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Spector, Grant, Cavaleiro da Lua, as múltiplas personalidades do avatar de Konshu.

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George Perez e sua fantástica trajetória.

Eu sou as sombras.

The Batman, de Matt Reeves, recria o universo sombrio do Homem-Morcego.

Ser legal não está com nada...Ou está?

Lobo, Tubarão, Aranha, Cobra, Piranha...Que medo!!! Mas eles querem mudar isso.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Lembranças da minha infância... - Resenha: O Homem-Morcego & Eu

 




Eu, sob a Sombra do Quiróptero 

 por Alexandre César 

(Originalmente postada em 27 / 05 /2019)



 A vida entre os quadrinhos, cinema, tv e a realidade

#Batman83Anos

 


Em seus primórdios, antes de estrear o seriado de 1966, a Rede Globo chegou a passar o cine-seriado de 1943

 
 
As minhas memórias afetivas em relação ao Batman, remontam à época em que estreou na Rede Globo de Televisão o icônico seriado sessentista Batman, estrelado por Adam West e Burt Ward. Antes da estreia eu vi, no mesmo dia e na Rede Globo, o seriado das matinês de cinema de 1943, The Batman (com 15 episódios de 30 minutos cada, em preto e branco) da Columbia Pictures, com direção de Lambert Hilyer (A Filha de Drácula, de 1936) e tendo Lewis Wilson como Batman/Bruce Wayne, Douglas Croft como Robin/Dick Grayson, Alfred sendo interpretado por Willian Austin e a presença do grande vilão nipônico Dr. Daka, interpretado por J.Carrol Naish (que não era japonês). O vilão adorava criar crocodilos, alimentando-os com frangos, e algum ocasional desafeto. Batman e Robin tinham a grande missão de deter o Dr. Daka e desviar a carga de rádio que ele mantinha sobre Gotham City para robotizar as pessoas, escravizando-as. Shirley Patterson fazia Linda Page, assistente do Dr. Borden na Fundação da Cidade de Gotham e paixão de Bruce Wayne.
 
 

Fosse nas telas ou nos quadrinhos, a galeria de vilões do morcegão não tinha rival (com exceção da do Homem-Aranha)


Mas, voltando ao seriado televisivo da dupla dinâmica, eu lembro o quanto me marcou ainda menino, quando morava no subúrbio de Barros Filho, na cidade do Rio de Janeiro, junto com vários da minha geração. Vivíamos a Era de Ouro da aventura & ficção na TV quando, além do “Cruzado Embuçado”, tínhamos a Jornada nas Estrelas original, Além da Imaginação, Quinta Dimensão, os seriados de Irwin Allen (Perdidos no Espaço, Viagem ao Fundo do Mar, Túnel do Tempo, Terra de Gigantes), Bonanza, Os Invasores, Daniel Boone, as séries do gênero Supermarionation de Gerry Anderson (Supercarro, Fireball - XL5, Thunderbirds, Stingray, Capitão Escarlate, Joe 90), os desenhosdesanimadosda Marvel, entre tantas outras. Mas o Morcegão tinha um apelo ao qual nenhum garoto, tivesse ele oito ou oitenta anos, podia resistir, tornando-se uma febre mundial. Lembro que eu, sempre que era levado ao barbeiro, pedia que me cortassem o cabelo num  “penteado igual ao do Batman (seja lá o que fosse isso...). 


A "bat-corda" e os convidados famosos, eram uma das marcas registradas do seriado

 
 
Na época a transmissão ainda era em preto e branco, mas as aventuras (contraditoriamente diurnas) do paladino de Gothan City exalavam cores vivas mesmo na reprodução em tons de cinza das telinhas. Era algo à frente de seu tempo, transpirando, em meio ao seu apelo escapista e estilizado permeado por um humor “ingênuo”, uma inteligência e sátira social que somente muitos anos depois eu entenderia. Exatamente por isso nunca deixaria de amá-la. E ainda tinha aquela versão do batmóvel, que viria a se tornar o carro mais famoso do mundo.
 
 

Isto sim era um CARRO...


Aqueles eram os Anos de Chumbo, quando o Brasil vivia a Redentora”, o golpe de 1964. Quando os militares - aliados ao empresariado, aos setores conservadores da sociedade e até a CIA - mergulharam o país no estado de exceção sob o pretexto de salvá-lo do comunismo que ameaçava a democracia... Familiar, não? E eu, ainda criança, ouvia os adultos falando que “havia um perigo no ar”, que “se os subversivos viessem, iriam nos fazer prisioneiros, nos obrigar a alimentá-los e obedecer às suas ordens”.  
 
 


Uma realidade preto e branco fazia fundo aos coloridos episódios do herói

 
Lembro que uma vez cheguei a imaginar a minha casa tomada por um bando de soldados mal-encarados (que curiosamente não eram barbudos...), sentados na sala, comendo uma comida que a minha mãe havia sido obrigada a fazer para eles e - afronta maior - estavam vendo a nossa TV e torcendo para que, daquela vez, o Batman não escapasse da armadilha. Que o Coringa ou o Pinguim ou qualquer dos malfeitores de Gotham havia armado uma armadilha para liquidar a ele e ao Robin!!! Torcer para que o Batman morresse!?! O Batman!?! “COMUNISTAS MALDITOS!!! QUE MORRAM TODOS!!!”, pensava eu na minha inocência impúbere...




Para muitos, o "SOC!", "PAFF!", "KAPOW!" "SPLATT! foi real e nada divertido...



Fui crescendo e descobri os quadrinhos do Batman (desenhados por Dick Sprang e George Klein, entre outros artistas da Era de Ouro dos quadrinhos) publicados pela editora EBAL. As revistas eram impressas em preto e branco e eu adorava pintar com lápis de cor, até acertando às vezes no equilíbrio cromático (às vezes como disse...). 



Opps!!! Capuz rosa!?!


E assim, gradativamente, fui tomando conhecimento do conceito raiz do Batman e o quanto a versão televisiva era uma entre as várias interpretações que o personagem permitia. Sempre surpreendendo pelas diferentes abordagens dos seriados, filmes, animações... e nos quadrinhos, que era onde tudo começou. Fui entendendo que épocas diferentes, mídias diferentes, trazem interpretações diferentes de uma mesma ideia. Fosse como fosse, os anos passaram, o mundo mudou, eu mudei... e mudou o Batman, embora continuasse a ser o mesmo, pois, somente abraçando a mudança conseguimos continuar a ser nós mesmos.
 


Mulher-Gato (Julie Newmar): A perdição de toda uma geração de garotos e adolescentes...

Abracei os quadrinhos - além do cinema, TV, animação, arte e literatura no geral -, mas sempre reservei um canto para aquele morcego de Gotham dos anos 60 e o seu batmóvel. Tive como fetiche a Mulher-Gato (e a Jeannie é um Gênio) e curti de montão as piadas que faziam acerca da comentada relação dele com o menino-prodígio. Ri muito com a imortal criação de Jô Soares, o Capitão Gay, quadro que ele atuava com o humorista Eliezer Motta no programa global Viva o Gordo, brincando com o conceito do super-herói em geral e com a chamada Dupla Dinâmica em particular. Era a dupla Capitão Gay (Soares) e o seu parceiro Carlos Sueli (Motta), cujas identidades secretas eram respectivamente “o Comendador Gouveia” e o seu fiel secretário Leopoldo. Parodiaram inclusive a clássica sequência da subida no prédio com a “bat-corda”, tão comum no seriado sessentista.
 
 


Na terceira temporada surgiu a Batgirl (Yvonne Craig) para atrair as meninas, e os adultos babões...

 
Paralelo a isso, fiz a faculdade, conheci os mestres Neal Adams, Ernie Chan, Marshall Rogers, Frank Miller, entre outros, que moldaram o Paladino Noturno dos quadrinhos com várias tintas, num crescendo que, ao atingir um patamar de massa crítica, lançaram novamente o personagem ao topo da Cultura Pop. 
 


Carlos Suely (Eliezer Motta) e Capitão Gay (Jô Soares) a icônica dupla humorística que fêz muito sucessso no programa "Viva o Gordo"



Nos traços limpos e dinâmicos de Marshall Rogers o herói brilhou no final dos anos 1970

 
Foi quando vieram os filmes, de Tim Burton, de resultados e qualidades variáveis, tirando, para a maior parte do público, o personagem do ostracismo, apostando numa estética dark/expressionista, e que fizeram de Michael Keaton (escolha improvável, mas acertada) um astro. Esta fase culmina com o filme de Joel Schumacher, que carnavalizou a franquia com suas luzes de neon e apostaram em Val Kilmer e em George Clooney para o papel do Homem-Morcego, mas, seu tom exagerado perdeu o equilíbrio, levando o personagem a um hiato de oito anos nos cinemas.  
 

Michael Keaton no filme 1989, cuja escolha dividiu os fãs, mas o tempo provou ter sido acertada

Keaton e Pfeifer em "Batman - O Retorno" (1992) onde Tim Burton investiu mais nas tintas, num filme mais autoral
 
 
 
 
Paralelamente aos filmes de Burton, fomos contemplados com a presença marcante do personagem no campo da animação por Batman Animated Series, Liga da Justiça, Liga da Justiça Sem Limites e Batman do Futuro. Também tivemos jogos para Super Nintendo e posteriormente Playstation 1 (embora pessoalmente, eu nunca tenha sido ligado em games). 
 


Em "Batman Begins" (2005) Christopher Nolan e Christian Bale criaram uma encarnação hiper-realista do herói, marcando época e tornando-se referencial

Com isso, a década de 1990 foi quando o o Batman deixou definitivamente de ser um personagem das HQs para se tornar a figura mais icônica e reconhecível da Cultura Pop. Tudo fruto de um exército de talentosos colaboradores, muitos dos quais sem os devidos créditos, como Bill Finger, ao qual Bob Kane (que, por muito tempo, foi considerado o único criador do herói) deve muitíssimo do sucesso do personagem. Mas isso é o outro lado da moeda da indústria do entretenimento corporativo, onde muitas vezes a materialização do sonho implica na destruição da ilusão e no gerenciamento do pesadelo. 

 


Algumas das muitas interpretações do personagem nas inúmeras animações de que participou

 
Vieram depois os filmes de Christopher Nolan, investindo mais no realismo e crítica sócio-política e consagrando o Psicopata Americano Christian Bale como o mais realista Cavaleiro das Trevas. Depois veio a visão de Zack Snyder, com Ben Affleck como um Batman obsessivo e de saco cheio de combater o crime e não ver uma mudança significativa do quadro social. Uma visão que acabou dividindo opiniões. Mas, como sempre, o nosso querido Morcego se viu desafiado a cativar uma nova geração, reinventando-se, ou a retornar a um nicho restrito de admiradores. E como sempre, ele venceu!



Em "Batman X Superman: A Origem da Justiça" (2015) de Zack Snyder, foi a vez de Ben Afleck criar uma nova versão do campeão de Gothan, mais obsessivo e melancólico, calcado em Frank Miller


Batman é ao mesmo tempo a materialização da obsessão e da Síndrome do Sobrevivente, bem como a materialização do desejo de vingança mesclado com aspirações de buscar justiça com as próprias mãos regadas a altas doses de fetichismo, contrabalançado com um rígido código de ética. É a busca do bem maior tribal travestido de vigilantismo criminoso. Mas também é uma alegoria do poder, da superação individual face às adversidades da vida quando enfrentamos nossos medos e os fazemos trabalharem ao nosso favor, transformando o medo e a raiva no fogo e no martelo que forjam o aço da perseverança e da disciplina, que tornam meninos assustados em vencedores destemidos.  
 


Qual fã, seja de qualquer sexo, idade ou nicho social não quis ter pelo menos um boneco, dentre as milhares de versões disponíveis no mercado???
  
 
Mais do que um psicopata rico que sai a noite vestido de morcego para sublimar um desejo de vingança por uma perda que nunca será saciada, Batman representa a força da superação, coisa que percebemos na comparação com a sua contraparte solar: O Superman.



Passados mais de 30 anos, "O Cavaleiro das Trevas" de Frank Miller ainda permanece um dos pilares conceituais do personagem


As grandes histórias do Superman são histórias de dilema moral, pois o grande poder do Homem de Aço é a sua capacidade de distinguir o bem do mal. Já as grandes histórias do Batman são histórias de superação, quando, atingindo os seus limites através do seu preparo diligente, ele consegue galgar um novo patamar, mostrando que, ao contrário do que se pensa, o aço não é mais forte do que a carne que o maneja... Coisa que talvez nem os seus criadores tenham intuído conscientemente  
 
 
Eu, e o meu "cospobre" na crítica em vídeo de "O Batman" (2022)

 
E não percam nossas resenhas no youtube e nos acompanhe no face e instagram  BLOG dos 3 Velhos Nerds
nem sempre na mesma bat-hora mas com muita bat-disposição.
 


"- Amanhã será um outro bat-dia, e se der sol, pode dar praia, e... surf!!!"


 

domingo, 27 de fevereiro de 2022

O manto que se estendeu por todo o mundo - Resenha: Batman 83 anos

 

A Sombra do Morcego

 
por Alexandre César & Vinicius Marins
(Ampliação do texto original de 20/ 09/ 2019)

A criação de Bob Kane e Bil Finger tornou-se mito

 


Primeira idéia de Bob Kane sobre como seria o visual do novo herói... Louvado seja Bill Finger!!!

 

E novamente o Homem-morcego retorna aos cinemas neste ano de 2022 em uma nova produção. Com hype nas alturas, devido aos trailers instigantes que apresentam o personagem sombrio como nunca nas telas, vamos aproveitar para recapitular a rica trajetória de mais de 80 do personagem - tanto nos quadrinhos como em outras mídias. 
 
 

O filme "The Bat" (1926) tinha um criminoso que se vestia de morcego,usava um planador e, tinha um "sinal de morcego"...
 
 

A pedido do editor Vin Sullivan, Batman foi criado em 1939 pelo escritor Bil Finger e pelo artista Bob Kane, com a missão de repetir o sucesso do Superman, que surgira nas bancas de jornais no ano anterior. O novo herói foi publicado pela primeira vez na revista Detective Comics 27, de maio de 1939, originalmente com o nome "Bat-Man", e sua primeira história foi intitulada de The Case of the Chemical Syndicate. Ela seguia os parâmetros narrativos das revistas pulps da época.  
 

"The Bat" (1926): Eu não disse que tinha sinal?!?
 
 
Ele é conhecido por diversos epítetos, como "o Cruzado de Capa" (The Caped Crusader), "o Cavaleiro das Trevas" (The Dark Knight), e "o Maior Detetive do Mundo" (The World's Greatest Detective). Para alcançar todo esse prestígio, fatos históricos e acontecimentos inusitados ao longo dos anos cultivaram o caminho que os diversos criadores traçaram, desenvolvendo o personagem.
 


Bob Kane & Bill Finger: O oportunismo de um aliado ao talento do outro.

 
Os EUA emergiram como potência econômica após a Primeira Guerra Mundial. O american way of life se fortalecia com o aumento do consumo de carros, rádios e geladeiras, além de ampliar o acesso aos meios de diversão, como grandes teatros e cinemas luxuosos. Isso permitiu aos trabalhadores de salários mais baixos começarem a consumir um maior número de bens culturais - galpões improvisados exibiam filmes ao lado de grandes indústrias, por exemplo, captando a atenção dos trabalhares no final do expediente. Nessa época alguns aspectos culturais norte-americanos também ganhavam novas relevâncias, com a popularização do jazz e do blues. Os excessos dessa época teriam consequências graves com o a queda da Bolsa de Nova York em 1929. mas a crise não atingiu o cinema e outras expressões culturais populares, como teatro burlesco e o rádio. Estes ganharam força como mídias populares de baixo custo, atendendo à demanda das massas por diversão escapista em face à dura realidade de então. 
 


A icônica capa de Detective Comics 27 de maio de 1939 e uma das muitas de suas releituras feitas ao longo dos anos.

 
Na década seguinte a indústria dos quadrinhos norte-americana, passou por sua primeira grande transformação com o surgimento dos Comic Books de material inédito, as populares revistas em quadrinhos. Até então os quadrinhos que importavam eram os publicados em tiras de jornais e páginas dominicais dos periódicos de notícias. Entre os primeiros grandes e longevos personagens surgidos nessa nova safra está o Batman. Ele  é influenciado em sua gênese por outros personagens já existentes na cultura pop, como o Zorro e o Pimpinela Escalate (dos quais tirou a sua identidade secreta frívola), o Sombra (de onde veio os seus métodos justiceiros e sua proximidade com os representantes da polícia em sua identidade secreta), Fantasma (do qual tirou seu juramento de combate ao crime e seu esconderijo secreto) e Drácula (com seu apelo misterioso e assustador). Também tem importância filmes, como The Bat (1926, de Roland West), O Fantasma da Ópera (1925, de Rupert Julian) e O Homem que Ri (1928, de Paul Leni), que influenciaram em aspectos que definem o universo ficcional do Batman, como o seu visual emulando um morcego, a atmosfera gótica da cidade em que vive e o aspecto risonho e, ao mesmo tempo, assustador do seu grande arqui-inimigo: o Coringa.

A inspiração original de Bob Kane em Leonardo Da Vinci. Mas Bill Finger sugeriu que ele transformasse s asas numa capa ponteada


Batman é Bruce Wayne, um milionário americano que herdou uma rica herança e que, mesmo após a Crise de 1929, ainda é um dos homens mais ricos do país. É um Playboy, magnata de negócios, filantropo e dono da corporação Wayne Enterprises. Depois de testemunhar o assassinato dos seus pais por um ladrão quando ainda era criança, Bruce jurou vingança contra os criminosos em geral - um juramento moderado por um sentido próprio de justiça. Bruce treina então a si próprio, tanto física como intelectualmente, e cria o Batman, uma persona inspirada no morcego para combater o crime.  

O visual 1939 é um mais legais do personagem, tendo sido várias vezes reciclado


Batman opera na cidade fictícia de Gotham City - um reflexo distorcido e mais sombrio de Nova York, que tinha o apelido de Gotham City muito antes do Homem Morcego surgir no quadrinhos. Ele é ajudado em sua missão de justiça por outros personagens, como o seu mordomo Alfred Pennyworth, o comissário da policia James Gordon e Dick Grayson, o Robin, seu parceiro-mirim surgido em Detective Comics 38 (abril de 1940). As vendas da revista dobraram com a jovem novidade, que ajudou atenuar o seu ar sombrio.

Graças a Bill Finger, Batman virou um "Homem-Morcego".


Ao contrário de boa parte dos super-heróis, Batman não tem superpoderes. Na sua guerra contínua contra o crime, faz uso do seu intelecto de gênio, da sua perícia em artes marciais, da sua destreza física, das habilidades de detetive, do seu conhecimento em ciência e tecnologia, da sua riqueza, do medo e intimidação que instiga nos malfeitores e de uma vontade indomável de fazer justiça. 
 
 
Conrad Veidt como o personagem do filme "O Homem que Ri" (1928) de Paul Leni, serviu de inspiração para o Coringa

 

Uma grande variedade de vilões compõem a galeria de inimigos do Batman, incluindo seu arqui-inimigo Coringa, surgido no primeiro número da revista solo do herói em abril de 1940, juntamente com a Mulher-Gato. Até então suas aventuras eram publicadas na Detective Comics, a partir da edição 27. Inicialmente ela era uma revista de antologia, reunindo HQs de diversos personagens por edição, até a chegada do Homem-Morcego. Aos poucos ele toma conta do título, que continua a ser publicado com suas aventuras mesmo depois dele ganhar sua própria revista.
  


A "Bat-família" original, que teve personagens para lá de insólitos...


As histórias em quadrinhos do personagem eram, a princípio, mais sombrias, apresentando um Homem-Morcego diferente do que conhecemos hoje - inclusive ele não tinha objeção em matar seus inimigos ou portar armas de fogo. Contudo, elas foram reformuladas para que ficassem mais leves, já que, aos poucos, ficou claro para os editores que seu público na época era majoritariamente infanto-juvenil. Logo, surge o personagem Robin, o primeiro sidekick ou parceiro mirim de um super-herói nos quadrinhos. Robin era uma criança alegre e multicolorida, que quebrava o clima muito sombrio existente nas primeiras histórias do personagem. Ainda na década de 1940, definiu-se que a cidade e que o herói atuava era a fictícia Gotham City, para se permitir uma maior liberdade criativa, além de refletir sem limites o clima sombrio/noir de suas histórias. 


Embora vários artistas tenham colaborado, a maioria ficou anônima, oculta pelo selo "Criado por Bob Kane"

 
Pouco tempo após a sua primeira publicação, o morcegão tornou-se um dos pilares da National Periodical Publications, a futura DC Comics. Firmou-se como um dos vértices da Santíssima Trindade” da editora, junto com o Homem de Aço e a Princesa Amazona, entre outros “super deuses” da chamada Era de Ouro dos quadrinhos. No inicio de 1941, Batman e Robin juntam-se ao Superman e Zatara na nova HQ World's Best Comics, com histórias de vários personagens. Artistas como Jerry Robinson e Dick Sprang trabalham com os heróis na época. Inicialmente, porém, os heróis agiam em histórias separadas. Somente a partir de 1954 as histórias da revista retratavam aventuras de Batman e Superman atuando em conjunto. Eles atuaram com dupla pela primeira vez  na história "The Mightiest Team in the World", publicada em Superman 76 (junho de 1952). Os heróis descobrem suas identidades secretas e iniciam uma parceria de décadas, tornando-se conhecidos como "Os Melhores do Mundo".
 


A primeira aventura de Batman e Superman atuando como uma dupla. Arte de Win Mortimer
  
 
Em 1943, apenas quatro anos após ter surgido nas HQs, o Homem-Morcego debutava também nas telas em um seriado de 15 capítulos. Batizado como O Morcego, a cinesérie era dirigida por Lambert Hillyer e produzida pela Columbia Pictures, com Lewis Wilson como Batman/ Bruce Wayne e Douglas Croft como Robin/ Dick Grayson. A segunda cinesérie do Batman feita pelo mesmo estúdio é lançada em maio de 1949. No mesmo estilo de 1943, ela se denomina Batman and Robin e tem 15 capítulos em preto e branco, só que apresenta mudanças na direção, produção e até no elenco. Desta vez Batman foi interpretado por Robert Lowery e Robin por John Duncan. 
 


O logo do personagem na capa da primeira edição de sua revista solo. Com os anos sofreu várias mudanças, mas sempre derivadas do original

 
 
Com a década de 1950 e a Guerra Fria, onde Estados Unidos e a União Soviética se digladiavam por áreas de influência política e econômica. Surgiu um período de paranoia denominado Macartismo (seu expoente foi o senador Joseph McCarthy, líder de uma “caça às bruxas” nos EUA), que identificava complôs comunistas imaginários para minar o capitalismo e os bons costumes em todo lugar. Com este clima é publicado o livro A Sedução dos Inocentes, de Frederick Wertham, que combate as HQs, afirmado que elas são uma influência nefasta para
 as crianças. O mercado de quadrinhos foi um dos setores mais pressionado e influenciado pelo Macartismo. O movimento impôs que as HQs passassem a ser mais infantilizadas, simples, evitando qualquer assunto mais sério, polêmico, envolvendo grande violência terror  ou de cunho social.
 


"Batman e Robin", de 1949. O segundo seriado das matinês da Columbia Pictures com Robert Lowery como Batman e John Duncan como Robin

 
 
Foi nesse momento que surgiram personagens como Ace (o Bat-cão, que vai voltar a aparecer agora no longa de animação “DC Liga dos Superpets”, com lançamento previsto para maio deste ano), o Bat-mirim e, por causa das alegações de homossexualidade entre o herói e Robin, é criada a primeira versão da Batwoman em Detective Comics 233 (1956). E junto com ela, para não deixar dúvidas, surgiu a primeira versão da Batgirl - chamada de Bat-Girl - para tornar-se interesse amoroso do Robin. Curiosamente Batwoman seria reformulada na primeira década do século XXI como uma lésbica assumida, numa época de maior inclusão social e étnica nos quadrinhos. 




Ao contrário de Bil Finger, Bob Kane se deu muito bem com o personagem, fazendo um belo pé-de-meia

 
 
As aventuras do Morcego passaram a ser mais orientadas para a ficção científica - em parte também pela pressão criada pelo livro de Wertham, pois nelas não víamos as mazelas do mundo real. Mais tarde Batman aparece como membro da Liga da Justiça na estreia da equipe, em The Brave and the Bold 28 (fevereiro de 1960), na já estabelecida Era de Prata dos quadrinhos. 


 
A Mulher-Gato em seu uniforme original nos anos 1950

 
 
Com histórias em quadrinhos publicadas ininterruptamente desde maio de 1939, passando por várias revistas diferentes, Batman já teve aventuras criadas e desenhadas por muitos artistas. No entanto, alguns deles ganharam maior destaque e são sempre lembrados pelos fãs/leitores, ou mesmo pela crítica especializada. Seja devido à importância de determinada história clássica criada por eles, pela contribuição que tiveram enriquecendo o universo do personagem, ou até mesmo, simplesmente, pela grande quantidade de anos e histórias em que trabalharam com o herói. Este é o caso de seus criadores Bob Kane e Bill Finger, além de Dick Sprang, Jerry Robinson e Sheldon Moldoff
 
 
No final da "Era de Ouro" Batman já havia sofrido de tudo...


 Sofrendo com baixas vendas, Batman sofre uma reformulação em maio de 1964, quando o artista Carmine Infantino e o editor Julius Schwartz dão novo visual ao personagem - é quando surge a elipse amarela no peito, envolvendo o símbolo do morcego - e retornam com as histórias de detetive.  A reformulação de seu símbolo visava também facilitar e torná-lo mais facilmente identificável para seu uso em produtos de merchandising. 
 

Batman arco-irís na arte de Sheldon Mordoff: a fase pós "Sedução dos Inocentes" gerou histórias que eram "QUALQUER COISA"

 
Enquanto as décadas progrediam, o personagem foi passando pelas mãos de diversos artistas e foram surgindo divergências sobre a sua interpretação. Além disso, a popular série de televisão baseada no personagem (1966-69), estrelada por Adam West (Batman) e Burt Ward (Robin), usando uma estética camp, gerou a primeira batmania no mundo e influenciou bastante suas HQs naquela época - com isso, sua vendagem voltou a aumentar. Por exigência dos produtores do seriado, foi criada nos quadrinhos a segunda (e mais conhecida) versão da Batgirl: Bárbara, a filha do Comissário Gordon. A série também ressuscitou o personagem Alfred Pennyworth, que estava morto nos quadrinhos há algum tempo. Até hoje muitos associam o personagem a sua caraterização nesse seriado, mesmo após as profundas mudanças que ele passou desde então.
 

Batgirl (Ivone Craig), Robin (Burt Ward) e Batman (Adam West) no divertido seriado mais camp da história da TV...

Após uma nova queda da popularidade em consequência do encerramento da série de TV, diversos artistas que produziam suas HQs começaram a mudar o teor das histórias do Batman, procurando distanciá-lo daquele estilo pueril e até cômico. A ideia era um retorno das características sombrias dos velhos tempos, trazendo de volta os vilões assustadores e as ruas escuras e tenebrosas de Gotham à noite. Os primeiros a seguirem este caminho foram o roteirista Dennis O’Neil e o notável ilustrador Neal Adams - com a arte final de Dick Giordano -, na HQ "The Secret of the Waiting Graves" em Detective Comics 395 (Janeiro de 1970). A carreira de ambos autores ficou definitivamente marcada por essa passagem da dupla pelo título do morcego - Dennis inclusive se tornou na metade da década seguinte o editor de todos os títulos do personagem na DC. Nessa passagem da dupla pelo título, eles criaram personagens emblemáticos, como um de seus maiores inimigos: o terrorista virtualmente imortal R’as Al Ghul, além de sua filha e uma das grandes paixões do morcego, Talia Al Ghul (que, mais tarde, se tornaria mãe de seu filho). Outros artistas que muito contribuíram nesta época para esta sua versão mais séria e adulta do Batman foram Steve Engehart , Bob Haney, Marshall Rogers, Jim Aparo, Frank Robbins, Gene Colan e Ernie Chua.  
 
 
O seriado influiu diretamente nos quadrinhos por toda a década de 60 em tramas burlescas


 
Com o crescimento e amadurecimento dos personagens, Dick Grayson, o Robin original, se tornou adolescente e se distanciou de Batman, passando a se envolver mais em aventuras do seu próprio grupo juvenil de heróis, a Turma Titã (posteriormente conhecidos apenas como Titãs). Depois, ao tornar-se adulto, separou-se em definitivo da Dupla Dinâmica, assumindo a identidade de Asa Noturna. A decisão da separação também tem caráter editorial. Com Robin indo cursar universidade em outra cidade, sua ausência se justificava nas histórias do Morcego, deixando o ambiente propício para torná-las mais sombrias e reduzindo as insinuações sobre uma possível relação homossexual entre eles.
 
 
 
Neal Adams e seu traço realista aliado aos roteiros de Dennis O´Neil resgataram a aura sombria do personagem, voltando às suas origens


 
A década de 1980 nos trás um novo Robin: Jason Todd, criado em 1983 por Gerry Conway e Don Newton. Essa fase inicial do personagem, porém, é praticamente desconhecida por aqui, pois permanece inédita no Brasil. Após a clássica mega saga “Crise nas Infinitas Terras” (que falaremos mais a frente), a origem do personagem foi totalmente reformulada. Para os leitores brasileiros, foi aqui que o personagem surgiu. A nova versão tem uma boa acolhida inicial, mas acaba tendo grande rejeição por parte dos fãs. Com isso ele se torna alvo de uma estratégia de marketing inusitada da DC em 1988: um número de telefone é criado para que os leitores decidam se ele deve ou não morrer. No arco de histórias “Morte na Família" (Batman 426 a 429), com roteiro de Jim Starlin e ilustrações de Jim Aparo, Jason é morto pelas mãos do Coringa. Não tardou, porém, que um novo Robin surgisse: criado por Marv Wolfman e Pat Broderick, o jovem Tim Drake surgiu em 1989, na revista Batman 436, e teve um recepção mais acolhedora dos fãs.  
 
Marshal Rogers foi outro importante artista para o Vingador de Gotham


 Mas o grande marco do personagem nos anos 80 foi, sem dúvida as obras que Frank Miller elaborou para ele. O artista chegou após seu elogiado trabalho na concorrente Marvel, quando, escrevendo e desenhando, tirou a revista do Demolidor de um anunciado encerramento, transformando-o em um dos personagem mais populares da editora. 
 
 
 

Arte promocional de Jim Aparo para "Batman: Morte em Família"


 
A primeira das grandes obras dele com o morcego  foi Batman: O Cavaleiro das Trevas(Dark Knight Returns), mini-série que se passa em um futuro possível do Universo DC, publicada entre fevereiro e junho de 1986. Todas as mudanças no personagem traçadas por diversos autores desde a década anterior - deixando o personagem mais sombrio e realista, com suas histórias refletindo a crueza das ruas e problemas sociais da atualidade - atingem aqui o seu auge. A repercussão da obra vai além do nicho dos fãs de quadrinhos, sendo comentada e analisada em jornais e grandes veículos de comunicação por todo o mundo. 
 
 
Superman vs Batman: este confronto, depois de tantos anos de amizade, é o ponto alto de "Batman: O Cavaleiro das Trevas"


Com a reformulação que as HQs da DC passavam na época - depois do lançamento da maxi-série “Crise nas Infinitas Terras”, de Marv Wolfman e George Pérez - as origens dos principais personagens da editora foram reformuladas à partir do zero. Coube a Miller trazer suas ideias para as revistas de linha do personagem, dando o tom que, para muitos, ainda é a base na qual as histórias do morcego devem ser desenvolvidas. Assim surgiu o arco Batman: Ano Um, publicado nas edições da revista Batman” , entre fevereiro e maio de 1987. Desta vez Miller cuidou só dos roteiros e deixou a arte a cargo de David Mazzuchelli, que também cuidara das ilustrações de sua última e marcante passagem pela revista do Demolidor. A década ainda teve outros clássicos revisionistas imbatíveis do personagem, criados por autores britânicos: Batman: A Piada Mortal(1988), dos britânicos Alan Moore e Brian Bolland, e Batman: Asilo Arkham(1989), de Grant Morrison e Dave McKean. Estes trabalhos estão entre os marcos da década nos quadrinhos, num período que foi chamado por muitos de Era das Trevas.  

O Homem que virou Suco: "A Piada  Mortal"

 
 
Inicialmente muitos acharam que “Piada Mortal” não fosse canônico, mas a consequência mais trágica da história - Bárbara Gordon era perdido o movimento das pernas após ser atingida por um tiro disparado pelo Coringa - é mostrado nas páginas dos outros gibis da DC. Sem poder continuar agindo como Batgirl, ela assume uma nova identidade: Oráculo, uma das maiores hackers do mundo, que se torna um apoio imprescindível no mundo digital para Batman e diversos outros heróis. Ela inclusive cria a sua própria equipe de heroínas: o Aves de Rapina, do qual ela age como principal estrategista. Enquanto isso, outras garotas passaram a agir como a Batgirl. Ela só retoma o manto em 2011, quando volta a andar. 
 
 
Bane, "estalando" a coluna do morcego...

 
 
Em 1989, surge mais um surto de popularidade para o Cavaleiro das Trevas. Marcando os cinquenta anos de criação do personagem, Tim Burton dirige o longa-metragem Batman, com Michael Keaton no papel do herói e Jack Nicholson interpretando o Coringa. Sucesso, o filme gerou uma nova batmania mundial e ganharia três continuações que não obtiveram o mesmo retorno: Batman: O Retorno de 1992, novamente com Burton, Batman Eternamente, de 1995 e Batman & Robin, de 1997, ambos dirigidos por Joel Schumacher), Com o interesse pelo filme, surge uma nova revista periódica do herói - primeiro novo título regular com material inédito em quase 50 anos. “Legends of the Dark Knight”, por Dennis O'Neil e Ed Hannigan, vende perto de 1 milhão de exemplares.
 
 
"Batman: Ano Um": Uma nova e ainda atual origem. Arte de David Mazzucheli

 
Em 1992, Batman - A Série Animada estreia com enorme sucesso, tornando-se o melhor produto derivado do longa dirigido por Tim Burton - o tema de abertura é inclusive tirado da trilha sonora do filme, criada por Danny Elfman. A qualidade da animação, capitaneada por Bruce Timm, com roteiros e também produção de Paul Dini e Alan Burnett, empolga os fãs, apresentando um Batman analítico e inserido em uma Gotham City noir. Na série surge uma personagem pela qual os fãs do morcego se apaixonam: a Arlequina, que estabelece uma relação doentia com o Coringa. Curiosamente a personagem surge para atenuar outra possível relação homoerótica do morcego, desta vez com seu grande arqui-inimigo. O sucesso da Arlequina é tanto que não demora para ela ser incorporada aos quadrinhos e se transformar em um dos personagens mais populares da DC
 
 
Batman (Michael Keaton) e Vick Vale (Kim Basinger) no filme de Tim Burton de 1989

 

O seriado estabelece o seu próprio universo ficcional, dentro do qual também se situam as outras séries de animação que a mesma equipe elaborou com personagens do Universo DC: Superman, Liga da Justiça, Liga da Justiça Sem Limites, Super-Choque, Batman do Futuro e Projeto Zeta. Seguiram-se outras séries do morcego de outras produtoras - The Brave and the Bold, The Batman, Beware the Batman -, além de longas animados - que, a partir de um momento, criam sua própria cronologia -,  demonstrando o sucesso do personagem no gênero.  
 

Clássico imediato: Batman - A Série Animada

 
A década de 1990, a Era Image dos quadrinhos, também é marcada por grandes sagas do Batman, envolvendo diversos autores e várias revistas mensais interligadas - não apenas as protagonizadas pelo Batman mas também a outros personagens associados a ele, como Robin e Mulher-Gato, que tinham títulos próprios na ocasião. A primeira delas foi "A Queda do Morcego" (1993), em que o herói é derrotado por um novo vilão, Bane. Bruce fica paraplégico e é substituído no manto do morcego durante um tempo por Jean-Paul Valley, o Azrael, um polêmico vigilante criado pouco antes, em 1992, na minissérie “Batman: Sword of Azrael”, de Danny O’Neil e Joe Quesada.  Em 1998, os longos arcos seguidos "Terremoto" e "Terra de Ninguém" marcam o fim de uma era, com a saída de Dennis O'Neil do cargo de editor das publicações do Batman.
 

"Batman - A Série Animada" e seus derivados ajudaram a manter o legado do personagem em alta com histórias e um estilo dinâmico

 
Outros grandes destaques dos anos 1990 foram os trabalhos com o personagem elaborados pelo roteirista Jeph Loeb e seu colaborador frequente, o ilustrador Tim Sale. Eles criam no final da década de 1990 duas minisséries: Batman: O Longo Dia das Bruxas” e Batman: Vitória Sombria”. As HQs mostram o herói em seus primeiros dias como combatente do crime, mostrando o período de transição entre os gângsters clássicos e os vilões fantasiados e insanos. Loeb voltaria em 2008 a trabalhar com o personagem em uma grande saga, ao lado de Jim Lee, no arco de histórias Silêncio”. Um fato histórico do período foi o crossover DC vs Marvel / Marvel vs DC (1996), o sonhado e aguardado confronto entre os maiores super-heróis das duas editoras, onde Batman enfrentou e, graças a uma votação dos fãs, derrotou o Capitão América.  
 

No crossover das duas editoras o morcego levou vantagem sobre o herói patriota



O reconhecimento de Bill Finger

Após décadas de ter seu nome no ostracismo, a DC reconheceu o legado de Bill Finger, que escreveu e fez HQs do Batman por 25 anos, lhe deu origem verossímil, motivações, cenário, visual inovador, galeria de vilões (em parceria com outros autores) e simbologia. Foi apenas em 1965 que alguém se deu conta que tudo aquilo não deveria ter saído da mente de uma só pessoa: Bob Kane - sobretudo porque o Batman já colecionava revistas mensais desde os anos de 1940, fazia-se presente em várias títulos diferentes e outras mídias, como o cinema. Tudo começou quando um fã, Jerry Bails, escreveu para editora para saber mais sobre quem ajudava a compor o Batman. Na resposta informaram-lhe que um dos nomes era o de Bill Finger. Kane só veio assumir a importância de Bill na criação e desenvolvimento do personagem na década de 1990, na sua autobiografia “Batman & Me”, mas já era meio tarde pra isso: ele falecera em 1974.
 

Justiça feita: Fianalmente se reconhece a importância de Bill Finger na criação do icônico personagem
 
 
 
A única vez até então que Bill Finger viu-se atrelado diretamente ao nome Batman foi quando um dos seus roteiros, em co-autoria com Charles Sinclair, foi rodado na série de TV de 1966-1969. Finger só passou a ser creditado como co-criador do personagem após um longo tempo de trâmites processuais e os esforços de sua neta Athena, ajudada por figuras como Travis Langley ( autor do livro Batman and Psychology”). Finalmente, em 18 de setembro de 2015 , é publicada a notícia de que a DC/Warner iria reconhecer a ligação de Bill Finger à sua obra a partir do filme Batman vs Superman: A Origem da Justiça e da série de TV Gotham.
 

O conceito de Batman de Finger (Esq.) e o conceito original de Kane (Dir.). Qual realmente é um "Homem-Morcego"?


 
O Morcego no Século XXI

Vários artistas deram a sua contribuição para fazer de Batman o que ele é hoje. Qual é o seu preferido?

 
Em 2005, franquia Batman ganha um reboot nos cinemas pelas mãos de Christopher Nolan. É lançado em 2005 Batman Beguins, seguido por Batman O Cavaleiro das Trevas (2008) e Batman O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012), criando uma trilogia focada no realismo e nos dilemas do herói. Entre as inspirações para a trama há ideias das HQs Batman: Ano Um”, “O Longo Dia das Bruxas”, “Cavaleiro das Trevas” e “A Morte do Morcego”, mas tornando-as algo novo e independente dos quadrinhos. O destaque da trilogia é a atuação surpreendente e visceral de Heath Ledger no papel do Coringa, mas maníaco que nunca na tela grande. Sua interpretação ganhou o Oscar e o Globo de Ouro póstumo de Melhor Ator Coadjuvante em 2009 - o ator morreu alguns dias antes das premiações em decorrência de uso excessivo dos remédios que tomava.
 

Na trilogia de Nolan Christian Bale levou o herói a novos patamares.


 No mesmo periodo, Jogos com o personagem com roteiros originais para SuperNintendo e posteriormente Playstation, são lançados e mexem com o mercado - Batman: Arkhan Asylum (2009), Batman: Arkhan City (2011) e Batman: Arkham Knight (2015), provando que jogos baseados em grandes propriedades intelectuais podem ser excelentes se desvinculados dos lançamentos cinematográficos. Posteriormente o game Injustice: Gods among Us, e seus derivados mantém o apelo do personagem, e dos heróis da DC no geral, para o público gamer

Na série de games "Arkhan" o herói enfrentou inúmeros desafios.

 
 
Nos quadrinhos, o roteirista Grant Morrison voltou ao personagem assumindo seu principal título mensal em 2006, criando novos e icônicos vilões (como o Professor Porko e a sociedade secreta da Luva Negra), além de trazer de volta temas abandonados dos anos 1950, como a ficção científica e as versões do Batman de outros países, e personagens esquecidos que, até então, não faziam parte da atual cronologia do herói, como a Batwoman original. A grande surpresa porém está no fato de que tem um filho com Talia Al Ghul: Damian Wayne. Criado para ser o sucessor de seu avô, R’as Al Ghul, Damian é uma verdadeira arma viva, apesar de ainda ser uma criança. Deixado pela mãe aos cuidados de Batman, o garoto precisa mudar seu modo de pensar e encarar o mundo com outros olhos. A ideia de um filho de Batman com Tália já havia sido apresentada em 1987, na Graphic novel “O Filho do Demônio”, escrita por Mike W. Barr e desenhada por Jerry BinghamMas Danny O’Neil, então editor das HQs do Batman, tratou na época de deixar claro que a história não fazia parte da cronologia do personagem. 
 

"Batman: R.I.P." : Quando Grant Morrison tentou "despachar" o morcego



Morrison chegou até a anunciar a morte do Homem-Morcego com um arco intitulado "Batman: R.I.P." (2008), mas, passando a perna no público leitor, termina a saga com ele vivo e o mata logo depois em “Crise Final”, a megasaga com todos os heróis da DC que escrevia em paralelo na época. Com a morte de Bruce, Dick Grayson tornou-se o novo Batman, e o jovem Demian assume o manto do Robin, criando uma nova Dupla Dinâmica que, ao contrário do que a maioria acreditava, caiu no agrado dos fãs. O antigo Robin, Tim Drake, passou a agir de forma mais independente, mudou de uniforme e assumiu o nome de Robin Vermelho. 
 
 
Marrentinho: Damian Wayne ofilho do Batman que caiu no gosto do fandom


 

Não demorou para Bruce voltar da morte e ocupar seu lugar, mas Damian continuou a usar o manto de Robin, mesmo após a saída de Morrison do título. Damian chegou a ser morto por Morrison antes de sua saída, mas sua popularidade não permitiu que ele ficasse assim por muito tempo: a editora logo tratou de ressuscitá-lo.
 
 

Sinal dos tempos: Batman e... Sinal?

 
 
Pouco antes da passagem do Morrison surgiu Stephanie Brown, a jovem criada por Chuck Dixon e Tom Lyle que teve uma curta e conturbada carreira como Robin. Nos quadrinhos ela foi a segunda garota a assumir o manto de parceiro do Batman. A primeira foi Carrie Kelley no futuro alternativo de “Cavaleiro das Trevas”, de Frank Miller. Filha de um dos inimigos do Batman de segundo escalão, o Mestre das Pistas, Stephanie inicialmente criou sua própria identidade heróica - a Salteadora -, que usou para prender o próprio pai ao lado do Robin - na época, ainda Tim Drake. Quando o pai deste descobriu suas atividades secretas e o proibiu de prosseguir com elas, Stephanie pediu ao Batman para substituí-lo no cargo. Ele aceitou, mas se arrependeu pouco depois por considerá-la insubordinada. Ela, porém, continuou agindo sem seu consentimento e, ao tentar provar sua qualidade para ser uma Robin, acabou desencadeando uma guerra de gangues que causou o caos em Gotham City e a tirou de circulação por um tempo. Mais tarde ela assumiu o manto da Batgirl e depois voltou a atuar como Salteadora. 
 
 
História de sucesso:  "Batman & Robin Eternos"


 
O último autor a passar um longo período no principal título do Batman, deixando sua marca com drásticas alterações e criando novos e instigantes conceitos e personagens, é Scott Snyder. Ele assume o título principal do Homem-Morcego em janeiro de 2011, com o início da fase da DC chamada de Novos 52, quando, mais uma vez, os personagens tem a chance de ter suas histórias recontadas do zero. Entre suas criações para a mitologia do Batman está James Jr. - o filho psicopata do Comissário Gordon, que havia sido criado lá atrás, no lendário arco “Batman: Ano Um”, de Frank Miller, mas que tinha sido ignorado pela editora e pelos criadores desde então. Ele se torna o  arqui-inimigo da Batgirl. 
 

Ameaça Ancestral: A Corte das Corujas existe desde os primórdios de Gothan, influindo em seu destino


Snyder também criou a Corte das Corujas - uma sociedade secreta que controla Gotham por baixo dos panos há décadas - e foi o responsável por diversas longas sagas com o morcego, marcando a passagem dos 75 anos de sua criação. “Batman: Ano Zero” é uma delas: uma ousada história que reconta a origem do herói deixando de lado a idolatrada versão de Frank Miller nos anos 80. A história parece ser sido uma das bases para o novo filme do personagem, colocando o Charada como principal vilão. Fez também as sagas semanais “Batman Eterno” e “Batman e Robin Eternos”, em que esmiúça a cidade de Gotham City, todos principais personagens secundários e trás de volta diversos outros que pareciam fadados ao esquecimento, como o Diácono Blackfire - o vilão que só havia aparecido em outra minissérie dos anos 80: “O Messias”, de Jim Starlin e Bernie Wrightson. Mas a saga mais ousada e que gerou mais repercussões para a cronologia da DC foi “Noites das Trevas: Metal”, desenhada por Greg Capullo, seu mais constante companheiro em sua longa passagem pelas HQs do Batman. Publicada em 2017, ela apresenta o conceito do multiverso dark com diversas versões malignas do Batman espalhadas por várias novas realidades. Dessas versões, a que se tornou icônica é o Batman que Ri - uma mistura insana de Batman com Coringa dotada de poderes divinos, que teve depois seu próprio título e já consta em diversos games. A saga continuou em outra minissérie em 2020: “Noite das Trevas: Death Metal”, concebida pelos mesmos autores. 
 
 
 
Parece um cenobita, mas... : "Batman que Ri"

 

Outro momento marcante do personagem na década ocorre em uma revelação que Batman tem em 2016 durante a saga “Guerra de Darkseid” no título da Liga da Justiça, escrito por Geoff Johns. Por um breve período o morcego controlou a Poltrona Mobius, um artefato que fornece o conhecimento total sobre quase tudo, e ela lhe revela que na verdade existem três Coringas. Este fato, porém, só é explicado para os leitores em 2020, quando a DC lança a minissérie “Três Coringas”, escrita pelo próprio Johns e ilustrada por Jason Fabok. Um Coringa é responsável pela criação dos outros dois na busca de uma versão perfeita de si mesmo como antagonista definitivo do Batman. E eles ainda estão nesta busca. 
 
 
Trindade mortal: “Três Coringas”, de Geoff Johns, ilustrada por Jason Fabok.


Quem está cuidando do Batman na década em que estamos é o premiado Tom King e já podemos afirmar que também não será uma passagem discreta. King transforma Bane novamente em um vilão de primeira grandeza - condição que ele só teve de verdade em sua estreia, na já mencionada saga “Queda do Morcego”. Batman está mais humano e propenso a erros, além de deixar de lado o conceito de Robin como parceiro, substituindo por um outro tipo de ajudante, com nome e propósito diferente: trata-se de Duke Thomas, um jovem negro que assume o codinome de Sinal. Ele tem superpoderes e atua durante o dia, durante o período em que, no geral, Batman não está na área. Batman já tinha tido uma parceira antes, na fase de Snyder, que não assumira o manto do Robin: Harper Row, que escolheu o nome de Pássaro Azul. Mas ela logo abandonou o codinome e o uniforme, passando a agir dando apoio ao morcego em sua identidade comum. 

Como os anos 20 estão no começo, deixemos para falar mais sobre ele em outra  ocasião. 

Gotham


 
Criada por Bruno Heller (Roma) Gothan lança um outro olhar sobre a mitologia do herói

 
Em 2014 o canal FOX começa a exibir um novo seriado baseado no Homem-Morcego e em sua mitologia: Gotham. O foco do seriado, porém, não está em Batman e suas aventuras para defender sua cidade, mas no passado, tendo como protagonista é jovem James Gordon, então apenas um detetive da polícia, interpretado por Ben McKenzie. Bruce Wayne está lá (com David Mazouz assumindo o papel), mas ainda é o garoto que acabou de perder os pais e se encontra início de sua trajetória para lidar com seu trauma e descobrir o que fazer para compensar a sua perda. Inicialmente a série focaria nos crimes da cidade antes do surgimento de seu maior defensor, mas cada vez mais foi dado espaço para a aparição de tradicionais vilões do Batman, que agiriam ainda sem que usassem seus uniformes, mostrando também a sua formação. O desenrolar das temporadas torna a série cada vez mais distante das HQs em que se baseia, com supervilões do Batman surgindo, agindo e até morrendo, antes mesmo de Bruce assumir seu papel de vigilante noturno. O seriado se encerrou este ano, 2019, com sua quinta temporada. 
 

Bruce Wayne (David Mazouz) e James Gordon (Ben McKenzie): O início da lenda


Em 2015, o cineasta Zack Snyder (não confundir com Scott), que estava procurando estabelecer um Universo Cinematográfico da DC, deu a sua visão para o Homem-Morcego em Batman vs Superman: A Origem da Justiça, com Ben Affleck interpretando o herói obsessivo e já cansado, inspirado no Cavaleiro das Trevas de Frank Miller. Ele repetiu a dose em Liga da Justiça (2017, também de Zack). O personagem interpretado por Affleck ainda faz uma ponta no primeiro filme do Esquadrão Suicida (2016, de David Ayer).

Ben Afleck, Gal Gadot e Henry Cavil. Peitando o Universo Cinematográfico Marvel


Inicialmente um ícone cultural americano, Batman já foi licenciado e adaptado para uma grande variedade de mídias - desde o rádio, à televisão e aos filmes - e aparece em vários artigos de consumo por todo o mundo, como brinquedos e video games. O personagem tem intrigado os psiquiatras, com muitos tentando entender a sua psiquê. Em Maio de 2011, o IGN colocou Batman em segundo lugar, atrás apenas do Superman, no Top dos "100 Melhores Heróis dos Quadrinhos". É a mesma posição que ocupa na revista Empire em sua lista dos "50 Melhores Personagens dos Quadrinhos", mostrando o quão arquetípico o personagem tornou-se, rompendo barreiras culturais e idiomáticas, lançando a sombra de seu manto sobre todo o globo. Com toda essa popularidade, talvez tenhamos agora uma outra Batmania deflagrada pelo novo filme de Matt Reeves, protagonizado por Robert Pattinson. Preparem os bolsos!! 


As várias encarnações nas telas do paladino de Gothan  ao longo dos anos. Escolha o seu Batman

Agora é a vez de Robert Pattinson encarnar o personagem numa nova e polêmica leitura do personagem

Façam as suas apostas!!!