O desafio de uma construção
Fundação, a série literária, se passa milhares de anos no futuro, quando a humanidade se espalhou por milhões de planetas em toda a galáxia, já sem terem mais a certeza de qual foi ou onde fica o planeta de onde ela se originou. Todos são governados há mais de 12 mil anos pelo Império Galáctico, que está prestes a sucumbir por sua grandeza e estagnação. Um cientista, Hari Seldon, além descer o primeiro a perceber esse fato, descobre que, quando isto acontecer a barbárie tomará conta da humanidade e que ela só se ergueria para formar um novo Império 30 mil anos depois. Com seus estudos, ele percebe que a barbárie seria inevitável, mas seu período de duração poesia ser reduzido. Pretendendo que este tempo dure apenas mil anos, ele elabora um plano que consiste em criar duas fundações, cada uma em um extremo da galáxia, que, com a desculpa de que iriam compilar e guardar todo o conhecimento humano em uma Enciclopédia Galática, estariam, na verdade, iniciando a formação de um novo império enquanto o original ruísse lentamente. Nestes três livros a saga atravessa um período de quase 400 anos e mostra, na maior parte do tempo, as ações perpetradas por membros de uma dessas Fundações, intitulada “Primeira Fundação”.
É claro que você pode não concordar que esta seja a melhor série de Fantasia & FC, mas foi ela que ganhou do mais conceituado prêmio do gênero, o Hugo*3, o título de “a melhor de todos os tempos”, na única ocasião em que este prêmio foi concedido, em 1966.
Há muitas razões para tal sucesso de crítica e de público: o fato de ser, provavelmente, a melhor tradução das Space Operas – gênero da Ficção Científica povoado de batalhas espaciais e cujas ações correm num amplo campo de ação, tanto no espaço, quanto no tempo; a semelhança com a queda do Império Romano, que culminou com o fim da Antiguidade e o conturbado período de ocupações bárbaras na Europa, chamado de Alta Idade Média; a ideia de Destino Manifesto assumida pelos membros da Fundação, segundo a qual um determinado povo acredita ter o direito divino de expandir seu alcance e comandar todos os povos; enfim, são paralelos que há entre diversos momentos da saga e passagens históricas reais.
Outra razão seria a cuidadosa construção de arquétipos de liderança que Asimov estabelece com seus personagens centrais. Além do próprio Hari Seldon, temos o prefeito Salvor Hardin (prefeita na série) e o príncipe mercador Hober Mallow. Personagens que parecem maiores que a vida, com personalidades distintas, mas capazes de tudo para garantir que a humanidade não se desvie do caminho que impeça a ruína da civilização. Dentre estes, porém, não há dúvida de que o Mulo é o personagem de maior destaque. Mas este surge só na metade do segundo livro, já com mais de 300 anos de histórias contadas, quando domina todas as atenções desde então. Falaremos muito dele nas próximas temporadas.
Seguindo o depoimento de Goyer (que também assinou a série Blade e tem Sandman, da Netflix, entre os seus próximos projetos), os livros não são emocionais. Como boa parte da obra de Isaac Asimov, são mais levadas em consideração ideias e conceitos sociais e científicos para o futuro. Na opinião do roteirista, isso leva a ação para além do que é mostrado para o leitor: “Nos livros, o Império, que está em 10 mil mundos, literalmente sai da tela – pois ela acontece entre os capítulos. Obviamente, isso não funcionaria para um programa de televisão. Então, sem revelar muito, descobri uma maneira de fazer com que alguns dos personagens estendessem sua expectativa de vida. Cerca de seis personagens continuarão de temporada em temporada, de século em século. Dessa forma, a série torna-se metade antológica, metade história contínua”, revelou.
O ritmo cai um pouco ao tratar dos personagens à volta de Hari Seldon, investindo no tal "drama humano" em busca de personagens relacionáveis*7 com o grande público. No segundo capítulo passam a ter destaque elementos da vida cotidiana, de cunho emocional - relacionamentos, mortalidade, gravidez ... -, que movem a maioria das pessoas, mas que destoam da visão de cunho técnico e prático que os personagens possuem nos livros.
Notas: *1: Isaac
Asimov (1920-1992) é um dos mestres da Ficção Científica e, junto com
Robert A. Heinlein Arthur C. Clarke, foi considerado um dos "três
grandes" da ficção científica em sua Era de Ouro. A obra mais famosa de Asimov é a série Fundação, também conhecida como Trilogia da Fundação, que faz parte da série do Império Galáctico e que logo combinou com Robôs, a sua outra série mais famosa.
Também escreveu obras de mistério e fantasia, assim como uma grande
quantidade de livros de divulgação científica e histórica. No total, escreveu ou editou mais de 500
volumes, aproximadamente 90 000 cartas ou postais, e tem obras em cada
categoria importante do sistema de classificação bibliográfiica de Dewey, exceto em filosofia.
*2: A série foi originalmente publicada na revista Astounding Magazine entre Maio de 1942 e Janeiro de 1950. Posteriormente as primeiras quatro histórias foram reunidas, junto a uma outra história
tomando lugar antes das outras, em um volume único publicado pela Gnome
Press nos Estados Unidos em 1951 como Fundação. O resto das histórias
foi publicado em pares pela Gnome como Fundação e Império (1952) e
Segunda Fundação (1953), resultando na Trilogia da Fundação, como a
série ficou conhecida por décadas. *3: O Prêmio Hugo é uma homenagem ao pioneiro inventor e editor Hugo Gernsback (1884-1967) sendo entregue a vários trabalhos de ficção científica anualmente, pelos membros da World Science Fiction Society. *4: A sua série de livros sobre os robôs, é ambientada num futuro quase imediato, visto que a RoboPsicóloga Susan Calvin teria se formado em RoboPsicologia em 2001.Ao longo dos livros. os robôs ajudam a humanidade a inventar o motor hiperatômico,
e os pilotos Donovam e Powell fazem a primeira viagem no hiperespaço, na qual se
alimentam somente de ervilhas. Como dano colateral da invenção do salto no hiperespaço, há a quase destruição do cérebro
positrônico que o criou, pois ele não consegue distinguir entre a
desmaterialização de um ser humano e a morte, implicando em quebra da Primeira Lei da Robótica. *5: Nas obras de Asimov, a humanidade começa a colonizar os planetas mais próximos, sendo o primeiro deles Aurora, na órbita de Tau Ceti, a dois parsecs da Terra. Cinquenta planetas são colonizados, mas então a expansão
para e os chamados Planetas Espaciais proíbem a imigração de Terrestres - o pontapé inicial para a guerra entre a Terra e os espaciais. A Terra perde o conflito, sendo
forçada a adotar o controle de natalidade e permitir o uso de robôs. As
cidades começam a ser cobertas por cúpulas de aço. Anos depois, ações do detetive Elijah Baley e R. Daniel Olivaw (um robô) aproximam novamente os Espaciais da terra e dão início à segunda onda de colonização espacial.
*1: Isaac
Asimov (1920-1992) é um dos mestres da Ficção Científica e, junto com
Robert A. Heinlein Arthur C. Clarke, foi considerado um dos "três
grandes" da ficção científica em sua Era de Ouro. A obra mais famosa de Asimov é a série Fundação, também conhecida como Trilogia da Fundação, que faz parte da série do Império Galáctico e que logo combinou com Robôs, a sua outra série mais famosa.
Também escreveu obras de mistério e fantasia, assim como uma grande
quantidade de livros de divulgação científica e histórica. No total, escreveu ou editou mais de 500
volumes, aproximadamente 90 000 cartas ou postais, e tem obras em cada
categoria importante do sistema de classificação bibliográfiica de Dewey, exceto em filosofia.
*7: Os três principais personagens da trilogia original na adaptação tiveram mudança de gênero, pois na época em que a série foi escrita (a década de 1950), a sociedade era diferente, com poucos personagens femininos relevantes nas obras de Ficção Científica, refletindo uma sociedade basicamente mais fria e impessoal.
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A imponência e a opressão se refletem na grandiosidade dos prédios e estátuas do Império |
Para quem lê pouco ficção científica, essa resenha deu água na boca, no sentido "veja o filme e leia o livro". Vou correndo comprar os livros e acompanhar a série.
ResponderExcluirObrigado! A diferença mais sensível que você observará nos livros é que o personagem principal da série é a própria história em si. Como no grosso de sua obra, Asimov cria personagens que movem a história, sem grandes aprofundamentos psicológicos.
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