Disléxico, mas imortal...
por Alexandre César
(originalmente publicado em 9 de março de 2020)
Modesta série teen investe no subtexto mitológico
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Thor e Loki: Os irmãos Magne (David Stakson) e Lautits Seier (Jonas Strand Gravli)... |
Retornando à sua cidade natal após 10 anos Turid Seier (Henriette Steenstrup) natural de Edda, na Noruega, perdeu o marido nova e criou seus dois filhos Magne e Laurits sozinha sendo uma mulher meio perdida. Magne Seier (David Stakson),
o filho mais velho, é um rapaz louro, grande e forte que usa óculos
desde os dois anos jovem e sofre de dislexia e Laurits (Jonas Strand
Gravli) o irmão mais novo é magro, pálido e de cabelos negros, sendo
conflitante com Magne embora leal.
Logo no dia do seu retorno à Edda Magne
ajuda um velho caolho (Bjorn Sundquist) De cadeira de rodas e Wenche
(Eli Anne Golestad) a caixa do mercado local diz que ele é uma pessoa
boa e lhe passa a mão na testa, e rapidamente Magne ganha sentidos
aguçados, não precisando mais dos óculos e começa a sentir as mudanças
climáticas, além de adquirir força e resistência desmedida e ainda sendo
capaz de arremessar martelos a loongas distâncias.
Turid, sua mãe, trabalha na contabilidade de Vidar Jutul (Gísli Örn Garðarsson) chefe e dono das Indústrias Jutul,
principal empregadora da cidade, acusado por Isolde (Ilva Theron
Bjorkas) ativista ecológica (a mãe morreu de câncer) que se torna amiga
de Magne que tenta provar a culpa das Indústrias Jutul
pela poluição do fiordes. A sua morte trágica desencadeia no rapaz a
busca por justiça entrando em rumo de colisão com o empresário, que é
mais do que um mero mortal...
A caracterização dos personagens é clara, percebendo-se logo na primeira sequência que Magne é Thor, Laurits é Loki, velho caolho é Odin, a caixa do mercado local, uma vidente norn. Trynn,
o cão dos Jutul, na verdade é o lobo Fenrir. e por aí vai, sendo
mencionado por Erik (Odd-Magnus-Williansom) pai de Isolde e prof. de
História do colégio que Edda foi a última cidade da Noruega a abraçar o cristianismo, abdicando do culto aos velhos deuses, o que teria sido o primeiro Ragnarok (o
fim do mundo a mitologia nórdica), ocupando Isolde em sua busca de
justiça e defesa do meio ambiente, uma posição equivalente à do honrado Balder, cuja morte na mitologia desencadeou o Ragnarok.
Visar e sua esposa Ran Jutul (Synnøve Macody Lund) que é a
disciplinadora e forte diretora da escola, sua filha Saxa (Theresa
Frostad Eggesbø), a "popular" da escola e Fjor (Herman Tømmeraas) o
filho playboy, que olha os mortais como nada, são a última família de Gigantes, inimigos figadais dos Deuses que são os responsáveis pela devastação ambiental, o que leva a crer que devem existir mais Gigantes no mundo...
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Laurits logo se enturma com a turma de Saxa Jutul (Theresa Frostad Eggesbø) a mais popular da escola... |
O
protagonista, por ser disléxico e tímido funciona melhor quando
acompanhado, pois a sua natureza contida não permite grandes vôos
dramáticos, ficando o contraste na reação da quem está com ele na
ocasião como a ironia cínica de Laurits (que é gay, inclusive de
travestindo numa cena), o temor materno de Turid, ou as reações de Gry
(Elma Bones) colega de Magne e interesse amoroso dele, que tem problemas
com o pai inválido por causa do trabalho nas Indústrias Jutul que
lhe negam indenização. Sua doçura abala o coração de Fjor, fazendo-o
questionar suas lealdades, tendo ele um ótimo diálogo com Vidar, que
pega um machado e quer matar Magne porquê “- Ele é um deus, um inimigo! Antes deles os humanos nos veneravam!” ao
que o filho replica: “É, mas agora você dirige um volvo e passa a
noite jogado no sofá vendo filmes americanos, comendo doces!” lembrando
alguns dos momentos de questionamento entre Lex e Lionel Luthor de Smallville.
Os valores de produção trabalham bem com o pequeno orçamento. Os figurinos de Tanja Eleonora Spang (Friheden)
cria o contraste entre o mundo comum e ordinário dos mortais, mostrando
a elegância dos Vidar (em especial Ran e Saxa) e os trajes
convencionais, comprados em lojas, de Turid, Magne, Erik, Gry, indo na
mesma direção o desenho de produção de Mette Rio (Happy Ending)
nas residências simples dos Seier de Gry, Isolde, ou as dependências da
escola, a lanchonete e o hospital da cidade, e de forma sutil o mundo
mágico na mansão Jotunhein(lar
dos gigantes do gelo na mitologia nórdica) dos Vidar com escadas sem
corrimão, armas antigas decorando as paredes, móveis de madeira
entalhada e uma mesa feita de um tronco sólido onde há uma cena
definidora quando Ran tem uma queda de braço com Magne (que ela
embebedou com hidromel) e a edição de Elin Pröjts (Friheden) Lars Wissing (Caçadora de Gigantes) e Mogens Hagedorn (Anna Pihl)
dão o tom da revelação quando ele vê a face real da diretora, e depois,
se vê no espelho como um guerreiro nórdico, sendo o clima sublinhado
pela trilha musical de Halfdan E (Um Homem Um Tanto Gentil) colabora com o equilíbrio entre essas realidades, indo da música clássica de Wagner ao techno moderno do M83.
A
primeira temporada se compõe de seis episódios de 45 minutos que
apresentam o pano de fundo, devendo desenvolver mais os personagens e
suas motivações na temporada seguinte, o que decepcionará alguns
espectadores casuais, mais afeitos a uma ação direta e da pirotecnia
explícita, mas que apresenta um potencial futuro. Esperemos que uma
eventual segunda temporada (e com um maior orçamento para os efeitos
visuais) permitam à série dar maiores vôos imaginativos nesta saga.
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