor reconstituição de época do Séc. XVIII já feita até hoje

 
Nos anos seguintes, Kubrick esteve envolvido em três filmes totalmente diferentes: um longuíssimo filme de época, um terror de gelar a espinha e um que mostrava a sua visão da Guerra do Vietnã. 
 

O General e as tropas. Até a distância real de tiro entre as tropas foi obedecida.


 
O primeiro é O primeiro é Barry Lyndon (1975). Linda obra adaptando uma novela de William Makepeace Thackeray, “As Memórias de Barry Lyndon”. O filme foi um Plano B por não ter conseguido o financiamento para o seu projeto pessoal sobre Napoleão. A proposta naufragou devido ao fracasso comercial do monumental Waterloo (1970, de Sergei Bondarchuk). O diretor aproveitou neste Plano B toda a extensa pesquisa de época que havia feito para o filme que não saiu do papel. Embora seja pouco conhecido, Barry Lyndon é considerado por muito dos fãs de Kubrick - Martin Scorsese e Lars Von Trier entre eles - como seu melhor trabalho. Nele é perfeitamente visível o seu perfeccionismo, característica marcante em sua carreira. 
 

"Barry Lyndon": os salões iluminados à luz de velas, usando lentes hipersensíveis. A área de foco era bem estreita, forçando uma rígida marcação dos atores

 
Barry Lyndon é interpretado magistralmente por Ryan O'Neal (mais conhecido como o Oliver de Love Story). Ele é Redmond Barry, um jovem irlandês do final do século XVII que, após participar de um duelo, foge pela Europa da Guerra dos Sete Anos. Na cadência de imagens de rara beleza, vemos o caminho de um homem à medida que ele evolui da mais pura inocência até à mais fria sofisticação. em seu trajeto ele se casa com a rica e nobre Lady Honoria Lydon (Marisa Berenson), mudando o seu nome para Barry Lyndon e termina num absoluto estado de amargura.
 
 
Poucos filmes conseguiram captar a luz natural, bem como o espírito de uma época, com um senso de verosimilhança, como "Barry Lyndon"


A fotografia do filme, dirigida por John Alcott - trabalhando sob a orientação técnica de Kubrick - é outro momento inesquecível. Quando não estava em filmagens externas usando apenas a luz do sol, Kubrick utilizava luz de velas, filmando com uma lente Zeiss pertencente a um lote de dez fabricadas para os satélites fotográficos e as missões Apollo da  NASA. Mesmo com todo o cuidado da produção, Barry Lyndon fracassou nos Estados Unidos, sendo considerado por parte da crítica ”estático, frio, vazio e anódino”. Mas fez relativo sucesso na Europa. 

 

As cenas de salão em especial, em "Barry Lyndon" parecem quadros vivos, saídos das telas


O filme, ao longo das suas três horas de duração, mantém uma coerência onírica, concretizando-se como história, espetáculo, reconstrução histórica e alegoria psicológica da visão de mundo do homem ocidental do século XVIII. Levou quatro estatuetas douradas: Melhor Direção de Arte (Ken Adam, Vernon Dixon, Roy Walker), Melhor Fotografia (John Alcott), Melhor Figurino (Milena Canonero e Ulla-Britt Söderlund) e Melhor Trilha Sonora (Leonard Rosenman) mas, de novo, o admirável trabalho de Stanley como diretor não foi reconhecido pela maioria votante. Barry Lyndon faz parte da lista dos 100 melhores filmes da revista “Time”

 

"O Iluminado" (1980). Jack Torrance (Jack Nicholson) e as consequências do isolamento num ambiente obssessor...

 

Kubrick voltaria a ter um sucesso mundial com o clássico O Iluminado (1980), adaptação da obra de Stephen King. Ele narra a história de Jack Torrance (Jack Nicholson, no papel que definiu sua vitoriosa carreira no cinema), um escritor e alcoólatra em recuperação que vai trabalhar como zelador no Hotel Overlook. durante o período do ano em que este fica vazio devido ao inverno. Jack é casado com Wendy (Shelley Duvall), e o filho do casal, Danny (Dan Lloyd) - um menino que tem a habilidade de ver o passado e o futuro, além dos fantasmas que habitam o hotel. Logo que chegam ao local, a família acaba presa por uma grande tempestade de neve e as presenças sobrenaturais no prédio começam a influenciar negativamente Jack. 

 

O Hotel Overlook: O labirinto, os hipnóticos padrões geométricos da tapeçaria e os "hóspedes" do hotel que só Jack vê



Por causa do fracasso financeiro de Barry Lyndon, o diretor percebeu que precisava fazer um filme comercialmente viável. Posteriormente King disse que Kubrick - que havia sido cotado para dirigir O Exorcista (1974, de William Friedkin) - tinha sua equipe pessoal para trazer-lhe pilhas de livros de terror, que ele leu até encontrar um cuja história prendesse a sua atenção. 

 

Wendy (Shelley Duvall): Esposa e mãe em apuros

 
Depois de uma fase de pré-produção e de desconsiderar o script do próprio King (cuja escrita considerou fraca), Kubrick construiu cenários nos estúdios da EMI Elstree Studios, na Inglaterra, para permitir filmagens em ordem cronológica e alterações que fossem necessárias durante a duração da produção. Para criar o labirinto invernal por onde Jack persegue Danny, foram usadas nada menos que 900 toneladas de sal, além de isopor. O conjunto para o Hotel Overlook foi o maior já construído naquele estúdio e incluía uma recriação em tamanho natural do exterior do hotel.
 

O revolucionário uso do Steady cam, acompanhando Danny nos corredores labirínticos do Hotel.

 

King odiou o filme, a interpretação de Nicholson e a falta de fidelidade à sua história. Ele havia escrito um conto de terror e Kubrick deixou de lado os monstros e focou num tratado sobre a loucura, dando a narrativa um caráter mais realista e crível, além de conseguir com sua criativa condução um longa-metragem de suspense inigualável.

 

"O Iluminado" é homenageado numa sequência de "Jogador N° 1" passada dentro do Hotel Overlook, revisitando icônicos personagens

 

Destacando-se o uso inovador do Steady Cam (um equipamento onde é acoplada a câmera para evitar a trepidação), com o qual ele fez uma das cenas mais antológicas do filme, quando Danny anda no triciclo e a câmera desce ao nível do garoto e segue a sua caminhada pelos enormes corredores do hotel até parar em frente ao temido quarto 237.

 

"Nascido Para Matar" (1987) O Sargento Hartmann ( R. Lee Ermey) e sua disciplina brutal

 

Hoje em dia ele é considerado por muitos como o melhor e mais horripilante filme de suspense de todos os tempos, mas na época esse filme deu para Kubrick uma indicação ao Framboesa de Ouro de pior direção (nada como um dia após outro...). Uma prova da permanência do filme no imaginário pop é a sequência virtual do Hotel Overlook em Jogador N° 1 (2018, de Steven Spielberg), onde os protagonistas interagem numa recriação do cenário do filme.


Como primeira fase da padronização dos recrutas, temos o corte dos cabelos, despersonalizando-os e facilitando a doutrinação

 

Quase no final dos anos 1980, Kubrick ressurgiria dando ênfase a guerra. Dessa vez a do Vietnã. Saída do livro de Gustav Hasford, Nascido Para Matar (1987), é quase que uma versão "kubrickiana" de " de Apocalypse Now (1979, de Francis Ford Coppola). 

 

O soldado Leonard Lawrence “Gomer Pyle” (Vincent D´Onfrio). Massacrado até a loucura



O filme denota uma das marcas mais características desse diretor: o tema da desumanização. Aqui, ela é vista nos fuzileiros navais americanos, que enlouquecem no rígido treinamento físico que recebem e também no campo de batalha.

 

Um dos mais lembrados cartazes de filme de guerra



O filme é praticamente dividido em duas partes: a preparação para a guerra e o ambiente de combate. Nele, chama muita atenção o duríssimo treinamento exigido dos fuzileiros navais, sob constante humilhação verbal vinda de seus superiores. O personagem que melhor sintetiza este doutrinamento é o nada gentil sargento Hartmann ( R. Lee Ermey, que foi um fuzileiro na vida real, inspirando-se em seus tempos como militar para sua atuação). Outro fator de importância é o uso do humor negro, particularmente com os frequentes deslizes do soldado Lawrence “Gomer Pyle” (Vincent D´Onfrio, arrasador, muito antes de suas destacadas participações nos seriados Law & Order: Criminal Intent e Demolidor), a verborragia do sargento Hartmann e com os comentários politicamente incorretos do soldado Animal Mother (Adam Baldwin) quando em ação no Vietnã. 

 

As filmagens no Vietnan de Londres...

 

Na segunda parte do filme, vemos o soldado Joker (Matthew Modine) já no Vietnam, trabalhando para o jornal do exército americano Stars and Stripes. Ele tenta escrever suas matérias, durante a Ofensiva do Tet, retratando a realidade como ela é para seus leitores: uma rotina stressante de combates, a obediência dos soldados a uma hierarquia não muito segura das razões de se estar ali e a alienação de não se sentir bem-vindo por ser, apesar da propaganda, um soldado de um exército de ocupação num país invadido.

 

Ao final, o pelotão canta uma paródia do tema do "Clube do Mickey" num final impactante


Kubrick disse que ficou frustrado com o fato de que, antes da estreia do filme, dois outros longas sobre o tema já tinham sido lançados em datas próximas com sucesso: Os Gritos do Silêncio (1984) de Roland Joffé e Platoon (1986) de Oliver Stone). Ainda como destaque da produção está o imenso set erguido em Londres para a batalha final, obra do Production Designer Anton Furst, que criaria anos depois a Gothan City de de Batman (1989) de Tim Burton

 

Tom Cruise e Nicole Kidman em "De Olhos Bem Fechados" (1999): casal na tela e na vida na época

 

Um último fator de destaque foi o simbólico uso das duas últimas canções ouvidas no filme, de motivações completamente distintas. O filme termina com os fuzileiros cantando uma animada música parodiando o tema do programa de TV Clube do Mickey Mouse, mas logo em seguida, durante os créditos finais, é possível ouvir a sombria "Paint It Black", dos Rolling Stones

 

A Manhatan cenográfica de Londres é extremamente convincente


De Nascido Para Matar até De Olhos Bem Fechados (1999), o último longa-metragem que ele dirigiu, passou-se um longo período sem nada nas telas assinado por Kubrick. Lançado em 1999, o filme protagonizado pelo (até então) casal número um do cinema norte-americano, causou uma grande comoção entre os amantes da sétima arte.

 

As crises do jovem casal burguês englobam fetiches, segredos, perda do desejo, etc...


Kubrick sempre se interessou pela possibilidade de fazer um filme estudando relações sexuais. Decidiu adaptar o romance Traumnovelle, escrito por Arthur Schnitzler, usando como protagonistas o então casal na vida real Tom Cruise e Nicole Kidman. Eles interpretam um casal endinheirado em crise, onde ele está com ciúmes por revelações do passado dela, e há a diminuição do desejo entre os dois e tentações através de ofertas sexuais surgem para ele. O filme apresenta uma sociedade secreta formada por membros da alta sociedade que promovem orgias privê em mansões, onde ele entra como intruso e, depois de desmascarado, passa a se sentir espionado, criando uma sensação de perigo iminente - seja real, seja psicológico -, num longa-metragem de clima ambíguo que, ora parece um filme de suspense, ora uma crônica de costumes sobre uma elite sem perspectivas maiores em suas vidas.

 

"Festa estranha com gente esquisita": Não é um filme baseado num livro de Dan Brown


Dois anos foi o período de filmagem - tempo que o perfeccionismo de Kubrick achou necessário para a conclusão do filme, mas que não foi o suficiente para garantir a satisfação da crítica e do público. As filmagens começaram em novembro de 1996. Como Kubrick estava baseado na Inglaterra desde a década de 1970 e possuía medo de avião, a produção foi totalmente filmada no Reino Unido, com uma reconstrução de Nova York sendo criada nos Estúdios Pinewood em Londres. Após terminar as filmagens, o filme entrou em um longo processo de pós-produção e, em 2 de Março de 1999, foi finalmente apresentado seu corte final para os executivos da Warner. Cinco dias depois o cineasta morreu enquanto dormia, devido a um ataque cardíaco, não testemunhando a fria recepção que seu último trabalho obteve.


Intervalo das filmagens. O casal de estrelas e Kubrick se deram bem, apesar do perfeccionismo do diretor

 

O último projeto cinematográfico em que esteve envolvido, mas que por questões de saúde não dirigiu, foi A.I.: Inteligência Artificial (2001, de Steven Spielberg), um projeto que ele tencionava filmar, mas afirmava que o amigo Spielberg era a melhor opção para dirigi-lo. Ele brincava afirmando que “o seu perfeccionismo faria com que iniciasse as filmagens com o protagonista aos 8 anos e terminaria com ele em idade de tirar a carteira de motorista...” Nada como ser capaz de rir de si mesmo. 

 

Como sempre, o apuro visual de Kubrick prevalece, em cenas muito bem construídas


 Kubrick encontra-se sepultado em Childwickbury Manor, Hertfordshire na Inglaterra. Nunca ganhou um Oscar de Melhor Diretor, apesar de suas incríveis realizações para o cinema.

 

 Escolha a sua "cara de Kubrick"


sábado, 22 de julho de 2023

Acima de tudo um gentleman - In Memorian: James Whale

 

 
Genialmente maldito

por Alexandre César
(Originalmente postado em 07/ 05/ 2019 ) 

O cineasta mais completo do ciclo

#HorrorDaUniversal

 

James Whale: Criatividade, elegância e iconoclastia, tudo no mesmo pacote


Talentoso, ireverente e sem medo de chocar as instituições e a hipocrisia da sociedade, tendo uma história de vida bem agitada, James Whale ( ⭐ Dudley, Inglaterra, 22 de julho de 1889 –  ✝ Los Angeles, 29 de maio, 1957) foi um cineasta britânico radicado nos Estados Unidos da América, melhor conhecido pelo seu trabalho em filmes de horror, principalmente Frankenstein (1931), A noiva de Frankenstein (1935)  e O homem invisível (1933), feitos para a Universal Pictures e todos grande sucessos de bilheteria.

 

Douglass Montgomery e Mae Clarke em "A Ponte de Waterloo" (1931). Filme também produzido por Carl Laemmle, Jr


Nascido em Dudley, Inglaterra, como o sexto de um total de sete filhos, seu pai era um operador de fornalha e a mãe era enfermeira num típico reduto operário inglês . Ele não era muito forte para trabalhar na indústria como seus irmãos mais velhos, então arranjou um emprego de sapateiro, retendo os pregos que eram retirados das solas trocadas e vendendo em seguida como sucata para ganhar um dinheiro a mais. James tinha algum talento como compositor e usou essa renda extra para pagar seus estudos na Escola de Artes de Dudley (Dudley School of Arts and Crafts).

 

"Journey´s End" (1930).Versão da peça com Colin Clive, futuro Dr. Frankenstein


Em outubro de 1915, com o início da I Guerra Mundial, James Whale se alistou no exército e esteve no regimento de Worcestershire em julho de 1916. Foi feito prisoneiro de guerra em agosto de 1917, enquanto liderava um ataque a uma fazenda fortificada de Flandres, ele passou 15 meses no campo de prisioneiros de guerra de Holzminden, na Baixa Saxônia, na Alemanha, e permaneceu vivo fazendo apresentações regulares de teatro para serem apresentadas para os guardas e companheiros de cela, continuando a desenhar e escrever, descobrindo seu talento para as produções teatrais. Em Holzminden embora nutrisse ódio pelos alemães, desenvolveu seu gosto pelo drama e, ironicamente, pelo Expressionismo Alemão. Curiosamente, também foi na prisão que Whale aprendeu a jogar pôquer, ganhou muitas apostas e depois da guerra foi cobrar seus companheiros de cela e fazer um pé-de-meia. 

 

Whale e o desconhecido Boris Karloff, que ele escolheu pessoalmente para fazer o monstro


Depois do armistício ele voltou para Birmingham e se tornou profissional do teatro. Em 1928 teve a oportunidade de dirigir peça do então desconhecido autor R. C. Sherriff, Journey's End, com Laurence Olivier em início de carreira. A peça foi bem sucedida e eles se mudaram para o teatro de West End (agora com o ator Colin Clive no papel principal). A peça foi exibida em 600 ocasiões. Whale dirigiu a versão para a Broadway e a adaptação para o cinema feita por Hollywood. Clive repetiu seu papel no filme.

Whale recebeu influência do cinema mudo alemão, particularmente dos filmes de F. W. Murnau e seus movimentos de câmera. Seus filmes estabeleceram as carreiras americanas de Gloria Stuart, Colin Clive, Elsa Lanchester, Boris Karloff e Claude Rains, atores que ele conhecia da Inglaterra e que graças a isso criara papéis adequados para as respectivas personalidades.

 

Criador e criatura: a influência do expressionismo alemão é nítida no design de produção e fotografia do filme


Whale teve seu grande momento em Hollywood quando o chefe do estúdio Carl Laemmle ofereceu ao diretor a chance de comandar qualquer filme cujos direitos estavam com a Universal. Whale escolheu Frankenstein principalmente porque nenhuma das outras propriedades da Universal lhe interessavam e ele queria realizar uma película de guerra. 

 

Cena controversa, em que o monstro brinca com uma garotinha, e no take seguinte, ele olha para o lago e vemos que a alguma coisa afundou, e ela não está mais em cena...


Whale chamou para o elenco Colin Clive – conhecido do diretor por causa da peça Journey’s End – para o papel do barão e cientista, e Mae Clark como sua noiva Elizabeth. Porém, para representar o monstro, Whale ofereceu o papel para um ator desconhecido chamado Boris Karloff (reza a lenda que Bela Lugosi era a primeira escolha do estúdio, mas não aceitou porque o papel não possuía falas). As filmagens começaram em 24 de agosto de 1931, estendendo-se até 3 de outubro. Já no dia 29 de outubro foram feitas as pré-estreias com lançamento em 21 de novembro. Instantaneamente a resposta do público e crítica foi aclamar o novo clássico, que estourou os recordes de bilheteria por todo o país, rendendo ao estúdio 12 milhões de dólares no primeiro lançamento. Frankenstein custou 291 mil dólares e se tornaria o mais importante cartão de visitas de seu diretor. 

 

Desde então, cientista louco que se preza, tem que ter um vicioso assistente corcunda


Seguiu-se Seguiu-se A Donzela Impaciente, um drama estrelado por Lew Ayres e Mae Clark, baseado na novela “The Impatient Virgin”, de Donald Henderson Clarke, e A Casa Sinistra (The Old Dark House), ambos de 1932, sendo esta última creditada como uma reinvenção dos filmes de horror envolvendo casas sombrias e misteriosas. Para a produção, mais uma vez Boris Karloff foi chamado para o papel principal. Depois que o filme foi retirado de circulação The Old Dark House foi considerado perdido por muitos anos até que nos anos 60 o cineasta Curtis Harrington encontrou um negativo nos arquivos da Universal e levou-o para restauração. O famoso produtor e diretor William Castle realizou um remake homônimo em 1963. 

 

Karloff e Gloria Stuart em "A Casa Sinistra" (1932). Uma reinterpretação do conceito de filme de horror


Em 1933 Whale dirigiu O Beijo Diante do Espelho, um drama de suspense estrelado por Nancy Carroll, Frank Morgan, Gloria Stuart e Walter Pidgeon, que foi bem recebido pela crítica mas fracassou nas bilheterias. Porém, logo Whale recuperaria as atenções do público com O Homem Invisível, com um roteiro mais próximo do material escrito por H. G. Wells depois que sofreu 14 revisões de roteiro até ser considerado possível de ser realizado. A mistura de horror, humor e os excelentes efeitos visuais capturaram de imediato a imaginação do público que nunca tinha visto nada parecido até aquele momento, resultando no vilão mais sanguinário de todo o ciclo da Universal: 122 mortes, sendo quatro assassinatos vistos em cena, mais dezoito membros de um grupo de buscas que desaparece e um trem que ele faz descarrilar, matando cem pessoas. Curiosamente, Karloff representaria o papel principal de acordo com a preferência do estúdio, mas Whale queria uma voz mais “intelectual” e menos soturna para o personagem e sua primeira escolha foi o ator Claude Rains, que pegou o trabalho, da comédia romântica Quando a Luz Se Apaga, estrelada por Elissa Landi e Paul Lukas e também produzida em 1933.

 

Whale, com Gloria Stuart e equipe num intervalo de filmagens de "A Casa Sinistra"


O filme seguinte de Whale foi o drama Estigma Libertador (1934), uma adaptação da novela de mesmo nome de John Galsworthy, sobre uma mulher tentando escapar de um casamento com um abusivo membro da aristocracia inglesa. Foi o primeiro filme de Whale produzido sob o Código de Produção, o que provocou diversos problemas para adaptar o texto ao novo código por conta dos elementos de sadismo e sexualidade implícitos na história. 

 

Filmagem de "O Homem Invisível" (1933). -"Claude, você ainda não entrou no personagem!!!"


A sequência A Noiva de Frankenstein (1935), ele aceitou dirigir apesar de sua resistência em realizar uma continuação de seu mais lucrativo filme e ficar para sempre estigmatizado como diretor de filmes de horror. Aproveitando-se de um episódio da novela de Mary Shelley no qual o barão se comprometia a criar uma companheira para a sua criação, o filme chamou de volta o mesmo elenco principal de Frankenstein, contudo a famosa história ganharia traços mais humanos e sombrios e a maestria com que foi realizado fez dele um caso raro no cinema em que uma continuação conseguia ser ainda melhor do que o filme original. 

 

O Dr. Jack Griffin (Claude Rains) acreditem, é o "Monstro da Universal" que mais vítimas fêz por filme!!!


No corte original, 21 pessoas morriam, mas depois de pressões da censura o número caiu para dez mortes – e o roteiro introduziu um vilão que conseguiu engolir o personagem principal, o Dr. Pretorius, interpretado de forma brilhante por Ernest Thesiger. A audiência recebeu muito bem esta continuação, embora não tanto quanto o original. A Noiva de Frankenstein custou 397 mil dólares e rendeu cerca de 2 milhões até 1943. Alardeado como o mais importante filme da era clássica do horror, mesmo depois de todos os cortes e mudanças que precisou fazer por conta da imposição dos códigos de produção da época, A Noiva de Frankenstein é o trabalho de mestre de James Whale e elevou a reputação do diretor as alturas. Laemmle ficou ansioso para colocar Whale para dirigir A Filha de Drácula, a continuação do primeiro grande sucesso de horror da Universal (que terminou nas mãos de Lambert Hillyer). 

 

Karl (Dwight Frye), Dr. Pretorius (Ernest Thesiger) e Henry Frankenstein (Colin Clive) em "A Noiva de Frankenstein" (1935)


Outros filmes bem sucedidos de Whale foram Anjos do Inferno (1930) co-dirigido com Howard Hughes, (1930), A Ponte de Waterloo (1931) e Magnólia - O Barco das Ilusões (1936), estes dois produzidos por Carl Laemmle, Jr. Também realizou The Man in the Iron Mask, para o produtor independente Edward Small.

Pela Universal, Whale dirigiu The Road Back (1937),  pensado como uma sequência para Sem novidades no Front (1930) de Liwes Milestone. Sob os protestos de Whale, The Road Back foi reeditado e cortado após o lançamento, o que resultou em fracasso de público. 

 

"A Noiva..." Karloff retorna ao papel que o consagrou sob a batuta de Whale


Whale então foi relegado aos filmes B da Universal. Em 1937 ele filmou O Grande Garrick da Warner Brothers - seu único filme por este estúdio. Apesar da cuidada ambientação do século XVIII, o filme foi outro fracasso. Ele dirigiu O Porto dos Sete Mares (1938) para a MGM e Esposas Sob Suspeita (1938) seu último filme para a Universal, um remake do sucesso anterior The Kiss Before the Mirror

 

Colin Clive, Elsa Lanchester e Whale num intervalo de filmagem de "A Noiva..."


Nessa fase Whale conseguiu sucesso apenas com O Homem da Máscara de Ferro (1939), estrelado por Louis Hayward e Joan Bennett, Inferno Verde (1940), um filme comum de aventura na selva com Douglas Fairbanks Jr., Joan Bennett e Vincent Price, foi seu último filme de longa-metragem lançado. Nos anos de 1940 ele fez uma adaptação para uma peça de William Saroyan e depois Hello-out there!, que não conseguiu lançar. Após essa experiência, nunca mais dirigiu para o cinema.

 

Irene Dunne e Allan Jones em "Magnólia - O Barco das Ilusões" (1936). Musical de sucesso


Ele morou com o produtor David Lewis quando sob efeito da depressão, se suicidou em sua casa na Califórnia, ao se afogar na piscina, em 29 de maio de 1957, com 67 anos de idade.

Whale é mencionado na novela  Father of Frankenstein de Christopher Bram que foi adaptada para o filme Deuses e Monstros (1998) de Bil Condon . Este filme, que venceu o Oscar de melhor roteiro adaptado, teve Ian McKellen interpretando o cineasta. Biografias de Whale foram escritas por Mark Gatiss (James Whale: A Biography ou James Whale: the Would-Be Gentleman) e James Curtis (James Whale: A New World of Gods and Monsters).

 

John Emery e Richard Cromwell em "The Road Back" (1937). Filme que demarcou o início do declínio de Whale


No filme, Whale é mostrado como abertamente homossexual, além de destacar seu trabalho como pintor amador, sua saúde e estado mental debilitados, além da sua condição emocional.

Embora tivesse uma piscina, Whale não sabia nadar e tinha pavor de água. Seu corpo foi cremado a seu pedido e suas cinzas foram enterradas na cidade de Glendale, California. Uma nota de suicídio ficou na posse de David Lewis por muitas décadas, até pouco antes de sua própria morte em 1987, o que fez suspeitar até então que a morte de Whale tinha sido um afogamento acidental:

 

Brian Aherne e Olivia de Havilland em "O Grande Garrick" (1937). único filme que fêz na Warner Bros. Fracasso, apesar da produção caprichada


“Para todos que eu amo,

Não chorem por mim. Meus nervos estão destruídos e por todo o ano que passou eu estive agonizando dia e noite – exceto quando as pílulas para dormir faziam efeito – e toda paz que eu tenho todo dia é quando estou sob efeito delas.

Eu tive uma vida maravilhosa, mas ela acabou e meus nervos pioraram e eu tenho medo de que irão me levar embora. Por favor, me perdoem todos aqueles que eu amo e que Deus possa me perdoar também. Mas eu não posso suportar a agonia e é melhor para todos esse caminho.

O futuro é apenas velhice, doença e dor. Adeus e obrigado a todos pelo seu amor. Eu preciso ter paz e esta é a única maneira.

Jimmy”

 

"Deuses e Monstros" (1998) de Bil Condon. Ian McKellen e Brendan Fraser numa relação de amizade similar à de "O Carteiro e o Poeta"(1994) de Michael Radford


Uma estátua em sua homenagem foi erigida em 2002 na cidade natal de Dudley. A obra reproduz um rolo de filme com o rosto de Frankenstein, sua realização mais famosa. 

 

Ian McKellen ficou bem parecido com Whale na sua fase final


Em 2012 foi realizada uma exposição de arte no museu de sua cidade natal chamada Horror em Hollywood: A História de James Whale. Assim como cartuns, pinturas e ilustrações inéditos, que inclui um modelo gráfico da cena com a qual Whale estará sempre mais associada - O Monstro de Boris Karloff sendo operado por Henry Frankenstein (Colin Clive) do filme de 1931, Frankenstein.

 

Cena de "Deuses e Monstros" reconstituindo as filmagens de "A Noiva de Frankenstein"


O breve trabalho de James Whale no cinema foi suficiente para deixar um legado de grande valor para o público, fazendo justiça ao homem que trouxe o icônico monstro de Mary Shelley para a sétima arte, mudando a face do cinema de horror para sempre.

 

James Whale: O distinto gentleman do horror