sexta-feira, 21 de maio de 2021

"Smalville" nórdica - Crítica - Séries: Ragnarok - 1ª Temporada


 

Disléxico, mas imortal...

 
por Alexandre César
(originalmente publicado em 9 de março de 2020)


Modesta série teen investe no subtexto mitológico

 

Thor e Loki: Os irmãos Magne (David Stakson) e Lautits Seier (Jonas Strand Gravli)...

 

Retornando à sua cidade natal após 10 anos Turid Seier (Henriette Steenstrup) natural de Edda, na Noruega, perdeu o marido nova e criou seus dois filhos Magne e Laurits sozinha sendo uma mulher meio perdida. Magne Seier (David Stakson), o filho mais velho, é um rapaz louro, grande e forte que usa óculos desde os dois anos jovem e sofre de dislexia e Laurits (Jonas Strand Gravli) o irmão mais novo é magro, pálido e de cabelos negros, sendo conflitante com Magne embora leal.
 
 
O velho caolho (Bjorn Sundquist) o "Pai de Todos"...

 
Logo no dia do seu retorno à Edda Magne ajuda um velho caolho (Bjorn Sundquist) De cadeira de rodas e Wenche (Eli Anne Golestad) a caixa do mercado local diz que ele é uma pessoa boa e lhe passa a mão na testa, e rapidamente Magne ganha sentidos aguçados, não precisando mais dos óculos e começa a sentir as mudanças climáticas, além de adquirir força e resistência desmedida e ainda sendo capaz de arremessar martelos a loongas distâncias.
 
 
Confronto: Vidar Jutul (Gísli Örn Garðarsson) reconhece em Magne um inimigo antigo.

 
Turid, sua mãe, trabalha na contabilidade de Vidar Jutul (Gísli Örn Garðarsson) chefe e dono das Indústrias Jutul, principal empregadora da cidade, acusado por Isolde (Ilva Theron Bjorkas) ativista ecológica (a mãe morreu de câncer) que se torna amiga de Magne que tenta provar a culpa das Indústrias Jutul pela poluição do fiordes. A sua morte trágica desencadeia no rapaz a busca por justiça entrando em rumo de colisão com o empresário, que é mais do que um mero mortal...
 
 
Ran Jutul (Synnøve Macody Lund) a bela matriarca da última família de Gigantes...


Criado pelo showrunner Adam Price e com direção de Mogens Hagedorn e Jannik Johansen, Ragnarok é a nova aposta da Netflix, sendo uma série teen norueguesa de baixo orçamento e pouco CGI, que narra o que seria o conflito final entre os deuses nórdicos (encarnados nos tempos atuais) com os gigantes, e lembra em seu desdobramentos Smallville, a série que mostrava a adolescência do futuro Homem de Aço, trocando o Kansas pelas belíssimas locações da cidade de Odda com seus fiordes, montanhas e florestas imponentes que e boa fotografia de Philippe Kress (Riviera) sabe valorizar plenamente.
 
 
Amor impossível: Magne gosta de Gry (Elma Bones) que gosta de Fjor...

 
A caracterização dos personagens é clara, percebendo-se logo na primeira sequência que Magne é Thor, Laurits é Loki, velho caolho é Odin, a caixa do mercado local, uma vidente norn. Trynn, o cão dos Jutul, na verdade é o lobo Fenrir. e por aí vai, sendo mencionado por Erik (Odd-Magnus-Williansom) pai de Isolde e prof. de História do colégio que Edda foi a última cidade da Noruega a abraçar o cristianismo, abdicando do culto aos velhos deuses, o que teria sido o primeiro Ragnarok (o fim do mundo a mitologia nórdica), ocupando Isolde em sua busca de justiça e defesa do meio ambiente, uma posição equivalente à do honrado Balder, cuja morte na mitologia desencadeou o Ragnarok. Visar e sua esposa Ran Jutul (Synnøve Macody Lund) que é a disciplinadora e forte diretora da escola, sua filha Saxa (Theresa Frostad Eggesbø), a "popular" da escola e Fjor (Herman Tømmeraas) o filho playboy, que olha os mortais como nada, são a última família de Gigantes, inimigos figadais dos Deuses que são os responsáveis pela devastação ambiental, o que leva a crer que devem existir mais Gigantes no mundo...
 
 
Laurits logo se enturma com a turma de Saxa Jutul (Theresa Frostad Eggesbø) a mais popular da escola...

 
O protagonista, por ser disléxico e tímido funciona melhor quando acompanhado, pois a sua natureza contida não permite grandes vôos dramáticos, ficando o contraste na reação da quem está com ele na ocasião como a ironia cínica de Laurits (que é gay, inclusive de travestindo numa cena), o temor materno de Turid, ou as reações de Gry (Elma Bones) colega de Magne e interesse amoroso dele, que tem problemas com o pai inválido por causa do trabalho nas Indústrias Jutul que lhe negam indenização. Sua doçura abala o coração de Fjor, fazendo-o questionar suas lealdades, tendo ele um ótimo diálogo com Vidar, que pega um machado e quer matar Magne porquê “- Ele é um deus, um inimigo! Antes deles os humanos nos veneravam!” ao que o filho replica: “É, mas agora você dirige um volvo e passa a noite jogado no sofá vendo filmes americanos, comendo doces!” lembrando alguns dos momentos de questionamento entre Lex e Lionel Luthor de Smallville.
 
 
Isolde (IlvaTheron Bjorkas) a ativista cuja morte desencadeia a série de eventos dramáticos...


 
Os valores de produção trabalham bem com o pequeno orçamento. Os figurinos de Tanja Eleonora Spang (Friheden) cria o contraste entre o mundo comum e ordinário dos mortais, mostrando a elegância dos Vidar (em especial Ran e Saxa) e os trajes convencionais, comprados em lojas, de Turid, Magne, Erik, Gry, indo na mesma direção o desenho de produção de Mette Rio (Happy Ending) nas residências simples dos Seier de Gry, Isolde, ou as dependências da escola, a lanchonete e o hospital da cidade, e de forma sutil o mundo mágico na mansão Jotunhein(lar dos gigantes do gelo na mitologia nórdica) dos Vidar com escadas sem corrimão, armas antigas decorando as paredes, móveis de madeira entalhada e uma mesa feita de um tronco sólido onde há uma cena definidora quando Ran tem uma queda de braço com Magne (que ela embebedou com hidromel) e a edição de Elin Pröjts (Friheden) Lars Wissing (Caçadora de Gigantes) e Mogens Hagedorn (Anna Pihl) dão o tom da revelação quando ele vê a face real da diretora, e depois, se vê no espelho como um guerreiro nórdico, sendo o clima sublinhado pela trilha musical de Halfdan E (Um Homem Um Tanto Gentil) colabora com o equilíbrio entre essas realidades, indo da música clássica de Wagner ao techno moderno do M83.
 
 
"-Esse Mjolnir pode ser comprado no Wall-Mart, mas servirá!!!"

 
 A primeira temporada se compõe de seis episódios de 45 minutos que apresentam o pano de fundo, devendo desenvolver mais os personagens e suas motivações na temporada seguinte, o que decepcionará alguns espectadores casuais, mais afeitos a uma ação direta e da pirotecnia explícita, mas que apresenta um potencial futuro. Esperemos que uma eventual segunda temporada (e com um maior orçamento para os efeitos visuais) permitam à série dar maiores vôos imaginativos nesta saga.
 
 
"-Chega de adereços!!! Eu quero um CGI  responsa!!!"

 
 

 

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