sexta-feira, 14 de maio de 2021

Pais & Filhos - Crítica: O Legado de Júpiter - 1ª Temporada

 

Tradição, Família e Tédio...

 
por Alexandre César


Série da Netflix tenta ousar, mas só se arrasta

 

Sheldon Sampson (Josh Duhamel com o facão) e seus companheiros de jornada Dr. Richard Conrad (David Julian Hirsch),seu irmão Walter (Bem Daniels), a repórter Grace Kennedy (Leslie Bibb), Fitz Small (Mike Wade) e seu amigo George Hutchence (Matt Lanter)

 

Após a perda dos heróis da Marvel, e o sucesso de The Umbrella Academy, a Netflix continuando no esforço de variar o seu acervo de séries de super-heróis, um tema em alta na atualidade, e costuma fazer bastante sucesso na TV (à cabo e aberta) de Supergirl, The Flash, personagens da DC Comics, e vendo o sucesso na concorrente Amazon Prime Video com a iconoclasta The Boys; a gigante do streaming fechou uma parceria com Mark Millar para adaptar suas histórias no formato de séries, sendo a primeira delas O Legado de Júpiter (originalmente lançado nos EUA entre abril de 2013 e janeiro de 2015 em cinco edições) uma saga escrita por Millar e desenhada por Frank Quitely, que teve um segundo volume (O Legado de Júpiter 2) também em cinco edições, lançado entre junho de 2016 e julho de 2017. 
 
 
O aristocrático George não duvida das visões de Sheldon, ao contrário de Walter e Grace

O messiânico Sheldon arrasta seu grupo à uma expedição em busca de uma ilha misteriosa


Criada por Steven S. DeKnight (Spartacus) e produzida por DeKnight, Lorenzo di Bonaventura (da cinesérie Transformers) e Dan McDermott (Alvo Humano) entre outros, a série acompanha Sheldon Sampson (Josh Duhamel de Transformers) ex-empresário que faliu devido à Grande Depressão*1, que arruinou os EUA, e os negócios da família, levando seu pai Chester Sampson (Richard Blackburn de O Conto da Aia) ao suicídio. Transtornado, Sheldon passa por maus bocados, sonhando com uma misteriosa ilha no Oceano Atlântico, que estaria chamando por ele. 
 
 
No geral, a adaptação do visual dos personagens foi fiel à essência, com poucas mudanças

 
Em 1932, pós alguns percalços, Sheldon consegue reunir aqueles que segundo suas visões, deveriam acompanhá-lo na expedição encabeçada por ele, atrás da misteriosa ilha. Seus companheiros de jornada são seu irmão mais velho Walter Sampson (Bem Daniels de The Crown); seu melhor amigo, o playboy George Hutchence (Matt Lanter de Timeless: Guardiões da História); a destemida repórter Grace Kennedy (Leslie Bibb de Homem de Ferro 2); Fitz Small (Mike Wade de For the People) filho de um de seus ex-empregados e, o Dr. Richard Conrad (David Julian Hirsch de Rosewood ), náufrago encontrado no meio do caminho da expedição. Ao longo da organização da expedição, fica claro, que Sheldon é uma figura messiânica a quem todos seguem cegamente e que deseja, mais do que qualquer outra coisa, resolver os gravíssimos problemas sociais e econômicas por que os EUA passavam na época em razão da Grande Depressão.
 
 
Anos depois, George Hutchence, o Skyfox deixa o grupo, virando o seu arqui-inimigo

O tempo passa: Grace se torna a maravilhosa  "Lady Liberdade" e se casa com Sheldon vira o invencível "Utópico" , e Walter, o "Onda Cerebral", liderando a "União"

 
Vencidos os obstáculos, o grupo recebe poderes especiais, tornando-os a primeira geração de heróis do mundo, também conhecida como a União, uma paródia dos heróis da Era de Ouro dos Quadrinhos*2: Sheldon Sampson vira o Utópico o “Superman” do grupo; Walter Sampson , o Onda Cerebral, com poderes mentais; Grace Kennedy, se torna a Lady Liberdade, uma “Mulher-Maravilha”; George Hutchence, se torna o Skyfox, o “Batman” da equipe; Fitz Small vira o Flare , e o Dr. Richard Conrad, vira o Raio Azul,e neste quesito os figurinos de Lizz Wolf (Creed II) trabalham bem o conceito de “uniformes de super-herói” (não tentando atualizar ou deixar funcional algo que conceitualmente é brega). Sheldon impõe ao grupo o Código, o conjunto de regras que os supers precisam seguir, tendo como principal mandamento dentre as regras é a proibição de tirar uma vida, independente das circunstâncias
 
 
A filha Chloe Sampson (Elena Kampouris) só quer saber de viver "la vida loca" com muita bebida, sexo casual e droga

Sheldon continua assombrado pelas dificuldades de manter o "Código" num mundo cada vez mais cínico
 
 
Um século depois da sua árdua vida salvando o mundo, e após uma cisão que levou Skyfox a tornar-se o arqui-inimigo do grupo, eles se deparam com um desafio para o qual não estavam preparados: Sheldon e Grace têm um casal de filhos mas, embora Brandon / Paradigma (Andrew Horton de A Maldição das Formigas Gigantes) se esforce, Chloe Sampson (Elena Kampouris de Sacred Lies) não está nem aí, sendo uma estrela porralouca milionária, que ganha dinheiro com a exploração de sua imagem, além de que e a maioria da nova geração de heróis, também são igualmente narcisistas. Embora muitos como Petra / Flare II (Tenika Davis de Meu Nome é Liberdade) filha de Fitz, e Gabriella / Neutrino (Humberly González de Orphan Black) queiram seguir os passos da velha guarda, Ruby Red (Gracie Dzienny de Bumblebee) e outros, possuem ideias bem diferentes do que um herói precisa fazer para salvar o dia, além de que outros como Janna / Ghost Bean (Kara Royster de Deus Me Adicionou), Jacinda / Shockwave (Jess Salgueiro de O Preço da Perfeição) Hutch (Ian Quinlan de Gotham) filho de Skyfox e Raikou (Anna Akana de Homem-Formiga) filha de Walter, não se interessam por essa visão “bom samaritano” do mundo, pouco se importando pelo uso de seus poderes para o bem e vivendo como astros de Hollywood em meio a esbórnias regadas à bebidas, sexo, drogas em geral, sendo isso que dita o caminho para as principais tramas da série.
 
 
Brandon Sampson, o "Paradigma" (Andrew Horton) tenta estar à altura dos valores do pai, mas se consome por suas dúvidas quanto ao valor real do "Código"
 

A caracterização do "Estrela Negra" (Tyler Mane) é um dos pontos positivos, apesar dos efeitos visuais medianos


 
Visualmente o desenho de produção de Frank Walsh (Perdidos no Espaço), a direção de arte de Patrick Banister (RoboCop), Scott Cobb (Messiah) e Michael Gowen (For All Mankind) e a decoração de sets de Jeffrey A. Melvin (A Forma da Água) lida com a familiaridade de conceitos, pois ao longo da temporada vemos diversos momentos de déjà vu, já que uma boa quantidade de elementos da cultura pop, como a “Jornada do Herói” que vemos em Star Wars, a ilha misteriosa de King Kong, onde a fotografia de Danny Ruhlmann (Messiah) e Nicole Hirsch Whitaker (Truth Be Told) junto com os efeitos visuais da Double Negative (DNEG) tem seus melhores momentos. Percebemos também o conceito de “quem vigia os vigilantes” que vemos em Watchmen, os herdeiros dos super-heróis traindo os ideias dos pais que vemos em Reino do Amanhã, o conflito entre heróis de Guerra Civil e por aí vai. O debate em torno deste tema tenta ser sério e complexo, não faltando oportunidades para vermos uma história interessante saindo deste impasse. O grande problema é que a série só apresenta bons argumentos para um dos lados, tentando reforçar o tempo todo que são estas as pessoas com razão ao mostrar exemplos durante todos os episódios, o outro lado insiste no mesmo argumento que, acaba se perdendo na discussão. 
 
 
Fitz Small vira o "Flare" e segue como herói até um combate o deixar tetraplégico

Anos depois, Petra / "Flare II" (Tenika Davis) a filha de Fitz é uma das poucas pessoas que tentam manter o legado do super-heroismo ético da geração anterior

Mas este é apenas um dos problemas na execução da série. Embora o ponto forte de O Legado de Júpiter esteja nos dias atuais, ao explorar a crescente cisão entre a primeira e a segunda geração de heróis, isso é constantemente interrompido por flashbacks looongos e entediantes, com muitas idas e vindas o tempo todo, que tornam a história entediante e até confusa em alguns momentos. A edição de Josh Beal (Locke & Key) Henk Van Eeghen (Watchmen) e Tirsa Hackshaw (O Justiceiro) tenta equilibrar o ritmo narrativo, mas o descompasso e roteiro e direção trava algo que poderia funcionar melhor caso fosse mais dinâmico e rápido. Esse aspecto até melhora ao longo dos episódios, mas muitas pessoas podem acabar desistindo da série por não se conectarem à narrativa. A música de Stephanie Economou (Manhunt) se mostra apenas funcional, não apresentando nenhum tema marcante que lembremos após assistir os episódios.
 
 
Os efeitos visuais ao longo da temporada variam entre o funcional e o legal, demonstrando um orçamento de nível médio

A mercenária Raikou (Anna Akana ) filha de Walter, não se interessam pelos planos do pai

 
 
Outro ponto negativo são as coreografias de lutas que não são inspiradas e o contraste da maquiagem. Enquanto o Estrela Negra (Tyler Mane de X-Men: O Filme) é um monstro convincente, a caracterização de envelhecimento de alguns personagens é destoante, parecendo gente nova com cabelo pintado de branco e rugas feitas com lápis de sobrancelha e base.

 

 Sheldon e Grace, tentam manter a unidade familiar, embora Walter, Chloe e Brandon não compartilhem da mesma visão de mundo

Ao final, Legado de Júpiter tenta aprofundar discussões de temas, como o luto, mas ao abordar de forma rasa e arrastada, acaba decepcionando. Infelizmente, o resultado acaba nos levando à conclusão de que acabamos de ver uma série do Warner Channel, produzido pela Netflix, mas que pensa ser da HBO...

As semelhanças do grupo com a "Liga da Justiça", são mais do que coincidência

 

 

Notas:
 

*1: A Grande Depressão, também conhecida como Crise de 1929, foi uma grande crise financeira que teve início em 1929, e que persistiu ao longo da década de 1930, terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial. A Grande Depressão é considerada o pior e o mais longo período de recessão econômica do sistema capitalista do século XX. Este período de depressão econômica causou altas taxas de desemprego, quedas drásticas do produto interno bruto de diversos países, bem como quedas drásticas na produção industrial, preços de ações, e em praticamente todo o medidor de atividade econômica, em diversos países no mundo. Fonte: wikipedia
 
 
 

*2: A Era de Ouro das histórias em quadrinhos americanas foi um período na história dos quadrinhos dos Estados Unidos, geralmente situado entre 1938 e meados dos anos 50 do século XX, durante o qual o estilo obteve grande popularidade. Nesse período não apenas foi inventado e definido o gênero dos super-heróis, com a estréia de alguns personagens mais conhecidos do gênero, como também foi criado o formato "comic book". Embora os quadrinhos já existissem no país antes de 1938, sua publicação se dava majoritariamente no formato de tiras de jornal.Fonte: wikipedia

 

 


"- Hoje em 'Casos de Família', no SBT..."



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