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quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Pendurando o coldre - Crítica - Filmes - 007: Sem Tempo Para Morrer (2021)

 


"Temos todo o tempo do mundo"

por Alexandre  César 


A grande despedida de Daniel Craig do icônico papel
 
 


#Oscar 2022

Desde que surgiu no longínquo ano de 1962 em O Satânico Dr. No de Terence Young, Bond, James Bond (também conhecido como 007) penetrou no imaginário coletivo do mundo ocidental e da cultura pop como Sherlock Holmes, Tarzan, Superman e outros heróis que graças ao cinema, transpuseram suas origens literárias, tornando-se referenciais icônicos de suas épocas de origem, mas capazes de se reinventar para acompanhar as novas gerações e continuarem assim pertinentes. 
 
 
Temos um prólogo revelando um episódio da infância de um personagem

O trajeto do superespião com permissão para matar, que entre um drink de vodka com martini (mexido, não batido) pegava toda e qualquer mulher disponível, cristalizou as fantasias masculinas de poder e dominação da época da guerra fria, e é claro, demandou bastante trabalho para polir ao longo dos anos esse ranço datado e sexista para que não acabasse esquecido num canto qualquer... 
 
 

Perigo no paraíso: Madeleine Swann (Léa Seydoux) e James Bond (Daniel Craig) têm problemas na sua "Lua de Mel"

 
Graças aos esforços do produtor Albert R.Brocoli (1909-1996) e de seus filhos Barbara Brocolli e Michael G. Wilson, o legado de Bond navegou por águas tortuosas, se reinventando, mas preservando a sua essência de maneira exemplar, de forma que quanto mais o personagem fincava suas raízes na obra de Ian Fleming, mais ele conseguia mostrar ser mais do que um fóssil da guerra fria. Dentro deste raciocínio, a série sofreu o seu primeiro reboot em décadas com 007: Cassino Royale (2006) de Martin Campbel, que trouxe o louro Daniel Craig como um “diamante bruto” (quase um capanga) que foi “polido” na base da porrada, aprendendo a se refinar no elegante e letal operativo de Sua Majestade, o MI-6. Não foi um aprendizado fácil...
 
 
O amigo da CIA Felix Leiter (Jeffrey Wright) e Logan Ash (Billy Magnussen ao fundo) convocam Bond para uma missão...

...em Cuba, onde Bond tem uma surpresa com um "antigo conhecido"

 
Dirigido por Cary Joji Fukunaga (True Detective) 007 – Sem Tempo Para Morrer  é o 25° filme oficial da franquia, nos brindando com a despedida de Craig do icônico papel de Bond num filme vigoroso, onde ele entrega sua mais sólida performance do agente com permissão para matar, concluindo sua participação em grande estilo, no mais corajoso filme de toda a história da franquia, que poderá revoltar os fãs mais xiitas que não aceitam um Bond menos do que super-humano. Aqui a sua fisicalidade e vulnerabilidade bruta atinge o auge, sangrando, ficando zonzo com a audição abafada pelas explosões, mas com a língua afiada e o sarcasmo cínico de sempre, que camufla seus medos mais íntimos.
 
 
Rostos conhecidos: Moneypenny (Naomie Harris), "M" (Ralph Fiennes) e o Agente Tanner (Rory Kinnear)

 
O roteiro de Fukunaga, Neal Purvis (007 Cassino Royale), Robert Wade (007 – Operação Skyfall) e Phoebe Waller Bridge (Fleabag, Han Solo: Uma História Star Wars que poliu os diálogos) a partir da história de Fukunaga, Purvis e Wade investe cuidadosamente em todos os elementos da fórmula “Fórmula de filme de James Bond”, conectando todos os filmes anteriores desde o reboot de 2006, tornando-os uma única grande história, mas sabendo aqui e ali desconstruir e remontar o personagem. Aqui, Bond se torna de fato um ser humano falível, com medos e inseguranças que rompem a carapaça de seu orgulho, mas nisso, tornando-o de fato um herói inesquecível.
 
 
Estrela da franquia: O clássico Aston-Martin DB5 retorna e brilha em sua participação

 
No prólogo vemos um momento crucial do passado de Madeleine Swann (Léa Seydoux de Kursk: A Última Missão) e os desdobramentos no seu relacionamento com James Bond (Daniel Craig de Entre Facas e Segredos) que reverberam nos anos futuros, quando reencontramos M (Ralph Fiennes da cinesérie Harry Potter) ou melhor Mallory, Q (Ben Whishaw de A Viagem), Eve Moneypenny (Naomie Harris de Rampage: Destruição Total) e o Agente Tanner (Rory Kinnear de Penny Dreadfull: Cidade dos Anjos) e a estreante Nomi (Lashana Lynch de Capitã Marvel) a nova 007, afinal, como eles mesmos dizem, “é apenas um número!"
 
 
O vilão da vez: Lyutsfer Safin (Rami Marek) arquiteta e executa um plano audacioso...

... roubando uma nano-arma de destruição em massa de um laboratório secreto do MI-6

 
Bond, aposentado e desfrutando de uma vida tranquila na Jamaica, é procurado por Felix Leiter (Jeffrey Wright de Westworld) o amigo da CIA, com Logan Ash (Billy Magnussen de A Noite do Jogo) seu auxiliar engomadinho, para uma missão de resgate em Cuba, com a iniciante e explosiva agente Paloma (Ana de Armas de Blade Runner 2049, que pedia mais tempo de tela).
 
 
Durante a missão em Cuba, Bond conta com o auxílio de Paloma (Ana de Armas)

 
Do lado dos vilões, Ernst Stavro Blofeld (Christoph Waltz de Bastardos Inglórios) chefe da SPECTRE, completa seu arco, revelando sua influência na vida e nos relacionamentos de Bond. Mas, o verdadeiro perigo real e imediato é Lyutsifer Safin (Rami Malek de Bohemian Rhapsody), um vilão intrigante, com acesso a uma senhora arma de destruição em massa, mas que ao final, apesar de sua presença impactante sente-se faltar “algo” não muito definido. Com ele temos Valdo Obruchev (David Dencik de McMafia) o cientista FDP da vez e Primo (Dali Benssalah de Chute Libre) o capanga “cíclope” (não, ele não é um mutante que solta rajadas ópticas...) prosseguindo a tradição  de Jaws e Odjobde, capangas exóticos da franquia.
 
 
Bond e Moneypenny recorrem aos serviços de "Q" (Ben Wishaw) para desvendar a natureza da nano-arma

A impecável produção (custo estimado de 250 milhões de dólares) se traduz em cada foto-grama, destacando a música de Hans Zimmer (Dunkirk) com boas variações do tema de Bond criado por Monty Norman, tendo a canção tema ”No Time To Die” de Finneas O´Connell cantada por Billie Eilish, que casa perfeitamente com os ótimos créditos de abertura de Daniel Kleinman (007: Cassino Royale) cujo trabalho rivaliza e até supera o lendário Maurice Binder, que contam boa parte da história em suas imagens simbólicas. (coisa que desde 007 contra Goldeneye de 1995 as aberturas passaram a ser mais narrativas e menos genéricas).

Direção de arte: Filme de Bond sem uma mega-estilosa base de operações do vilão, não é um filme de Bond...

... coisa que a base de Lyutsfer Safin, com silos de mísseis da época da guerra fria demonstra ser até a medula


A edição cinética de Tom Cross (Hostis) e Elliot Graham (Capitã Marvel) mantém o pique narrativo ao longo de suas 2 horas e 43 minutos, acelerando nos momentos tensos e sabendo dar espaço para momentos mais contemplativos quando necessários, nos permitindo admirar a bela fotografia (rodado em Imax) de Linus Sandgren (Trapaça) que valoriza o desenho de produção de Mark Tildesley (Trama Fantasma) e a direção de arte de Mark Harris (Star Wars: Os Últimos Jedi), Andrew Bennet (Dumbo), Neal Callow (007 Contra Spectre), Dean Clegg (Caminhos da Floresta), Tamara Marini (Tomb Raider: A Origem), Sandra Phillips (As Duas Faces de Janeiro) e Mark Scruton (Jogador N°1) que criam espaços que fazem jus à herança de Ken Adam, Peter Lamont e outros designers que tornaram Bond uma das séries mais elegantes e de bom gosto na história do cinema, coisa que a decoração de sets de Veronique Melery (Dois Papas) enfatiza nas sutilezas da casa de Bond na Jamaica (que contrasta com as ruas pobres da ilha) ou nas pinturas de parede dos prédios velhos de Cuba, ecoando a revolução castrista, ou a sala de M (com uma ótima piada sobre a mesa deste) e o salão com quadros dos antigos chefes da seção (vemos nas paredes retratos à óleo e Judi Dench, Bernard Lee e Robert Brown, os “M”s anteriores) e é claro, a mega base estilosa de aspecto brutalista do vilão (sem pelo menos uma, não seria um filme de Bond...).
 
 
a estilosa Nomi (Lashana Lynch) é a nova agente 007 do MI-6, e escolta Madeleine Swann para uma missão atípica

 
Os figurinos de Suttirat Anne Larlarb (Quem Quer Ser Um Milionário) resgatam o clássico smoking bem cortado, que contrasta com o uniforme prático de Nomi e o vestido ultra cavado de Paloma, bem como o austero quimono de Lyutsifer Safin, quando este coloca Bond numa posição de humildade, obrigando-o a despir-se de sua casca de “homem durão” face à possibilidade de perder o que lhe é realmente importante. 
 
Direção de Arte: A casa de Bond na Jamaica é um deleite à parte

 
Complementando o visual da película, temos os efeitos especiais práticos do veterano da série Chris Corbould (A Origem) que detonam carros, motos, edificações etc... à rodo além do ótimo acabamento visual de filmagem e CGI, graças aos efeitos visuais das empresas Cinesite, Framestore, Industrial Light & Magic, Lola Visual Effects, DNEG, Territory Studio, TPO VFX, Proof Inc, Outpost VFX, Clear Angle Studios, Deluxe, Double Negative, Lidar Lounge, Gentle Giant Studios, Blind LTD,
 

Como todo agente 007, Nomi dirige um Aston-Martin. Aqui, um DBS Superleggera

 
Ao final, 007 – Sem Tempo Para Morrer surpreende com a coragem de concluir arcos narrativos de personagens e preparar o terreno para a próxima encarnação do agente secreto mais longevo do cinema, e que dependendo do resultado das bilheterias (o filme ficou esperando um ano para ser lançado por conta da pandemia de COVID-19, que fechou os cinemas e só agora esboça uma tímida reabertura), só o destino dirá se continuará como sendo uma grande história, contada em vários filmes ou, se voltará a dotar o formato episódico, em que cada aventura funcionará de maneira independente, como era em suas origens. Seja como for, a única certeza é que tal qual o mítico pássaro Fênix (que renasce das próprias cinzas) Bond continuará a ser Bond, James Bond.
 

 

"- Foi um longo caminho percorrido Sr. Bond..."

Construída sobre uma base sólida? - Primeiras impressões: Fundação (Apple TV)

 

 

O desafio de uma construção


por Alexandre César
(Colaboração de Carlos Vinicius Marins)


Ambiciosa série da Apple TV promete
 

O psico-historiador Hari Seldon (Jared Harris) prevê a ruína do Império Galático

 
Sendo considerada a melhor série literária de fantasia e ficção científica de todos os tempos - desbancando pesos-pesados como O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien, ou As Crônicas de Nárnia, de C.S. Lewis, ou Duna, de Frank Herbert -, a saga original de Fundação, de Isaac Asimov*1, se compõe de três livros compila histórias publicadas uma revista de que contos e novelas de ficção científica com histórias originais *2 a partir de 1942 e foram concluídas em 1953. A saga influenciou inúmeras obras posteriores do imaginário pop, em várias mídias: quadrinhos, cinema, séries, animes, games. Se você fala de impérios galáticos e civilizações que abarcam milhares de mundos, seja com o nome de Império, Federação, Aliança, etc... você está dialogando, mesmo que não saiba (e muitos não sabem..) com Fundação.
 
Fundação, a série literária, se passa milhares de anos no futuro, quando a humanidade se espalhou por milhões de planetas em toda a galáxia, já sem terem mais a certeza de qual foi ou onde fica o planeta de onde ela se originou. Todos são governados há mais de 12 mil anos pelo Império Galáctico, que está prestes a sucumbir por sua grandeza e estagnação. Um cientista, Hari Seldon, além descer o primeiro a perceber esse fato, descobre que, quando isto acontecer a barbárie tomará conta da humanidade e que ela só se ergueria para formar um novo Império 30 mil anos depois. Com seus estudos, ele percebe que a barbárie seria inevitável, mas seu período de duração poesia ser reduzido. Pretendendo que este tempo dure apenas mil anos, ele elabora um plano que consiste em criar duas fundações, cada uma em um extremo da galáxia, que, com a desculpa de que iriam compilar e guardar todo o conhecimento humano em uma Enciclopédia Galática, estariam, na verdade, iniciando a formação de um novo império enquanto o original ruísse lentamente. Nestes três livros a saga atravessa um período de quase 400 anos e mostra, na maior parte do tempo, as ações perpetradas por membros de uma dessas Fundações, intitulada “Primeira Fundação”.
 

A direção de arte da série faz um mix de antiguidade clássica com o Sci-Fi


É claro que você pode não concordar que esta seja a melhor série de Fantasia & FC, mas foi ela que ganhou do mais conceituado prêmio do gênero, o Hugo*3, o título de “a melhor de todos os tempos”, na única ocasião em que este prêmio foi concedido, em 1966.

Há muitas razões para tal sucesso de crítica e de público: o fato de ser, provavelmente, a melhor tradução das Space Operas – gênero da Ficção Científica povoado de batalhas espaciais e cujas ações correm num amplo campo de ação, tanto no espaço, quanto no tempo; a semelhança com a queda do Império Romano, que culminou com o fim da Antiguidade e o conturbado período de ocupações bárbaras na Europa, chamado de Alta Idade Média; a ideia de Destino Manifesto assumida pelos membros da Fundação, segundo a qual um determinado povo acredita ter o direito divino de expandir seu alcance e comandar todos os povos; enfim, são paralelos que há entre diversos momentos da saga e passagens históricas reais.
 

O Triunvirato, composto por três versões (com faixas etárias diversas) do mesmo indivíduo: Irmão Alvorecer (Cassian Bilton), Irmão Dia (Lee Pace) e Irmão Crepúsculo (Terrence Mann), além da fiel preceptora Demerzel (Laura Birn)
 


Outra razão seria a cuidadosa construção de arquétipos de liderança que Asimov estabelece com seus personagens centrais. Além do próprio Hari Seldon, temos o prefeito Salvor Hardin (prefeita na série) e o príncipe mercador Hober Mallow. Personagens que parecem maiores que a vida, com personalidades distintas, mas capazes de tudo para garantir que a humanidade não se desvie do caminho que impeça a ruína da civilização. Dentre estes, porém, não há dúvida de que o Mulo é o personagem de maior destaque. Mas este surge só na metade do segundo livro, já com mais de 300 anos de histórias contadas, quando domina todas as atenções desde então. Falaremos muito dele nas próximas temporadas. 
 
 
Gaal Dornick (Lou Llobell) é convocada para ser assistente de Hari Seldon

 
 
O principal desafio de Fundação, a série que estreou no dia 24 de setembro na Apple TV, é o fato de sua matriz ser uma saga em que, apesar de ter bons e marcantes personagens, é a história, o contexto, que realmente importa. Por melhor que sejam, os personagens são transitórios em uma saga que é contada ao longo de mil anos. E traduzir isso de forma atraente para o audiovisual é complicado, pois a maioria das séries tende a valorizar o peso do indivíduo, para "pescar" o espectador pela identificação pessoal. Isto acontece muito também na política, onde o carisma dos candidatos se torna mais importante do que os seus programas de governo... 

No projeto de David S. Goyer (trilogia Batman, de Christopher Nolan), o seriado terá 80 horas, distribuídas em oito temporadas. “Ninguém sabe se vai funcionar, mas posso dizer que definitivamente nunca houve um programa como esse na TV antes”, concluiu numa entrevista o produtor e roteirista. 
 
Como ele confirma: “A história deve se estender por 1.000 anos, com enormes saltos no tempo – isso é difícil de contar. Os livros são meio que antologias. Você terá alguns contos no primeiro livro com o personagem principal Salvor Hardin, então você pulará cem anos adiante e haverá um personagem diferente”.
 
Trantor capital do Império, foi a fonte de inspiração para Coruscant de Star Wars

 
O primeiro episódio é impecável, tendo boas sacadas em como traduzir visualmente o mote central da trama, além de introduzir outros conceitos, inclusive alguns que o próprio Asimov só anexaria à trama em livros escritos décadas depois, quando ele retoma a saga por insistência dos fãs. Este é o caso das Inteligências Artificiais e dos robôs*4, bem como os Espaciais*5, para amarrar a trama e dar coerência ao fim daquela civilização. Já o segundo episódio peça na humanização dos personagens que estão à volta de Seldon, caindo naquela necessidade de dar destaque a romances para que o espectador médio se identifique, entrando no lugar comum. 

Toda a parte relacionada ao Império, porém, é impecável, com o triunvirato imperial, contendo uma versão clonadas - uma criança, uma adulta e uma idosa - do mesmo indivíduo. Essa opção permitirá ter um ator e um personagem fixos representando o Império e a sua incapacidade de mudar, pois eles vem sendo clonados há centenas de anos, tendo sempre as mesmas atitudes século após século. Isso demonstra de forma inequívoca a estagnação do Império*6, fazendo uma boa mescla de Roma e Game of Thrones com sci-fi...

Seguindo o depoimento de Goyer (que também assinou a série Blade e tem Sandman, da Netflix, entre os seus próximos projetos), os livros não são emocionais. Como boa parte da obra de Isaac Asimov, são mais levadas em consideração ideias e conceitos sociais e científicos para o futuro. Na opinião do roteirista, isso leva a ação para além do que é mostrado para o leitor: “Nos livros, o Império, que está em 10 mil mundos, literalmente sai da tela – pois ela acontece entre os capítulos. Obviamente, isso não funcionaria para um programa de televisão. Então, sem revelar muito, descobri uma maneira de fazer com que alguns dos personagens estendessem sua expectativa de vida. Cerca de seis personagens continuarão de temporada em temporada, de século em século. Dessa forma, a série torna-se metade antológica, metade história contínua”, revelou.

 

Uma das inovações da série é o Elevador Orbital, um porto espacial de onde após o desembarque das naves, os passageiros levam 14 horas para descer até a superfície de Trantor, capital do Império Galático

 

O ritmo cai um pouco ao tratar dos personagens à volta de Hari Seldon, investindo no tal "drama humano" em busca de personagens relacionáveis*7 com o grande público. No segundo capítulo passam a ter destaque elementos da vida cotidiana, de cunho emocional - relacionamentos, mortalidade, gravidez ... -,  que movem a maioria das pessoas, mas que destoam da visão de cunho técnico e prático que os personagens possuem nos livros. 

Ainda assim temos boas coisas, como o treinamento dos colonos que estabelecerão a Fundação em Terminus, e a discussão sobre o protocolo para determinar qual o conhecimento que deverá ser preservado e qual será descartado (o exemplo sobre o modo de pensar a matemática baseadas em modos diferentes do modo decimal foi espetacular), além de quem determina esse critério, é bem pertinente. Esperemos que invistam nesta discussão, pois, se a civilização vai ruir, será importante a preservação do conhecimento e do suporte de estocagem desse conhecimento. Não adianta ter milhares de terabytes de informações se houver um pulso eletromagnético ou se não houver equipamento digital para poder ler essa informação. Aí teria sido melhor investir na informação impressa e em arquivos físicos, como ocorre em outro clássico da ficção científica que os fãs adorariam ver adaptado para meios áudio visuais: Um Cântico para Leibowitz, de Walter M. Miller, Jr. 
 
Ao final dos dois primeiros episódios fica o saldo de Fundação ser uma série de grande potencial, que pode traduzir bem a saga de Isaac Asimov. Uma trama que versa sobre a necessidade do corpo social aprender a pensar em trabalhar visando soluções coletivas, algo contrastante com a tendência hegemônica atual de se apostar no individualismo egoista e tacanho, que beneficia grupos privados em oposição ao bem comum.

 
 
Não faltam espaçonaves de tipos e tamanhos variados


Notas:
 


*1: Isaac Asimov  (1920-1992) é um dos mestres da Ficção Científica e, junto com Robert A. Heinlein Arthur C. Clarke, foi considerado um dos "três grandes" da ficção científica em sua Era de Ouro. A obra mais famosa de Asimov é a série Fundação, também conhecida como Trilogia da Fundação, que faz parte da série do Império Galáctico e que logo combinou com Robôs, a sua outra série mais famosa. Também escreveu obras de mistério e fantasia, assim como uma grande quantidade de livros de divulgação científica e histórica. No total, escreveu ou editou mais de 500 volumes, aproximadamente 90 000 cartas ou postais, e tem obras em cada categoria importante do sistema de classificação bibliográfiica de Dewey, exceto em filosofia. 



*2: A série foi originalmente publicada na revista Astounding Magazine entre Maio de 1942 e Janeiro de 1950. Posteriormente as primeiras quatro histórias foram reunidas, junto a uma outra história tomando lugar antes das outras, em um volume único publicado pela Gnome Press nos Estados Unidos em 1951 como Fundação. O resto das histórias foi publicado em pares pela Gnome como Fundação e Império (1952) e Segunda Fundação (1953), resultando na Trilogia da Fundação, como a série ficou conhecida por décadas. 
 
 

*3: O Prêmio Hugo é uma homenagem ao pioneiro inventor e editor Hugo Gernsback (1884-1967) sendo entregue a vários trabalhos de ficção científica anualmente, pelos membros da World Science Fiction Society.
 
 
 
 
*4: A sua série de livros sobre os robôs, é ambientada num futuro quase imediato, visto que a RoboPsicóloga Susan Calvin teria se formado em RoboPsicologia em 2001.Ao longo dos livros. os robôs ajudam a humanidade a inventar o motor hiperatômico, e os pilotos Donovam e Powell fazem a primeira viagem no hiperespaço, na qual se alimentam somente de ervilhas. Como dano colateral da invenção do salto no hiperespaço, há a quase destruição do cérebro positrônico que o criou, pois ele não consegue distinguir entre a desmaterialização de um ser humano e a morte, implicando em quebra da Primeira Lei da Robótica.
 
 

*5: Nas obras de Asimov, a humanidade começa a colonizar os planetas mais próximos, sendo o primeiro deles Aurora, na órbita de Tau Ceti, a dois parsecs da Terra. Cinquenta planetas são colonizados, mas então a expansão para e os chamados Planetas Espaciais proíbem a imigração de Terrestres - o pontapé inicial para a guerra entre a Terra e os espaciais. A Terra perde o conflito, sendo forçada a adotar o controle de natalidade e permitir o uso de robôs. As cidades começam a ser cobertas por cúpulas de aço. Anos depois, ações do detetive Elijah Baley e R. Daniel Olivaw (um robô) aproximam novamente os Espaciais da terra e dão início à segunda onda de colonização espacial
 
 
 

*6: Numa cena em que o Império condena à morte os "responsáveis" pelo atentado ao elevador orbital (refletindo o 11 de Setembro) e ordena um ataque massivo aos dois planetas suspeitos, o Imperador-menino pergunta à preceptora-IA quantas vezes eles já haviam agido desta forma no passado e ela responde: "Sempre..."

*7: Os três principais personagens da trilogia original na adaptação tiveram mudança de gênero, pois na época em que a série foi escrita (a década de 1950), a sociedade era diferente, com poucos personagens femininos relevantes nas obras de Ficção Científica, refletindo uma sociedade basicamente mais fria e impessoal.

 


A imponência e a opressão se refletem na grandiosidade dos prédios e estátuas do Império 


terça-feira, 28 de setembro de 2021

E a aventura continua... - Crítica - Séries: Perdidos no Espaço - 2ª Temporada

  

Crescendo e aparecendo

por Alexandre César

(Originalmente postado em 06/ 01/ 2020)


Temporada supera expectativas e aponta novos rumos


Passados sete meses encalhados num belo planeta de atmosfera tóxica

 

Como exemplo de programa para toda a família, neste Natal de 2019 a Netflix disponibilizou a 2ª temporada de Perdidos no Espaço, que aqui, cresce e aparece após o teste de fogo da 1ª temporada (que dividiu opiniões apesar do sucesso) fincando de vez os seus pés não só na série original de 1965 criada pelo lendário Irwin Allen como se lançando na estrutura narrativa atual, não negando seus vínculos com Arquivo X e Lost, sendo dinâmica, divertida e até audaciosa do seu jeito próprio.


Don West (Ignacio Serricchio) no fundo agora se sente um "Robinson"


Após o final acelerado da temporada anterior, avançamos sete meses no futuro, onde encontramos a Júpiter 2 pousada na praia de um planeta com um vasto oceano e uma atmosfera tóxica (em incríveis locações na Islândia), e os Robinsons criaram uma estufa para cultivar alimento, usando plástico, fita silver tape e módulos de armação no melhor estilo do filme Perdido em Marte (2015) de Ridley Scott, mas aqui atualizando o conceito do jardim hidropônico, que na série clássica eram umas ridículas mesas de alumínio com umas plantinhas miúdas, e que nunca convenceram como fonte produtora de alimentos...


Morra de inveja Kevin Costner...


A travessia marítima remonta a um episódio da série clássica de 1965


Encontramos o dilema entre o casal Maureen (Molly Parker) e John Robinson (Toby Stephens) pois ela já determinou os ciclos das tempestades elétricas do planeta e inspirada nos experimentos de Benjamin Franklin bolou uma forma de captar os raios para fazer uma “ligação direta” nos motores da nave, que dará partida para saírem do planeta. Ele, mais cauteloso acha que devem esperar mais pois já estão numa situação estável, conseguindo reciclar a água, o ar e tendo comida.
 

Os jovens Robinsons: Will (Maxwell Jenkins), Judy (Taylor Russel) e Penny (Mina Sunwall). União à toda prova


John Robinson (Toby Stephens) e a pequena Judy (Ella Simone Tabu): Laços de amor, e não de sangue, que fazem realmente uma família


Ela, como toda mãe, percebe que aquele quadro estável na verdade caminha para a estagnação e se eles não fizerem logo, perderão a janela do ciclo de tempestades e terão de esperar mais um ano, o que será desgastante para os jovens Judy (Taylor Russel), Penny (Mina Sunwall) e Will Robinson (Maxwell Jenkins, que esticou). Um providencial acidente rompendo a estufa e reduzindo a reserva de alimentos os força a usar de criatividade, transformando a nave num catamarã e rumando para o auto mar para atrair os raios, tendo aqui sequências espetaculares que resgatam momentos da série clássica e lembrando o mundo aquático de Interestelar (2014) de Christopher Nolan, dando inclusive espaço para que a (até o momento confinada) “Dra.” Smith (Parker Posey) mostre os seus talentos como navegadora, numa sequência de grande impacto, valorizada pela música de Christopher Lennertz (The Boys). Após superar este problema e de quebra descobrir pistas sobre as origens do Robô (Brian Steele, muito mais expressivo) os Robinsons reencontram a Resolute, sua nave-mãe que estava orbitando um mundo vizinho. Isto só no episódio inicial...

Família: Judy, Will, Penny, Maureen (Molly Parker) e John Robinson se preparam para o "Ou vai ou Racha"


Aqui os showrunners Matt Sazama, Burk Sharpless (Deuses do Egito de 2016, Power Rangers de 2017) ao vincular os Robinsons aos outros colonos fizeram a grande ruptura com a série clássica original e conseguiram dar perfil diferenciado a esta versão, afinal o título original em inglês é Lost in Space e poderíamos dizer que a narrativa dos percalços dos colonos de Alpha Centauri vai caminhando para se tornar (no bom sentido até agora) um LOST ... in space” pois a interação do núcleo central de personagens, de forma semelhante aos sobreviventes do vôo da Oceanic 815 se dá com humanos como eles, pois não ficaria convincente no contexto da série o mesmo esquema de atores convidados usando máscaras de borracha ou papier-maché ou então, pintados de dourado ou prata como nos anos 1960.

OS Robeinsons e a Dra. Smith (Parker Posey) "navegam por mares nunca dantes navegados"...

Descobre-se uma misteriosa estrutura, que provoca as tempestades elétricas, que se relaciona às origens do "povo" do robô

 
As dinâmicas entre os personagens amadureceu, tendo destaque a de John com Judy, que é filha do primeiro casamento de Maureen, e é legal ver o amor e o acolhimento de um homem que torna sua filha, uma criança que não é biologicamente sua, criando uma laço afetivo que é tão forte quanto um de sangue, mostrando que meios-irmãos que se amam são irmãos inteiros. Vemos Maureen se tornar uma líder incontestável, e John, um colaborador fiel para qualquer circunstância, sem por isso se ver diminuído em sua masculinidade, enquanto Don West (Ignacio Serricchio) não se sente mais um “desgarrado” mostrando um vínculo de afeto e lealdade inquebrantável para a família que o acolheu e vice-versa.

Ligação direta: Após encalhar num local apropriado, é só esperar a descarga elétrica que acionará os motores

 
 West inclusive serve de guia para mostrar a diferença de classe sociais existente dentro da Resolute entre os colonos e tripulantes (a elite) e os mecânicos e técnicos que fazem as atividades cotidianas da nave acontecerem, pois estes só podem se estabelecer na colônia de Alpha Centauri após cada um fazer 10 viagens de ida e volta da Terra até lá. Existe uma luta de classes no espaço, como em qualquer lugar para o qual o homem vá...

Os Robinsons reencontram a Resolute, a nave-mãe dos colonos, tão perdida quanto eles

Hastings (Douglas Hodge) o intragável "Perigo Real e Imediato"...

 Will após muitos percursos reencontra o Robô, que vai amadurecendo a relação ao questionar a amizade como uma via de mão dupla ao mostrar que os animais também tem direito a um tratamento digno e não só uma posição de submissão, levando o cientista da nave Ben Adler (JJ Feild de Centurião) repensar a forma que lidou com o “espantalho”, um outro robô danificado, usado como navegador da nave, repetindo o papel de exploração que vimos na 1ª temporada de Star Trek: Discovery quanto ao tardígrado e o motor de esporos. Adler se reconhece em Will e se redime, deixando de seguir as diretrizes de Hastings (Douglas Hodge de Operação Red Sparrow) o real vilão da temporada, um burocrata que não aceitará ter a sua posição questionada, usando de métodos sujos para não perder o poder tentando mais de uma vez descartar os Robinsons, que revelam-se duros na queda.

Não faltam sequências espaciais sensacionais, como quando Maureen comanda a Resolute dentro da atmosfera de um planeta gasoso


Ben Adler (JJ Feild):Uma versão adulta de Will que  revê as suas posições graças ao jovem Robinson

Penny se revela a grande surpresa da temporada, ao encontrar o seu lugar no mundo das decisões, pois como todo filho do meio, se sentia perdida entre a liderança de Judy e o intelecto e a engenhosidade de Will, aqui, além de tomar para si a função de escrever as aventuras da família, desenvolve inicialmente com Smith uma relação quase que de “mestre-aprendiz” (similar a que havia na série clássica entre Will e Smith) e descobre o dom de induzir as pessoas a fazerem coisas, como com o seu crush Vijay (Ajay Friese de Riverdale) filho de Victor Dhar (Raza Jaffrey de Homeland) o líder dos colonos, que tem uma dificuldade grande de lhe dizer não. Penny consegue inclusive num momento crucial, fazer com que a Dra. Smith faça o bem, e goste de atuar de forma não interesseira e egoísta. Quem diria...
 

O "povo" do Robô dá as caras, com nenhuma intenção de dialogar...

Smith tem após muitas intrigas e golpes tem o seu "momento redentor", se é que isto é possível...

  e Smith... continuou sendo “Smith”, aqui conseguindo apagar o seu passado dos registros, demonstrando uma habilidade digna de um hacker, embora não consiga apagar de sua própria memória o fato de ser a tranbiqueira June Harris, havendo inclusive flashbacks de sua infância e juventude, sempre competindo com a sua irmã bem-sucedida Jessica (Selma Blair de Hellboy) em agradar a sua mãe Sheila (Angela Cartwright, a “Penny” da série original) ou conseguir olhar nos olhos da pequena Samantha (Nevis Unipan de Travelers) e sua mãe (Amanda Marier de Daughter for Sale), cujo pai ela ejetou no espaço para não ser pega (Os nossos fantasmas são nossos, e nunca nos largam) e daí em a sua necessidade de, por mais golpes que aplique, ela se sentir ligada psicológica e fisiologicamente aos Robinsons, pois afinal todo mundo se acha o herói da sua história, e os vilões, se acham mais ainda do que a grande maioria das pessoas...

Vislumbramos no gigante gasoso um criatura digna das obras de Sir Arthur C. Clarke. A ciência é bem usada na temporada, em soluções inteligentes

 
Reviravoltas não faltaram desde as descobertas de mais elementos ligados à civilização que criou o Robô (e o motor que eles usam na numa mostra de tecnologia reversa); a descoberta de um micro-organismo solúvel na água que corrói o metal da estrutura da nave; um motin liderado pelos Robinsons, para surpresa da Capitã Kamal (Sakina Jaffrey de House of Cards) no intuito de depor Hastings que prefere sacrificar os colonos e fugir face a um ataque alienígena ou até mesmo uma solução sem volta, resultando em momentos dramaticamente acelerados pela edição de Mark Hartzell (Agente Carter da Marvel), Jack Colwell (Colony), Joe Talbot Hall (Siren), Emily Streetz (O Pior Trabalho do Mundo).
 

Don e sua inseparável "Debbie" enfrentam duras provações, mas nada sem saída, pois todo latino é forte

A cada episódio, os Robinsons praticamente só podem contar com eles mesmos para resolver o problema da vez

 
A produção da série continuou impecável, tendo as locações na Islândia, na Columbia Britânica e em Alberta (Canadá) muito bem aproveitadas pela fotografia de Sam McCurdy (Abismo do Medo) e C. Kim Miles (Bem-vindos à Marwen) que valorizou o desenho de produção de Frank Walsh de Carnival Row (substituindo Ross Dempster) que junto com a direção de arte de John Alvarez (Serpentes à Bordo), Roger Fires (Timeless) e a decoração de sets de Kate Marshall (Desventuras em Série da Netflix) enriqueceram e personalizaram os espaços físicos habitados por esses personagens dizendo coisas sutis sobre eles, que se refletem nos figurinos de Christine Thomson de O Regresso (substituindo Angus Strathie) ou até mesmo em seus trajes espaciais, criados pela empresa de efeitos especiais FBFX .

"Corra Judy!!! Corra!!!"

As paisagens desoladas e semi-desérticas remetem ao planeta da primeira temporada da série clássica, mas fêz falta o cíclope gigante

 
 Aliás os efeitos visuais das empresas Big Hug FX, Image Engine Design, Important Looking Pirates (ILPvfx), International SPFX Group, SSVFX, e Digital Domain fizeram valer cada centavo gasto, criando cenas memoráveis como a tempestade oceânica em que a Júpiter 2 convertida em barco resgata uma sequência da série clássica em sua primeira temporada, da mesma forma como as cenas espetaculares dentro de um planeta gasoso cujas “baleias” remetem às obras de Arthur C.Clarke, com direito numa sequência em que a Resolute adentra na atmosfera mais profunda deste planeta, para abastecer-se de amônia, cabendo ao Robô fazer o papel de droide astro-mecânico similar a uma certa unidade R2 de uma “galáxia muito, muito distante”, reforçando as partes da estrutura que se abalam com a pressão, ou quando John e Maureen usam módulos de atividades extra-veiculares para acessar a Resolute pelo lado externo, ou ainda os predadores similares a velociraptors, que perseguem Judy num planeta. Agora, foi sentida a falta de recriar seres clássicos da série como o cíclope gigante, que a tecnologia atual permitiria atualizar facilmente. Fica para a próxima.
 

O Robô (Briam Stele) demonstra grande carga expressiva, carregando em suas atitudes o questionamento sobre como tratar o diferente

A "Fortuna", nave perdida do supostamente falecido pai de Judy e gancho para a próxima temporada. Os mistérios continuam

Ao seu término, Perdidos no Espaço cresceu e apareceu bem, tornando-se referenciada às suas origens e, independente delas, deixando ganchos para possíveis rupturas com o cânone mas ainda sim ligados às idéias originais de Irwin Allen e Shimon Wincelberg, que foram sendo descartadas ao longo da série da série clássica em função do tom camp que foi se impondo.

"- Não, Will Robinson!"

As apostas estão abertas. Não perca o próximo episódio...

"- Vista bonita, não Maureen?"