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quinta-feira, 27 de maio de 2021

Tan, tan...tan, tan... tan, tan, tan, tan tan tan... - Crítica - Filmes: Megatubarão (2018)


O careca versus o dentuço...

 
por Alexandre César
(originalmente publicado em 11 de agosto de 2018)


E Jason Statham (com um grande orçamento) brinca de Capitão Ahab 
 
 

 

"Sharknado 5". Tubarões voadores dignos da música de Arrigo Barnabé

 

Em 1975 as praias da ilha de Amity, balneário que tem como principal fonte de renda a fluência de banhistas de verão e dos turistas que curtem um banho de mar no feriadão do 4 de julho, foram tomadas de assalto por um terrível tubarão branco, no clássico filme que dominou as telas dos cinemas, imortalizou a partitura de John Williams e alçou ao olimpo dos diretores o jovem Steven Spielberg. Nossa forma de olhar o mar nunca mais foi a mesma depois de Tubarão e, até hoje, tudo que se refere aos seláquios de uma forma ou de outra acaba levando este filme em consideração, seja como homenagem, citação ou, na maioria dos casos, como a mais grosseira paródia ou piada.  

 

Jonas Taylor (Jason Stathan): Tal qual seu homônimo da Bíblia, tem coisas inacabadas com um "animal marinho grande"


Depois dos “clássicos” de Anthony C. Ferrante (Sharknado 1,2.,3,4 & 5) e de Mega Shark vs Giant Octopus, Sharktopus vs Pterocuda, Mega Shark vs Crocosaurus, Mega Shark vs Mecha Shark , ou dos terríveis tubarões mutantes de 2, 3, 4, 5 e 6 cabeças, ou dos tubarões zumbis ou fantasmas - filmes produzidos às pencas pela Asylum ou pelo ou pelo Sci-Fi Chanel -, coube agora ao casca-grossa Jason Statham a missão de encarar a besta-fera das bestas-feras dos mares (aqui um monstruoso megalodonte pré-histórico de 25 metros) mostrando aos dentuços estúpidos que não há ser mais perigoso do que o humano.

 

DJ (Page Kennedy), Jaxx Herd (Ruby Rose), Suyin Minway (Li Bingbing), Jonas (Stathan) e “Mac” Mackreides (Cliff Curtis): Boa parte do elenco faz parte da contagem de corpos


Megatubarão (2018, de Jon Turteltaub) é a apaixonante defesa dessa “tese” que, com os grandes recursos de uma produção caprichada, um elenco descolado e uma direção que sabe que o tema não deve ser levado a sério (e que sabiamente não hesita em se auto depreciar quando possível), podemos ser brindados com o melhor filme-ruim-pipoca do ano. Acreditem. É uma deliciosa bobagem.

 

Meiying Zhang (Sophia Cai) e o megalodonte: "-Olá menininha, vamos brincar de cadeia alimentar???"

Escrito por Dean Georgaris, Jon & Erich Hoeber - baseado no livro Meg, de Steve Alten (que já conta com cinco romances adicionais) -, esta produção filmada na Nova Zelândia de Lorenzo di Bonaventura (da cinesérie Transformers) começa de maneira séria, mostrando o passado de Jonas Taylor (Statham, numa canastrice irresistível), mergulhador especializado em resgates em grandes profundidades que ficou meio desacreditado após um salvamento controverso. Ele se retirou para a Tailândia (que nem o Rambo), sendo chamado alguns anos depois para um novo resgate abaixo do fundo das Fossas Marianas, o local mais profundo dos oceanos. Em pesquisa no local, o Dr. Minway Zhang (Winston Chao) descobriu um ecossistema fechado abaixo do fundo da fossa, que não é feito de rocha, mas de uma densa camada térmica gelada que isola um bolsão de águas termais vulcânicas do resto do oceano. Lá, um submarino, pilotado pela sua ex-esposa Lori (Jessica McNamee), se acidentou ao esbarrar com um megalodonte que, lá no fundo, abaixo do fundo, não estão extintos. Ao fazer o resgate, se abre uma brecha momentânea nessa camada térmica permitindo ao monstruoso seláquio sair para variar o lanche com baleias, tubarões menores e... humanos, é claro.

 

Os "planadores" e todo o design tecnológico são bem elaborados


No mega-laboratório do Dr.Minway, financiado pelo bilionário Jack Morris (Rainn Wilson, o divertido babaca corporativo da vez), Jonas trava contato com os velhos amigos DJ (Page Kennedy, o alívio cômico, que, quando nervoso, parece falar em rap), James “Mac” Mackreides (Cliff Curtis, o gente-boa), Jaxx Herd  (Ruby Rose, da série Orange is the New Black e futura Batwoman), Toshi (Masi Oka, de ), Toshi (Masi Oka, de Heroes e Hawaii 5-0) e o Dr. Heller (Robert Taylor), com quem ele tem coisas pendentes. A equipe é liderada pela bióloga marinha Suyin Minway (Li Bingbing, belíssima) que, juntamente com a sua filha de 8 anos Meiying (Sophia Cai, fofa, e grande trunfo do filme), criam grande empatia com o mergulhador. Juntos, eles protagonizam algumas das melhores sequências do filme, destilando um humor rápido e esperto (“meninas de oito anos escutam tudo!” é o seu bordão) e mostrando ótima química entre Statham e Bingbing.

 

Suyin (Bingbing) e Jonas (Statham): Boa química na tela, com diálogos espertos e divertidos

 

Muitos momentos emulam o clássico de Spielberg, adaptando às necessidades do roteiro as dimensões e as leis da física - seja quando o megalodonte vai aumentando a contagem dos corpos, seja quando a ação se transfere para a ilha de Hainan, o maior balneário da China. Falando nisso, neste filme a China é mostrada como uma potência econômica, com seus banhistas que curtem a vida na praia tirando selfies, paquerando via Whatsapp, fazendo casamentos em alto-mar etc. Vê-se que a China definitivamente aposentou mesmo aqueles modelitos do tio Mao Tsé-Tung! O filme claramente visa o imenso público chinês como alvo do filme. Aliás, a chinesa Bingbing é uma popular atriz e cantora por lá.  

 

Até a cena da gaiola do filme de Spielberg é reciclada


O design de produção Grant Major (O Senhor Dos Anéis: O Retorno Do Rei) e o diretor de arte Kim Sinclair (Avatar) criaram um ótimo visual para o laboratório submarino de alta tecnologia, digno dos filmes de James Bond, bem como os “planadores” - mini submarinos individuais com cabine giroscópica, cujo design arrojado reedita em versão submarina o shape dos A-Wings de de Star Wars, numa agradável surpresa. A fotografia de Tom Stern valoriza bem a profundidade dos detalhes das sequências submarinas, bem com a riqueza cromática dos tons de azul, verde e os matizes de luz e sombras, realçados pelo 3D. A música de Harry Gregson-Williams é funcional, com bons arranjos mas nada que seja inesquecível.


Algumas soluções encontradas para enfrentar o megalodonte são hilárias de tão toscas

 

No mais, embora seja nítida a simpatia do elenco, transparecendo a camaradagem que deve ter rolado nos bastidores, o espetáculo é de Jason Statham. Ele está em ótima forma para os seus 51 anos, com seu “tanquinho” relembrando o tempo em que era membro do Esquadrão Nacional de Natação da Grã-Bretanha (competiu pela Inglaterra nos Jogos da Commonwealth de 1990 nas competições de mergulho de 10 metros, 3 metros e 1 metro) e brilhando como herói ridiculamente maior do que a vida. Tal qual o Capitão Ahab de Moby Dick, no clímax do filme sai no braço com o dentuço mostrando quem é que manda acima e embaixo d´água, fechando com chave de ouro este instantâneo clássico filme-ruim-pipoca. Michael Bay devia assistir e aprender, para introduzir momentos de respiro entre as intermináveis sequências de clímax nos filmes dos Transformers. A platéia agradeceria.

Observação: Esperamos até o final e não há nenhuma cena pós-créditos, por incrível que pareça. 


Parece um submarino, só que não...


Armas que travam e a falta que um ator de verdade faz - Crítica - Filmes: 15h17 – Trem para Paris (2018)

 


Mirando... e errando o alvo!

 
por Alexandre César
(originalmente publicado em 09 de março de 2018)


Clint Eastwood dá a sua primeira derrapada em sua sólida carreira 
 
 

 

21 de agosto de 2015. Três amigos de longa data em férias pela Europa resolvem embarcar no trem de número 9364 que vai de Amsterdã para Paris para encerrar o seu rolé no continente com chave de ouro. Durante a viagem o caminho deles cruza com um terrorista do ISIS (Estado Islâmico) munido de uma versão do fuzil AK-47, pistola, farta munição e sangue nos olhos. Graças aos esforços dos rapazes americanos, e uma ajudinha do acaso, uma tragédia é impedida e vidas são salvas, com direito a homenagens e a receber cada um a medalha da Legião da Honra, a maior condecoração do governo francês.

 

Alek Skarlatos, Anthony Sadler e Spencer Stone: heróis interpretam a si mesmos


Este é o enredo de 15h17 – Trem para Paris (2018) dirigido pelo lendário Clint Eastwood, encerrando a sua “Trilogia sobre os Heróis da Vida Real”, que Incluem Sniper Americano (2014) e Sully, o Herói do Rio Hudson (2016), obras que se focavam em personagens reais, que vivenciaram com coragem e determinação situações extraordinárias. Tendo tido uma carreira irretocável nas telas, principalmente quando passou a dirigir, se esperava uma história com corpo e alma... Mas dessa vez o eterno protagonista de Os Imperdoáveis (1992) errou o alvo.

 

Bryce Gheisar, William Jennings e Paul-Mikel Williams: elenco infantil extraordinário

O filme tem um início promissor com bons atores (Jenna Fisher e Judy Greer, além de um elenco infantil extraordinário), onde vemos ser forjado o elo da amizade entre os três amigos na infância (quando eram párias sociais na escola), mostrando o porquê de eles serem o que são - lembrando inclusive o clássico Conta Comigo (1986, dirigido por Rob Reiner). Curiosamente, numa cena desse trecho, um deles mostra a seus amigos o seu imenso arsenal de armas de brinquedo (réplicas perfeitas de fuzis e metralhadoras reais que devem ter deixado Michael Moore de cabelos em pé). E damos graças a Deus pelo moleque ter entrado para as Forças Armadas, pois, caso ele não tivesse conseguido, talvez virasse um daqueles doidos que volta e meia sobem numa torre ou entram numa escola e tocam o terror. Agora, em que quarto de garoto americano obcecado com armas e vida militar encontramos na parede pôsteres de Nascido para Matar (1987, direção de Stanley Kubrick) e Cartas de Ivo Jima (2006, dirigido pelo próprio Eastwood)? Insólito.  

 

Adultos, Alek Skarlatos e Spencer Stone, seguem carreira militar, diferente de Anthony Sadler, mas os três compartilham o mesmo patriotismo


Quando a ação e a dramaturgia (?) pula para a fase mais adulta, vemos Alek Skarlatos e Spencer Stone (dois dos três garotos, agora interpretados por eles mesmos) entrarem para a carreira militar, ganhando finalmente a sensação de pertencimento de que sempre sentiram falta em suas vidas. Vemos então um enfadonho caminhar de sequências da vida deles, passando pelo treinamento e pela rotina de caserna, que culmina nas cenas de turismo pela Europa na companhia de Anthony Sadler (também interpretado por ele mesmo e com menos tempo de tela), tirando selfies e conversando sobre os rumos e os desafios da vida (Parem de falar mal de Dolph Lundgreen e Silvester Stallone). Porque não continuou com atores de verdade, como os garotos da primeira parte, Clint?

 

Stone e Sadler na reconstituição da tediosa viagem turística do trio

Apoiando-se no trio real de protagonistas dos acontecimentos, toda e qualquer possibilidade do filme cativar o público apresentando um drama real se dilui. Por não serem interpretados por atores de verdade, os protagonistas do filme não estão aptos a segurar o espectador e fazer com que este estabeleça uma identificação com eles.  

 

Quando finalmente o trio embarca no trem,  a vida volta (um pouco) ao filme, prenunciando a ação que deverá se desenrolar

 

A reconstituição do momento do atentado e o esforço dos três detendo o terrorista é feita de forma eficiente, quase documental. Mas o final do filme, aproveitando cenas reais da cerimônia da condecoração dos três amigos, apresenta furos de continuidade com as cenas filmadas reconstituindo o evento. Temos um bonito discurso do então Presidente François Hollande sobre os valores humanos, mas de boas intenções o inferno e o mau cinema estão cheios.

 

O terrorista Ben Zomerdyk (Ethan Rains): ação quase documental

Sorte deles que o terrorista (que parece um canivete suíço tal a quantidade de armas e objetos cortantes que ele vai soltando a cada golpe para imobilizá-lo) usava uma AK-M. Versão chinesa da AK-47 (e, por isso travou?!), ela é muito usada aqui pelos nossos traficantes. Usasse ele uma autêntica Kalishnikov russa, o filme não teria um final feliz. Aliás, nem existiria, afinal estamos falando de Hollywood!!!


Presidente François Hollande condecora os heróis americanos: bonito discurso




terça-feira, 25 de maio de 2021

À ferro e sangue, muito sangue! - Crítica - Anime: Castlevania - 4ª Temporada

 

Chegou a hora, mortais...

 
por Alexandre César


Animação da Netflix se conclui em grande estilo

 

 

 
Quase quatro anos depois de sua estreia, no já distante ano de 2017, Castlevania chega à sua conclusão. O final desta saga com sua premissa simples - a jornada de três protagonistas se unindo para enfrentar o Rei dos Vampiros: o último guerreiro de sua linhagem, Trevor Belmont (voz de Richard Armitage, da trilogia O Hobbit); a Maga Oradora Sypha Belnades (voz de Alejandra Reynoso, de Artificial) e Alucard (voz de James Callis, de Battlestar Galactica), o filho mestiço do poderoso Conde Drácula - deixa no fandon uma pontada no peito. 

Embora esteja fora deste mundo, os vampiros ainda tentam reviver Drácula

Drácula (Graham McTavish) e sua esposa Lisa Tepes (Emile Swallow) continuam no Inferno

 
Desde seu início, a série foi introduzindo mais personagens, com tramas complexas que se revelaram maiores que iam além de tentar acabar com um poderoso inimigo. A notícia de que a série chega ao fim é um momento delicado para o espectador, pois, apesar de muitos terem sido conquistados pela qualidade da animação e suas sanguinolentas cenas de ação (de uma violência gráfica ímpar), o seriado (baseado nos jogos da Konami) sempre teve muito mais a oferecer, consolidando a sua posição como uma das melhores animações já produzidas pela Netflix. E, se por um lado há tristeza em dizer adeus ao anime, com seus personagens marcantes e a seu universo especial, por outro é possível celebrar uma conclusão de algo que se encerra em alto nível, investindo em suas virtudes para contornar (e superar) suas falhas eventuais. Afinal, pior do que um final, é um mal final. O que aqui, não é o caso.
 
 
Separados: Trevor Belmont e Sypha Belnades prosseguem em sua jornada lutando um dia de cada vez...

...enquanto Alucard está solitário e desiludido, à um passo do fundo do poço

 
A última temporada da série, criada e escrita por Warren Ellis (Red; Aposentados e Perigosos) e dirigida por Sam Deats (A King´s Tale: Final Fantasy XV) e Amanda Sitareh B. (Obtuary: A Grave Begning), recomeça seis semanas após o apoteótico final da terceira temporada, mostrando um clima de tensão, com a Wallachia entrando em colapso e mergulhada no caos pelo embate de várias facções. Algumas buscam tomar o controle e outras almejam trazer Drácula (voz Graham McTavish, de de Preacher) de volta do mundo dos mortos. Ali ninguém é quem parece ser ou pode ser confiável. 
 
Na Styria, Carmilla (Jaime Murray, de vermelho) traça planos, que Morana (Yasmine Al Massri, de amarelo), Lenore (Jessica Brown Finlay, de branco) e a gigante Striga (Ivana Milicevic) deverão executar
Lenore e o escravizado Hector (Theo James) até amadurecem o seu relacionamento
 
 
Trevor e Sypha (mais do que assumidos como casal) seguem de cidade em cidade caçando criaturas da noite e lidando com o fato de que muitas vezes os piores monstros são humanos. Eles continuam a enfrentar as repercussões de tudo que viveram e seguem em frente, embora seu relacionamento não fica imune, pois nesta jornada (que dura toda a temporada), além de ter de lidar com tudo o que encontram pela frente, precisam impedir o retorno de Drácula e sua esposa Lisa Tepes (voz de Emile Swallow, de O Mandaloriano), que continuam presos no inferno, como também encontrar um direcionamento para seu futuro. Alucard, por conta da desilusão que teve no final da temporada anterior (quando se abriu para Taka e Sumi, e foi traído) está caindo na melancolia. 
 
 
Striga e Morana questionam seus papéis neste novo mundo arquitetado por Carmilla

Impacto: Carmilla mostra num momento-chave que é bem mais do que apenas uma sedutora

 
Enquanto o trio está separado, na corte de Styria, Carmilla (Jaime Murray, de Defiance), embora supere a sua vocação de vilã megalomaníaca à lá Game of Thrones, segue com seus preparativos para o ousado plano de conquista da Europa. Ela delega as funções de campo para a gigante guerreira Striga (voz de Ivana Milicevic, de Banshee) e a cerebral Morana (voz de Yasmine Al Massri, de Quantico). Embora tenham surgido como figuras menores na corte de Carmilla, essas duas trouxeram complexidade ao núcleo, questionando o seu papel nos acontecimentos e tiveram um bom final de arco, ainda que aquém do que prometia. 
 
 

O forjador de criaturas da noite Isaac (Adetokumboh M´Cormack) retorna triunfal


Isaac fecha seu arco narrativo, reinventando-se e chegando a um entendimento com Hector

 
Temos até um amadurecimento (um tanto rápido é verdade) do relacionamento de Hector (voz de Theo James, da trilogia Divergente), que deixa de ser apenas um traidor arrependido, com Lenore (voz de Jessica Brown Finlay,  de Admirável Mundo Novo), que se revela mais do que apenas uma manipuladora gentil. É poética a cena final entre os dois, que parece um mix do final de 30 Dias de Noite (2007, de David Slade0 com Blade II: O Caçador de Vampiros (2002, de Guillermo del Toro). Em momentos como esse a bela música de Trevor Morris (Vikings) sabe cativar e embalar os fãs, reforçando o lugar de Castlevania em nossa memória afetiva. 
 
 
A direção de arte do anime continua um dos seus grandes trunfos, criando ambientações elegantes, grandiosas e funcionais...

... mas sem chamar demasiadamente atenção para si, se integrando organicamente na narrativa

Correndo por fora, Isaac (voz de Adetokumboh M´Cormack, de Diamante de Sangue) organiza suas forças e, por conta de suas experiências anteriores, pausa sua marcha por vingança. Ao permanecer na vila que invadiu na última temporada, ele encontra mais propósito em reconstruir do que em destruir, coroando de maneira bem feita a sua jornada. Essa mudança tem grande importância no seu destino e no de Hector, apontando para um novo rumo para as vidas dos dois forjadores.  

 

Alucard, inicialmente isolado no castelo de seu pai...

...se une à Greta (Marsha Thomason), líder dos Danesti, para defender sua aldeia contra as criaturas da noite


Temos personagens novos introduzidos à trama, sendo a maioria com pouco impacto ou carisma. Um dos destaques é Greta (voz de Marsha Thomason, de NCIS: Los Angeles), a líder dos Danesti, que luta pelo povo de sua vila contra os ataques das criaturas noturnas, fazendo par com Alucard. O vampiro Varney (voz de Malcolm McDowell, de Laranja Mecânica) possui bons momentos, embora sua trajetória pareça meio corrida, pois inicialmente é um personagem deixado meio de lado para só depois engrenar. Ratko (voz de Titus Welliver, de O Mandaloriano) e Dragan (voz de Matthew Waterson, de Halo: The Fall of Reach), outros vampiros novos, não são realmente trabalhados ao longo da temporada, fazendo apenas o que o roteiro precisa, não se tornando personagens de fato. E por fim, temos Zamfir (voz de Toks Olagundoye, de Castle), protetora de Targoviste que a todo custo procura salvar a corte subterrânea da cidade, revelando uma triste história de negação em face às adversidades. Sua caracterização, porém, não é suficiente para torná-la verdadeiramente relevante para a trama.

Quem retorna é Saint Germain ( Bill Nighy) e descobrimos mais sobre o seu passado e seu grande amor, relacionado...

... ao Corredor Infinito, passagem para diversas realidades no tempo, espaço e além que lhe cobrará um ato preço

Em determinado momento, Saint Germain (voz de Bill Nighy, das cineséries Piratas do Caribe e Anjos da Noite) reaparece, e descobrimos mais sobre seu passado e o que ele fez após suas aventuras com Trevor e Sypha. Focado em seu grande objetivo - o Corredor Infinito e a tentativa de usá-lo para reencontrar sua amada - irá pagar um alto preço. O seu dilema moral é o que realmente valoriza a sua participação na temporada. 


Varney (Malcolm McDowell): inicialmente apenas um vampiro falastrão, que se revela bem mais perigoso ao final

Trevor Belmont amadurece como homem e como herói, assumindo o legado de sua família

Os arcos narrativos da maioria dos personagens evoluíram, pois se tornaram tão importantes quanto o trio principal. Equilibrar as tramas de todos esses personagens se mostrou complicado, mas acrescentou camadas e peso dramático ao conjunto, embora, pela falta de tempo, algumas histórias tenham ficado pelo meio do caminho. Tantas tramas paralelas em andamento acabou se mostrando o ponto forte e o calcanhar de Aquiles de Castlevania

 

Desenho de Produção: O design do castelo de Drácula, continua dando incríveis fundos...

....mesclando o estilo gótico, com surrealismo e uns toques de M.C.Escher

A ambientação, criada pelo desenho de produção de Sam Deats, ainda é inspirada e as cenas de batalha continuam cinéticas, auxiliadas pela edição de Adam Deats (Henry Danger Motion Comic) e Keith Wahrer, que mantém o ritmo narrativo em constante movimento, mas no ritmo certo. Nem acelerando demais e nem diminuindo em função do que a trama pede.

 

Redenção: Ao abrigar e proteger os Danesti, Alucard encontra o senso de pertencimento que tanto faltava em sua vida

Casal: Trevor Belmont  e Sypha Belnades galgam o maior passo em sua jornada

Castlevania começou com problemas para organizar seus vários núcleos narrativos (muitas vezes errando ao longo do caminho). Mas, no cômputo final, existem mais motivos para elogios do que críticas. Nesta última temporada a equipe de produçãoo está no seu melhor, com o character design de Katie Silva (O Sangue de Zeus), Sam Deats, Lina Ngo (O Sangue de Zeus), Suzanne Sharp, Stephanie McCrea Rainosek (Independent Lens), Evgeny Lubaev (Seis Mãos), Adam Deats e Cindy Crowell (Red vs. Blue) trabalhando bem os personagens em suas características, permitindo que nunca os percamos de vista no meio da ação. O design de fundos de Daniel Araya, Bo Li, Sean Randolph (O Sangue de Zeus), José Vega (Trail of Ashes) e Stephen Stark trabalha bem as palhetas de cores , a luz e a atmosfera dos ambientes, com a habilidade que as equipes de animação da Powerhouse Animation Studios e da Tiger Animation já demonstraram nas temporadas anteriores. 

Fascinante, e até otimista, esse final grandioso garante que a série será lembrada com carinho, apesar de seus deslizes ocasionais. Embora não seja possível ignorá-los, existe um grande mérito em finalizar tudo de maneira coerente, equilibrando a narrativa com grandes momentos de ação e lutas sangrentas e incríveis.

 
Juntos somos mais fortes: Trevor Belmont, Alucard e Sypha Belnades enfrentam o desafio final, concluindo suas jornadas, para que se iniciam outras....

... pois muitos segredos ainda se encerram nas paredes do castelo do Conde Drácula...
 

São vários os sentimentos causados pelo fim e, com inegável satisfação, vemos uma boa resolução para esta história. É mais do que adequada a escolha do castelo do Drácula, pai de Alucard - o dono do palácio e seus arredores -, para o início desse novo começo para todos os sobreviventes. Quem acompanhou a jornada até aqui não pode perder o último capítulo, que traz uma boa surpresa para os fãs da série (ou mesmo dos games, que já somam mais de 30 jogos*1) ou das origens literárias do icônico antagonista, deixando a possibilidade de um novo cenário para essa história*2.

 

"- Foi um estranha jornada não???"


Notas:
 
*1: Ao total são 30 títulos de vidogames da franquai lançados desde 1986. Alguns com descendentes dos Belmont e outros com protagonistas sem laço de parentesco com os personagens originais, que encontram artefatos dos Belmont e saem para combater vampiros e monstros.
 
 *2: Foi anunciado que haverá uma nova série que ocorre dentro do universo de Castlevania, também produzida pela Netflix.