O Assombroso Multiverso!!!

Dr. Estranho de Sam Raimi traz o terror ao UCM.

As Muitas Faces da Lua

Spector, Grant, Cavaleiro da Lua, as múltiplas personalidades do avatar de Konshu.

Adeus, Mestre.

George Perez e sua fantástica trajetória.

Eu sou as sombras.

The Batman, de Matt Reeves, recria o universo sombrio do Homem-Morcego.

Ser legal não está com nada...Ou está?

Lobo, Tubarão, Aranha, Cobra, Piranha...Que medo!!! Mas eles querem mudar isso.

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Legal, mas... - Crítica - Filmes: O Rei Leão (2019)

 


"Digital "live action"


por Alexandre César 

(Originalmente postado em 21/ 07/ 2019)


 Remake da animação é tecnicamente impecável, e só...

 

Clássico imbatível: O original de 1994 e ses personagens inconfundíveis.

 
Em 1994 a Walt Disney Pictures entregava o 32° longa metragem de animação da casa, como prova da competência da gerência de Jefrey Katzemberg, que decidiu que o roteiro acrescentasse elementos que envolvessem a chegada da maturidade e da morte, e de suas experiências pessoais (dizendo sobre o filme: "É um pouco sobre mim mesmo" ). Dirigido por Roger Allers e Rob Minkoff,  O Rei Leão tornou-se um dos clássicos modernos da casa do camundongo, junto com A Pequena Sereia (1989), A Bela & A Fera (1991) e Alladim (1993) sendo um campeão absoluto, foi a maior bilheteria de 1994 e a segunda maior de todos os tempos, perdendo apenas para Jurassic Park - O Parque dos Dinossauros, e após o relançamento em 3D em 2011, chegou a 987 milhões de dólares em bilheterias ao redor do mundo, tornando-se a animação desenhada à mão de maior público e uma das maiores bilheterias da História do cinema. Seu sucesso levou a uma adaptação teatral na Broadway que está em cartaz desde 1997, ganhadora de 6 Tonys ( o maior prêmio do teatro musical), duas sequências feitas diretamente para o vídeo :  O Rei Leão 2: O Reino de Simba (1998) e O Rei Leão 3 – Hakuna Matata  (2004), e duas séries televisivas, Timão e Pumba (1995-1999) e A Guarda do Leão (no ar desde 2016) fora toda a sorte de bonecos, brinquedos e colecionáveis possíveis de se fazer.


O "DUELO" do ano: A expressão da animação versus a exatidão do fotorealismo...

 
Agora, passados 25 anos, a mesma Disney, no afã de criar uma nova legião de fãs para suas propriedades intelectuais e, visando fazer mais uma montanha de dinheiro segue com o processo iniciado com versões live-action ora revisitando como em Cinderela (2015), Mogli, O Menino-Lobo (2016),  A Bela e a Fera (2017), Aladdin (2019), ora reimaginando o conceito de seus personagens como  Alice no País das Maravilhas (2010) Malévola (2014) e Dumbo (2019) trazendo os personagens numa roupagem de carne osso e CGI, mais sintonizada com um público fã de Blockbusters mas não muito chegado à animações, nos entrega essa nova visão da saga de Simba, filho de Mufasa, O Rei Leão (2019).

O prólogo reproduz quadro-a-quadro a animação, de forma obssessiva...

 
 
Dirigido por Jon Favreau (Homem de Ferro I & II de 2008 e 2010, e o remake de Mogli de 2016) o filme é visualmente espetacular, fruto de seu incrível trabalho de computação gráfica e captura de movimentos, recriando a paisagem africana com texturas cores, iluminação, tal qual foi feito no pioneiro Dinossauro (2000) em que todo o ambiente, além de seus personagens era criado digitalmente, e o que se usava de referência real era capturada, manipulada e ajustada para o contexto planejado. Numa evolução monstruosa do conceito do scaneia- recorta-remonta-reajusta-e-cola, criando mundos únicos, críveis, com uma verossimilhança relacionada a habitats conhecidos mas não identificados como algo existente. A total imersão no fotorrealismo, tirando as liberdades necessárias para fazer os animais falarem tem o seu bônus, pela total imersão no prólogo de abertura que recria quadro a quadro a abertura da animação, com cada elemento traduzido para elementos “reais” mas tem o seu ônus no fato de que por mais espetacular que seja o trabalho, há uma certa esquizofrenia em querer ser visto como uma nova obra, e julgada por seus próprios méritos, mas se referenciar em 90% de seu tempo e conteúdo à versão pregressa, causando uma certa estranheza passado o deslumbramento inicial.


Um personagen, Dois momentos: Simba filhote e adulto.


A estratégia de promoção do filme, visando a indicação para o Oscar de Melhor filme e não, Melhor animação (porque aí competiria e, perderia para Toy Story 4) é comercializá-lo como “live-action” mas, se tudo é computação gráfica, independente da qualidade da película, caímos no território da contradição e do debate do "o que é real” ou, qual o filtro que se utiliza agora para categorizar o ”real”. Mas deixemos isso para os filósofos e doutores do conhecimento e vamos ao filme...


Beyoncé, que sempre foi uma gata, agora como Nala adulta, foi promovida à leoa...


A trama é a mesma, apenas ajustando as situações para os parâmetros do que o que seria um filme realista com animais como intérpretes, que fossem capazes de falar como nós humanos. Portanto os números musicais embora belíssimos, não tem aquele aspecto de musical da Broadway ao qual estamos habituados, em que o ambiente se recria teatralmente durante a música, fazendo mais uso da edição, dos cortes, aliado aos enquadramentos fotográficos e assim regular a velocidade narrativa, ora rápida, ora mais mansa, de acordo com a música e a melodia.


Simba e Zazu: O fiel serviçal e o príncipe levado...


No quesito de escalação de vozes (tivemos acesso à versão legendada!) ocorre um dado interessante e similar ao da versão teatral que é o uso de intérpretes afrodescendentes para a maior parte do elenco, ficando assim J.D. McCrary como o jovem Simba e Donald Glover (Perdido em Marte, Han Solo - Uma História Star Wars) como Simba na sua versão adulta, Chiwetel Ejiofor (2012, 12 Anos de Escravidão, Doutor Estranho) como Scar, Shahadi Wright Joseph como Nala filhote e Beyoncé Knowles-Carter como Nala adulta, Alfre Woodard (Luke Cage) como Sarabi, a mãe de Simba, John Kani (Pantera Negra) como Rafki, James Earl Jones (a voz de Darth Vader de Star Wars) novamente como Mufasa, Florence Kasumba como Shenzi, a líder das hienas, Eric André e Kegan-Michael Key como as outras Hienas; e como únicos caucasianos temos John Oliver como Zazu, Seth Rogen como Pumba e Billy Eichner como Timão.


Scar: Diferente e até mais sinistro que na animação...


Devemos observar no roteiro de Jeff Nathanson (Piratas do Caribe: A Vingança de SalazarIndiana Jones e O Reino da Caveira de Cristal ) um maior detalhamento na definição de alguns personagens como Scar, que com layout diferente do original (mas igualmente ou até mais) sinistro (na animação ele tinha uma juba negra, coisa muito rara entre os leões) e Sarabi, e deduzimos que a sua cicatriz foi decorrente de uma luta com Mufasa pela hegemonia do bando e pela disputa da fêmea que o perpetuasse (coisa bem comum entre animais), vindo daí o seu rancor.


Rafiki e Simba adulto: O mandril aqui não tem a postura "Sensei/ Mestre Yoda" do anterior.


Orçado em 250 milhões de dólares (sendo uma parcela significativa, o cachê de Beyoncé...) o filme foi inteiramente filmado em realidade virtual, com os profissionais executando todas as etapas da confecção do filme como o fariam no ambiente real, mas aqui, no ambiente digital, usando os óculos e luvas VR para interagir, posicionar ou alterar os elementos de cena, sendo um dos fatores para a grande verossimilhança do quadro geral o trabalho do diretor de fotografia Caleb Deschanel (Os Eleitos de 1983, A Paixão de Cristo de 2004) que define as palhetas de cor, luz, sombras, contraste, saturação e profundidade tal qual se a fotografia fosse feita no mundo real. A montagem de Mark Livoisi (O Diabo Veste Prada, Penetras Bons de Bico ) e Adam Gerstel (Além da Escuridão: Star Trek, Gigantes de Aço) estabelece o ritmo da narrativa fluidamente, ora acelerando nas cenas mais tensas, ora relaxando nos momentos mais tranquilos.


Trindade: O suricato, o leão e o facócero...


Hans Zimmer está de volta na trilha sonora, adaptando suas composições, hoje clássicas, ao atual gosto da plateia em termos de ritmo e melodia. Só não esperem Elton John cantando Circle of Life, agora cantado por Nants Ingonyama.


Simba, Pumbá e Timão: A lassidão do "Hakuna Matata"...


Quanto a dramaturgia, embora o trabalho de seus intérpretes seja correto, não há grande impacto em termos de empatia para com seus personagens além do esperado. Scar é um fascista que só quer usufruir ao máximo do poder, sem se importar com o impacto de suas ações na biosfera. Mufasa é um líder justo, severo, amoroso com os seus e zeloso de consumir só o necessário, Sarabi é uma mãe e rainha digna, serena e forte, Simba é o herói relutante, Nala a parceira fiel nas brincadeiras e mais tarde a companheira ideal, Zazu, o Típico mordomo/ diplomata inglês e Timão e Pumbá... são Timão e Pumbá. Ainda bem...


Scar & as hienas: Parceria de ocasião...


No cômputo final podemos dizer que a técnica é o aperfeiçoamento final e amadurecido do conceito de seriados como As Aventuras de Saturnino de Jean Tourane que usava animais amestrados como um patinho (o herói) e uma doninha (a vilã) e outros animais com carrinhos trajes e adereços dimensionados, dublados por atores, similar às aventuras do agente secreto Lancelot Link que usava chimpanzés como atores.


"As Aventuras de Saturnino" que passava no "Capitão Asa" usava animais reais com adereços em escala
 
 
As possibilidades faciais dos animais são limitadas em comparação à multiplicidade de expressões que os seres humanos são capazes, fora as limitações do treino e condicionamento dos mesmos para realizarem o que se espera para a cena, evitando maus-tratos e acidentes nos sets. Mas ainda sim, como os filmes da Pixar e da Dreamworks o mostram, as possibilidades da animação superam o fotorrealismo em explorar situações, expressões e dar vida ao que não encontraríamos no mundo real, tornando-o mais acessível à nossa identificação num maior grau de relacionamento. 



"Lancelot Link" Outro pioneiro no uso de animais como atores.

 
A garotada atual que não viu o filme de 1994 vai adorar esta versão, mas o dia que descobrirem a versão original, se tornarão fãs de carteirinha, e provavelmente daqui a 25 anos comemorarão o meio século da animação, lembrando vagamente que houve uma versão live-actionque alguns anos após levantar uma montanha de dinheiro para o estúdio, desbotou, ficando mais como um modismo datado.



"-Prevejo uma bilheteria bilionária, e indicações para o Oscar. O resto é meio nebuloso na minha visão..."