Sonho, mito, linguagem
por Ronald Lima
(Originalmente postado em 24/ 05/ 2019)
Cinebiografia encanta apesar de imperfeita
Cinebiografia encanta apesar de imperfeita
“Um Mundo no qual sua
mente pode entrar. Nele, tudo o que ali encontrar e lhe for relatado
será verdade. Esse Lugar está de acordo com leis que lhes são próprias.
Portanto, acreditará você estar dentro dele.”
J.R.R.Tolkien
John Ronald Reuel Tolkien mais conhecido pela abreviação J.R.R.Tolkien,
abreviação um tanto extensa também. Essa citação acima era uma das
tantas definições a que Tolkien tentava teatralizar na imaginação de
leitores e possíveis novos leitores o que ele mesmo denominava de “Mundo Secundário”.
Apesar de ter dado início em 1937 com “The Hobbit”, foi somente após o lançamento da trilogia de "O Senhor dos Anéis" em 1954 e 1955, que Tolkien passou a ser conceituado por milhões de fãs.

Contra capa e Capa da 1ª Edição de "The Hobbit" em 1937.
Nos
anos 60 sua obra chega aos E.U.A. e a partir desse ponto se consagra de
vez para um certo desconforto por parte do autor pois a todo instante
não paravam de lhe enviar propostas de roteiros e adaptações diversas
para cinema e teatro, tentativas várias para entrevistas e toda loucura
que a grande mídia pode “oferecer” sempre educadamente recusadas (poucas
exceções). O mundo literário foi muito influenciado por Tolkien. Muita
gente boa se diz abertamente inspirada por J.R.R. Tolkien: Isaac Asimov,
Neil Gaiman, J.K. Rowling com o genial Harry Potter, George R.R. Martin de Game of Thrones (Como não seria? Não é mesmo?!), Stephen King e sua Torre Negra, Marion Zimmer Bradley e As Brumas de Avalon (Claro!) e seu amigo C.S. Lewis autor de As Crônicas de Nárnia. Black Sabbath, Uriah Heep, Led Zeppelin, RUSH, Genesis, Pink Floyd, Blind Guardian, Nigthwish, Sabaton, Dimmu Borgir e
sabem sei lá quantas mais bandas e grupos os deuses da música ouviram.
Até álbuns baseados em Tolkien. Há a incrível história da bronca que o
renomado autor tinha contra os Beatles por esses quando ainda ensaiavam e
eram tão somente um bando de vizinhos barulhentos que incomodam sua
querida Edith. Já famosos, John Lennon lhe propôs filmar O Senhor dos Anéis com direção de Stanley Kubrick e ouviu um sonoro “não”.
Deviam ter feito uma música e ficados quietos já que nessa época
Tolkien ainda mantinha os direitos de autor e vetaria alguma composição
deles também. Tanto ele quanto C.S.Lewis desdenhavam Walt Disney, embora
ambos considerassem a animação o veículo mais adequado à adaptação de
suas obras.

A Sociedade do Anel: Christopher Wiseman (Ty Tennant), Geofrey Smith (Guillermo Bedward), Robert Gilson (Albie Barber) e sentado J.R.R.Tolkien (Harry Gilby) - " Hellheimer!!!"
“Uma das minhas
opiniões mais veementes é de que a investigação da biografia de um autor
é uma abordagem inteiramente vã e falsa de suas obras” J.R.R.Tolkien
Tolkien
(2019) é dirigido pelo diretor finlandês Dome Karukosk, cuja biografia
conta com uma boa bagagem de curtas, sendo esse seu 1º grande trabalho
(penso que a sua origem e o grande apreço que J.R.R. Tolkien tinha ao
finlandês, o motivo inicial para a sua escalação para a empreitada) que
apoiado no bom roteiro de David Gleeson e Stephen Beresford, que de
forma nada linear e didática (fato que seria monótono e até “normal” em
uma biografia...) acompanha a sua trajetória de vida de jovem sonhador,
passando por sua própria “jornada do herói” até a consagração no amor, e no meio acadêmico e literário como um dos grandes pilares da literatura fantástica.

As paisagens campestres que Tolkien habitava: Condado?
A direção de fotografia está a cargo de Lasse Frank Johanessen,
provavelmente por ter trabalhado junto ao diretor em alguns curtas,
Lasse foi diretor de um clipe para a cantora islandesa Björg Black Lake.
Uma boa escolha, pois Lasse consegue uma agradável paleta de cores
durante todo o filme, sendo sua bela fotografia um bom fator de imersão,
como nas cenas de guerra usando muito vermelho nos delírios de um
atormentado Tolkien (Nicholas Hoult, eficiente como sempre), o que em
uma tela menor pode ficar escuro demais, dificultando a compreensão
visual do quadro.

A guerra de trincheiras: Com as "bençãos" de Sauron...
O
filme se concentra em 3 momentos da vida de Tolkien nos fazendo pensar
que o tempo todo ele já tinha tudo na cabeça do que surgiria
incrivelmente mais a frente. Vemos sua infância, juventude e o início da
vida adulta, sendo a juventude que mais ocupa a narrativa, conduzindo
especificamente a realização das obras de Tolkien, o que pode fazer
parecer forçado, mas felizmente não é assim que acontece, apesar de
ficar essa impressão. Esses 3 momentos também podem ser divididos em 3: A
guerra, os amigos e seu namoro com Edith Brat . Um quase 4º arco que se
faz começar mas é interrompido, seria o convívio de Tolkien com o
Professor Joseph Wrigth (o ótimo Derek Jacobi ), falha que poderiam ter
melhor resolvido caso o roteiro e a edição lhe desse maior espaço,
delineando alguém fundamental na vida do autor, porém sendo o seu curto
tempo de cena, significativo.

Uma 1ª Guerra enfrentado Smaug.
Os
primeiros fãs de Tolkien eram extremamente radicais na proteção a
qualquer adaptação que fosse das obras do autor, o que impediu diversas
tentativas e as poucas que escaparam a esse exagero não ganharam muita
divulgação. De verdade o que de fato valia era a obra em si e nenhuma
adaptação. Mantidas como uma obra sacra, o próprio Tolkien assim a
preservava. Vemos nessa cine biografia vários momentos que fazem mais
alusão à trilogia de Peter Jackson do que a algum possível relato do
autor. Sabemos que a experiência durante a Grande Guerra foi impactante,
o filme coloca esse impacto em imagens fantásticas: A Terra de Ninguém
é o próprio Reino de Mordor ou algum desafortunado Reino que Sauron
devastou, em referência aos 3 filmes, certamente uma busca aos fãs
recentes que ainda possam ser estimulados a buscar mais informações
sobre a obra e ao próprio Tolkien, uma biografia autorizada cedida por
Tolkien em 1967 ao biógrafo Carpenter Humphrey está sendo relançada pela
Casa dos Livros Editora. As agruras enfrentadas nas trincheiras
chegam a uma quase exatidão em referência a cenas dos filmes de Peter
Jackson. Ali encontramos um febril e obstinado Tolkien junto a um
fidelíssimo soldado de nome Sam (coincidência não?). Tomaram de grande
liberdade ao lidar com o tema da Guerra, numa tentativa de entrar na
mente do autor. Tolkien sobreviveu a uma das mais sangrentas batalhas
vividas pelo exército inglês, a Batalha do Somme na França. Em igual
peso para os ingleses seriam as 3 Batalhas de Ypres (19/10 - 30/
11/1914; 22 -25/05/ 1915; 31/07 - 06/11/ 1917).

Tolkien criou uma lenda, e deveria saber que lendas não possuem proprietário.
Em flashbacks
extensos vamos descortinando detalhes pontuais sobre sua vida. Ele e o
irmão foram grandemente afortunados por terem Mabel Tolkien (Laura
Donnelly) como sua mãe . Recém viúva, ela recebe ajuda do padre espanhol
Francis Xavier Morgan (Colm Meaney, o Chefe O’Brien de Star Trek: A Nova Geração e Deep Space Nine)
e decidem seguir para a Inglaterra. O ator, que encara bem o papel de
um autêntico jesuíta sempre muito preocupado com a educação, é outra boa
fortuna com que Tolkien foi agraciado. É sua mãe quem conduz Tolkien e o
irmão a esse mundo de contos de fadas, quase literalmente pois é capaz
de narrar uma história de dragões com direito a uso de uma Lanterna
Mágica, em lindas imagens em uma pequena e significativa sequência.
Tolkien e seu irmão serão beneficiados por todo esse cuidado que recebem
da mãe e do padre Francis. A percepção de que Tolkien tem um talento
nato para lidar com o estudo e com idiomas irá lhe colocar nos melhores
locais de ensino de uma ainda vitoriana Inglaterra, apesar de sua origem
humildade e de ter nascido na atual África do Sul que no início do séc.
XX seu domínio estava dividida entre ingleses e holandeses. Tolkien
nasceu na República do Estado Livre de Orange um Estado de Origem Holandesa, porém sua família era inglesa, Tolkien irá receber um ótimo ensino.
“Através da Arte. Mudaremos o Mundo através da Arte.”
J.R.R.Tolkien
Tolkien
(cuja pronúncia, é "Tól.. Quin") e seus 3 amigos realmente fundaram o
T.C.B.S. que em português traduz-se para Clube do Chá e Sociedade
Barroviana . Barrow’s era o nome da “lanchonete”onde os 4 se reuniam
desde a adolescência para escapar de seus destinos já traçados por suas
famílias, destino inglório e comum na opinião de seus 3 amigos.
Aspiravam sonhos mais nobres porém menos rentáveis na opinião de seus
ausentes e abastados pais, sutilmente lembrando A Sociedade dos Poetas Mortos (1989)
de Peter Weir. Hellheimer era um grito de desafio e auto-afirmação
diante de tudo e todos que os fizessem sentirem-se menores. E nunca
pronunciado de modo correto por Rob Gilson (Albie Marber / Patrick
Gibson), mesmo sendo esse o 1º com entusiasmo a incorporar o brado
retumbante. A amizade é sincera com direito a essa turminha aprontar mil
e uma confusões recheada com diálogos cativantes em citações a se
perder à peças, contos, quadros e música de um pouco de tudo que rolava
na Inglaterra início do séc. XX.

Edith Brat (Lilly Collins): Sempre sob as árvores.
Tolkien
e o irmão Hilary conhecem Edith Brat (Mimi Keene, adolescente e Lilly
Collins já uma jovem mulher). Os irmãos são adotados na casa da Sra.
Faulkner (Pam Ferris) e dela recebem tutelagem a pedido do padre Morgan.
Edit Brat já estava ali residindo no solar dos Faulkner quase sempre a
entreter sua tutora ao piano. O namoro dos dois não vem de imediato
apesar da paixão a 1ª vista de Tolkien (garotos!). Não sabemos se de
fato Edith será a 1ª a questionar J.R.R. Tolkien sobre o significado das
palavras e não apenas a sonoridade delas e criação de idiomas como era
muito do gosto de Tolkien desde a infância, Tolkien gosta de criar
palavras como a Emília de Monteiro Lobato e brincar com a sonoridade
delas, mas uma palavra precisa ter uma história por trás para de fato
ser algo de valor segundo Edith. Segundo o próprio Tolkien, ela lhe
serviu, sim, de inspiração para a deusa elfa Luthien em sua obra Silmarillion ao vê-la dançar sob um bosque enquanto namoravam.
A
forma como é mostrada o namoro dos dois é muito bonita, mostrando uma
paixão dos sentidos e do intelecto, revelando a admiração mútua por
qualidades particulares e respostas a questionamentos, até quando brigam
é um relacionamento interessante pois quase não parece uma briga. No
filme é dela a paixão por Wagner e O Anel dos Nibelungos (inspiração para o Um Anel),
sendo que ela também sentia-se presa a um destino (como a maioria das
mulheres da época) e ansiava sair dele tal qual os amigos da T.C.B.S. É
incrível ver como o protagonista extrai de sua tristeza e de suas
dificuldades o que há de melhor em si, superando as adversidades
enquanto dá vida ao que sempre esteve ali em sua mente.

"- Um anel para a todos comandar..."
Nas idas e vindas da memória entre bombas e Nazguls
ameaçadores, junto a Edith, ele constrói uma família e caminha em
direção à construção de uma carreira, ganhando o título de Professor em
Oxford. Vamos aí descortinando o que seria seu trampolim para a vida
adulta e acadêmica: O Professor de linguística Joseph Wrigth surge de
modo muito prosaico na vida de J.R.R. Tolkien e em pouco tempo confirma e
lhe trás um maior significado para tudo que estava há muito tempo sendo
apenas rascunhado, apesar do seu pouco tempo em cena Wrigth irá de fato
coloca-lo em um rumo, é o momento “Hellheimer” de Tolkien, vale a pena ver um senhor tão aguçado e espirituoso a seu modo.

A amizade entre Tolkien e o Prof. Joseph Wright (Derek Jacobi) é fundamental para a sua vida acadêmica
Wrigth era muito admirado pela escritora Virgínia Wollf e segundo depoimento do próprio Tolkien: “- Eu agora em 1963 sei que era perfeitamente a verdade, a chave para o comportamento dos dons”.
Após um bloqueio criativo enorme para a escrita, Tolkien encontra sua
inspiração nos laços de sua eterna irmandade, o T.C.B.S., o que inspira à
criação do famoso O Hobbit, sendo emocionante ver sua criação sendo compartilhada com seus filhos com tanto entusiasmo e com uma pitada de nostalgia.
Tolkien
aposta em tom solene para explorar a gênese de suas maiores obras, e
enfatizar a sua genialidade, embora falhando, em partes, para entregar
isso. Apesar de tudo, é um filme que emociona, alegra os fãs por suas
referências, arrancando lágrimas do telespectador facilmente em seu
clímax. O longa vale a pena por seu tom despretensioso encantando até
quem não é um admirador das obras famosas.

“Num buraco no chão vivia um Hobbit”... Hum, seria um bom começo para um livro?!?
“Um Mundo no qual sua mente pode entrar. Nele, tudo o que ali encontrar e lhe for relatado será verdade. Esse Lugar está de acordo com leis que lhes são próprias. Portanto, acreditará você estar dentro dele.”
J.R.R.Tolkien
John Ronald Reuel Tolkien mais conhecido pela abreviação J.R.R.Tolkien, abreviação um tanto extensa também. Essa citação acima era uma das tantas definições a que Tolkien tentava teatralizar na imaginação de leitores e possíveis novos leitores o que ele mesmo denominava de “Mundo Secundário”.
Apesar de ter dado início em 1937 com “The Hobbit”, foi somente após o lançamento da trilogia de "O Senhor dos Anéis" em 1954 e 1955, que Tolkien passou a ser conceituado por milhões de fãs.
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Contra capa e Capa da 1ª Edição de "The Hobbit" em 1937.
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Nos anos 60 sua obra chega aos E.U.A. e a partir desse ponto se consagra de vez para um certo desconforto por parte do autor pois a todo instante não paravam de lhe enviar propostas de roteiros e adaptações diversas para cinema e teatro, tentativas várias para entrevistas e toda loucura que a grande mídia pode “oferecer” sempre educadamente recusadas (poucas exceções). O mundo literário foi muito influenciado por Tolkien. Muita gente boa se diz abertamente inspirada por J.R.R. Tolkien: Isaac Asimov, Neil Gaiman, J.K. Rowling com o genial Harry Potter, George R.R. Martin de Game of Thrones (Como não seria? Não é mesmo?!), Stephen King e sua Torre Negra, Marion Zimmer Bradley e As Brumas de Avalon (Claro!) e seu amigo C.S. Lewis autor de As Crônicas de Nárnia. Black Sabbath, Uriah Heep, Led Zeppelin, RUSH, Genesis, Pink Floyd, Blind Guardian, Nigthwish, Sabaton, Dimmu Borgir e sabem sei lá quantas mais bandas e grupos os deuses da música ouviram. Até álbuns baseados em Tolkien. Há a incrível história da bronca que o renomado autor tinha contra os Beatles por esses quando ainda ensaiavam e eram tão somente um bando de vizinhos barulhentos que incomodam sua querida Edith. Já famosos, John Lennon lhe propôs filmar O Senhor dos Anéis com direção de Stanley Kubrick e ouviu um sonoro “não”. Deviam ter feito uma música e ficados quietos já que nessa época Tolkien ainda mantinha os direitos de autor e vetaria alguma composição deles também. Tanto ele quanto C.S.Lewis desdenhavam Walt Disney, embora ambos considerassem a animação o veículo mais adequado à adaptação de suas obras.
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A Sociedade do Anel: Christopher Wiseman (Ty Tennant), Geofrey Smith (Guillermo Bedward), Robert Gilson (Albie Barber) e sentado J.R.R.Tolkien (Harry Gilby) - " Hellheimer!!!"
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“Uma das minhas
opiniões mais veementes é de que a investigação da biografia de um autor
é uma abordagem inteiramente vã e falsa de suas obras” J.R.R.Tolkien
Tolkien
(2019) é dirigido pelo diretor finlandês Dome Karukosk, cuja biografia
conta com uma boa bagagem de curtas, sendo esse seu 1º grande trabalho
(penso que a sua origem e o grande apreço que J.R.R. Tolkien tinha ao
finlandês, o motivo inicial para a sua escalação para a empreitada) que
apoiado no bom roteiro de David Gleeson e Stephen Beresford, que de
forma nada linear e didática (fato que seria monótono e até “normal” em
uma biografia...) acompanha a sua trajetória de vida de jovem sonhador,
passando por sua própria “jornada do herói” até a consagração no amor, e no meio acadêmico e literário como um dos grandes pilares da literatura fantástica.

As paisagens campestres que Tolkien habitava: Condado?
A direção de fotografia está a cargo de Lasse Frank Johanessen,
provavelmente por ter trabalhado junto ao diretor em alguns curtas,
Lasse foi diretor de um clipe para a cantora islandesa Björg Black Lake.
Uma boa escolha, pois Lasse consegue uma agradável paleta de cores
durante todo o filme, sendo sua bela fotografia um bom fator de imersão,
como nas cenas de guerra usando muito vermelho nos delírios de um
atormentado Tolkien (Nicholas Hoult, eficiente como sempre), o que em
uma tela menor pode ficar escuro demais, dificultando a compreensão
visual do quadro.

A guerra de trincheiras: Com as "bençãos" de Sauron...
O
filme se concentra em 3 momentos da vida de Tolkien nos fazendo pensar
que o tempo todo ele já tinha tudo na cabeça do que surgiria
incrivelmente mais a frente. Vemos sua infância, juventude e o início da
vida adulta, sendo a juventude que mais ocupa a narrativa, conduzindo
especificamente a realização das obras de Tolkien, o que pode fazer
parecer forçado, mas felizmente não é assim que acontece, apesar de
ficar essa impressão. Esses 3 momentos também podem ser divididos em 3: A
guerra, os amigos e seu namoro com Edith Brat . Um quase 4º arco que se
faz começar mas é interrompido, seria o convívio de Tolkien com o
Professor Joseph Wrigth (o ótimo Derek Jacobi ), falha que poderiam ter
melhor resolvido caso o roteiro e a edição lhe desse maior espaço,
delineando alguém fundamental na vida do autor, porém sendo o seu curto
tempo de cena, significativo.

Uma 1ª Guerra enfrentado Smaug.
Os
primeiros fãs de Tolkien eram extremamente radicais na proteção a
qualquer adaptação que fosse das obras do autor, o que impediu diversas
tentativas e as poucas que escaparam a esse exagero não ganharam muita
divulgação. De verdade o que de fato valia era a obra em si e nenhuma
adaptação. Mantidas como uma obra sacra, o próprio Tolkien assim a
preservava. Vemos nessa cine biografia vários momentos que fazem mais
alusão à trilogia de Peter Jackson do que a algum possível relato do
autor. Sabemos que a experiência durante a Grande Guerra foi impactante,
o filme coloca esse impacto em imagens fantásticas: A Terra de Ninguém
é o próprio Reino de Mordor ou algum desafortunado Reino que Sauron
devastou, em referência aos 3 filmes, certamente uma busca aos fãs
recentes que ainda possam ser estimulados a buscar mais informações
sobre a obra e ao próprio Tolkien, uma biografia autorizada cedida por
Tolkien em 1967 ao biógrafo Carpenter Humphrey está sendo relançada pela
Casa dos Livros Editora. As agruras enfrentadas nas trincheiras
chegam a uma quase exatidão em referência a cenas dos filmes de Peter
Jackson. Ali encontramos um febril e obstinado Tolkien junto a um
fidelíssimo soldado de nome Sam (coincidência não?). Tomaram de grande
liberdade ao lidar com o tema da Guerra, numa tentativa de entrar na
mente do autor. Tolkien sobreviveu a uma das mais sangrentas batalhas
vividas pelo exército inglês, a Batalha do Somme na França. Em igual
peso para os ingleses seriam as 3 Batalhas de Ypres (19/10 - 30/
11/1914; 22 -25/05/ 1915; 31/07 - 06/11/ 1917).

Tolkien criou uma lenda, e deveria saber que lendas não possuem proprietário.
Em flashbacks
extensos vamos descortinando detalhes pontuais sobre sua vida. Ele e o
irmão foram grandemente afortunados por terem Mabel Tolkien (Laura
Donnelly) como sua mãe . Recém viúva, ela recebe ajuda do padre espanhol
Francis Xavier Morgan (Colm Meaney, o Chefe O’Brien de Star Trek: A Nova Geração e Deep Space Nine)
e decidem seguir para a Inglaterra. O ator, que encara bem o papel de
um autêntico jesuíta sempre muito preocupado com a educação, é outra boa
fortuna com que Tolkien foi agraciado. É sua mãe quem conduz Tolkien e o
irmão a esse mundo de contos de fadas, quase literalmente pois é capaz
de narrar uma história de dragões com direito a uso de uma Lanterna
Mágica, em lindas imagens em uma pequena e significativa sequência.
Tolkien e seu irmão serão beneficiados por todo esse cuidado que recebem
da mãe e do padre Francis. A percepção de que Tolkien tem um talento
nato para lidar com o estudo e com idiomas irá lhe colocar nos melhores
locais de ensino de uma ainda vitoriana Inglaterra, apesar de sua origem
humildade e de ter nascido na atual África do Sul que no início do séc.
XX seu domínio estava dividida entre ingleses e holandeses. Tolkien
nasceu na República do Estado Livre de Orange um Estado de Origem Holandesa, porém sua família era inglesa, Tolkien irá receber um ótimo ensino.
“Através da Arte. Mudaremos o Mundo através da Arte.”
J.R.R.Tolkien
Tolkien
(cuja pronúncia, é "Tól.. Quin") e seus 3 amigos realmente fundaram o
T.C.B.S. que em português traduz-se para Clube do Chá e Sociedade
Barroviana . Barrow’s era o nome da “lanchonete”onde os 4 se reuniam
desde a adolescência para escapar de seus destinos já traçados por suas
famílias, destino inglório e comum na opinião de seus 3 amigos.
Aspiravam sonhos mais nobres porém menos rentáveis na opinião de seus
ausentes e abastados pais, sutilmente lembrando A Sociedade dos Poetas Mortos (1989)
de Peter Weir. Hellheimer era um grito de desafio e auto-afirmação
diante de tudo e todos que os fizessem sentirem-se menores. E nunca
pronunciado de modo correto por Rob Gilson (Albie Marber / Patrick
Gibson), mesmo sendo esse o 1º com entusiasmo a incorporar o brado
retumbante. A amizade é sincera com direito a essa turminha aprontar mil
e uma confusões recheada com diálogos cativantes em citações a se
perder à peças, contos, quadros e música de um pouco de tudo que rolava
na Inglaterra início do séc. XX.

Edith Brat (Lilly Collins): Sempre sob as árvores.
Tolkien
e o irmão Hilary conhecem Edith Brat (Mimi Keene, adolescente e Lilly
Collins já uma jovem mulher). Os irmãos são adotados na casa da Sra.
Faulkner (Pam Ferris) e dela recebem tutelagem a pedido do padre Morgan.
Edit Brat já estava ali residindo no solar dos Faulkner quase sempre a
entreter sua tutora ao piano. O namoro dos dois não vem de imediato
apesar da paixão a 1ª vista de Tolkien (garotos!). Não sabemos se de
fato Edith será a 1ª a questionar J.R.R. Tolkien sobre o significado das
palavras e não apenas a sonoridade delas e criação de idiomas como era
muito do gosto de Tolkien desde a infância, Tolkien gosta de criar
palavras como a Emília de Monteiro Lobato e brincar com a sonoridade
delas, mas uma palavra precisa ter uma história por trás para de fato
ser algo de valor segundo Edith. Segundo o próprio Tolkien, ela lhe
serviu, sim, de inspiração para a deusa elfa Luthien em sua obra Silmarillion ao vê-la dançar sob um bosque enquanto namoravam.
A
forma como é mostrada o namoro dos dois é muito bonita, mostrando uma
paixão dos sentidos e do intelecto, revelando a admiração mútua por
qualidades particulares e respostas a questionamentos, até quando brigam
é um relacionamento interessante pois quase não parece uma briga. No
filme é dela a paixão por Wagner e O Anel dos Nibelungos (inspiração para o Um Anel),
sendo que ela também sentia-se presa a um destino (como a maioria das
mulheres da época) e ansiava sair dele tal qual os amigos da T.C.B.S. É
incrível ver como o protagonista extrai de sua tristeza e de suas
dificuldades o que há de melhor em si, superando as adversidades
enquanto dá vida ao que sempre esteve ali em sua mente.

"- Um anel para a todos comandar..."
Nas idas e vindas da memória entre bombas e Nazguls
ameaçadores, junto a Edith, ele constrói uma família e caminha em
direção à construção de uma carreira, ganhando o título de Professor em
Oxford. Vamos aí descortinando o que seria seu trampolim para a vida
adulta e acadêmica: O Professor de linguística Joseph Wrigth surge de
modo muito prosaico na vida de J.R.R. Tolkien e em pouco tempo confirma e
lhe trás um maior significado para tudo que estava há muito tempo sendo
apenas rascunhado, apesar do seu pouco tempo em cena Wrigth irá de fato
coloca-lo em um rumo, é o momento “Hellheimer” de Tolkien, vale a pena ver um senhor tão aguçado e espirituoso a seu modo.

A amizade entre Tolkien e o Prof. Joseph Wright (Derek Jacobi) é fundamental para a sua vida acadêmica
Wrigth era muito admirado pela escritora Virgínia Wollf e segundo depoimento do próprio Tolkien: “- Eu agora em 1963 sei que era perfeitamente a verdade, a chave para o comportamento dos dons”.
Após um bloqueio criativo enorme para a escrita, Tolkien encontra sua
inspiração nos laços de sua eterna irmandade, o T.C.B.S., o que inspira à
criação do famoso O Hobbit, sendo emocionante ver sua criação sendo compartilhada com seus filhos com tanto entusiasmo e com uma pitada de nostalgia.
Tolkien
aposta em tom solene para explorar a gênese de suas maiores obras, e
enfatizar a sua genialidade, embora falhando, em partes, para entregar
isso. Apesar de tudo, é um filme que emociona, alegra os fãs por suas
referências, arrancando lágrimas do telespectador facilmente em seu
clímax. O longa vale a pena por seu tom despretensioso encantando até
quem não é um admirador das obras famosas.

“Num buraco no chão vivia um Hobbit”... Hum, seria um bom começo para um livro?!?
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As paisagens campestres que Tolkien habitava: Condado?
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A direção de fotografia está a cargo de Lasse Frank Johanessen, provavelmente por ter trabalhado junto ao diretor em alguns curtas, Lasse foi diretor de um clipe para a cantora islandesa Björg Black Lake. Uma boa escolha, pois Lasse consegue uma agradável paleta de cores durante todo o filme, sendo sua bela fotografia um bom fator de imersão, como nas cenas de guerra usando muito vermelho nos delírios de um atormentado Tolkien (Nicholas Hoult, eficiente como sempre), o que em uma tela menor pode ficar escuro demais, dificultando a compreensão visual do quadro.
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A guerra de trincheiras: Com as "bençãos" de Sauron...
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O filme se concentra em 3 momentos da vida de Tolkien nos fazendo pensar que o tempo todo ele já tinha tudo na cabeça do que surgiria incrivelmente mais a frente. Vemos sua infância, juventude e o início da vida adulta, sendo a juventude que mais ocupa a narrativa, conduzindo especificamente a realização das obras de Tolkien, o que pode fazer parecer forçado, mas felizmente não é assim que acontece, apesar de ficar essa impressão. Esses 3 momentos também podem ser divididos em 3: A guerra, os amigos e seu namoro com Edith Brat . Um quase 4º arco que se faz começar mas é interrompido, seria o convívio de Tolkien com o Professor Joseph Wrigth (o ótimo Derek Jacobi ), falha que poderiam ter melhor resolvido caso o roteiro e a edição lhe desse maior espaço, delineando alguém fundamental na vida do autor, porém sendo o seu curto tempo de cena, significativo.
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Uma 1ª Guerra enfrentado Smaug.
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Os primeiros fãs de Tolkien eram extremamente radicais na proteção a qualquer adaptação que fosse das obras do autor, o que impediu diversas tentativas e as poucas que escaparam a esse exagero não ganharam muita divulgação. De verdade o que de fato valia era a obra em si e nenhuma adaptação. Mantidas como uma obra sacra, o próprio Tolkien assim a preservava. Vemos nessa cine biografia vários momentos que fazem mais alusão à trilogia de Peter Jackson do que a algum possível relato do autor. Sabemos que a experiência durante a Grande Guerra foi impactante, o filme coloca esse impacto em imagens fantásticas: A Terra de Ninguém é o próprio Reino de Mordor ou algum desafortunado Reino que Sauron devastou, em referência aos 3 filmes, certamente uma busca aos fãs recentes que ainda possam ser estimulados a buscar mais informações sobre a obra e ao próprio Tolkien, uma biografia autorizada cedida por Tolkien em 1967 ao biógrafo Carpenter Humphrey está sendo relançada pela Casa dos Livros Editora. As agruras enfrentadas nas trincheiras chegam a uma quase exatidão em referência a cenas dos filmes de Peter Jackson. Ali encontramos um febril e obstinado Tolkien junto a um fidelíssimo soldado de nome Sam (coincidência não?). Tomaram de grande liberdade ao lidar com o tema da Guerra, numa tentativa de entrar na mente do autor. Tolkien sobreviveu a uma das mais sangrentas batalhas vividas pelo exército inglês, a Batalha do Somme na França. Em igual peso para os ingleses seriam as 3 Batalhas de Ypres (19/10 - 30/ 11/1914; 22 -25/05/ 1915; 31/07 - 06/11/ 1917).
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Tolkien criou uma lenda, e deveria saber que lendas não possuem proprietário.
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Em flashbacks
extensos vamos descortinando detalhes pontuais sobre sua vida. Ele e o
irmão foram grandemente afortunados por terem Mabel Tolkien (Laura
Donnelly) como sua mãe . Recém viúva, ela recebe ajuda do padre espanhol
Francis Xavier Morgan (Colm Meaney, o Chefe O’Brien de Star Trek: A Nova Geração e Deep Space Nine)
e decidem seguir para a Inglaterra. O ator, que encara bem o papel de
um autêntico jesuíta sempre muito preocupado com a educação, é outra boa
fortuna com que Tolkien foi agraciado. É sua mãe quem conduz Tolkien e o
irmão a esse mundo de contos de fadas, quase literalmente pois é capaz
de narrar uma história de dragões com direito a uso de uma Lanterna
Mágica, em lindas imagens em uma pequena e significativa sequência.
Tolkien e seu irmão serão beneficiados por todo esse cuidado que recebem
da mãe e do padre Francis. A percepção de que Tolkien tem um talento
nato para lidar com o estudo e com idiomas irá lhe colocar nos melhores
locais de ensino de uma ainda vitoriana Inglaterra, apesar de sua origem
humildade e de ter nascido na atual África do Sul que no início do séc.
XX seu domínio estava dividida entre ingleses e holandeses. Tolkien
nasceu na República do Estado Livre de Orange um Estado de Origem Holandesa, porém sua família era inglesa, Tolkien irá receber um ótimo ensino.
“Através da Arte. Mudaremos o Mundo através da Arte.”
J.R.R.Tolkien
Tolkien
(cuja pronúncia, é "Tól.. Quin") e seus 3 amigos realmente fundaram o
T.C.B.S. que em português traduz-se para Clube do Chá e Sociedade
Barroviana . Barrow’s era o nome da “lanchonete”onde os 4 se reuniam
desde a adolescência para escapar de seus destinos já traçados por suas
famílias, destino inglório e comum na opinião de seus 3 amigos.
Aspiravam sonhos mais nobres porém menos rentáveis na opinião de seus
ausentes e abastados pais, sutilmente lembrando A Sociedade dos Poetas Mortos (1989)
de Peter Weir. Hellheimer era um grito de desafio e auto-afirmação
diante de tudo e todos que os fizessem sentirem-se menores. E nunca
pronunciado de modo correto por Rob Gilson (Albie Marber / Patrick
Gibson), mesmo sendo esse o 1º com entusiasmo a incorporar o brado
retumbante. A amizade é sincera com direito a essa turminha aprontar mil
e uma confusões recheada com diálogos cativantes em citações a se
perder à peças, contos, quadros e música de um pouco de tudo que rolava
na Inglaterra início do séc. XX.
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Edith Brat (Lilly Collins): Sempre sob as árvores.
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Tolkien
e o irmão Hilary conhecem Edith Brat (Mimi Keene, adolescente e Lilly
Collins já uma jovem mulher). Os irmãos são adotados na casa da Sra.
Faulkner (Pam Ferris) e dela recebem tutelagem a pedido do padre Morgan.
Edit Brat já estava ali residindo no solar dos Faulkner quase sempre a
entreter sua tutora ao piano. O namoro dos dois não vem de imediato
apesar da paixão a 1ª vista de Tolkien (garotos!). Não sabemos se de
fato Edith será a 1ª a questionar J.R.R. Tolkien sobre o significado das
palavras e não apenas a sonoridade delas e criação de idiomas como era
muito do gosto de Tolkien desde a infância, Tolkien gosta de criar
palavras como a Emília de Monteiro Lobato e brincar com a sonoridade
delas, mas uma palavra precisa ter uma história por trás para de fato
ser algo de valor segundo Edith. Segundo o próprio Tolkien, ela lhe
serviu, sim, de inspiração para a deusa elfa Luthien em sua obra Silmarillion ao vê-la dançar sob um bosque enquanto namoravam.
A
forma como é mostrada o namoro dos dois é muito bonita, mostrando uma
paixão dos sentidos e do intelecto, revelando a admiração mútua por
qualidades particulares e respostas a questionamentos, até quando brigam
é um relacionamento interessante pois quase não parece uma briga. No
filme é dela a paixão por Wagner e O Anel dos Nibelungos (inspiração para o Um Anel),
sendo que ela também sentia-se presa a um destino (como a maioria das
mulheres da época) e ansiava sair dele tal qual os amigos da T.C.B.S. É
incrível ver como o protagonista extrai de sua tristeza e de suas
dificuldades o que há de melhor em si, superando as adversidades
enquanto dá vida ao que sempre esteve ali em sua mente.
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"- Um anel para a todos comandar..."
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Nas idas e vindas da memória entre bombas e Nazguls
ameaçadores, junto a Edith, ele constrói uma família e caminha em
direção à construção de uma carreira, ganhando o título de Professor em
Oxford. Vamos aí descortinando o que seria seu trampolim para a vida
adulta e acadêmica: O Professor de linguística Joseph Wrigth surge de
modo muito prosaico na vida de J.R.R. Tolkien e em pouco tempo confirma e
lhe trás um maior significado para tudo que estava há muito tempo sendo
apenas rascunhado, apesar do seu pouco tempo em cena Wrigth irá de fato
coloca-lo em um rumo, é o momento “Hellheimer” de Tolkien, vale a pena ver um senhor tão aguçado e espirituoso a seu modo.
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A amizade entre Tolkien e o Prof. Joseph Wright (Derek Jacobi) é fundamental para a sua vida acadêmica
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Wrigth era muito admirado pela escritora Virgínia Wollf e segundo depoimento do próprio Tolkien: “- Eu agora em 1963 sei que era perfeitamente a verdade, a chave para o comportamento dos dons”.
Após um bloqueio criativo enorme para a escrita, Tolkien encontra sua
inspiração nos laços de sua eterna irmandade, o T.C.B.S., o que inspira à
criação do famoso O Hobbit, sendo emocionante ver sua criação sendo compartilhada com seus filhos com tanto entusiasmo e com uma pitada de nostalgia.
Tolkien
aposta em tom solene para explorar a gênese de suas maiores obras, e
enfatizar a sua genialidade, embora falhando, em partes, para entregar
isso. Apesar de tudo, é um filme que emociona, alegra os fãs por suas
referências, arrancando lágrimas do telespectador facilmente em seu
clímax. O longa vale a pena por seu tom despretensioso encantando até
quem não é um admirador das obras famosas.
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“Num buraco no chão vivia um Hobbit”... Hum, seria um bom começo para um livro?!?
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