terça-feira, 21 de setembro de 2021

"Lindo de Matar" - Crítica - Filmes: Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal (2019)


 

Charmoso, envolvente, letal

por Alexandre César 

(Originalmente postado em 26/ 07/ 2019)


 Zach Efron brilha na cinebiografia do psicopata


O que os olhos não vêem...


Rapaz conhece moça em um bar, um bar movimentado. Rola um clima e ele a leva para casa. Lá, para surpresa dela, ele não foge ao descobrir que ela tem uma filha pequena, acolhendo as duas em seu coração. Tudo corre às mil maravilhas até ele ser detido pela polícia e ser acusado de assassinar várias mulheres de forma bestial levando nossa amiga a lutar com todas as forças do seu ser a admitir que aquele príncipe entre os homens é, fora da sua relação familiar, um monstruoso psicopata capaz de atos de uma violência bestial e sem limites, tornando a sua vida um inferno pessoal por não poder se desligar desse amor tão fortemente alimentado com juras de amor, os sonhos e a convivência de uma vida a dois...


1968: Elizabeth Kendall (Lily Collins) e Ted Bundy (Zac Efron). O príncipe e a princesa, só que não...


Poderíamos assim definir a jornada pessoal da protagonista de Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal (2019) dirigido por Joe Berlinger (A Bruxa de Blair 2: O Livro das Sombras de 2000 e vários documentários, entre eles sobre o grupo Metalica, a apresentadora Oprah e o próprio Bundy) que entrega uma performance magnética e impressionante de Zac Efron (O Rei do Show) submergindo totalmente num personagem que por sua vez também era um indivíduo submerso numa fachada criada para cativar a tudo e a todos com o seu charme e inteligência, ocultando a sua face real de predador urbano*1.


Todos desfrutam de uma vida bem família com Bundy, aceitando a filha de Elizabeth, e ela a ele


Lily Collins (Tolkien) vive Elizabeth Kendall, a companheira de Bundy, que escreveu o livro "The Phantom Prince: My Life with Ted Bundy" (em que o roteiro de Michael Werwie se baseia) tendo sido uma de suas defensoras mais leais, recusando-se a acreditar na verdade sobre Ted. A história é contada pelo ponto de vista de seu relacionamento, que vai acompanhando o seu sentimento de perda e até de culpa, numa forma de “Síndrome de Stocolmo” na medida em que ela se sente aprisionada pelo seu elo emocional para com ele, recusando-se a enxergar as evidências que vão se acumulando e os conselhos das vozes amigas próximas como a sua amiga de longa data Joanna (Angela Sarafyan de Westworld). ou do colega de trabalho Jerry (Haley Joel Osment de O Sexto Sentido) que luta para conseguir que ela reconheça o seu afeto.


Futuros desdobramentos: Um dia por acaso, eles encontram  Carole Ann Boone (Kaya Scodelario), uma antiga amiga de Ted

Falar mais da entrega de Efron ao papel é redundância. Ele está carismático, encantador e, quando deixa aparecer o real Bundy tem um olhar assassino de deixar os cabelos da nuca em pé. Como existe ampla documentação dos personagens envolvidos, a escalação do elenco, levando em conta a aparência e a voz é notável, havendo nos créditos finais trechos que são reproduzidos no filme e percebemos o ótimo trabalho de caracterização dos atores, destacando o juiz Edward D. Cowart (John Malkovich de Bird Box) cuja participação irônica e severa dá o real tom da coisa quando dá a sentença e reconhece as extraordinárias qualidades de Bundy (que em certa altura despede o advogado e passa a fazer a própria defesa) e o quanto lamenta o fato de ter desperdiçado tanto potencial numa vida de escolhas erradas. Outro que merece destaque é o promotor do estado da Flórida Larry Simpson (Jim Parsons de The Big Bang Theory) que apesar da incrível semelhança na aparência e no falar não nos deixa esquecer de que estamos diante do intérprete de Sheldon Cooper. Neste momento até achamos que Bundy tem uma oportunidade de se safar...


Uma revista de rotina inicia o cerco a Bundy e a seu fusca "preparado" para os crimes

Mas outra grande surpresa no filme é Kaya Scodelario (da cinesérie Maze Runner) como Carole Ann Boone, inicialmente apenas uma amiga do passado que “arrastava um bonde” por Bundy, acaba se tornando a sua fiel escudeira nos tribunais e diante das câmeras, tendo uma única vez conseguido “ficar”com ele daí ter tido uma filha (esperemos que a menina tenha sido preservada desta história...) a entrega da atriz ao personagem é igualmente notável, ficando irreconhecível como seu olhar de adoração fanática a aquele a quem passa a dedicar a vida. A garota é realmente boa!
 
 

Em certa altura Bundy foge, sendo recapturado após outras mortes na Flórida
 
 
 A direção de Berlinger narra de forma documental, quase seca a via-crucis emocional de Elizabeth que vai gradativamente sendo obrigada a encarar o fato incontestável de que Bundy até a amava realmente (do “jeito” dele...) mas tendo de reconhecer que como todo o sobrevivente, ele fará o que for preciso para escapar da morte aproveitando a exposição da mídia, pois o caso foi o primeiro a ser amplamente veiculado na TV, que cobriu o caso até o veredito final, tendo Bundy granjeando um grande fã-clube feminino ávido por sua atenção. Fosse hoje, ele provavelmente conseguiria um Reality Show com um canal no You Tube em tempo real...
 

"Gostou Penny": O promotor Larry Simpsom (Jim Parsons) apesar de tudo monta uma acusação consistente

Um dos grandes méritos do filme é não usar o infame  “baseado numa história real” de tantos telefilmes, o que lhe dá muito mais peso e credibilidade pois a história de Bundy é amplamente conhecida. O ritmo do desenrolar dos fatos é encadeado pela montagem de Josh Schaeffer (Kong:A Ilha da Caveira) aliada à fotografia de Brandon Trost (Artista do Desastre), sutil, com enquadramentos convencionais, que aqui funcionam para nos lembrar da realidade da história alternando a gramatura da imagem de acordo com a carga emocional do momento, embala o desenho de produção de Brandon Tonner-Connoly (Amores Canibais) junto com a direção de arte de Mat Hyland e os figurinos de Meg Stark Evans (Tron: O Legado) naquele segmento de tempo compreendido entre 1968 a 1989 de forma ao mesmo tempo colorida e sóbria coisa que a música de Marco Beltrami (Um Lugar Silencioso) e Dennis Smith (da série Lúcifer) faz de forma eficiente, enfatizando o subjetivo de seus personagens nos silêncios e acordes pontuais sem chamar a atenção para si.
 

Leis da Atração: Carole Ann se torna o rosto de todas as mulhers apaixonadas pelo serial killer...
 
Ao final saímos satisfeitos pelo trabalho bem feito e ao mesmo tempo incomodados pois da mesma forma como a platéia dos tribunais e da televisão da época, não deixamos de apreciar a performance de seu personagem que como um verdadeiro showman sabia ganhar o seu público, nos fazendo por momentos esquecer que estávamos diante de um monstro capaz de tudo, o que nos leva a pergunta de quantos Ted Bundys não existirão por aí escondidos na vizinhança, na política e no mundo do entretenimento???
 
Somos pessoas horríveis...
 
 

Jerry (Haley Joel Osment) : "- Cansei de ver gente morta!"

Notas:
 
*1: Theodore Robert Bundy, mais conhecido como "Ted Bundy" (Burlington, 24/ 11/ 1946 – Starke, Condado de Bradford, 24/ 01/ 1989), foi um dos mais temíveis assassinos em série da história dos Estados Unidos da América durante a década de 1970. Era um homem charmoso, comunicativo e convincente, estudante de direito e Psicologia que usava esses atributos para seduzir e eliminar mulheres em uma matança desenfreada, tendo sido confirmada a sua autoria da morte de 36 mulheres e a suspeita de outros 100 casos de homicídio e assédio sexual. (wikipedia)


"-Sou lindão, Talkey???"

 

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