O careca versus o dentuço...
"Sharknado 5". Tubarões voadores dignos da música de Arrigo Barnabé
Em 1975 as praias da ilha de Amity, balneário que tem como principal fonte de renda a fluência de banhistas de verão e dos turistas que curtem um banho de mar no feriadão do 4 de julho, foram tomadas de assalto por um terrível tubarão branco, no clássico filme que dominou as telas dos cinemas, imortalizou a partitura de John Williams e alçou ao olimpo dos diretores o jovem Steven Spielberg. Nossa forma de olhar o mar nunca mais foi a mesma depois de Tubarão e, até hoje, tudo que se refere aos seláquios de uma forma ou de outra acaba levando este filme em consideração, seja como homenagem, citação ou, na maioria dos casos, como a mais grosseira paródia ou piada.
Jonas Taylor (Jason Stathan): Tal qual seu homônimo da Bíblia, tem coisas inacabadas com um "animal marinho grande"
Depois dos “clássicos” de Anthony C. Ferrante (Sharknado 1,2.,3,4 & 5) e de Mega Shark vs Giant Octopus, Sharktopus vs Pterocuda, Mega Shark vs Crocosaurus, Mega Shark vs Mecha Shark , ou dos terríveis tubarões mutantes de 2, 3, 4, 5 e 6 cabeças, ou dos tubarões zumbis ou fantasmas - filmes produzidos às pencas pela Asylum ou pelo ou pelo Sci-Fi Chanel -, coube agora ao casca-grossa Jason Statham a missão de encarar a besta-fera das bestas-feras dos mares (aqui um monstruoso megalodonte pré-histórico de 25 metros) mostrando aos dentuços estúpidos que não há ser mais perigoso do que o humano.
DJ (Page Kennedy), Jaxx Herd (Ruby Rose), Suyin Minway (Li Bingbing), Jonas (Stathan) e “Mac” Mackreides (Cliff Curtis): Boa parte do elenco faz parte da contagem de corpos
Megatubarão (2018, de Jon Turteltaub) é a apaixonante defesa dessa “tese” que, com os grandes recursos de uma produção caprichada, um elenco descolado e uma direção que sabe que o tema não deve ser levado a sério (e que sabiamente não hesita em se auto depreciar quando possível), podemos ser brindados com o melhor filme-ruim-pipoca do ano. Acreditem. É uma deliciosa bobagem.
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Meiying Zhang (Sophia Cai) e o megalodonte: "-Olá menininha, vamos brincar de cadeia alimentar???" |
Escrito por Dean Georgaris, Jon & Erich Hoeber - baseado no livro Meg, de Steve Alten (que já conta com cinco romances adicionais) -, esta produção filmada na Nova Zelândia de Lorenzo di Bonaventura (da cinesérie Transformers) começa de maneira séria, mostrando o passado de Jonas Taylor (Statham, numa canastrice irresistível), mergulhador especializado em resgates em grandes profundidades que ficou meio desacreditado após um salvamento controverso. Ele se retirou para a Tailândia (que nem o Rambo), sendo chamado alguns anos depois para um novo resgate abaixo do fundo das Fossas Marianas, o local mais profundo dos oceanos. Em pesquisa no local, o Dr. Minway Zhang (Winston Chao) descobriu um ecossistema fechado abaixo do fundo da fossa, que não é feito de rocha, mas de uma densa camada térmica gelada que isola um bolsão de águas termais vulcânicas do resto do oceano. Lá, um submarino, pilotado pela sua ex-esposa Lori (Jessica McNamee), se acidentou ao esbarrar com um megalodonte que, lá no fundo, abaixo do fundo, não estão extintos. Ao fazer o resgate, se abre uma brecha momentânea nessa camada térmica permitindo ao monstruoso seláquio sair para variar o lanche com baleias, tubarões menores e... humanos, é claro.
Os "planadores" e todo o design tecnológico são bem elaborados
No mega-laboratório do Dr.Minway, financiado pelo bilionário Jack Morris (Rainn Wilson, o divertido babaca corporativo da vez), Jonas trava contato com os velhos amigos DJ (Page Kennedy, o alívio cômico, que, quando nervoso, parece falar em rap), James “Mac” Mackreides (Cliff Curtis, o gente-boa), Jaxx Herd (Ruby Rose, da série Orange is the New Black e futura Batwoman), Toshi (Masi Oka, de ), Toshi (Masi Oka, de Heroes e Hawaii 5-0) e o Dr. Heller (Robert Taylor), com quem ele tem coisas pendentes. A equipe é liderada pela bióloga marinha Suyin Minway (Li Bingbing, belíssima) que, juntamente com a sua filha de 8 anos Meiying (Sophia Cai, fofa, e grande trunfo do filme), criam grande empatia com o mergulhador. Juntos, eles protagonizam algumas das melhores sequências do filme, destilando um humor rápido e esperto (“meninas de oito anos escutam tudo!” é o seu bordão) e mostrando ótima química entre Statham e Bingbing.
Suyin (Bingbing) e Jonas (Statham): Boa química na tela, com diálogos espertos e divertidos
Muitos momentos emulam o clássico de Spielberg, adaptando às necessidades do roteiro as dimensões e as leis da física - seja quando o megalodonte vai aumentando a contagem dos corpos, seja quando a ação se transfere para a ilha de Hainan, o maior balneário da China. Falando nisso, neste filme a China é mostrada como uma potência econômica, com seus banhistas que curtem a vida na praia tirando selfies, paquerando via Whatsapp, fazendo casamentos em alto-mar etc. Vê-se que a China definitivamente aposentou mesmo aqueles modelitos do tio Mao Tsé-Tung! O filme claramente visa o imenso público chinês como alvo do filme. Aliás, a chinesa Bingbing é uma popular atriz e cantora por lá.
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Até a cena da gaiola do filme de Spielberg é reciclada |
O design de produção Grant Major (O Senhor Dos Anéis: O Retorno Do Rei) e o diretor de arte Kim Sinclair (Avatar) criaram um ótimo visual para o laboratório submarino de alta tecnologia, digno dos filmes de James Bond, bem como os “planadores” - mini submarinos individuais com cabine giroscópica, cujo design arrojado reedita em versão submarina o shape dos A-Wings de de Star Wars, numa agradável surpresa. A fotografia de Tom Stern valoriza bem a profundidade dos detalhes das sequências submarinas, bem com a riqueza cromática dos tons de azul, verde e os matizes de luz e sombras, realçados pelo 3D. A música de Harry Gregson-Williams é funcional, com bons arranjos mas nada que seja inesquecível.
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Algumas soluções encontradas para enfrentar o megalodonte são hilárias de tão toscas |
No mais, embora seja nítida a simpatia do elenco, transparecendo a camaradagem que deve ter rolado nos bastidores, o espetáculo é de Jason Statham. Ele está em ótima forma para os seus 51 anos, com seu “tanquinho” relembrando o tempo em que era membro do Esquadrão Nacional de Natação da Grã-Bretanha (competiu pela Inglaterra nos Jogos da Commonwealth de 1990 nas competições de mergulho de 10 metros, 3 metros e 1 metro) e brilhando como herói ridiculamente maior do que a vida. Tal qual o Capitão Ahab de Moby Dick, no clímax do filme sai no braço com o dentuço mostrando quem é que manda acima e embaixo d´água, fechando com chave de ouro este instantâneo clássico filme-ruim-pipoca. Michael Bay devia assistir e aprender, para introduzir momentos de respiro entre as intermináveis sequências de clímax nos filmes dos Transformers. A platéia agradeceria.
Observação: Esperamos até o final e não há nenhuma cena pós-créditos, por incrível que pareça.
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Parece um submarino, só que não... |
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