domingo, 13 de fevereiro de 2022

"The Jennifer Lopez Reality Show" - Crítica – Filmes: Case Comigo (2022)

 

Dois opostos complementares

por Ronald Lima


Jennifer Lopez e Owen Wilson brilham em comédia romântica divertida e eficiente



Jennifer Lopez em 2019 no lançamento do single "Medicine" já deixou o aviso que um próximo álbum estaria por vir junto a um provável filme, na esteira da expectativa (que ela criou é evidente) ainda em 2019, J-Lo participa de um show no Madison Square Garden ao lado do músico pop star colombiano Maluma - Anitta!? ex-Anitta? Deixa pra lá porque esse filme terá por base justamente esses relacionamentos voláteis do show business. 
Maluma durante esse show fica oficialmente escalado para interpretar o noivo de Lopez nessa próxima película, show por sinal incluso no filme.
E assim Jennifer Lopez realiza uma dupla investida no mundo POP com o lançamento da comédia romântica: Marry Me e a trilha sonora com 12 faixas.
 
 
 
Sertanejo Universitário? Esse show de Maluma com uma participação especial de J-Lo de fato ocorreu e está no filme

 
O roteiro de Marry Me é baseado em um quadrinho de mesmo título publicado em webcomic, escrito por Bobby Crosby e desenhos de Remy Eisu Mokhtar, narra a história onde uma estrela pop famosa aceita a proposta de se casar com um fã que está na platéia. Uma comédia romântica baseada em uma história em quadrinhos não se poderia dizer que é algo raro, é bem mais que isso! É algo simplesmente inusitado, nunca visto... Sejamos bem vindos ao séc. XXI onde as mídias fluem e interagem com muita facilidade.
 

O amor está no ar



E assim temos o casamento do ano e a expectativa enorme para assistir ao vivo o casamento da mega diva Kat Valdez (Jennifer Lopes), e seu namorado "muso" admirado por todas e todos, Bastian!! (o colombiano Maluma) diante de 20.000 fãs ao vivo e a transmissão para sei lá quantos milhões de espectadores através do Instagram, twitter, tik-tok e o diabo a quatro. Um mega evento. Paralelo e alheio a tudo isso temos o personagem de Owen Wilson (Charlie Gilbert)um pacato professor de matemática, divorciado e que não consegue mais fazer com que sua filhinha lhe veja como alguém especial... Nada de errado e nenhum drama muito pesado, ela gosta do pai mas está crescendo e entrando na fase "vergonha de estar junto aos pais diante de outros", a atriz Chloe Coleman de Aprendiz de Espiã é sua filha Lou. A coordenadora do colégio onde Charlie leciona consegue ingressos para o show casamento e convence Charlie em assisti-lo junto com a sua filha e tentar mostrar que ele pode ser uma pessoa descontraída e menos metódica. A histriônica coordenadora Parker Debbs é interpretada pela comediante Sarah Silverman, que para provocar uma ex-namorada leva o tal cartaz escrito "Marry Me" para mostrar de brincadeira quando alguma câmera passar por eles na platéia. Parker é uma versão inversa do melhor amigo gay sempre presente em comédias românticas.

Tudo certo? É claro que não... Minutos antes da cerimônia, o inesperado ocorre nos bastidores mais que agitados antes da apresentação de Kat Valdez e Bastian, um vídeo rapidamente se torna viral mostrando o famoso noivo beijando uma assistente de Kat (não um beijo qualquer). Uma Kat chorosa a beira de um colapso nervoso sobe ao palco e de coração partido pede para que acendam as luzes e fica estática diante do público que sem entenderem nada logo ouvem um desabafo, mas Kat ao ver Charlie em meio a audiência lhe "pedindo" em casamento o convida para o palco aceita o pedido e se casa com ele. Bem ali mesmo diante de uma multidão atordoada e tudo bomba na internet.

 
 
                                                    "... mas hein??"
 
Comédia Romântica onde pessoa famosa tem um romance com alguém comum vai lhe remeter a Notting Hill com Julia Roberts e Hugo Grant. É uma referência? Sim, vai lembrar? Sim, é inevitável, contudo Marry Me tem inúmeras diferenças a começar pela necessidade que a personagem de Jennifer Lopez terá para se justificar perante público e patrocinadores de sua decisão por impulso, na verdade a meu ver fica mais difícil Charlie se justificar porque aceitou, afinal ele nem queria estar no show. E essas questões estão presentes no roteiro. No quadrinho essa questão é mais fácil porque a proposta parte do fã, Charlie nem sabia quem era Kat Valdez.

Kat decide que é melhor deixar a situação acontecer e fingir que é real. Ela já teve vários relacionamentos frustrados antes e esse pode ser mais um (sempre escolheu o cara errado), depois de conversar com seu fidelíssimo empresário britânico interpretado por John Bradley (o Samwell Tarly de Game of Thrones,) decide sair com Charlie por uns poucos meses como se eles estivessem encenando seu próprio reality show, tudo como uma forma de alimentar a mídia e satisfazer os patrocinadores e, ao mesmo tempo, mantê-los afastados. Essa premissa será uma grande diferença no desenrolar da história. Não há um romance em curso e sim um acordo e manter as aparências de que estão juntos.


                " Kat, você aceita esse...(???) Meu amigo, qual seu nome por favor?"

 
A possibilidade de ocorrer algo do tipo é tão absurda que na verdade o filme nem procura esconder a questão e sim reforçar a idéia e justifica-la e sinceramente funciona a tentativa, mas cabe a cada um que assistir se deixar convencer... ou não.
Uma comédia romântica ambientada no mundo das novas mídias e das celebridades do século 21. Nem Kat nem Charlie nutrem qualquer ilusão de que seu casamento seja real. Kat tem sua vida registrada e transmitida via internet quase full time e Charlie dorme as 8 da noite e antes dá um passeio com seu cão já idoso. Por sinal se eu não estiver errado foi Jennifer Lopez quem deu início a essa exposição de personalidades exporem suas vidas privadas na internet.
 
 
"Isso está acontecendo mesmo?"
    
 
Os atores Lopez e Wilson parecem vindos de ambientes tão diferentes que a princípio fica a impressão de não ter muita química. Mas tudo isso está embutido no filme. Eles são certos um para o outro justamente porque são tão errados um para o outro. Lopez, coloca Kat em bom um equilíbrio entre confiança e uma aflição de não ter com quem de fato possa conviver, mas não há nenhum remorso quanto a vida que leva, não é um discurso da "pobre menina rica que não tem ninguém", ela curte o estilo de vida que tem...

Somente dois fatores deixam Charlie entusiasmado e estão interligados, é sua filha que estuda no mesmo colégio em que leciona e os seus alunos do grupo de matemática, os Pi-Thons, e Lou saca muito de matemática mas não faz parte desse grupo.

Sinceramente em um momento me perguntei como toda a situação ia terminar entre os dois, qual seria o caminho para tudo fluir. 

Há presente um artifício muito usado na maneira em juntar uma pessoa famosa e rica e um desconhecido, o contraste. Charlie não se encaixa no mundo de Kat. Ele não gosta ou não aceita esse ambiente de luzes, agitação e viagens, os paparazzi, o rapaz com a câmera que segue Kat pra todo lado e, acima de tudo, ele não adere a mídia social, que cria um isolamento de irrealidade em torno de tudo, mas Charlie não é agressivo e Owen transforma essa estranheza que o personagem sente em tiradas muito boas, um paparazzi pergunta aos gritos como está o casamento e ele lhe responde com espanto mas de modo tranquilo: "Mas por que você está gritando? Eu lhe ouço bem daqui" É uma resposta tão improvável que deixa os caras desconcertados, esses detalhes tornam a narrativa atraente. Kat também não se encaixa no mundo de Charlie mas para ela tudo é aconchegante nele. Ele é o tipo de cara amarrotado e sem glamour que pode trazê-la para a realidade, e Owen Wilson, aos 53 anos, se encaixou de modo perfeito para interpretar alguém tão sincero. Seu Charlie é como o último homem não-performático, o oposto ao artificial Bastian... Taí uma boa idéia para um bom filme.
 
 

se piscar aparece um momento musical



Em meio as entrevistas e passeios para mostrar que tudo vai bem com os dois improváveis pombinhos vamos acompanhando o relacionamento de Charlie com sua filha, a surpresa dos alunos ao descobrir que seu professor está casado com uma Pop Star, a implicância da secretária particular de Kat com Charlie, as tentativas de bajulação de Parker, Sara Silverman está muito bem no papel, me lembrei do Major Healey amigão do Major Nelson no seriado Jeannie é um Gênio por conta da bajulação cômica e inconformismo com a incapacidade de seu amigo tomar proveito da situação, dois outros destaques coadjuvantes estão o já citado John Bradley como o dedicado empresário sempre antevendo as ações de Kat e provendo soluções impossíveis, seu sotaque inglês dá um toque a mais no personagem, o professor de artes (ou teatro) Jonathan Pitts que de forma comedida consegue conter seu grande entusiasmo pelo fato de seu amigo Charlie estar casado com um diva da música Pop, sua discrição é recompensada em um momento musical entre ele e Kat, é interpretado pelo ator Stephen Wallem da série Nurse Jack (Netflix). Vemos as tentativas de Bastian em retornar ao relacionamento. Várias cenas são aproveitadas para as canções do álbum serem apresentadas, normal, afinal o objetivo também é esse, mas não é um musical. Felizmente não são cansativas e gratuitas apesar do estilo de Jennifer Lopez me soar... Não curto, pronto! Só isso ^_^  

 
 
"Tem certeza que aquele rapaz que filma tudo não está escondido por aí?"



Na equipe técnica temos a diretora Kat Coiro que estará na direção de Mulher Hulk, o roteiro está a cargo de John Rogers (Transformers), Tami Sagher (30 Rock) e Harper Dill, os 3 criaram um texto com que conduz bem as dúvidas de um ocorrido tão improvável, um destaque para o figurino de Caroline Duncan e Diras Guillart que realçam o modo de viver entre os dois personagens, repare no cartaz logo no início da crítica e perceba como ele sintetiza muito bem a história, uma super produzida Jennifer Lopez que até em um simples passeio está impecável e um andrajoso Owen Wilson que não está muito aí para a coisa toda e o casal sendo espreitados pelo personagem de Maluma.

Na era do romance online, nos apaixonamos pelo algoritmo e também ficamos verificando uma lista de compras onde nossas características combinem, não só de compras, somos a todo instante jogados em uma forçada combinação para todos os aspectos da nossas vidas deixando pouquíssimo espaço para experimentar. “Marry Me” é o contraste a tudo isso, é o próprio absurdo do que acontece, uma metáfora para o absurdo do amor. O romance pode acontecer sem planejamento prévio e totalmente fora do seu nicho. 

Se for encarado dessa forma Marry Me pode sim se tornar uma boa referência para o gênero.






 

 

0 comentários:

Postar um comentário