A vez dos zumbis!- What if...? - 5º episódio - 1ª Temporada

 

Fome animal!!!

por Ronald Lima

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Com vocês, os Walking Super Dead

 

Zumbis Marvel no traço de Sean Phillips

E What If...?, chega ao seu quinto episódio no Disney+, dessa vez em explícita referência a um dos seus títulos de maior sucesso: Zumbis Marvel de 2005. Cujo autor, Robert Kirkman, escreveu Walking Dead, publicada como quadrinhos em 2003 antes de virar a famosa série em 2010. Uma jogada de marketing da MARVEL que funcionou. Zumbis Marvel entra no inusitado contexto de super heróis transformados em zumbis. Nesse episódio algumas situações que ocorreram nos gibis são muito semelhantes. Fãs de Apocalipses Zumbis acredito que irão gostar mas o episódio transmite um andamento emocional irregular que certamente funcionaria em pelo menos mais um episódio para fechar melhor a história.

Em todos os episódios ocorre um acontecimento no final que nos causa uma expectativa, o final do 5º me fez refletir sobre os objetivos dos roteiros de What.. If? e seu alcance (ou não) em outras sequências do UCM por ser muito semelhante na estrutura ao que ocorreu no 2º. Vamos ao texto e chegaremos lá.

 

"A Noite dos Mortos Vivos" (1968) de George A. Romero"

O tema zumbis tem origem na cultura popular africana onde um ser é privado de vontade própria controlado por um poderoso encantamento, ele só atacava pessoas quando seu dono ordenava. Um escravo desmorto animado por magia.

Em 1954 é publicado I Am a Legend de Richard Matheson onde um único sobrevivente a uma bactéria que infectou todo o Planeta precisa enfrentar toda população transformada em... Vampiros! (opa! onde estão os zumbis?). Esse conto irá diretamente influenciar o que conhecemos como "Apocalipse Zumbi". A luta pela sobrevivência, a busca por alguém não infectado, a quebra e decepção crescente e a causa devido a uma doença desconhecida está toda aqui. Esse livro inspirou filmes como O Último Homem da Terra (The Last Man on Earth) de 1964 com Vincent Price e o homônimo Eu Sou a Lenda de 2007 com Will Smith.

Em 1968, George Romero mixou ambos os conceitos no clássico filme de 1968, A Noite dos Mortos Vivos (The Nigth of Living Dead). A lenda original africana está presente no visual andrajoso dos zumbis, atacam a noite e a história se passa em um ambiente rural e para representar a patogenia apocalíptica do conto de Richard Matheson temos a multidão de zumbis. Os Zumbis da mitologia africana não tinham fome de cérebros e tampouco eram ágeis e rápidos. Esses elementos vieram na versão de Romero; eles são famintos e saciar a fome é a sua única razão, avançam céleres para devorar... brains!!! O contágio se dá através de uma ação agressiva do zumbi e tudo se alastra como uma praga, contaminando as pessoas a cada mordida, um elemento narrativo surge com esse filme de Romero, a meu ver o mais importante para o gênero terror zumbi, a intenção em prender o público na angústia e expectativa tensa para descobrir como os personagens escaparão (ou não) de uma situação tão claustrofóbica. Essa tensão narrativa é muito boa mas produções posteriores não conseguem ultrapassa-la e não sei bem o porquê... Se tornou forte demais quem sabe. Daqui para diante a única variável nesse tema se referem as origens da infecção: seja um vírus natural ou criado em laboratório liberado de modo acidental ou intencional e uma origem extra terrestre, uma variante interessante surgiu com o filme Madrugada dos Mortos de 2004, foi a punição divina, mas esse filme é uma adaptação do 3º clássico de George Romero de mesmo título realizado em 1978 (o famoso filme dos zumbis no shopping center), o de 2004 é a estréia de Zack Snyder na direção e o roteiro é de James Gunn.

 

"A Morta- Viva" (1943). Zumbis dentro do seu conceito original da magia.

 

Todo esse conceito é pura criação do cinema e literatura e ainda assim tem gente que acredita que o Apocalipse Zumbi possa vir a acontecer um dia. 

Desde os anos 50 a Humanidade conviveu com o medo de um conflito nuclear apocalíptico e esse risco diminuiu com os acordos nucleares realizados nos anos 90. A partir dos anos 80 o vírus HIV causa inúmeras vítimas rapidamente pelo Mundo e a Humanidade desenvolve um outro medo, o da morte por doenças infecciosas.

 

E onde afinal entra o nosso episódio? Temos aqui todos esses conceitos presentes no roteiro onde o Planeta Terra desse Universo também se encontra infectado por um vírus que contaminou a Dra. Janet Van Dyne enquanto ela estava perdida na Realidade Quântica e esse se espalha rápido e muito provavelmente como ocorreu nas histórias em quadrinhos Zumbis Marvel os super heróis infectados ajudaram a contaminar mais pessoas depois da execução de uma das piores abordagens realizadas por um grupo de super heróis... Sério mesmo que o Capitão América planejou daquele jeito? Ou concordou? Caramba... !

 

"Olá...?"

Ocorrendo antes dos eventos de Vingadores: Guerra Infinita (2018), vemos Bruce Banner (Mark Ruffalo) sendo enviado à terra para alertar os vingadores sobre a chegada de Thanos exatamente como ocorre no seu início. No entanto, quando o herói encontra as ruas abandonadas da cidade de Nova York, algo parece errado. Bruce é salvo desse primeiro ataque dos zumbis pelo Manto de Levitação do Doutor Estranho e por Hope Van Dyne (Evangeline Lilly), a Vespa. What... If? se mostra uma ótima oportunidade para explorar personagens coadjuvantes e assim temos uma boa participação com bom trechos de roteiro de: Happy Hogan (Jon Favreau), Sharon Carter (Emily Van Camp), Kurt (David Dastmalcyhian) a chefe da Guarda Real de Wakanda Okoye (Danai Gurira) e uma das principais lideranças da Ordem Negra em apenas uma pequena ponta para linkar com a ameaça Thanos, Ebony Maw (Tom Vaughan Lawlor). A equipe fica completa com Bucky Barnes (Sebastian Stan) já interagindo como o Soldado Invernal e uma excelente luta contra o Capitão América merece destaque e Paul Rudd como Scott Lang presente de corpo e alma... bom, não exatamente em "corpo" (piada indireta de tio).

"Mas o que diabos está acontecendo aqui afinal de contas?"

Temos este episódio, que passa quase todo o seu tempo focado em mover os heróis sobreviventes de um encontro com zumbis para um encontro com outros zumbis, enquanto eles tentam desenvolver uma cura. Pelo visto a Marvel irá brincar de colocar o “quantum” na frente de conceitos que eles não querem se preocupar em explicar com detalhes. Normal, afinal quando uma aranha radioativa realmente iria proporcionar um super poder?

Tony Stark ainda capaz de pilotar o traje de vôo mais avançado da Terra, ou como o Doutor Estranho pode se concentrar em lançar feitiços e comer cérebros ao mesmo tempo, nos comics as pessoas infectadas iam aos poucos perdendo a consciência, aqui isso não ocorre. Todas as lutas são pesadas e brutais, bem coreografadas e inventivas, mas apenas até o ponto em que você estiver disposto a suspender uma quantidade substancial de descrença... Vide a relatada péssima abordagem inicial dos super heróis, mas algo aceito em um texto "terrir".

 

"Miolos!!"

 

Um hilário vlog feito por Peter Parker (inspirado em Zumbilândia 2009) para explicar as regras básicas absolutas de sobrevivência contra mortos-vivos com reflexo nesse triste momento de Pandemia que vivemos, mordidas infectam, tiros na cabeça matam, eles podem sentir seu cheiro e precisa cuidar da higiene pessoal (olha aí a dica), esse vlog do Parker foi o que motivou minha longa introdução nessa crítica. Contudo ações realizadas pelos personagens mostram que ninguém ali assimilou a lição. Deixar alguém sair por conta própria apenas para manter a trama em andamento enquanto é arrastado para a morte fica complicado de aceitar sendo eles heróis treinados. A única coisa mais infecciosa do que mordidas de zumbis quânticos são comentários sarcásticos minando qualquer coisa séria que esteja acontecendo. A inconsistência tonal acaba afetando como todo o episódio se desenrola porque não consegue decidir e equilibrar a galhofa e o drama, esses dois elementos estão presentes em ótimos momentos caso fosse melhor dosado ou simplesmente decidissem entre um e outro, como o What... If? anterior foi bastante dramático não haveria problema nenhum em pegar mais leve nesse, mesmo com uma temática terror.

"Sai pra lá zumbi do mal!"

A ambiguidade entre o trágico e o humorístico esta sempre no limite interpretativo do espectador, “Como é possível rir da infelicidade de alguém ameaçado de cair no vazio ou de outro ser devorado por zumbis?”. Isso é possível com um roteiro criado de forma a provocar um desligamento, rápido que seja, com o público em relação ao personagem e isso pode vir através de uma morte completamente inverossímil e fora da realidade ou acompanhada de alguma piada ou os dois momentos juntos. Nisso a narrativa acerta.

Um bom apelo dramático nos é dado em dois excelente momentos: 

“Se não continuarmos a sorrir por aqueles que não podem então seria melhor que tivéssemos partido também”. Peter Parker (Hudson Thames) continua com o dom de nos fornecer ótimas frases. T’Challa (Chadwick Boseman) repete o que foi dito em Pantera Negra (2018): "Na minha cultura, a morte não é o fim, eles ainda estão aí, desde que não nos esqueçamos deles." Wakanda Forever!

 

"Como dizia minha Tia May..."

 

Os melhores momentos do episódio acontecem durante um confronto tenso com o Visão (Paul Bettany) em Camp Lehigh*1. Um forte aprofundamento do lado dramático que surge, onde o querido andróide é conduzido a um extremo dessa vez exatamente como ocorreu no título Zumbis Marvel. A qualidade da animação transmite um impacto maior contra um adversário terrível!

Vários easter eggs referenciando o já citado Zumbilândia, além de The Walking Dead,Trem para Busan, embora carecendo do elemento de crítica social que o subgênero permite, e que George A. Romero tanto soube explorar. 

E chegamos aos momentos finais com a impossibilidade de evitar um ALERTA SPOILER.

 

"vocês são o mal e eu sou a cura"

Banner retorna a Terra com o urgente  aviso da chegada de Thanos e essa informação simplesmente fica ignorada o tempo todo e ele não passa a bendita informação, é evidente que a luta inesperada contra zumbis o surpreende mas um futuro confronto contra Thanos não poderia ser ignorada.... A cena final faz pensar até onde esses zumbis são imbatíveis? Porque conseguir o que conseguiram é impressionante. Contraditoriamente é o final que mais instiga assistir à uma continuação.  

Esse furo no roteiro lembra furo semelhante ocorrido no 2ºepisódio onde Yondu simplesmente aceita o pequeno T’Challa sem a menor cerimônia e em detrimento a Peter Quill, mesmo sabendo do risco que irá ocorrer quando Ego, o Planeta Vivo vier buscar sua semente. 

Isso me leva a especular o seguinte: No final dos episódios de Capitã Carter e Dr. Estranho temos a possível presença da criatura Shuma-Gorat que caminha entre realidades e isso sim pode ter desdobramentos interessantes, o final do Episódio 3 também permite um entrosamento com o UCM. Mas as duas cenas finais do capítulo 2 e 5 ou se enquadram nos finais trágicos típicos da publicação dos quadrinhos de What...If? Infelizmente de modo forçado por serem criados nesses furos intencionais (?) de roteiro. Ou permite que trechos dessas realidades alternativas ou personagens ali possam ser utilizados mais tarde nas inúmeras produções Marvel que estão por vir, é grande a possibilidade na criação de algo novo resultante desses finais em aberto.

 

"vestiu bem legal em você Parker"

Especulações a parte (e desejadas), o resumo que temos desse episódio é de uma aventura que explora pouco o potencial de horror da trama em detrimento do humor com ótimos momentos dramáticos igualmente mal explorados. Erraram no tempero dos miolos... (piada de tio).

 

"Braaiinnnssss....!"

 

Notas:

 

*1: Camp Lehigh, no Universo Cinematográfico Marvel era uma base no estado de Nova Jersey da Reserva Científica Estratégica, durante a Segunda Guerra Mundial. Após a guerra, tornou-se a primeira base de operações da S.H.I.E.L.D., abrigando o Tesseract e a mente de Armin Zola em seus bancos de dados, numa operação secreta da H.Y.D.R.A., tendo sido destruída durante os eventos de Capitão América: O Soldado Invernal (2014). 

fonte: https://marvelcinematicuniverse.fandom.com/wiki/Camp_Lehigh