terça-feira, 11 de maio de 2021

Contagem de corpos - Crítica: Invencível - 1ª Temporada

 


Batendo cabeças...

 
por Alexandre César


 Animação da Prime Video começa com o pé direito

 

 
Os Guardiões Globais, semelhante a um "outro grupo dos maiores heróis da Terra"


Mark Grayson (voz de Steven Yeun de Okja), é um adolescente perfeitamente normal, que ama e adora seus pais Nolan (voz de J.K. Simmons da cinesérie Homem-Aranha) e Debie Grayson (voz de Sandra Oh de Grey´s Anatomy), cujas prioridades são terminar o Ensino Médio, arrumar uma namorada e descobrir o seu lugar no mundo, coisa normal, se levarmos em conta que desde os 7 anos, ele sabe que seu pai Nolan é secretamente Omni-Man, o equivalente do Superman em seu mundo, membro dos Guardiões Globais, grupo dos maiores heróis da Terra. Para sua preocupação, os heróis foram misteriosamente dizimados, tendo o seu pai como único sobrevivente, e ele sente a sombra de uma grande ameaça pairando sobre tudo e todos. Familiar não?
 
 
O poderoso "Omni-Man" é Nolan Grayson (J.K. Simmons)pai do jovem Mark (Steven Yeun),

 
 Quando notamos como as adaptações de quadrinhos sobre super-heróis tomaram o Cinema e a Televisão nos últimos anos, é fácil imaginar os elementos que tornaram o gênero reconhecível: Uma origem fantástica (e às vezes trágica), um traje legal e estiloso (pouco importando como ele conseguiu confeccioná-lo), poderes incríveis (que rendem momentos divertidos quando o herói ainda está aprendendo a controla-los) e, muito importante: Um vilão a ser vencido (com muito custo no fim da história para ter graça, pois a força do vilão define o valor do herói) pelo paladino da justiça. Mesmo que boa parte das HQs, filmes e séries não fujam dessa estrutura, Indo desde filmes e séries mais simples e clichês como as do Canal Warner, até obras focadas em construção de personagens e Universo mais… comuns, como o Universo Cinematográfico Marvel (que até originaram obras mais “maduras” na breve parceria Marvel/Netflix) se destacando justamente por imprimir uma identidade única em um tipo de história que pode ser tão previsível, chegando recentemente, em sátiras cômicas como Deadpool, ou dramáticas e gore como o iconoclasta The Boys ou ainda, abraçando a desconstrução do gênero, para se discutir criticamente questões relevantes do espectro sócio-político como Watchmen da HBO e assim, tal exposição tornou, o que era antes pontuais filmes/séries dentro do gênero, numa obsessão geral pela “próxima grande obra inovadora sobre super-heróis”.
 
 
Mark, já como "Invencível" faz amizade com "Eve Atômica" (Gillian Jacobs)

 
Chegamos então ao caso de Invencível, série animada do Amazon Prime Video baseada nos quadrinhos criados por Robert Kirkman (The Walking Dead) que inova ao mesclar em sua narrativa linear e inicialmente convencional, um estilo visual clean que emula as animações da virada dos anos 80/90 (cortesia do character design Zac Retz de Raya e o Último Dragão), com doses cavalares de violência gráfica que por chocar, marca, mas graças à sua história, que de forma inteligente constrói, mas não poupa seus personagens, e assim “assegura a sua parte neste latifúndio” das narrativas da turma dos collants por baixo das cuecas e capas.
 
 
A "Tropa Joven", grupo de Mark, é promovida a substituir os Guardiões Globais"

 
 
Assim, a história de Mark Grayson, filho adolescente do maior herói da Terra, decidido a seguir os passos de seu pai, para salvar o mundo como o herói Invencível, assume a clássica jor-nada de descoberta, intercalando comédia adolescente com tons de tragédia grega de forma atraente, com um frescor na adaptação do quadrinho da Image Comics, quebrando paradigmas e convenções na Nona Arte com o intuito de fazer um splash com a audiência, tal como The Walking Dead fez alguns anos atrás. Usando o herói-título como fio condutor, e deixando o caráter episódico da obra original de lado e unindo suas diferentes tramas em um grande emaranhado de causa e consequência, apresentando invasões alienígenas, ciborgues assassinos, super-equipes (Parodiando a Liga da Justiça, Novos Titâs entre outras), agências governamentais e até uma in-vestigação policial feita pelo detetive-demônio (parodiando Hellboy) Damien Darkblood (voz de Clancy Brown de Highlander) em um universo vivo que se conecta de maneira orgânica e cati-vante, apresentando Mark como um “Homem-Aranha com poderes do Superman” para dar a ele uma jornada que ecoa muito desses dois heróis, sem nunca parecer escorado no que veio antes.
 
 
O "detetive-demônio" Damien Darkblood (Clancy Brown) é um personagem intrigante

 
Além de passar por dilemas recorrentes (escola, namorada, esconder a dupla identidade, etc...) investindo tempo em mostrar como alguém super lida com as pressões e incertezas do início da vida adulta, a busca para corresponder ao legado do pai (que parece um J. Jonah Jameson marombado), a turbulência interna com a demora do ganho de poderes e a própria culpa/ressentimento em relação a si mesmo e a sua figura paterna, abrem muito bem o arco do protagonista, dinamizada pela edição de Scott Winlaw (A Fuga do Planeta Terra) e Mathew Sipple (Rick e Morty), seja abraçando a construção, ou a desconstrução, no desenvolvimento natural e na quebra de expectativa do rumo narrativo, tomando um caminho convencional (nos dramas de quase todos o episódios, que são bem clichês, mas clichês bem feitos), que é propositalmente rasgada ao final do primeiro episódio, quando há uma ruptura que muda o panorama das coisas. A partir daí, as homenagens deixam de ser o foco e a animação mostra a que veio, investindo em uma mitologia própria e narrativas que engajam de formas diferentes, quando não ocorre a violência desenfreada, que torna personagens cleans, em mera carne moída... 
 
 
Cecil Steadman (Walton Goggins), chefe da "Agência de Defesa Global" tem divergências com o "Omni-Man"

 
 O curioso é que a idealização de Kirkman quer homenagear o mito de super-heróis ao mesmo tempo que o satiriza, tirando sarro de clichês e apostando na violência para atrair parte da audiência (que certamente está cansada de heróis “limpinhos”) entregando um gore que serve à história, quebrando a expectativa do que se espera da ficção heroica sendo os momentos mais brutais e chocantes com um propósito que vai além da violência catártica da ficção, pois Invencível não é cínica ou iconoclasta e trata heróis com admiração apesar de tudo.
 
 
os "Gêmeos Mauler" (Kevin Michael Richardson) são adversários casca-grossa

 
 
Tecnicamente a animação merece elogios, principalmente nas sequências de batalhas. Esteticamente o desenho de produção de Wilson J. Tang (Poseidon, efeitos visuais) e a direção de arte de Edison Yan (O Príncipe Dragão) e Youngsoo Kim (Pokémon, Dep. de animação) refletem um “quê” de anos 2000, entre o cartunesco e o clássico, com uma fluidez em combate bela de se ver, com destaque nas sequências de vôo dos personagens, parecendo livres e seguros de si, com planos abertos e dinâmicos (refletindo o prazer que os super-heróis devem sentir ao exercer seus poderes. como voar, e ser livre e poderoso para punir aqueles que merecem) embalada por sua trilha musical de John Paesano (Penny Dredful: Cidade dos Anjos) que é animada, contagiante e bem expressiva, numa citação aos clássicos teens de John Hughes, onde a independência e a autonomia juvenil eram a tônica, além da dinâmica familiar ser bem divertida, com o drama adolescente romântico ganhando um bom espaço, embora o grande foco aqui seja homenagear o mito do super-herói, meio desgastado ultimamente.
 
 
Amber (Zazie Beetz) a namorada de Mark, sofreu uma reformulação, pois nos quadrinhos era a típica  mocinha loura

 
Com um bom elenco de personagens coadjuvantes como Cecil Steadman (voz de Walton Goggins de Tomb Raider: A Origem), o chefe da Agência de Defesa Global , divisão governamental que controla as atividades dos superseres. No time dos heróis temos Eve Atômica (voz de Gillian Jacobs de A Caixa), Rex Plosão (voz de Jason Mantzoukas de O Ditador), Dupli-Kate (voz de Melise de Casual), Sansão Negro (voz de Khary Payton de The Walking Dead), Garota-Monstro e Rae Encolhedora (voz de Grey Griffin de Bumblebee), e Robô (voz de Zaquary Quinto da cinesérie Star Trek) os membros da equipe Tropa Jovem. Atuando como os como vilões, se destacam os Gêmeos Mauler (voz de Kevin Michael Richardson de Justiça Jovem), Titâ (voz de Mahershala Ali de Alita: Anjo de Combate) e Face Mecânica (voz de Jefrey Donovan de Sicário: Dia do Soldado). Já no âmbito familiar, temos o melhor amigo William Clockwell (voz de Andrew Rannells de Um Pequeno Favor), Amber (voz de Zazie Beetz de Coringa) namorada de Mark e, Allen, o alien (voz do, também produtor, Seth Rogen de É o Fim) da Coalisão, uma aliança planetária. Do seu jeito, cada um dos personagens cativa o espectador, tendo personalidades bem definidas e ocupando bem o seu tempo de tela, alguns mais desenvolvidos do que outros, mas cada um funcionando no que lhes é proposto no roteiro.
 
 
"Allen, o alien" (Seth Rogen) da Coalisão promete ser um importante aliado para a temporada seguinte, que deverá ter proporções cósmicas

 
 Conciliando o respeito pelo passado e ousadia para criar novos elementos, Invencível uniu o melhor dos dois mundos ao equilibrar o idealismo dos clássicos e a sanguinolência moderna, garantindo já as temporadas 2 e 3 por sua boa performance, tornando-se já uma das mais importantes produções de heróis desta era dominada por collants, capas e cuecas por cima das malhas; e que a saga de Mark Grayson continue e, que ele consiga concluir o ensino médio...
 

 

"Vamos galera, afinco, pois vai ser difícil limpar todo esse sangue até amanhã..."


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